Muito se tem falado, umas vezes a pretexto do AO90 propriamente dito e outras tantas em divertidas tertúlias sobre a “lusofonia” ou a “CPLP”, de uma coisa hermética a que alguns chamam, com um piscar de olho espertíssimo e entendido, “valor económico da língua”. Atrelam por regra esses tais excursionistas, sempre os mesmos, o dito “valor económico“, a um outro fenómeno que igualmente ninguém faz a menor ideia do que diabo vem a ser: a “promoção e expansão da língua portuguesa no mundo”.
Tudo coisas fantásticas, só grandiloquências. Expressões tonitroantes sem o mais ínfimo significado, pois claro, como convém a políticos para verbalmente comporem seus ramalhetes de absolutas vacuidades, mas contendo a dose exacta de palavreado esmagador que chegue para impressionar pategos, intimidar ignorantes, emudecer totós.
No entanto, apesar de algumas especulações avulsas — oscilando, com impecável rigor algébrico, entre os “muitos milhões” e os “muitíssimos milhões” –, jamais ocorreu fosse a quem fosse quantificar com uma exactidão “aproximada” o tal “valor económico da língua”.
Até agora. “Nosso” Ministro dos Negócios estrangeiros acaba de atrever-se, efectivamente, a determinar esse valor apondo nela, com a chancela do Estado, a etiqueta com o preço (isto é, o “valor”) da Língua Portuguesa. E não faz a coisa por menos: «30 mil milhões de euros». Os 30 mil milhões não são o preço de venda por grosso ou a retalho, nada disso, trata-se do valor anual que o ou os “clientes” (ou seja, quem a quiser tomar de aluguer) pagará por cada ano (ou fracção, presumo) do respectivo usufruto, correspondente posse e inerente detenção em regime de propriedade global.
É espantoso, de facto. Vivemos num “maravilhoso mundo novo”, em que toda a gente sabe o preço de tudo mas ninguém sabe o valor de nada, sobrevivemos numa espécie de condomínio pessimamente frequentado cujo lema é “salve-se quem puder” e vamos todos caminhando a cadência certa para uma morte extremamente saudável.
Neste matagal caótico alagado pelo pântano da loucura geral, surgem por vezes, como se fossem orquídeas ideológicas vicejando num charco infecto, alimentando-se de matéria em decomposição, umas quantas ervas daninhas com pétalas coloridas e um cheiro pestilento para atrair alguma incauta varejeira.
Vemos, ouvimos e lemos. Mas não podemos acreditar.
Aí está o preço certo. “Espetáculo”.
Augusto Santos Silva diz que língua portuguesa vale 30 mil milhões de euros por ano
“Observador”, 9/10/2018
O ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que a língua portuguesa “é das pessoas, depois da cultura, especificamente da literatura, e só depois é uma língua económica”.
TIAGO PETINGA/LUSA – Autor
Agência Lusa
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, destacou esta terça-feira que a língua portuguesa representa, como “matéria para a actividade económica”, quase 17% do Produto Interno Bruto de Portugal, o equivalente a 30 mil milhões de euros por ano.
“A língua portuguesa é também de trabalho, é um valor económico de nós todos”, disse o governante, na inauguração da exposição itinerante “A Língua Portuguesa em Nós”, no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), no edifício Central Tejo, com a presença do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira.
Augusto Santos Silva lembrou que um estudo estimou “um conjunto de actividade económicas cuja matéria prima é o português, que vai desde as artes literárias performativas até à indústria do cinema, da edição didáctica e pedagógica até ao mundo da televisão ao audiovisual”. O ministro referiu que “a estimativa de todos estas actividades” em Portugal levam a “um número próximo de 17% do PIB, o que quer dizer que, a preços actuais, a língua, matéria para actividade económica, vale por ano pelo menos 30 mil milhões de euros”.
Porém, o titular da pasta dos Negócios Estrangeiros, que aludiu à importância afirmou que a língua portuguesa “é das pessoas, depois da cultura, especificamente da literatura, e só depois é uma língua económica”. O ministro dos Negócios Estrangeiros acentuou também que “é uma língua de afirmação internacional e de comunicação internacional e é esta flexibilidade e polivalência que faz a sua força”.
“Se Fernando Pessoa pôde dizer que a língua portuguesa era a sua pátria e se Vergílio Ferreira pôde dizer que da língua portuguesa se via o mar, acho que nós todos – os portugueses, os brasileiros, os angolanos, os guineenses, os são-tomenses, os moçambicanos, os cabo-verdianos e os timorenses – podemos todos dizer que da língua portuguesa, que é a nossa língua comum, se vê hoje o futuro”, disse.
O ministro dos Negócios Externos do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, declarou que a língua portuguesa tem “relevância política e diplomática” na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP. O membro do Governo de Michel Temer notou a importância do idioma na CPLP para “estreitar os laços de cooperação, de comunicação e buscando a aproximação de posições que os países têm sobre as grandes questões do mundo”.
A exposição itinerante “A Língua Portuguesa em Nós”, criada pelo Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, no Brasil, exibe-se parte do acervo desta mostra apresentada na Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, que percorreu países de África de língua portuguesa, como Cabo Verde, Angola e Moçambique.
A mostra faz um percurso pela presença da língua portuguesa no mundo, que representa actualmente cerca de 270 milhões de falantes nos cinco continentes, além de abordar o contacto com outros idiomas e a sua participação na formação cultural brasileira. Esta exposição no MAAT transitará, com carácter permanente, para a Cidade Literária de Óbidos.
Source: Augusto Santos Silva diz que língua portuguesa vale 30 mil milhões de euros por ano – Observador
[A desortografia abrasileirada do original foi automaticamente corrigida pela solução Firefox contra o AO90 através da extensão FoxReplace do “browser”.]