«The limits of my language mean the limits of my world»
Ludwig Wittgenstein
O que sobra para dizer quando está tudo dito? Que palavras restam ainda quando nos acerta uma verdade como punhos?
Não é fácil, de facto. A este pequeno artigo de Clavé muito pouco ou absolutamente nada há a acrescentar. Enquanto francês (e que fosse inglês ou japonês ou espanhol), é fácil para o autor “falar” com despreocupada leveza daquilo que em França (ou na Commonwealth ou em qualquer país de língua oficial espanhola, por exemplo) não é mais do que uma inimaginável — e quase integralmente académica — hipótese remota. A língua francesa não está em perigo, bem como o Inglês, o Castelhano, o Japonês, o Mandarim e o Árabe, entre outras “falas” e respectivas “escritas”.
Radicalmente diferente, como sabemos, inversamente e em estreia mundial, nós por cá vamos assistindo à demolição sistemática da nossa Língua e à sua neo-colonização por iniciativa de uma seita de traidores vendidos aos interesses brasileiros. A dupla operação geopolítica (esmagamento e substituição da Língua Portuguesa pelo patoá brasileiro) confunde-se com a operação (em curso) de engenharia (ou experimentalismo) social. Como diz Clavé, “quanto mais pobre a linguagem, menos pensamento existe“, e isso traduz em poucas palavras a fatalidade que nos calhou em sorte (azar): “il n’y a pas de pensée sans mots“, logo, é impossível estropiar as palavras sem torturar, perverter, aniquilar o pensamento.
Sim, também é verdade, a mais ninguém em todo o mundo ocorreu «simplificar a ortografia, purgar a linguagem dos seus “defeitos”» e, de caminho, levar tudo a eito, arrasar uma língua nacional vetusta e honrada trocando-a violentamente pela História, a Cultura, o património imaterial, as idiossincrasias e o carácter identitário de uma amálgama de povos alienígenas.
E isso diz muito sobre o QI médio dos traidores e dos neo-imperialistas: rondará talvez a sageza equivalente à de um Cocker Spaniel.
Baisse du QI, appauvrissement du langage et ruine de la pensée par Christophe Clavé *
L’effet de Flynn du nom de son concepteur, a prévalu jusque dans les année 1960. Son principe est que le Quotient Intellectuel (QI) moyen ne cesse d’augmenter dans la population. Or depuis les années 1980, les chercheurs en sciences cognitives semblent partager le constat d’une inversion de l’effet Flynn, et d’une baisse du QI moyen.
La thèse est encore discutée et de nombreuses études sont en cours depuis près de quarante ans sans parvenir à apaiser le débat. Il semble bien que le niveau d’intelligence mesuré par les tests de QI diminue dans les pays les plus développés, et qu’une multitude de facteurs puissent en être la cause.
A cette baisse même contestée du niveau moyen d’intelligence s’ajoute l’appauvrissement du langage. Les études sont nombreuses qui démontrent le rétrécissement du champ lexical et un appauvrissement de la langue. Il ne s’agit pas seulement de la diminution du vocabulaire utilisé, mais aussi des subtilités de la langue qui permettent d’élaborer et de formuler une pensée complexe.
La disparition progressive des temps (subjonctif, passé simple, imparfait, formes composées du futur, participe passé…) donne lieu à une pensée au présent, limitée à l’instant, incapable de projections dans le temps. La généralisation du tutoiement, la disparition des majuscules et de la ponctuation sont autant de coups mortels portés à la subtilité de l’expression. Supprimer le mot «mademoiselle» est non seulement renoncer à l’esthétique d’un mot, mais également promouvoir l’idée qu’entre une petite fille et une femme il n’y a rien.
Moins de mots et moins de verbes conjugués c’est moins de capacités à exprimer les émotions et moins de possibilité d’élaborer une pensée.
Des études ont montré qu’une partie de la violence dans la sphère publique et privée provient directement de l’incapacité à mettre des mots sur les émotions.
Sans mots pour construire un raisonnement la pensée complexe chère à Edgar Morin est entravée, rendue impossible. Plus le langage est pauvre, moins la pensée existe.
