Manuel Maria Carrilho publicou no Facebook um “post” em que anuncia a discussão no Parlamento, «através da sua Comissão de Cultura», da Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico (ILC-AO).
Trata-se — a não ser que exista algum agendamento não divulgado — de um equívoco.
Pelo menos dois órgãos de comunicação social fizeram eco deste anúncio, reproduzindo ambos a referência errónea à ILC-AO.
Manuel Maria Carrilho culpa “voluntarismo patológico” de José Sócrates pelo Acordo Ortográfico
Leonardo Ralha – 15 Julho 2019, 07:40
Ex-ministro da Cultura diz que “a melhor estratégia para liquidar aquele inútil aborto da herança cavaquista-santanista era justamente não falar dele, era metê-lo numa gaveta e votá-lo ao mais completo esquecimento”.
O antigo ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho recorreu neste domingo às redes sociais para culpar o “voluntariado patológico” do ex-primeiro-ministro José Sócrates pela aplicação do Acordo Ortográfico em Portugal. Referindo-se à discussão na Comissão Parlamentar de Cultura, na próxima quarta-feira, da “Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico”, que conta com mais de 20 mil subscritores, o professor universitário diz que “é talvez a última oportunidade de evitar a consumação definitiva de um crime de lesa-pátria”.
“Se nada de corajoso, rápido e inteligente for feito, é isto que vai acontecer: o português ‘de Portugal’, com os seus escassos 10 milhões de falantes, vai tornar-se num mero dialecto (é isso, ‘dialecto’) do português ‘do mundo’, com os seus 250 milhões de falantes. E a tendência é que no fim do século este número ande perto de 400 milhões, enquanto Portugal cairá para os 8 milhões…”, escreveu Manuel Maria Carrilho no Facebook.
O ex-ministro da Cultura sublinhou que os representantes e governantes dos portugueses devem ser responsabilizados pelas “consequências tremendas para o nosso país em todos os planos”, sem esquecer o Presidente da República, que “não se pode acocorar atrás de formalidades, sejam elas quais forem”.
Prometendo que ainda virá a contar o seu envolvimento com o “Acordo Ortográfico” quando foi ministro, de 1995 a 2000, “seja quanto à sua inutilidade, seja quanto aos seus erros e aberrações”, Carrilho fez uma revelação: “Nunca ninguém me ouviu falar dele, o que aconteceu por uma razão bem simples: pensei – e nisso tive todo o apoio do primeiro-ministro António Guterres – que a melhor estratégia para liquidar aquele inútil aborto da herança cavaquista-santanista era justamente não falar dele, era metê-lo numa gaveta e votá-lo ao mais completo esquecimento.”
Essa terá sido uma estratégia que, segundo o ex-ministro da Cultura, “resultava em pleno”, apesar de Durão Barroso ter aprovado em 2004 uma alteração que limitava a três o número de países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que o teriam de ratificar, naquilo que Carrilho qualifica como um “‘golpe’ que revela bem a enorme fragilidade em que o processo se encontrava, e de que creio que não sairia”.
Maiores responsabilidades aponta ao “voluntarismo patológico” de José Sócrates, por “subitamente se consumar o desastre, fazendo o Parlamento ratificar em 2008 a alteração de 2004 e decretando, logo a seguir, a sua ilegítima, ilegal e a meu ver inconstitucional entrada em vigor em 2009”.
Dez anos passados desde o início da aplicação do Acordo Ortográfico, Carrilho apela aos deputados para a missão “bem mais fácil do que parece”, de resolver o que considera ser um problema, “limitando os danos causados até aos limites do possível, repondo a nossa língua no centro, não só do nosso patriotismo, mas também do nosso cosmopolitismo”.
[Transcrição integral de artigo publicado em 15.07.19 pelo “Jornal Económico” online.]
Parlamento analisará “Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico”
Será no dia 17 de Julho que o Parlamento, através da Comissão de Cultura, analisará a situação exposta através da subscrição, por 20 mil pessoas, da “Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico”.
Esta mesma situação é hoje destacada por Manuel Maria Carrilho, ex-ministro da cultura, na sua página de Facebook.
Manuel Maria Carrilho, num longo texto, intitula esta chamada de atenção como “ACORDO ORTOGRÁFICO: A ÚLTIMA OPORTUNIDADE PARA EVITAR UM CRIME DE LESA-PÁTRIA”.
Destaca que esta é “talvez a última oportunidade de evitar a consumação definitiva de um crime de lesa-pátria – a “minha pátria é a língua portuguesa”, escreveu e bem Fernando Pessoa -, crime que nos tornou, e tornará cada vez mais, minoritários( é isso, “minoritários”!) na nossa própria língua”.
Afirma ainda que “é uma oportunidade única que não se pode perder, que poderá evitar consequências tremendas para o nosso país em todos os planos, pelas quais temos que responsabilizar os nossos representantes e os nossos governantes”.
