E vão 5. Este é outro episódio da mais recente telenovela brasileira rodada em Portugal. A coisa arrisca-se portanto, dada a enormidade — em duplo sentido — a ter uma extensão “generosa”, ao estilo das “melhores” telenovelas mexicanas, o que deverá certamente contentar os e as mais serviçais (digamos assim) que também por cá apreciam assistir a sub-produtos televisivos.
Neste “capítulo”, especialmente, ainda é mais doloroso e confrangedor — se tal é possível — levar com a trama (pois, é tramada) e conseguir sobreviver à provação, visto que se trata de pura violência mental, se bem que sem sequelas de maior, isto é, conseguindo manter um módico de juízo.
Seria demasiadamente fastidioso e maçador rebater as “reflexões” deste bloguista brasileiro, por grosso ou por atacado, tantas e tão delirantes elas são. Fiquemo-nos, portanto, por apenas três da inúmeras patacoadas. Não por algum motivo em especial, este trio de charlas, apenas para ilustração, salvo seja, e porque três é um número “giro” (a condizer com o nome do blog), porque três foi a conta que Deus fez, como diz o povo, ou apenas porque, mui prosaicamente, três pontapés nos fundilhos ou murros nas ventas em sentido figurado serão porventura dose suficiente.
- «intolerância com a diversidade da língua portuguesa». Claro que o fulano pretende dizer com esta espécie de construção frásica algo como “vocês, seus tugas exploradores, vocês que nos roubaram o ouro” (ainda hoje os portugueses são culpados por tudo aquilo que de mau sucede no Brasil), “agora”, continua o “raciocínio” do Gian, “agora é que vocês vão pagá-las, tomem lá a nossa cacografia, o nosso modo dji fálá, agora assoem-se a este guardanapo”. É o que significa na frase a palavrinha “intolerância” e, principalmente, é o que o tipo pretende dizer com “diversidade”: não é diversidade coisíssima nenhuma, é impor a língua brasileira a todos os portugueses, crianças e adultos.
- «os nomes foram alterados para evitar represálias». Inacreditável. “Vitimização”, mininas e mininos, é isto. Evidentemente, não existem represálias algumas, está a inventar com enorme descaramento. Vai ao ponto de nos tratar, pretendendo ser subtil — o que consegue tanto como pegar fogo à casa para aquecê-la — e pouco chui, como se fôssemos todos uma cambada de bandidos, torcionários ou nazis. Este fenómeno de atirar para cima dos outros as próprias culpas (ou hábitos) designa-se em psiquiatria como “transferência”. Presumo que no Brasil haja uns psiquiatras baratinhos, fica a caridosa sugestão.
- «deveria ter uma flexibilidade com alunos estrangeiros». Isto está em brasileiro mas entende-se, para variar, se bem que não se compreenda… sem traduzir o real significado. Quem tal diz, um papá brasileiro imigrante, pretende significar que o facilitismo especialmente dedicado aos alunos brasileiros em Portugal, em todos os níveis de Ensino, deveria ser ainda mais largo; ou seja, acham inacreditável não só que em Portugal se fale Português como que aos estudantes “estrangeiros” (leia-se “brasileiros”, porque eles estão-se borrifando para as outras comunidades estrangeiras) deveria ser dado um estatuto de superioridade (quê? Moral? Intelectual? Futebolística?) e, portanto, deveriam ter nota máxima a todas as disciplinas enquanto estão na praia a “aprender” surf e bodyboard.
Como é hábito aqui, neste modestíssimo blog, a maior e mais suculenta parte das piadas e anedotas (além das que se explicam por si mesmas) está contida nos destaques, sublinhados, links e citações com que tempero geralmente os caldinhos.
Este, infelizmente, saiu-me um pouco rançoso, bastante enjoativo, muito azedo.
Em Portugal, falar ʽbrasileiroʼ na escola é preocupação para os pais e problema para alunos
Por Gian Amato
blog “Portugal Giro”, 16/11/2021
Manuel (8) e Henrique (12), filhos de Gonçalo Castro, assistem Felipe Neto em casa em Lisboa | Gonçalo Castro
Falar “brasileiro” virou moda há muito tempo entre as crianças portuguesas, que imitam youtubers famosos. Mas os alunos têm sofrido represálias dos professores nas escolas de Portugal, onde há cada vez mais relatos de discriminação, xenofobia e conflitos em salas de aula devido à intolerância com a diversidade da língua portuguesa. Especialistas reconhecem o problema e o secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, defendeu em artigo a variedade como forma de tornar o sistema educacional mais inclusivo.
Os exemplos de discriminação são muitos, começam no ensino básico e acompanham a trajetória do aluno brasileiro até a universidade. Recentemente, uma aluna brasileira diz ter sido repreendida em sala de aula porque não pronunciou uma consoante com a entonação que um professor achava correta. Segundo ela, o docente disse que a brasileira poderia responder quando aprendesse a falar. A direção da escola pública soube do caso.
Fora de sala de aula, as crianças portuguesas se esforçam para falar como os brasileiros. Uma parte da sociedade portuguesa incentiva como algo lúdico. A filha de uma portuguesa gosta tanto dos canais brasileiros que imita o sotaque de uma amiga brasileira do trabalho da mãe, enquanto anda pela casa filmando tudo com um celular. Já uma outra parte dos pais portugueses procura psicólogos e terapeutas para estancar o que consideram um “problema”.
Pai de Joana, uma menina de quatro anos, o carioca LuizBittencourt (os nomes foram alterados para evitar represálias) diz que as crianças e mesmo amigos do trabalho adoram imitar brasileiros, mas de maneira folclórica. Quando é para valer, no trabalho ou na escola, a variedade é rechaçada, dizem.
— A filha de uma conhecida se esforça para falar como a gente, passa o dia todo vendo os vídeos no YouTube. O pai briga dizendo que ela não é brasileira e ela chora. Eles adoram imitar o que dizemos, até mesmo comigo no trabalho. Mas na escola tem que ter a pronúncia correta. Os educadores aos poucos vão moldando os alunos “brasileiros” para entrarem no ritmo, tipo: pronomes depois do verbo, como amo-te — disse Bittencourt.
A própria Joana, que emigrou muito nova com os pais para Portugal, corrige a família em casa, reproduzindo o que aprende no colégio. As diferenças, segundo o pai, ganharam relevo e ele e a mulher têm o hábito de usar expressões mais comuns em Portugal para facilitar a compreensão em sala de aula e minimizar confusões.
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