“Circulatura do Quadrado” – TVI, 06.05.20

Círculatura do Quadrado – TVI

Espaço de debate onde Jorge Coelho, Pacheco Pereira e Lobo Xavier discutem, semanalmente, os temas políticos actuais da actualidade.

Programa de 6 de Maio de 2020. Extractos da gravação. Pacheco Pereira introduz a crónica publicada no “Público” Também alguns comentários de espectadores/leitores no site original do jornal; edição em papel (online) AQUI

 

(AO43/90) O AO43/90 é filho da ignorância e da corrupção. A ganância dos editores sempre se baseou nestes dois parâmetros. A defender o Aborto Ortográfico temos os que vendem dicionários, gramáticas, prontuários ortográficos, correctores ortográficos, sintetizadores de voz, etc. Comum aos dois países, temos os editores, especialmente os ligados aos livros escolares, Leya, Porto Editora no lado de cá e no planeta o grande gigante mundial a Microsoft que vendeu milhões de novas edições de todos os programas que têm correcção ortográfica. Os restantes têm apenas prejuízo, mas factores ligados à ignorância e à vaidade não os deixam ver mais longe. Em resposta à utopia da ortografia única, consultemos “Nova Gramática do Português Contemporâneo” de Celso Cunha e Lindley Cintra, de 1984, pág.74:

O jornalista Nuno Pacheco, nas páginas deste jornal, tem informado os seus leitores das aberrações do AO. Alguns exemplos apresentados são verdadeiramente hilariantes e custa a crer que profissionais do ofício da Língua, como Malaca Casteleiro, tenham alinhado nisto, indo ao ponto de edificarem dicionários segundo o novo AO.Nunca o utilizei e, com toda a franqueza, digo que prefiro ler em português do Brasil do que o português do AO.

Como professor de inglês e alemão durante mais de quarenta anos, nunca notei que uma língua demorasse mais a aprender do que a outra. Notei, sim, e costumava dizê-lo aos meus alunos, que o alemão era difícil no início – há aquelas regras gramaticais todas que é preciso interiorizar – e depois ia ficando mais fácil; ao passo que o inglês é ao contrário porque a gramática é simples mas à medida que avançamos vamos encontrando cada vez mais expressões idiomáticas e subtilezas semânticas. Leio com mais prazer em inglês do que em alemão, pesem embora grandes estilistas da língua alemã como Hermann Hesse. E isto, penso eu, pela maior flexibilidade e riqueza expressiva do inglês, resultante em parte de haver poucas regras gramaticais ou ortográficas.

Assino um único jornal nacional: o Público. E faço-o para poder ler um jornal redigido em português, e não em abortês ortográfico! Necessitamos de fazer alguma coisa, eficaz, contra o Aborto Ortográfico!…

Concordo inteiramente com este artigo e louvo a persistência e qualidade argumentativa do José Pacheco Pereira. Só um movimento muito forte poderá vencer a inércia política instalada e pôr cobro a este dito acordo aberrante, e quanto mais demorar mais difícil será revertê-lo.

Muito obrigada, Dr. Pacheco Pereira! Esperava ansiosamente que abordasse este assunto na sua crónica semanal! E constatei, com agrado, a sua insistência em introduzir o tema na última “Circulatura do Quadrado”. Porque é URGENTE gritar bem alto o que se mete pelos olhos dentro de quem sabe o que é uma LÍNGUA! E foi o silêncio conivente de tantos que deveriam sabê-lo – e dos ‘media’, com louváveis excepções, entre elas o “Público” – que tornou possível a imposição deste estúpido, débil e aberrante AO90, à revelia da nossa democracia, tão duramente conquistada. Professora reformada de Português (e Francês), conheço e combato o AO90 desde o início. Recolhi centenas de assinaturas para a ILC-AO e ouvi as inúmeras queixas dos nossos compatriotas! Leiam o AO90, e pensem, se são capazes disso!

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