«Toda a lógica instrumental do AO90 é brasileira» [jornal “Opção” (Brasil)]
«A verdade é que a resistência de Portugal é de cunho político. As mudanças para os portugueses, “pátria da língua”, são maiores, visto que a influência brasileira nos demais países lusófonos cresceu muito nos últimos anos. Sendo Portugal a colonizadora, aceitar mudanças impostas pela antiga colônia significa receber um duro golpe na soberania nacional portuguesa.»
«Como a lógica do acordo é brasileira, poucas foram as modificações graves para a língua do Brasil.»
«A grande pergunta é: por que o Brasil, um país que não investe em políticas públicas para difusão de sua língua e de sua literatura, tem interesse em colocar o acordo ortográfico em prática? Tânia Rezende responde: “A língua é, até hoje, uma ferramenta de dominação política e econômica. A África ainda é um campo de dominação. O Brasil quer entrar e o acordo é um meio para isso”.»
Se bem que existam outros “posts” anteriores sobre o assunto, nada é mais claro do que a admissão expressa que os próprios brasileiros fizeram a fineza de publicar em 02.07.2016 sobre a sua estratégia expansionista e claramente neo-colonialista: «Toda a lógica instrumental do AO90 é brasileira», titulava naquela data o jornal brasileiro “Opção”. De facto. Ainda que alguns tugas recusem tão flagrante evidência, com uma mescla de fé, crendice e devoção aos “irrmaums” deles, torna-se-lhes assim — preto no branco — impossível negar a lógica férrea dos maiores interessados na propagação da colossal fraude. E ainda para mais porque o arrazoado vai ao ponto de determinar o conteúdo programático da expansão brasileira utilizando o AO90 como cortina de fumo e pretexto para que se sirvam da CPLP, outra invenção brasileira. «A língua é uma ferramenta de dominação política e económica», dizem os zucas, e dizem bem. E «a África ainda é um campo de dominação onde Brasil quer entrar e o acordo é um meio para isso.» Ah, pois é. Ah pois quer. E «o acordo é um meio para isso», concluem… e concluem perfeitissimamente.
Todo o articulado da notícia comprova essa mesma lógica (sem aspas), aliás com o maior desplante, no que não difere em estilo dos diversos apelos já aqui igualmente transcritos a que seja finalmente reconhecida a língua brasileira como a Língua nacional do Brasil.
Ao contrário do que sucede tradicional e sistematicamente naquele exótico país (até em questões de Estado), não há nisto o mais ínfimo vestígio de “candomblé” ou bruxedos em geral. Trata-se de pura estratégia geopolítica, motivada por ambição desmedida, a explanação (com algum descaramento) daquilo em que consiste e para que lhes serve a CPLP, decorrendo e dependendo dos negócios realizados à sua sombra o pretexto político, o disfarce, a inacreditável fantochada — o AO90.
É precisamente nessa linha de actuação que surge o textículo transcrito em baixo. Na sequência do “post” anterior e usando o mesmo tipo de “Inteligência” (transliteração brasileira do termo em Inglês “intelligence”, serviços secretos), a agência Brasilusa despacha mais um pacho de lavagem ao cérebro. Mais do mesmo, como previsto: Portugal, a “terrinha” onde todos os brasileiros que desembarcam no Porto ou em Lisboa têm um tio, uma avó e uma chusma de primos, passará em breve a servir como porta dos fundos para a União Europeia. Outra “novidade” velha e relha é que os tipos já estão a arreganhar a taxa para abocanhar os diamantes e o petróleo angolanos. Tudo à conta da “lusofonia”, é claro, essa foleiríssima fábula ao estilo das telenovelas mexicanas (centenas de episódios emitidos desde 1986), mas agora já sem sequer tentar esconder os negócios (daí “o valor económico da língua“) e a “mobilidade” (fintar o acordo de Schengen, enganar os contribuintes europeus).
