De facto. O brasileirismo parolo, ou o brasileirismo tout court, sem adjectivação, é uma “doença cultural”. E dessa maleita, disfarçada de “reforma” ortográfica e com andrajos de “acordo”, que resulta da indigência mental de alguns políticos, o que resta afinal é um concerto ao desafio entre vigaristas e ladrões que à desgarrada se esganiçam a tentar explicar o inexplicável e justificar o injustificável.
Para a já larga massa de tugas deslumbrados pelo “gigantismo” do Brasil, os admiradores — tão indefectíveis quanto feroz e alegremente ignorantes — de um putativo Império do qual iriam apanhar as sobras, o que importa é debitar suas inanidades, seja como for, por qualquer meio, tentando abalar ou ao menos bulir com a firme determinação das pessoas normais que, por definição e inerência, combatem a cacografia, o neo-imperialismo latente, o conceito brasileiro de lusofonia (isto é, o expansionismo político-económico zuca) e o supino desprezo de muitos brasileiros por tudo aquilo que cheire a português.
Será bom, por conseguinte, ao menos por um módico de decência e um mínimo de respeito — por eles, porque por nós isso parece ser impossível –, que o Brasil institua de uma vez por todas a sua própria Língua nacional.
Nestes tempos de pandemia, por maioria de razões, ao menos que tenhamos de ambos os lados do Atlântico aprendido que a contaminação — logo, a violência e a virulência da doença — varia na razão directa dos elementos envolvidos, em contacto, e na inversa das medidas de prudência e de racionalidade tomadas de forma transparente e racional. Não se trata de confinamento, e muito menos de isolamento, é tudo uma questão de bom-senso.
O primado da razão está hoje mais vivo do que nunca; não se extinguiu no século XVIII nem ardeu numa qualquer prateleira de museu.
Viva a língua brasileira!
Viva a Língua Portuguesa!
Lusofonia, adeus!
Sérgio Rodrigues
www1.folha.uol.com.br, 12.05.21
Olá, meu nome é Sérgio e eu já acreditei no mito da lusofonia. Embaraçoso, eu sei. Defendia o acordo ortográfico e tudo. Essas coisas costumam ter raízes fundas na história da gente.
Lembro que lia Fernando Pessoa e sentia que o sujeito, além de frequentar o café A Brasileira no Chiado (onde ainda se encontra em forma de estátua), poderia ter tido um heterônimo brasileiro se quisesse.
Era tão grande minha identificação que, ao publicar em 2016 o livro “Viva a Língua Brasileira!”, usei o homem para me declarar contrário à ideia do português brasileiro como idioma autônomo – ideia amparada por um caminhão de argumentos linguísticos, à espera apenas de uma decisão política.
A defesa que o livro faz da língua falada aqui é cada dia mais atual, mas já não creio na miragem de uma comunidade internacional em que nossas diferenças fossem encaradas como riqueza e não como defeitos.
Eu via beleza naquilo. Pregava uma língua brasileira “sem submissão ao jeito lusitano, mas ao mesmo tempo sem esperneios de independência que pudessem transformar (que horror!) a poesia de Fernando Pessoa em terra estrangeira”.
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