Dia: 29 de Janeiro, 2021

Diz que coiso e tal

Lari e Hugo – 135K subscribers
Larissa, como é que você aprendeu a falar português de Portugal? É muito difícil? É muito diferente? Você demorou quanto tempo pra entender tudo? haha Recebo várias mensagem assim diariamente!! E no vídeo de hoje resolvi ser professora por um dia e vim “vos ensinar” a “FALAR PORTUGUÊS DE PORTUGAL” de uma maneira rápida, prática e fácil!! Quem aí tá animado? Vamos lá comigo que tenho a certeza que vai ser divertido!!

Uma das bacoradas favoritas de acordistas (e outras não menores mas de aparente sinal contrário) é esta coisinha intocável: «o falar influencia a ortografia mas no sentido inverso ‘no pasa nada’». Estabelecido na sua mirrada cabecinha tão grosseiro quanto idiota axioma, estendem-no como se fosse um tapete a outras “verdades” de igual ou semelhante calibre: por exemplo, diz que «a ortografia não passa de um código arbitrário para simples transcrição da fala», assim como diz que, ainda por exemplo, que «o AO90 não altera o modo de falar, só “afeta” a escrita».

Ora, evidentemente — e neste ponto dá imenso jeito aos acordistas a metáfora do tapete, para debaixo do qual varrem os argumentos contra os seus ditames –, qualquer aluno da 4.ª Classe (do 5.º Ano, vá) sabe e já percebeu que a via é bi-unívoca, dá para os dois lados, salvo seja, a fala afecta a escrita assim como a escrita influencia o modo de falar. Veja-se (e oiça-se) o que já se vai passando por aí, o emudecimento (por via da caça à consoante dita muda) daquelas coisinhas que antes eram sílabas tónicas (em Portugal e PALOP) e que agora até locutores de TV ou rádio fazem soar conforme lêem textos estropiadas pelo AO90 segundo a “lógica” fonética brasileira (em que todas as vogais são mais tónicas do que o Gin); a peçonha acordista já chegou ao inimaginável ponto de alguns não apenas tentarem ler o brasileiro com sotaque português (ou seja, sem sotaque algum) como, ainda por cima, os mais expeditos a engraxar brasileiros desataram já a “imitar” o próprio léxico brasileiro: os advérbios de modo foram abolidos (é tudo “fácil”, nada é feito facilmente, o que antes se fazia rapidamente agora faz-se “rápido”, e assim por diante), já não há pessoas, o que há é “oi, minha gente” (ou algo do género, igualmente asqueroso), volta-e-meia ouve-se tugas a balbuciar “registro” em vez de registo, o verbo “dizer” foi também administrativamente abolido, agora é “falar”, ele “falou” que ou, pior ainda, “ele me falou que”.

São aberrações destas (sim, isto é que são aberrações, fora o resto) que levam um ser-humano a interrogar-se “mas onde raio guardei eu a pistola”.

De semelhante cambada, de tais e tão estranhos fenómenos, temos aqui dois exemplos (também eles) contrastantes; lá em baixo, como o tiroliroliro, temos uma espécie de exposição do “mundo das línguas”; lá em cima, como se fosse o tiroliroló da loucura, temos a demonstração prática do processo de colonização linguística em curso.

Ao mundo dos conceitos básicos na matéria, traduzido sem calão da árvore em imagem, junte-se o vídeo com efeitos especiais de uma rapariga brasileira ensinando a seus patrícios como comunicar com os selvagens que habitam nesta sua nova província.

Que horror.

Viagem ao extraordinário mundo das línguas – Opinião

Marco Neves
24.sapo.pt
24.01.21

 

Fechado em casa, apetece-me fazer uma viagem pelo mundo das línguas. Vou escrever um facto sobre uma língua de cada vez. A língua seguinte terá de estar ligada à anterior pela geografia ou de outra maneira. No fim, regresso ao nosso país.

 

GALEGO | Será uma surpresa em Portugal, mas há galegos que consideram o galego e o português a mesma língua. As opiniões dividem-se, mas uma coisa é certa: se não forem a mesma língua, dificilmente encontraremos duas línguas mais próximas do que estas.

CASTELHANO | A língua aqui ao lado tem 5 vogais. Por cá, usamos umas 14 da boca para fora. É uma das razões pelas quais é tão difícil aos vizinhos perceber o que dizemos. Para compensar, na escrita, têm uma letra vogal adicional: o <y>.

BASCO | É a única língua não indo-europeia da Península. Na Europa, há mais umas quantas: o maltês, o turco e as línguas urálicas como o húngaro, o finlandês e o estónio (sem esquecer outras da família, como o lapão). O basco é a única sem familiares.

CATALÃO | Na Idade Média, foi uma importante língua do Mediterrâneo. Os primeiros textos conhecidos em catalão são mais antigos do que os primeiros textos escritos em galego ou português.

OCCITANO | A língua tradicional do Sul de França é hoje falada por poucos, mas recebeu um Prémio Nobel da Literatura antes do inglês ou do italiano. O laureado foi Frédéric Mistral, em 1904.

FRANCÊS | A ortografia francesa está particularmente distante da fonética da língua. Uma palavra como «août» é lida por muitos franceses simplesmente como [u]. A conjugação verbal é também muito mais simples na oralidade do que na escrita.

NEERLANDÊS | Apesar de, em Bruxelas, ser mais fácil encontrar quem fale francês, o neerlandês é a língua mais falada na Bélgica, onde era tradicionalmente chamada de «flamengo». Por cá, também usamos o termo «holandês» para designar a língua.

FRÍSIO | Esta é a língua mais próxima do inglês. Mesmo assim, são muito diferentes, porque o inglês sofreu profundas alterações (e o frísio também não deve ter ficado parado). Aqui fica uma frase em frísio: Myn namme is Marco en ik kom út Portegal.

INGLÊS | É uma língua germânica apaixonada pelo léxico de origem latina. Vindas do francês, do latim ou de outras línguas românicas, há tantas palavras latinas no inglês que é quase um membro honorário do nosso clube. Note-se: no inglês, as palavras latinas tendem a ser mais formais.

SCOTS | Ane leid is ne’er eneuch!* Na Escócia, fala-se gaélico (nas Terras Altas), inglês (à escocesa) e ainda Scots, considerado por uns dialecto do inglês e por outros língua separada. Uma coisa é certa: tem uma antiga tradição literária. [*Uma língua nunca é suficiente!]

NORUEGUÊS | Tem duas normas oficiais, ambas ensinadas nas escolas, cada uma com variedade interna considerável: o nynorks («novo norueguês») e o bokmål («língua dos livros»). Esta última é a mais usada e também a mais próxima do dinamarquês.

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