Dia: 7 de Maio, 2021

RTP1, 05.05.21 – “É Ou Não É”

É Ou Não É? – O Grande Debate

Géneros: Informação – Entrevista e Debate

A opinião de quem sabe. O debate entre quem pensa diferente

Em “É Ou Não É? – O Grande Debate” é um espaço de debate onde se pretende promover a discussão e dissipar dúvidas, mas acima de tudo acrescentar conhecimento sobre os principais assuntos da actualidade, desde a Saúde, à Educação, à Justiça, mas também dos desafios com que o futuro nos interpela diariamente, designadamente ao nível tecnológico e ambiental.
Carlos Daniel é o moderador deste espaço de debate que contará com a presença de personalidades da vida pública e especialistas para uma reflexão tão interessante quanto profunda sobre os tempos de mudança onde a investigação, a inovação e os problemas do mundo global são fatores decisivos e presentes nas nossas vidas.
[“site” RTP, página do programa]

Em Português nos Entendemos?

Episódio 14 de 43 Duração: 130 min

Na semana em que lhe dedicam um dia mundial, vamos debater a nossa pátria maior, que é a língua portuguesa, a quinta mais falada no mundo, a primeira no hemisfério Sul. Que importância tem hoje no mundo o idioma de Camões, que valor económico tem de facto e qual é a estratégia para crescer e se afirmar num mundo dominado pelo inglês, espanhol e mandarim? “É ou Não É”… ainda em português que nos entendemos? [“site” RTP, página do episódio]

No “post” anterior sobre o mais recente “episódio” deste mesmo programa vimos, a traço grosso, em grandes pinceladas, o que foi e em que consistiu a acção de propaganda governamental genericamente designada como “Dia Mundial da Língua” brasileira: foi uma palhaçada feérica e consistiu num concurso que bem poderia chamar-se, por exemplo, “Quem Quer Ser Otário”.

Dirigidos às massas ignaras, à sua avassaladora ignorância e contando com que o  embrutecimento da população (a política de Estado vigente) tenha já provocado a paralisia total e uma geral, bovina anestesia, os “festejos” do dia da língua brasileira contaram com umas “sessões solenes” insuportavelmente soporíferas e ainda, fazendo de cereja no topo do bolo do caco, o tal programinha no canal principal da televisão estatal.

São dessa ressonante sessão filmada as gravações parcelares que se seguem. Recomenda-se a visualização de toda a fantochada, na íntegra, pelo menos a todos aqueles que sofrem de insónias, mas ao menos para efeitos de arquivo morto (e bem morto) aí ficam uns excertos da acordista, esquisitíssima, por vezes hilariante sessão.1.º excerto: Intervenção inicial de Nuno Pacheco, o único anti-acordista presente na tertúlia armadilhada. Nota-se-lhe a irritação, compreensível, e há que reconhecer-lhe o mérito de provocar rugas na testa ao apresentador, aos “convidados” e à “Excelência”, mais uns sorrisinhos condescendentes a armar ao superior nos diversos vendedores de livros, discos e cassettes pirata, entre os outros artistas que por igual “abrilhantaram” a emissão.

2.º excerto: ASS puxa dos galões e faz outros números a ver se impressiona a pategada; anuncia oficialmente quando e como Portugal se tornará na “porta dos fundos” para que os brasileiros, à conta da “língua universáu”, entrem à vontade na União Europeia, contornando o Acordo de Schengen.

3.º excerto: Outra intervenção de Nuno Pacheco. Vale, como “etiqueta”, a máxima de Mark Twain, em tradução livre: «nunca tentes argumentar com idiotas; eles vão arrastar-te para o nível deles e então tornam-se imbatíveis com a sua imensa experiência em  estupidez.»

4.º excerto: Um indivíduo que não sabe sequer que o “acordo” de 1990 não é de 1994 (porque 1990 foi em 1990, chavalo, 1990 não foi em 1994, bacano, topas?) debita umas coisinhas e (felizmente) cala-se.
Sob as rugas profundas na testa do bacano Carlos Daniel, lixado da vida com os “chatos” anti-acordistas, Nuno Pacheco fala dos dois sistemas vocálicos. Deve ter-se-lhe varrido no momento a patranha da “pronúncia culta”, entre outras enormidades acordistas habituais.

5.º excerto: Para o fim estava guardada a “discussão” do AO90 em sentido mais lato (digamos). Curiosamente, logo no início, ouve-se alguém da “régie” do programa a largar umas postas que parecem ser sobre o AO90; se calhar foi o encenador de serviço mas também pode ser ilusão ótica (não confundir “ótica”, de ouvido, com, nos termos do AO90, a “ótica” dos zarolhos).
A tal “escritora” desfia um chorrilho de idiotices (e mentiras), ASS puxa de novo dos galões e dá, em estreia mundial, desvenda ao bom povo que lavas no rio a sua profundidade intelectual (meio metro, mal medido): diz que, apesar de não ser linguista e, portanto, abster-se desse tipo de questões “mais técnicas”, acha sobre o AO90 uma data de coisas “mais técnicas” e discursa pormenorizadamente como se fosse um linguista (manhoso, mas pronto, vá, faz de conta).

E ósdespois, como aliás é habitual, não morreram nem as vacas nem os bois, ou seja, tudo como dantes, quartel-general em Abrantes, a Oeste (e nos outros pontos cardeais) nada de novo, etc., basta escolher ao acaso uma das inúmeras expressões idiomáticas e trivialidades palavrosas para qualificar genericamente mais esta fantochada a propósito do “Dia Mundial da Língua” brasileira.

A táctica acordista mais uma vez funcionou, até porque está bem afinada e  generosamente untada, servindo uns quantos lacaios o arroz com feijão (e fubá) aos alegres convivas que, em amena cavaqueira e muito mal disfarçada galhofa, vão queimando com velinhas de aniversário as sobras da Língua Portuguesa.