Neste “post” vemos dois conteúdos (reproduções de textos) completamente diferentes, se bem que umbilicalmente ligados por um factor comum: Portugal paga na íntegra as despesas da CPLP, as mordomias, as sinecuras, as brincadeiras e os simulacros de trabalho dos seus “membros” e respectivos protégés.
No primeiro dos textos, o jornalista do “Público” Nuno Pacheco esmiúça o IILP — uma completa inutilidade que funciona como sorvedouro de dinheiro dos nossos impostos, sendo Portugal o único financiador da CPLP e seus anexos. Estranha premissa que o autor bem expressa no seu texto e que encerra assim: «A língua portuguesa está hoje mais “promovida” e “difundida” do que estava quanto esta farsa começou? Era bom sabermos, antes de passarem mais cheques em branco.»
Ora, já que falamos de cheques em branco passados pela CPLP, então ilustremos com um exemplo. Na segunda transcrição temos a notícia (com gravação áudio na fonte) de uma das distribuições de cheques — em sentido literal — endossados pelo IILP, essa espécie de caixa multibanco, a ATM da “Comunidade dos Países de Língua” brasileira.
Depois do AO90, a grande empreitada que consiste na imposição da cacografia brasileira e o extermínio da norma ortográfica do Português-padrão, tudo foi e continua a ser pago sob a solícita subserviência do Estado português aos interesses brasileiros. Seja para “investigação” de utilidade e resultados nulos ou seja para “eventos” de “turismo linguístico“, Portugal providencia e liquida as contas da diversão linguística dos outros membros da CPLP… incluindo as dos “especialistas” provindos do “gigante” brasileiro, que contribui para a dita “Comunidade” com raspas de cacete.
O instituto, a língua, os amantes dela e a penúria do costume
Nuno Pacheco
“Público”, 09.01.20A língua portuguesa está hoje mais “promovida” e “difundida” do que estava quanto esta farsa começou? Era bom sabermos, antes de passarem mais cheques em branco.
O título deste texto lembra o de um filme de Peter Greenaway, e não é simples coincidência. Porque o que o motiva é uma cansativa longa-metragem que não se sabe quando acabará.
No último dia de Dezembro, veio a público (no JN) uma notícia a dar conta do estado de penúria do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), com sede em Cabo Verde, na Cidade da Praia. “Oito dos nove países da CPLP estão em incumprimento com a instituição, mas há Estados que nunca pagaram. Dívida ascende aos 600 mil euros”, noticiava o jornal. Parece que Portugal paga sempre a horas (“nenhum país paga mais de 100 mil euros”, garante o actual director do IILP, o guineense Incanha Intumbo), o Brasil atrasa-se e o resto oscila entre quem paga pouco ou tarde e quem nunca pagou. Sabem o que é o IILP? Não sabem? Já lá vamos. Convém dizer, primeiro, que neste reduto de penúria institucional o IILP não está só. No dia seguinte, 1 de Janeiro, o secretário-geral da CPLP, Francisco Ribeiro Telles, também veio queixar-se de que a situação financeira da CPLP “é séria e preocupante.” A razão é a mesma: o dinheiro não chega a tempo ou não chega de todo. Querem mais? A ONU vive idêntico dilema: dos 2582 milhões de euros do seu orçamento, só recebeu 1803 milhões. “Existem 65 países que ainda não pagaram”, queixava-se em Outubro o subsecretário-geral de Finanças da ONU. António Guterres, perante tal situação, já mandou apertar o cinto: cancelar reuniões, reduzir viagens, adiar difusão de documentos, parar escadas rolantes, cortar no uso de ar condicionado ou no aquecimento, reduzir apoios e estancar o preenchimento de vagas.
Mas voltemos ao IILP. Para quem não sabe, a decisão de criar tal coisa foi tomada em São Luís do Maranhão, no Brasil, em 1 de Novembro de 1989, quando por iniciativa brasileira se lançou a “primeira pedra” da CPLP. Era preciso alguma coisa que cuidasse da “promoção e difusão do idioma comum” e achou-se por bem entregar tal tarefa a um instituto. Porém, como é hábito nestes casos, tudo se atrasou. A CPLP só nasceu oficialmente em 1996 e o IILP em 2002, mantendo-se em estado vegetativo até ver aprovados novos estatutos e o respectivo regimento interno oito anos mais tarde, em 2010. O governo português aprovou-os dois anos depois, por decreto (12/2012), com este palavroso intróito: “Dado que o IILP é a instituição da CPLP que visa a construção de políticas concretas de promoção e difusão da Língua Portuguesa conducentes à sua internacionalização efetiva e afirmação como Língua Global, pretende-se através dos novos estatutos dotá-lo de meios adequados para a prossecução desses objetivos.” Um texto já escrito segundo o Acordo Ortográfico de 1990, de que o IILP viria a tornar-se guardião oficial. Com um pormenor divertido: a resolução anexa a tal decreto, aprovada em Luanda no âmbito da CPLP, é toda ela escrita no português de 1945.
