(aviso: o “pugrama” está, no original, perdoe-se-me a redundância, em nojento acordês)
Confesso que não entendi. Nem à primeira nem à segunda nem à terceira. Esta simpática missiva aterrou no meu “desktop” há já umas horas e ainda estou a tentar percebê-la.
Das duas, uma: ou sou (mesmo) de compreensão lenta ou então a coisa afinal pouco ou nada tem que se lhe diga, mistério nenhum.
Apenas estranhei que a introdução do texto fale de uma coisa quando o texto propriamente dito se limita a reproduzir, quase na íntegra, o programa do evento do qual na dita introdução o autor diz — muito justamente — cobras e lagartos.
É, mal comparando (e, repito, pior entendendo), como se um vegetariano apelasse a uma manifestação de protesto contra a matança do porco e nesse apelo incluísse todo o cardápio de certo repasto, a ocorrer num festim de degola do suíno, com requintes de malvadez para com os esfomeados em geral e os comedores de saladas em particular, há lombo assado de presigo, arrozinho de miúdos por conduto, pernil fumado, enchidos que ele só visto, pasta de fígado nas hors d’oeuvres, a sopinha é caldo verde com chouriça e nacos de toucinho, tudo regado com a bela pinga da região, uns verdinhos do melhorio, e por fim rola a sobremesa, disso é que não há nada que venha do reco, temos pena, mas há doces e gelados de toda a maneira e feitio, que até ferve, vinde, vinde, de pé, ó vítimas da fome, ou comei vossemecês sentados, isso é consoante prefira cada qual, já provou vocelência o nosso presunto, salvo seja?
São, neste caso, ignoremos similitudes quiçá foleiras, 191 palavras de entrada apelando à manifestação contra o evento de propaganda ao “acordo” e 550 palavras de propaganda ao mesmíssimo evento.
Talvez se trate de alguma nova técnica de mobilização (ou de “agitprop”, ou assim), que sinceramente desconheço. Ou seja, em resumo, continuo sem entender.
Mas das 191 contra e das 550 a favor aí ficam — para quem as quiser — todas as 741 palavras, não guardo nem uma só.
Caros amigos “desacordistas” (aqueles que são contra o acordo ortográfico de 1990):
Contamos com a vossa prestimosa participação, no protesto que se pensa efectuar contra o AO90, conhecido por Aborto Ortográfico, no dia 19 de Fevereiro de 2019, pelas 11H00, terça-feira, à entrada do casino da Póvoa de Varzim, aquando da cerimónia de abertura do Correntes d’Escritas pelo Senhor Presidente da República.
Caso não queira ou não possa aderir, solicitamos os bons ofícios, no sentido de fazer circular este texto por todos os vossos contactos do FACEBOOK e assim sucessivamente até que a mensagem chegue ao maior número de pessoas possível, que são contra o AO90, que tem lesado permanentemente o ensino da Língua Portuguesa na matriz culta indo-europeia, um autêntico linguicídio, crime de LESA-PÁTRIA.
O que se pretende é que a mensagem chegue ao conhecimento dos professores e alunos das escolas e freguesias da Póvoa de Varzim, e cidades vizinhas da região, onde o evento se realizará, e que se sentem maltratados e coagidos na aprendizagem da língua, segundo a cartilha brasileira: o AO90.
Eis o que vai passar-se neste evento, onde o AO90 brilhará na escuridão que o envolve.
A 20ª edição do Correntes d’Escritas decorrerá na Póvoa de Varzim, de 16 a 27 de Fevereiro.
Além de Marcelo Rebelo de Sousa, o Correntes d’Escritas contará com mais de 140 escritores de 20 países (Alemanha, Angola, Argentina, Brasil, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Cuba, Espanha, Guatemala, Guiné Bissau, México, Moçambique, Nicarágua, Peru, Portugal, Republica Dominicana, S. Tomé, Timor e Uruguai).
Dos autores convidados, estão já confirmadas as seguintes presenças: um prémio Cervantes: Sérgio Ramírez (Nicarágua); três Prémios Camões: Arménio Vieira, Germano Almeida e Hélia Correia; cinco Prémios Literários Casino da Póvoa: Lídia Jorge, Ana Luísa Amaral, Hélia Correia, Manuel Jorge Marmelo, Juan Gabriel Vásquez (Colômbia); seis Prémios Saramago (e já todos os vencedores passaram por cá ao longo das várias edições): Paulo José Miranda, Gonçalo M. Tavares, Valter Hugo Mãe, João Tordo, Ondjaki, Bruno Vieira Amaral e 8 ex-conferencistas de Abertura das Correntes: Nélida Piñon, Marcelo Rebelo de Sousa, José António Pinto Ribeiro, Álvaro Laborinho Lúcio, Adriano Moreira, Guilherme D’Oliveira Martins, Francisco Pinto Balsemão e Ignácio de Loyola Brandão.
A Conferência de Abertura desta edição, a 19 de Fevereiro, terça-feira, às 15h00, será proferida pelo Presidente da Conferência dos Chefes de Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Jorge Carlos Fonseca, que falará sobre “As Letras da Língua e a Mobilidade dos criadores na CPLP”. Um dos objectivos do actual presidente da CPLP é a mobilidade entre os países da Comunidade. Jorge Carlos Fonseca é também o Presidente da República de Cabo Verde.
(Logo Cabo Verde que passou a Língua Portuguesa para segunda língua, e adoptou o Crioulo Cabo-verdiano como língua oficial, em 2017).
Neste mesmo dia, às 11h30, vai realizar-se, no Casino da Póvoa, a Sessão de Abertura do Correntes, com o anúncio dos vencedores dos Prémios Literários 2019 e o lançamento da Revista Correntes d’Escritas nº 18, dedicada a Nélida Piñon. O Presidente da República presidirá a esta cerimónia.
Muitas outras iniciativas, além das Mesas (temas serão versos da Sophia de Mello Breyner, cujo centenário do nascimento se assinala este ano), vão coabitar neste 20º Correntes d’Escritas: a Feira do Livro (que promove edições acordizadas). As Galerias Euracini 2 vão acolher não apenas a Feira do Livro mas Exposições, Lançamentos de Livros, sessões com alunos do 1º ciclo e famílias, as Correntes DAR, pequenas conversas literárias e muitas outras conversas paralelas.
Serão lançados durante o Encontro meia centena de livros, destacando: “Correntes D’Escritas & Correntes Descritas” de Onésimo Teotónio Almeida, uma compilação das suas intervenções ao longo dos anos no Correntes D’Escritas.
A Arte terá um papel de destaque nesta edição e vai espalhar-se um pouco por toda a cidade com as mais variadas exposições. Palavras, Música e a musicalidade das palavras estão sempre presentes, desde a 1ª edição, no Correntes e este ano vários cantores, músicos e poetas darão voz às suas e às palavras dos outros em vários espectáculos.
Destaque ainda para a emissão em directo do Programa Governo Sombra, da TVI24, às 24h00 de 22 de Fevereiro, sexta-feira, com Carlos Vaz Marques, João Miguel Tavares, Pedro Mexia e Ricardo Araújo Pereira, a partir do Cine-Teatro Garrett. Além deste, vários programas de Rádio e Televisão serão gravados durante o Correntes, como: Obra Aberta, da Rádio Renascença, Ensaio Geral, da Rádio Renascença e Todas as Palavras, da RTP.»
O programa completo pode ser consultado aqui:
https://www.cm-pvarzim.pt/areas-de-atividade/povoa-cultural/pelouro-cultural/areas-de-accao/correntes-d-escritas/correntes-descritas-2019/programa
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