É de caras. Montados num tandem sem pedais, a caminho de mais uma Cimeira, mais umas mentiras, mais uns quantos discursos ocos e mais um chorrilho de insultos à inteligência de 10 milhões, os altos dignitários presentes em Luanda — afinal baixos — irão prestar vassalagem aos DDT (Donos Daquilo Tudo), os emissários de Brasília, e oficializar a sua “participação” nas gemas, nos carates, no barril.
Barril, não baril.
CPLP: António Monteiro pede ajuda concreta a Moçambique
O embaixador António Monteiro, um dos impulsionadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) quando ela foi criada, defende que os chefes de Estado e de Governo da lusofonia devem, na cimeira que começa na sexta-feira em Luanda, manifestar disponibilidade para ajudar Moçambique, mas também aprovar o acordo de mobilidade e repensar o financiamento da organização.
Numa entrevista à Lusa a propósito dos 25 anos da organização e da cimeira de Luanda, na qual Angola assumirá a liderança da organização, António Monteiro disse esperar “cada vez maior envolvimento dos países na CPLP e que estes dêem, cada vez mais, o valor que a CPLP merece”, tendo em conta aquilo que a organização pode ser no futuro.
Moçambique merece, no actual contexto, uma atenção especial. Para o embaixador, os chefes de Estado e de Governo “têm de pronunciar, nem que seja uma palavra de solidariedade, que eles [moçambicanos] precisam, mas também de disponibilidade de todos os meios diplomáticos, militares e de inteligência”, defendeu. Na sua opinião, a situação em Cabo Delgado exige ainda um papel de outras organizações, junto das quais a CPLP pode chamar a atenção, de modo a que haja “uma intervenção que não pareça uma ocupação” e ao mesmo tempo se desenvolvam acções de desenvolvimento, para dar alguma confiança às populações, considerou.“Moçambique precisa de auxílio, se for preciso até militar, mas sobretudo de segurança, em matérias de inteligência, para poder fazer face àquilo que eu acho que é terrorismo, que depois poderá explorar alguns descontentamentos locais e atrasos no desenvolvimento que ali possa haver” frisou. A CPLP, como tem “alguma cooperação no campo militar, que é profícua e tem tido até alguns êxitos na maneira como trabalha, podia e devia debruçar-se sobre esse tema em conjunto”, considerou.
Já sobre a proposta para a mobilidade de pessoas no espaço da CPLP considera-a como um passo positivo. “Aquilo que me parece que é correcto e faz parte deste tempo de CPLP é criar gradualmente espaços de mobilidade, dando a certas categorias mais facilidades do que outras, exactamente para que nenhum de nós, no espaço que integramos, assuste os nossos outros parceiros”, defendeu.
Na sua opinião, com este acordo, já aprovado em Conselho de Ministros, a CPLP “vai agilizar, em certa medida, por categorias, claro, e começando com gradualismo pontos de facilitação de deslocação” de pessoas no espaço da comunidade, referiu. E “isso é importante, porque é mais um sinal de confiança da CPLP”, salientou.
Facilitar o acesso ao crédito
Da Cimeira de Luanda, o actual presidente da Fundação Millennium BCP espera, aliás, “duas grandes medidas”: um acordo sobre mobilidade e, “sobretudo, um apelo muito forte a entrar no campo económico e empresarial”. Mas para se desenvolver o vector económico também “temos de ver como, de um ponto de vista multilateral, podemos criar condições de acessibilidade ao crédito”, defendeu. António Monteiro recordou que “até já se tentou criar um banco” multilateral, da CPLP, mas os sistemas bancários dos Estados-membros eram tão diversos que a ideia não avançou.