Queria-se, com tais “instrumentos jurídicos”, tornar o IILP num “instrumento operacional e útil”, para citar a resolução. E foi? Ora façamos uma viagem pela “sede” virtual do dito. O aspecto gráfico e os mecanismos de consulta são indigentes. Mas isso podia ser colmatado por uma extensa lista de actividade “úteis”, se ali as houvesse. Tem um registo de “eventos” (21, entre colóquios, cursos, conferências e até, pasme-se!, a celebração dos 30 anos do IILP em 2019, quando só a sigla é que soma três décadas), outro de “publicações” (sete números da revista Platô, quase todos reproduzindo colóquios que constam da lista de “eventos”), outro de “comunicações” (cujo conteúdo se resume a 5 vídeos, 5 álbuns de fotos e duas notícias!), um “blogue” (“um repositório de informações sobre a língua portuguesa”, cujos “conteúdos não são todos da responsabilidade do IILP”; as fontes são muitas, na maioria externas), uma remissão para “O IILP” (diz sumariamente o que é e quem o compõe, mas não tem sequer os estatutos ou o regimento interno para consulta) e, por fim, o “endereço”. Dos “projetos” (sic) constam ainda o VOC, Vocabulário Ortográfico Comum, que na verdade são oito, o que diz bem da noção de “unidade ortográfica” destes senhores (“O VOC tem versões específicas para cada país”, escrevem com o maior descaramento, chamando-lhe “vocabulário” no singular” e “comum”; mas comum como, se cada país tem o seu?). E um “Portal do Professor de Português Língua Estrangeira/Língua Não Materna” cuja utilidade real carece de prova.
Conclusão? Para penúria, penúria e meia. A vacuidade dos discursos dá nisto. Não admira que o dinheiro escasseie. Excepto o vindo de Portugal, que, segundo JN, já avançou com “uma contribuição extraordinária de 200 mil euros”; além de acoplar ao IILP mais um organismo inútil, o “Conselho de Ortografia”, enfeitado com os sujeitos do costume. Tudo isto para quê? Para “promoção e difusão da Língua Portuguesa”, claro! Viram-na? Sabem quem a faz? Com que resultados? A língua portuguesa está hoje mais “promovida” e “difundida” do que estava quanto esta farsa começou? Era bom sabermos, antes de passarem mais cheques em branco.
Nuno Pacheco
[Transcrição integral (incluindo “links” a azul) de: O instituto, a língua, os amantes dela e a penúria do costume | Opinião | PÚBLICO. Autor: Nuno Pacheco. Acrescentei “links” a verde.]
O Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) lançou o “Programa de bolsas: Cientista convidado do IILP”, com o apoio da República Portuguesa, para dinamizar a língua portuguesa no espaço da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
A cerimónia de lançamento destas bolsas do IILP decorreu no dia 28 de Fevereiro de 2019, na sede da CPLP, contando com as presenças do Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, do Secretário Executivo da CPLP, embaixador Francisco Ribeiro Telles, do Embaixador de Cabo Verde em Lisboa, Eurico Monteiro, da Secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal, Teresa Ribeiro, do Presidente do Camões, I.P., embaixador Luís Faro Ramos, e do Director Executivo do IILP, Incanha Intumbo.
O “Programa de Bolsas Cientista Convidado do IILP”, assinado pelo Director Executivo do IILP e pelo Presidente do Camões, I.P., é uma iniciativa do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, consubstanciando um financiamento por contribuição voluntária no valor de 200.000€ deste Estado-membro da CPLP ao IILP.
O programa de bolsas de cientista convidado do IILP desenvolve-se por um período de três anos (2019-2021) e traduz a concessão anual de duas bolsas a investigadores de língua portuguesa para apoio a projectos do IILP.
Source: Soundcloud