«A CPLP tem mantido esta tradição de ser uma organização em que tudo se decide por consenso». A “notícia” despeja assim a frase, a seco, citando as circunspectas declarações de um tipo qualquer, um tal Téte, acordista como todos os índios da tribo Lusofon; tocou a este Téte chegar-se à frente e bolçar uma das mentiras favoritas dos brasileiros adoptivos; repetem eles, veneradores, atentos e obrigados, o exacto inverso daquilo que foi decidido na cimeira de Chefes de Estado da CPLP, em Brasília (pois claro), no desgraçado ano de 2002.
Ou seja, não a voo de pássaro mas a voo de F16, que é ligeiramente mais rápido, resumamos a golpada que se iniciou precisamente naquela mesma Cimeira de Brasília: a partir de 2002 deixou de ser necessário que todos os oito Estados da CPLP subscrevam seja o que for, bastando o autógrafo de três deles (nem metade!) para que um “tratado”ou “acordo” entre em vigor… em todos os oito. Foi com base nesse expediente espertalhão (e nojento) que o II Protocolo Modificativo (que vertia em articulado a golpada) foi aprovado, tendo este dado origem em Portugal à RAR 35/2008 (aprovada pelos zombies de São Bento) e tendo esta accionado os mecanismos governamentais (RCM 8/2011) para a entrada em vigor do AO90, de forma “automática” e inerente.
Belíssimo esquema, não? Ah, pois sim, pois sim, o cambalacho (como se diz em brasileiro) é algo à altura de Al Capone, por exemplo, e, não desmerecendo, truque de prestidigitação mental digno de um Alves dos Reis, esse honestíssimo gatuno.
Outra frase lapidar igualmente escarrapachada na notícia é, por engraçada coincidência, do seguinte teor: «o mandato de Angola da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) será marcado pela criação do pilar económico e empresarial.»
Extraordinária ordinarice.
Disfarçar era dantes; os homens-de-negócios que vão “fazendo pela vidinha”, os garbosos marialvas da língua universáu por aí andam, ataviados de políticos ou carreando lantejoulas de artistas feéricos, cavalgando a trote o jerico da “expansão do idioma” brasileiro, essa fina escumalha exibe-se hoje em dia com cagança. Agora ele é muito mais de caras, imensa lata, nada de fingimentos, que já não carece: pretendem enriquecer estupidamente à conta da lusocoisa e portanto vale mesmo tudo menos tirar olhos (mas nunca fiando).
Evidentemente, a expressão “criação do pilar económico e empresarial” significa literalmente, parafraseando a célebre máxima de Oliveira Salazar, se bem que a propósito de outras guerras, “para Angola, rapidamente e em força”. Garantida a neo-colónia inversa como porta dos fundos para entrar na Europa e garantido o assinar de cruz por parte de dois micro-estados ad-hoc (Cabo Verde 2005, São Tomé 2006), só faltava invadir Angola e saquear as suas riquezas naturais.
O próximo encontro de homens-de-negócios do II Império brasileiro tocou não por acaso àquela ex-colónia portuguesa. A Cimeira de Chefinhos 2021 não surge “ao calhas” em Luanda. Os sinais eram mais do que evidentes e já aqui mesmo, neste modesto apartado de correio, tinham sido assinalados alguns deles, nomeadamente tomando a pista do que se vai passando em Macau — um entreposto para a China e feitoria para Angola. Basta unir as pontas da meada ou ligar os pontos do desenho (sim, porque há muita gente a quem é preciso fazer um desenho para que entendam minimamente o óbvio ululante); poderá suceder que por fim aos mais cépticos se descomponha o sorrisinho cínico e o seu insuportável convencimento nos meandros do paternalismo.
Talvez ajude na não muito complexa desmontagem da tramóia atender ao desfecho de Téte, salvo seja: «relativamente ao Acordo Ortográfico, ainda não ratificado por Angola, Téte António disse que é um trabalho “em progresso”.»
Em política, isto é, nos negócios (estrangeiros ou domésticos), brandir a espada de Dâmocles — metáfora para a expressão típica da polícia de trânsito “das duas, uma, o xidadão ou paga a multajinha ou então paga a multajinha” — continua com a mesma eficácia que tinha há 2.300 anos: sim, com certeza, mas há aqui estas facturazinhas que é necessário liquidar…
Bem, está claro ou ainda não?
Não? Pronto, haja pachorra, então ficam mais três “djicaiss”: não é gelo mas em bruto parece, diz que nem tudo o que brilha é, usa-se para besuntar batoteiros.