Alerta que “se nada de corajoso, rápido e inteligente for feito, é isto que vai acontecer: o português “de Portugal”, com os seus escassos 10 milhões de falantes, vai tornar-se num mero dialecto (é isso, “dialecto) do português “do mundo”, com os seus 250 milhões de falantes. E a tendência é que no fim do século este número ande perto de 400 milhões, enquanto Portugal cairá para os 8 milhões…”
Transcrevemos a mensagem integral do ex-ministro da cultura:
“ACORDO ORTOGRÁFICO: A ÚLTIMA OPORTUNIDADE PARA EVITAR UM CRIME DE LESA-PÁTRIA
– Na próxima 4ª feira o Parlamento vai, através da sua Comissão de Cultura, analisar a situação exposta – na verdade imposta – pelos mais de 20 mil subscritores da oportuna “Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico”, que ilegitimamente, num arroubo do mais ignorante voluntarismo, o governo de José Sócrates impôs ao país em 2009.
– É talvez a última oportunidade de evitar a consumação definitiva de um crime de lesa-pátria – a “minha pátria é a língua portuguesa”, escreveu e bem Fernando Pessoa -, crime que nos tornou, e tornará cada vez mais, minoritários( é isso, “minoritários”!) na nossa própria língua.
É uma oportunidade única que não se pode perder, que poderá evitar consequências tremendas para o nosso país em todos os planos, pelas quais temos que responsabilizar os nossos representantes e os nossos governantes. Aqui incluindo naturalmente o Presidente da República que, num assunto desta natureza, não se pode acocorar atrás de formalidades, sejam elas quais forem.
– Se nada de corajoso, rápido e inteligente for feito, é isto que vai acontecer: o português “de Portugal”, com os seus escassos 10 milhões de falantes, vai tornar-se num mero dialecto (é isso, “dialecto) do português “do mundo”, com os seus 250 milhões de falantes. E a tendência é que no fim do século este número ande perto de 400 milhões, enquanto Portugal cairá para os 8 milhões…
– Um dia contarei mais em detalhe o meu, digamos, envolvimento com o “Acordo Ortográfico”, quando fui ministro da Cultura, entre 1995 e 2000: seja quanto à sua inutilidade, seja quanto aos seus erros e aberrações.
– Para já, basta lembrar que nunca ninguém me ouviu falar dele, o que aconteceu por uma razão bem simples: pensei – e nisso tive todo o apoio do primeiro-ministro António Guterres – que a melhor estratégia para liquidar aquele inútil aborto da herança cavaquista-santanista era justamente não falar dele, era metê-lo numa gaveta e votá-lo ao mais completo esquecimento.
– Cedo percebi que a estratégia resultava em pleno, porque se eu não falava do “Acordo Ortográfico”, a verdade é que nas dezenas de entrevistas que dei também nunca nenhum jornalista se lembrou sequer de me perguntar por ele…E o mesmo acontecia nos contactos com os meus homólogos dos outros países da CPLP. O assunto morria…de morte natural.
– Tudo se complicou um pouco, é certo, quando Durão Barroso aprovou em 2004 uma alteração ao “Acordo”, que limitava a três os Estados que, dos sete países da CPLP, o teriam que ratificar, “golpe” que revela bem a enorme fragilidade em que o processo se encontrava, e de que creio que não sairia.
– Seria preciso o voluntarismo patológico de José Sócrates para, mais tarde, quando na realidade o esquecimento tinha quase resolvido o problema (é esse justamente, como Nietzsche ensinou, um dos trunfos, e não dos menores, do esquecimento), subitamente se consumar o desastre, fazendo o Parlamento ratificar em 2008 a alteração de 2004 e decretando, logo a seguir, a sua ilegítima, ilegal e a meu ver inconstitucional entrada em vigor em 2009.
– É isto que agora, com determinação mas também com um talento que não pode ignorar que já vamos em 10 anos de prática do “Acordo” (nos media, no ensino, etc., com todas as consequências que é preciso avaliar bem), é preciso resolver, limitando os danos causados até aos limites do possível, repondo a nossa língua no centro, não só do nosso patriotismo, mas também do nosso cosmopolitismo.
– Ao trabalho, pois, senhores deputados – a “coisa” é exigente, é verdade, mas bem mais fácil do que parece.
Boa sorte.”
[Transcrição integral de artigo publicado em 14.07.19 no site infocul.pt.]
Algo não bate certo nestas notícias, de facto; aquilo que efectivamente estará em discussão na próxima 4.ª Feira (17) será o relatório do último Grupo de Trabalho parlamentar sobre o Acordo Ortográfico (GT-AIAAO) e não a ILC-AO. Isto mesmo está expresso nos agendamentos respectivos: o do Grupo de Trabalho em causa e o das discussões e/ou votações em Plenário.