«Luandino Vieira, Pepetela, Ondjaki fazem parte dos geniais que tiveram a audácia de escrever em “mau” português o Desacordo Ortográfico. O diálogo fora criado a partir da similaridade e da diversidade que nos remonta para um convívio linguístico onde a língua portuguesa é apenas um dos códigos das nacionalidades /internacionalidades dos escritores. Fica a saudade do livro e a vontade de comprar outro Desacordo Ortográfico. E no futuro, quem sabe, o “Lusíadas de Angola”.»
[Transcrição de: “Um ataque pessoal a Camões” | Artigos | Opinião | Jornal de Angola – Online]”
[“Angola em ‘Desacordo Ortográfico”, 01.05.17]
Editar em Portugal “é mais fácil” para autores angolanos, mas depende – autor e editor
O editor livreiro Zeferino Coelho defende que “é mais fácil aos autores angolanos editar” em Portugal e chegar a outras paragens, nomeadamente o Brasil, enquanto o escritor angolano Pepetela considera que “depende”, justificando-se pelos “percursos individuais” dos autores.
Para Pepetela, que recentemente publicou em Portugal “Sua Excelência de Corpo Presente”, em declarações à agência Lusa afirmou: “Eu acho que depende, há muitos percursos individuais, há gente que se lançou e é conhecida, publicando em Londres”.
“O Sousa Jamba, por exemplo, começou por publicar o livro dele, ‘Os Patriotas’, em Londres, e só depois em Luanda, mas há outros casos que passaram por Portugal, sobretudo mais da minha geração”, disse o escritor nascido há 77 anos, em Benguela, no sul de Angola, e que, em 1997, se tornou o primeiro autor angolano a receber o Prémio Camões.
Depois da independência de Angola, a 11 de Novembro de 1975, os autores angolanos começaram a ser publicados em Portugal. Pepetela recordou que “havia um acordo entre a União de Escritores Angolanos (UEA) e as Edições 70, em Portugal”.
“Esse grupo, dos primeiros escritores que formaram a UEA, passaram a ser conhecidos em Portugal, com mais ou menos destaque, e uns foram traduzidos e outros não”, disse Pepetela, referindo que “há escritores que publicaram em Luanda e foram traduzidos para outras línguas”, e citou o poeta Lopito Feijó, que publicou em Espanha, antes de publicar em Portugal.
Lopito Feijó, 55 anos, foi cofundador da Brigada Jovem de Literatura de Luanda e é membro da UEA. Em 2015, publicou “Desejos da Aminata”, obra poética inspirada na sua mulher. O poeta, que foi deputado à Assembleia Popular, está também traduzido, entre outros idiomas, em francês e inglês.
Pepetela reconheceu que “Portugal tem ainda um papel importante”, mas referiu que a edição no Brasil, sendo “rara”, já vai acontecendo, e permite mais rapidamente o acesso ao mercado de língua espanhola, “e a partir do espanhol, parece-me, há uma difusão maior”.
O editor livreiro Zeferino Coelho, por seu turno, argumentou que “o facto de as editoras nacionais, prestigiadas, interna e internacionalmente, que compram e vendem direitos de publicação”, serem “conhecidas um pouco por todo lado”, dá uma maior visibilidade aos escritores que editam, nomeadamente os angolanos.
“Isto é assim desde há bastante tempo, continua a ser e acho que vai ser”, argumentou.
Zeferino Coelho lidera a Editorial Caminho, que publicou a coleção “Uma terra Sem Amos”, no âmbito da qual vários escritores africanos de língua portuguesa editaram, como “A Conjura”, do angolano José Eduardo Agualusa, que continua a publicar em editoras portuguesas.
O Grupo LeYa, do qual faz parte a Editorial Caminho, que é liderada por Zeferino Coelho, tem uma editora em Angola, a Nzila
Jorge Mendonça, Ondjacki, Luandino Vieira ou Pepetela, de quem saiu recentemente “Sua Excelência de Corpo Presente”, e Kalaf Epalanga, que no ano passado lançou “Também os Brancos Sabem Dançar”, são alguns dos escritores angolanos que editam sob a chancela do grupo LeYa.
“É melhor publicar [em Portugal], que apenas em Angola. Aqui ganham maior visibilidade porque há atenção de meios [de comunicação] internacionais do que se passa no mundo Língua Portuguesa”, disse Zeferino Coelho à Lusa, referindo, todavia, que “não é algo muito forte, mas ainda assim há”.
O editor realçou ainda que a atenção que em Portugal se presta a um autor angolano “é maior” que noutros países, e que actividade editorial portuguesa é mais dinâmica do que a angolana.
[Source: Editar em Portugal ″é mais fácil″ para autores angolanos, mas depende – autor e editor. “DN”/Lusa, 24.11.18. Destaques, sublinhados e “links” meus. Imagem de topo de: “Connect The Dots” ( European Donkeys).]