L’histoire est riche d’exemples et les écrits sont nombreux de Georges Orwell dans 1984 à Ray Bradbury dans Fahrenheit 451 qui ont relaté comment les dictatures de toutes obédiences entravaient la pensée en réduisant et tordant le nombre et le sens des mots. Il n’y a pas de pensée critique sans pensée. Et il n’y a pas de pensée sans mots. Comment construire une pensée hypothético-déductive sans maîtrise du conditionnel? Comment envisager l’avenir sans conjugaison au futur? Comment appréhender une temporalité, une succession d’éléments dans le temps, qu’ils soient passés ou à venir, ainsi que leur durée relative, sans une langue qui fait la différence entre ce qui aurait pu être, ce qui a été, ce qui est, ce qui pourrait advenir, et ce qui sera après que ce qui pourrait advenir soit advenu? Si un cri de ralliement devait se faire entendre aujourd’hui, ce serait celui, adressé aux parents et aux enseignants: faites parler, lire et écrire vos enfants, vos élèves, vos étudiants.
Enseignez et pratiquez la langue dans ses formes les plus variées, même si elle semble compliquée, surtout si elle est compliquée. Parce que dans cet effort se trouve la liberté. Ceux qui expliquent à longueur de temps qu’il faut simplifier l’orthographe, purger la langue de ses «défauts», abolir les genres, les temps, les nuances, tout ce qui crée de la complexité sont les fossoyeurs de l’esprit humain. Il n’est pas de liberté sans exigences. Il n’est pas de beauté sans la pensée de la beauté.
* Professeur de stratégie & management INSEEC SBE
[tradução]
QI diminuído, empobrecimento da linguagem e pensamento arruinado
Christophe Clavé
O efeito Flynn, assim chamado em homenagem ao seu criador, prevaleceu até a década de 1960. O seu princípio é que o quociente intelectual médio (QI) continue a aumentar na população. Desde a década de 1980, os pesquisadores de ciências cognitivas parecem compartilhar a observação de uma inversão do efeito Flynn e de uma queda no QI médio.
A tese ainda está em discussão e numerosos estudos estão em curso, há quase quarenta anos, sem esfriar o debate. Parece que o nível de inteligência medido pelos testes de QI está a diminuir nos países mais desenvolvidos e que uma série de factores pode ser a causa disso.
A essa queda, ainda disputada no nível médio de inteligência, soma-se o empobrecimento da linguagem. Existem numerosos estudos que demonstram o estreitamento do campo lexical e o empobrecimento da linguagem. Não se trata apenas de reduzir o vocabulário usado, mas também das subtilezas da linguagem que possibilitam o desenvolvimento e a formulação de pensamentos complexos.
O desaparecimento progressivo do tempo (subjuntivo, passado simples, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado …) gera um pensamento no presente, limitado ao instante, incapaz de projecções no tempo. A generalização da familiaridade, o desaparecimento de letras maiúsculas e de pontuação são golpes fatais na subtileza da expressão. Excluir a palavra “rapariga” não é apenas renunciar à estética de uma palavra, mas também promover a ideia de que entre uma rapariguinha e uma mulher não há nada. Menos palavras e menos verbos combinados significam menos capacidade de expressar emoções e menos possibilidade de desenvolver um pensamento.
Alguns estudos demonstraram que parte da violência [discursiva] nas esferas pública e privada advém directamente da incapacidade de colocar palavras em emoções.
Sem palavras para construir o raciocínio, o pensamento complexo de Edgar Morin é dificultado, torna-se impossível. Quanto mais pobre a linguagem, menos pensamento existe.
A história é rica em exemplos e existem muitos escritos, de Georges Orwell, em 1984, a Ray Bradbury, em Fahrenheit 451, que relataram como as ditaduras de todas as persuasões impedem o pensamento, reduzindo e distorcendo o número e o significado das palavras. Não há pensamento crítico sem pensamento. E não há pensamento sem palavras. Como construir um pensamento hipotético-dedutivo sem dominar o condicional? Como imaginar o futuro sem conjugação com o futuro? Como entender uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, sejam eles passados ou futuros, bem como sua duração relativa, sem uma linguagem que faça a diferença entre o que poderia ter sido, o que era, o que é, o que poderia acontecer e o que acontecerá depois que o que poderia acontecer acontecer? Se um grito de guerra fosse ouvido hoje, seria dirigido a pais e professores: faça os seus filhos, os seus alunos, os seus alunos falar, ler e escrever.
Ensine e pratique o idioma nas suas mais variadas formas, mesmo que isso pareça complicado, principalmente se for complicado. Porque nesse esforço está a liberdade. Aqueles que explicam o tempo todo que é necessário simplificar a ortografia, purgar a linguagem dos seus “defeitos”, abolir os géneros, os tempos, as nuances, tudo o que gera complexidade, são os coveiros do espírito humano. Não há liberdade sem requisitos. Não há beleza sem a ideia de beleza.
AGEFI – (Publicado em 15 de Novembro de 2019)
[Tradução, destaques e sublinhados meus. “TagCloud” gerada em CloudGenerator.]