Este artigo, todo ele, de fio a pavio, é uma anedota pegada. Comecei a sublinhar frases e expressões-chave mas tive de recuar um pouco, desfazer alguns dos destaques — quando não, arriscava ficar com o texto quase todo a “bold”.
Inacreditável, realmente, a profusão de baboseiras (enormidades, imbecilidades) que este homem consegue debitar a uma velocidade incrível, bolçando-as em tal quantidade que mais parece estarmos perante o papaguear errático de um ébrio e não o palavreado — geralmente grave e circunspecto — de um político. Mas é possível, ainda assim, retirar algumas engraçadíssimas, hilariantes, alucinadas novidades desta espécie de discurso com que o senhor resolveu presentear o respeitável público.
Das quais deve assinalar-se esta coisa espantosa, extraordinária, supimpa “inovação”: «que a língua portuguesa possa ser língua de trabalho no espaço lusófono.»
Caramba! Maravilha. Estou aqui que nem posso.
Mas diz mais, o senhor Intumbo, para cabal esclarecimento da humanidade sobre aquilo que será o seu (dele) mandato à frente dos destinos da CPLP, essa simpática agremiação excursionista: diz que «vai tentar “influenciar os países e as comunidades” que fazem parte da CPLP para “adotarem o português como língua de trabalho”.»
Ena, ena, ena! Pára tudo! Isto sim, isto é que é o verdadeiro “português universal”, a real “influência da língua portuguesa no mundo”. Notem bem, nada de confusões. Julgaríeis vossemecês que o “português” já era “língua de trabalho” na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa? Pois julgáveis mal, seus tristes, julgáveis pessimamente, seus totós.
Só agora, só a partir de agora, com este senhor Intumbo ao leme da nave “lusófona”, agora sim, agora é que o “português” vai passar a ser língua de trabalho na CPLP! Não é uma novidade do caraças, hem, bacanos?!
Eu cá não sabia disto, confesso, pobre ignorante, queiram vocelências perdoar. Estava convencidíssimo, na minha santa inocência, de que a língua de trabalho na CPLP era o Português mas, porém, contudo, macacos me mordam, afinal não era.
Bom, do mal, o menos: está por fim esclarecida a dúvida, afinal a ideia (dos gajos que fundaram a CPLP) não era “elevar” o Português (ou, para ser exacto, a língua brasileira) a “língua de trabalho da ONU”. Não, não era da ONU, era da própria CPLP.
Tratou-se apenas de um lamentável lapsus linguae (em sentidos literal e figurado); aqui fica, portanto, à laia de lamparina mental, a devida iluminação para as cabecinhas pensadoras. Um(a) lampadinha.
Director-executivo do Instituto da Língua defende uniformização do português escrito
O novo director-executivo do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), Incanha Intumbo, ressalvou a importância do Acordo Ortográfico Comum de 1990, ainda por adoptar por alguns países lusófonos, e defendeu a uniformização do português escrito.
Agência Lusa /Lisboa /06 Dez 2018
Intumbo, que foi hoje empossado em Lisboa, referiu que o Acordo Ortográfico ainda conhece “resistências” e revelou que o IILP desenvolverá uma tarefa de “sensibilização” junto dos países-membros da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP) que ainda não adoptaram a convenção.
O linguista e investigador assinalou a importância de “uniformizar a escrita” e do “vocabulário comum”.
“É importante estarmos na mesma linha de entendimento”, acrescentou, referindo que “há comunidades com tendências conservadoras, mas a língua é como um ser vivo: evolui”.
Dos nove países da CPLP, apenas quatro Estados ratificaram o acordo: Cabo Verde, Brasil, São Tomé e Príncipe e Portugal.
O novo director-executivo do IILP, natural da Guiné-Bissau e formado em Coimbra, lembrou que o português é a língua mais falada no hemisfério sul.
Por essa razão, Intumbo preconiza que a língua portuguesa possa ser língua de trabalho no espaço lusófono, uma tarefa a que se vai propor no mandato de dois anos como director-executivo do ILLP.
Como acentuou, o ILLP vai tentar “influenciar os países e as comunidades” que fazem parte da CPLP para “adotarem o português como língua de trabalho”.
“Alguns organismos regionais já adoptaram o português como língua de trabalho e outros não, trabalhando com tradutores e intérpretes. É importante conhecermos o nosso vocabulário e podermos estar no mesmo nível de entendimento”, declarou.
O Acordo Ortográfico foi assinado pelos países de língua oficial portuguesa e pretende unificar a ortografia da língua portuguesa.
Esta convenção foi assinada a 16 de Dezembro de 1990 em Lisboa, pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras, delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe e, posteriormente, por Timor-Leste.
Incanha Intumbo disse que vai ter de estudar “os dossiês pendentes e os em execução” no IILP no seu mandato, no qual possa dar “um cunho pessoal” para tornar “mais visíveis as actuações” nesta instituição da CPLP.
“O que é importante é tentarmos quanto possível, com os meios de que dispomos, promover a língua, fazer mais gente conhecer a nossa língua, a nossa cultura, fazer as pessoas interessarem-se pela língua portuguesa, cativar mais falantes, mais universidades, ensinar português a mais empresários, para irem às nossas comunidades investirem”, disse.
O director-executivo referiu ainda que o ILLP vai “insistir na criação das comissões nacionais, porque há países não têm, dar algum impulso ao vocabulário ortográfico nacional, para daí se continuar a elaboração do vocabulário ortográfico comum”, com o objectivo de “conhecer, talvez ‘brincar’, com a diversidade da língua portuguesa”.
A cerimónia de posse do novo responsável do IILP decorreu hoje na sede da CPLP, em Lisboa, com a presença da secretária-executiva da organização, Maria do Carmo Silveira, e de representantes dos Estados-membros e de países com estatuto de observadores associados.
[Source: Director-executivo do Instituto da Língua defende uniformização do português escrito, “Diário de Notícias” (Madeira), 06.12.18. Destaques, sublinhados e “links” meus. Imagem de: Disney]