“Não existem fricções” entre estados-membros da CPLP, afirma chefe da diplomacia angolana
Entrevistado pela Lusa em vésperas da cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o chefe da diplomacia angolana desvalorizou controvérsias recentes e destacou a aproximação entre os nove países integrantes (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Guiné Equatorial), que se farão representar ao mais alto nível em Luanda nos dias 16 e 17 de Julho.
Questionado sobre a ausência do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, encarada como um sinal do alegado esfriar das relações entre os dois países por conta da situação da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola, Téte António garantiu que “não existe fricções entre os Estados-membros da CPLP”.
“Este é um caso que aconteceu numa Igreja e não tem nada a ver com as relações entre a República de Angola e o Brasil. As agendas dos chefes de Estado não são agendas fáceis e há sempre uma compreensão cada vez que acontece que um ou outro não possa estar presente, mas não existem fricções entre os Estados-membros da CPLP. Pelo contrário, a CPLP tem mantido esta tradição de ser uma organização em que tudo se decide por consenso”, argumentou.
De acordo com Téte António, a aproximação existente entre os Estados-membros da CPLP é algo “raro” de encontrar noutras organizações.
A mesma resposta foi dada em relação à participação da Guiné-Bissau, face a informações recentes sobre um alegado mal-estar diplomático entre os dois países, depois das críticas que o presidente guineense Umaro Sissoco Embaló dirigiu, no ano passado, ao seu homólogo angolano, João Lourenço, que acusou de interferir em assuntos internos da Guiné-Bissau e de perseguir a família do anterior chefe de Estado, José Eduardo dos Santos.
O diplomata destacou, por outro lado, que o mandato de Angola da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) será marcado pela criação do pilar económico e empresarial, para o qual contam com o apoio de todos os Estados-membros.
“A República de Angola gostaria de ver um quarto pilar acrescentado às nossas prioridades actuais, que é o pilar económico e empresarial”, declarou Teté António.
O ministro das Relações Exteriores de Angola frisou que Angola vai continuar a defender os conteúdos e prioridades já existentes na organização, que completa agora 25 anos de existência.
Segundo Téte António, cada presidência é chamada a dar a sua pequena contribuição à vida da organização e à dinâmica que esta vai conhecendo, e, nesse sentido, Angola “conta com o apoio de todos para que se tenha este novo pilar, que constitui, na verdade, parte de um processo de crescimento da organização”.
O ministro angolano frisou que, entre as questões que vão marcar a cimeira, que acontece num momento de pandemia, encontra-se também a da mobilidade entre os Estados, cujo documento será assinado por todos.“Mas não basta termos os documentos ratificados por todos, é preciso vermos na prática como é que esta mobilidade vai funcionar, é aí que os nossos povos vão julgar o bem fundado desta mobilidade que introduzimos”, referiu.
Relativamente ao Acordo Ortográfico, ainda não ratificado por Angola, Téte António disse que é um trabalho “em progresso”.
O Acordo Ortográfico foi assinado para entrar em vigor a 1 de Janeiro de 1994, mediante a sua ratificação por todos os países-membros da CPLP, mas continua sem ser aplicado em vários países lusófonos, sendo Angola o único que não assinou o documento.
O chefe da diplomacia angolana salientou, por outro lado, que a Declaração Final da cimeira vai trazer uma abordagem sobre a pandemia da covid-19, realçando que é consensual que a solidariedade “é um valor de maior importância nestas circunstâncias”.
“Como sabemos há uma grande preocupação, sobretudo por parte do mundo em desenvolvimento, relativamente ao acesso às vacinas. A primeira batalha foi o acesso aos materiais de biossegurança e a segunda é o acesso às vacinas e nós defendemos que o mundo só será seguro se todos nós formos vacinados. Não adianta vacinarmos ilhas, (termos) países a isolarem-se e vacinarem-se sem olhar para o resto do mundo”, salientou.
Sobre um possível apoio de Angola a Guiné Equatorial para o próximo mandato à frente da CPLP, o ministro das Relações Exteriores disse que “esta é uma decisão que será tomada a seu tempo”.
Será feita “uma consulta entre os chefes de Estado, mas sabemos que, por enquanto, não temos registada nenhuma decisão sobre a próxima presidência, portanto, a seu tempo os chefes de Estado vão decidir”, afirmou.
[Transcrição integral de artigo publicado pelo “Expresso das Ilhas” (Cabo Verde) em 10.07.21. Destaques, sublinhados e “links” meus. Imagem de topo de: embaixada de Angola em Espanha. Imagem de MRS de: “Diário de Notícias” (copyright da imagem © TIAGO PETINGA/LUSA. ]
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