Quanto ao financiamento da própria CPLP, António Monteiro realça que a eventual aprovação do novo regulamento dos observadores associados na cimeira será outro avanço importante, num momento em que há 13 novas candidaturas a esta categoria, entre as quais as dos EUA, Canadá, Índia e Espanha. “Penso que neste regulamento ou está previsto o pagamento de quotas ou a participação efectiva [dos observadores associados] em projectos, dos quais uma percentagem caberia à CPLP”, referiu. Assim, “sinto que se pode trabalhar em formas criativas de dotar o orçamento da CPLP de mais valor, de o aumentar”, realçou.
Caso sejam aprovadas em Luanda, e tendo em conta que a CPLP já tem hoje 19 observadores associados, a comunidade passará a contar com um total de 32 países e organizações com aquele estatuto. Porém, para o diplomata, “os tempos e as circunstâncias em que vivemos impõem agora à comunidade avançar em áreas, que até aqui mereceram menos atenção”, como “a parte económica e a parte da mobilidade”.
Além disso, o também antigo ministro português dos Negócios Estrangeiros considerou que a CPLP precisa de procurar novas formas de financiamento para uma cooperação multilateral mais eficaz. “Temos a possibilidade até de criar valor do ponto de vista financeiro, económico, (…) das próprias empresas que trabalham dentro da CPLP e, com apoio da CPLP, render alguma percentagem que possa caber à própria organização, se for ela a dinamizadora de todos esses projectos”, frisou o embaixador. Da parte dos Estados-membros espera também que haja “melhores contribuições”, quando houver possibilidades financeiras para isso.Em relação à Guiné Equatorial, o mais recente Estado-membro da CPLP e o único não falante de português, onde ainda vigora a pena de morte, o antigo ministro português dos Negócios Estrangeiros defendeu que os chefes de Estado e/ou de Governo devem dar “o sinal” ao país “que tem de avançar mais depressa naquilo que lhe possibilitará ter uma integração efectiva nos valores da comunidade”.
Por último, o diplomata defendeu também que na Cimeira deveria haver uma reflexão sobre o mandato e escolha do secretário executivo. Na opinião de António Monteiro “os secretários executivos deveriam trabalhar com quatro anos de perspectiva”, e não com dois anos, podendo o mandato ser prolongado por mais dois se o Estados assim o entenderem, como mandam os estatutos em vigor. Além disso, defendeu “uma eleição do secretário executivo”, e não uma escolha por ordem alfabética dos países, como é hoje.
A questão da sustentabilidade
Em jeito de balanço destes 25 anos da CPLP, que se celebram no próximo dia 17, o embaixador considerou que o principal ganho foi a “entreajuda” entre os seus Estados-membros. “Nós temos de dizer que o principal ganho da comunidade foi a entreajuda, que imediatamente se estabeleceu. Ajuda a resolver problemas de cada um de nós”, o que “se traduziu muito numa cooperação política e diplomática activa”, afirmou.
Ainda assim, sustentou que a cooperação naquela organização “continua a desenrolar-se mais ao nível bilateral do que multilateral”. E na sua opinião só há uma explicação para isso: “a CPLP tem desde o início um problema, que é a questão financeira”. Porque a sua “sustentabilidade vem apenas das dotações dos Estados-membros”, realçou. Neste cenário, António Monteiro defendeu a criação de “parcerias efectivas no trio da CPLP, que favoreçam todos os países”.
Para António Monteiro, faz ainda falta à organização uma ligação maior ao Fórum Macau, entidade que tem como missão reforçar o intercâmbio económico e comercial entre a China e os países de língua portuguesa, e às comunidades de língua portuguesa espalhadas pelo mundo.
Quanto ao português, a língua de todos, que cimentou a comunidade, é “já hoje”, para o diplomata “uma língua em expansão”, basta olhar para as previsões de crescimento demográfico de Angola e Moçambique e perceber com o que o Brasil já contribui.
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os Estados-membros da CPLP.
[Destaques, sublinhados e “links” (a verde) meus. Imagem de topo de : BBC/EPA. Corrigi algumas gralhas do original (em Português).]