«Língua Cabo-verdiana vai ser leccionada no próximo ano lectivo» [“Expresso das Ilhas” (Cabo Verde), 10.11.21]

Nha Kretxeu

Palavras ta faltan alvez
Txeu bes ndexa di flau
Nkre pa bu sabi dibez
É bo y ninguen mas

Longi bo nha vida é triste
Sen bo nka sabi vive nau
Nta amau, nka ta diziste
Amor é u kin ten pan dau

Na bu ladu tudu é bunito
Nkre dau, mar, lua y ceu
Mas bu sabi, é ka di meu
Nton nta dau um beju infinito
Bu sabi bo é nha kretxeu

Nkreu otra bes
Nen si for pa ultimu bes
E pa nunka mas nperdeu

Na dia ki bu nansi
Sol ka mutu brilha kel dia
Bu toma metadi de se luz

Dia ki bu beleza discarapi di ceu
Ceu perdi mas um strela
Tera fortalesi
Nhas odjus agradesi


Anilton Levy [Dexam Sabi]

 

O cabo-verdiano é a língua nacional de Cabo Verde assim como a língua brasileira é a da República Federativa do Brasil. Do mesmo modo, a Língua Portuguesa é a adoptada oficial e constitucionalmente pela República Portuguesa.

Se bem que ainda haja alguma resistência “ideológica”, por parte dos ultra-minoritários neo-imperialistas brasileiros e de alguns parasitas portugueses que se venderam aos interesses brasileiros, Cabo Verde é uma pequena amostra daquilo que, já sendo situação de facto no presente, será uma inevitabilidade meramente burocrática num futuro nada longínquo: depois de Brasil e Cabo Verde terem tornado oficiais e de Estado as respectivas línguas nacionais, caberá a cada uma das restantes ex-colónias portuguesas determinar qual o estatuto funcional ou legal que decidiram atribuir à Língua Portuguesa: oficial, veicular, como língua-franca, regional ou parcial, adopção plena ou meramente instrumental, apenas para efeitos determinados, ou ainda se pretendem adoptar como língua oficial uma das existentes no território sob sua administração; em alternativa, evidentemente, considerando que a determinação de uma língua oficial é um acto de soberania legítimo, poderão optar por fixar a sua própria norma ortográfica, designando-a conforme entenderem e implicando a criação de uma Língua nacional própria — mais uma das diversas que, assim como a Língua Portuguesa “nasceu” do Latim vulgar (à semelhança da francesa, da espanhola, da italiana, da catalã, da romena, de todas as do ramo indo-europeu) tiveram a sua origem no Português canónico.

Cabo-Verde acaba de dar o primeiro passo (ver transcrição abaixo) numa caminhada que, além de perfeitamente natural, é inevitável, e cuja marcha, tão inexorável como a simples passagem dos tempos, conduzirá finalmente cada uma das ex-colónias portuguesas à sua independência total e absoluta e ao reconhecimento daquilo que de mais identitário as distingue — a sua Língua própria.

A alguns saudosistas de um passado colonial e a outros tantos tirocinantes maníacos de sonhos imperialistas serôdios, poderá ainda incomodar não apenas a constatação daquilo que já é real hoje como o que se aproxima a passos largos e que então será de arrasar, porque deve arranhar-lhes seriamente as meninges o ribombar ensurdecedor provocado pela implosão do “acordo ortográfico”. Implosão essa que demolirá por fim, e de uma vez por todas, as elucubrações delirantes dos neo-imperialistas (portugueses e brasileiros), o trabalho clandestino de políticos, académicos e agentes (portugueses) vendidos aos interesses de Brasília e, por último, as bazófias dos vaidosos patológicos a quem o AO90 servia de trampolim.

A todas essas esdrúxulas matilhas deve custar imenso perder de uma penada a esdruxulice da qual dependiam e ver em cacos as grandiloquências com que tentaram levar no conto do vigário as pessoas normais; especializados em vigarizar a imensa massa de indiferentes aos quais — depois de sistematicamente sujeitos a lavagens cerebrais — a “lusofonia” não diz nada e patranhas como a CPLP ainda menos, presume-se que esses funcionários e agentes ficarão apesar de tudo impunes, pelo que certamente se dedicarão num próximo porvir (ou até, quem sabe, noutra vida, caso não reencarnem de novo em ratazanas) a qualquer outra inutilidade em geral ou a outro tipo de pontapés na gramática e de insultos à inteligência em particular.

Língua Cabo-verdiana vai ser leccionada no Secundário no próximo ano lectivo

“Expresso das Ilhas”, 10.11.21
O Governo vai introduzir a disciplina de Língua Cabo-verdiana no Ensino Secundário (a partir do 10º ano de escolaridade), no ano lectivo 2022/2023. A iniciativa, que acontece no âmbito dos novos planos curriculares da reforma do ensino secundário, foi anunciada esta terça-feira, 9, pelo Ministério da Educação.

De acordo com o Ministério da Educação, a introdução da nova disciplina será feita de forma experimental e vai “servir de piloto para o seu alargamento a médio prazo, após amplos consensos científicos”.

A disciplina será introduzida no âmbito dos novos planos curriculares da reforma do ensino secundário, em processo de conceptualização e implementação, lê-se ainda na página de Facebook da tutela.

A par desta iniciativa ao nível curricular, o governo manifesta, na mesma publicação “total disponibilidade em apoiar e fomentar a investigação de base académica visando consensos técnico-científicos em matérias da linguística, uniformização e padronização das bases gramaticais e ortográficas da língua nacional, comum às suas diversas variantes”.

A nível do alfabeto, diz o governo que “a investigação poderá também incidir sobre o alfabeto unificado do crioulo, o ALUPEC, tendo em vista alcançar abrangência e conter resistências ao seu uso na escrita do crioulo”.

Conforme relembra o post, o Ministro da Educação, Amadeu Cruz, reuniu-se no passado mês de Julho, com representantes do grupo promotor da petição sobre a política linguística em Cabo Verde e com o investigador e linguista, Manuel Veiga. Durante esse encontro foram abordadas questões ligadas à investigação linguística e à metodologia para a integração da disciplina de língua cabo-verdiana no sistema de ensino, no âmbito da reforma do Ensino Secundário.

Entretanto, reconhece-se, haverá necessidade de fazer uma articulação e sintonização entre o Ministério da Educação e o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, “em virtude de alinhamento em matérias mais ligadas à cultura e de ordem constitucional, bem como a necessidade da criação de um grupo de trabalho conjunto para a elaboração de um plano de acção de fomento da investigação e do ensino da língua cabo-verdiana”.

[Transcrição integral de artigo publicado no jornal “Expresso das Ilhas”, de Cabo Verde, em 10.11.21. Destaques e “links” meus. Imagem de criança cabo-verdiana de: (“World Adventures“).]