O que dizer sobre isto?
Com que reservas de paciência e socorrendo-se de que atenuantes pode alguma pessoa normal tolerar os enxovalhos de uma estrangeira a Portugal, os seus ataques indisfarçavelmente raivosos à Língua Portuguesa, o modo trauliteiro que utiliza por sistema para denegrir e aviltar o nosso passado e os nossos antepassados, a própria História de todo um povo? Como é possível?
Não é possível.
Não é possível aguentar estoicamente os delírios, os ataques histéricos de uma pessoa cheia de ódio, racista, anti-social, sexista, desequilibrada, supremacista e xenófoba. Nem dando um desconto de 100% à fulana que, enfim, definitivamente, é doida varrida e, por conseguinte, se calhar mereceria alguma espécie de condescendência.
Pois sim, mas nesse caso que venha outro escrever qualquer coisinha a respeito, eu cá devo confessar que não chego a tanto; caso haja por aí algum voluntário até posso ceder-lhe um saco para vomitar (daqueles que os passageiros recebem nos aviões) e sirvo-lhe um café com “cheirinho” e tudo (ou sem “cheirinho” nenhum, consoante preferir o infeliz voluntário), presumindo e ardentemente desejando que exista neste mundo pelo menos um ser vivente capaz de engolir inteiro um camião TIR cheio de bojardas típicas fabricadas no Brasil.
Por muito menos do que isto — se a chavala fosse alguém, mas o jornal é alguma coisa — já sucederam incidentes diplomáticos envolvendo vários tipos de países, alguns civilizados (geralmente os agredidos), outros de trogloditas, retardados e doentes mentais (geralmente os agressores), e por vezes esse tipo de incidentes acaba por descambar em algo muito sério, radical, quando não definitivo para milhares ou até milhões de inocentes.
Aviso prévio
O Apartado 53 adverte os respeitáveis leitores de que o artigo que se segue pode causar graves ataques de riso, dada a incrível indigência do texto e assumindo como estando clinicamente comprovada a oligofrenia da autora, pelo que devem abster-se de ler pormenorizada ou repetidamente o chorrilho de insultos e delírios em que a dita pessoa, portadora de óbvias e diversificadas patologias mentais, parece estar viciada. A consumir com moderação, portanto, dada a geral morbilidade dos alucinogénios palavrosos que em quantidades industriais estão presentes neste ataque de verborreia.
Xenofobia linguística: “Agora o lixo vai falar. E numa boa!”
Queiram ou não queiram os juízes da língua-pura-portuguesa, não há mais espaço para discriminação e preconceito.
É da encruzilhada entre género e raça que vos falo. Trazer uma pensadora negra do sul global no título deste artigo não foi por acaso. Saúdo, assim, Lélia Gonzalez em toda sua ousadia e preparo intelectual para reivindicar uma Améfrica que é também indígena e afrodiaspórica. Nessa América plural, a língua é componente em constante movimento e (re/des)construção. Ao evocarmos um Brasil que, desde antes de ter naus europeias atracadas em suas baías, falava línguas do tronco tupi, é preciso lembrar também do “pretuguês” evidenciado por Lélia (1983):
“É engraçado como eles gozam a gente quando a gente diz que é Framengo. Chamam a gente de ignorante dizendo que a gente fala errado. E de repente ignoram que a presença desse r no lugar do l nada mais é que a marca linguística de um idioma africano, no qual o l inexiste. Afinal, quem que é o ignorante?”
Para a “família tradicional portuguesa” e para uma parcela de profissionais da educação, carregar o sotaque e o vocabulário da antiga colónia é motivo de preocupação e tratamento. “Falar brasileiro” representa uma chaga a ser curada com terapia. Mas a qual Brasil se referem essas pessoas? O do morro ou do asfalto? O das capitais ou dos Sertões das Gerais? Dos ditos millennials ou da gente que, como eu, ainda dá risada virtual com a repetição da letra k?
Kkkkk! É até engraçado pensar que há quem acredite numa língua una e engessada em um país de dimensões continentais e população que ultrapassa centenas de milhões. No entanto, a piada passa a ser de péssimo gosto quando atentamos para o facto de que a xenofobia impressa nesse discurso tem consequências em ambientes como o escolar, por fomentar o bullying racista e xenófobo. Como esperar de uma criança portuguesa o apreço pela convivência com crianças brasileiras ou africanas se o referencial de cultura e sapiência for somente o reflectido no espelho?
Nota-se, assim, que o pensamento colonialista não está presente apenas em algumas fachadas comerciais, nomes de ruas ou na hora de contar sobre as invasões ultramarinas e intitular os Descobrimentos. Como nos lembra Grada Kilomba, é tempo de estilhaçar a máscara imposta pelo colonialismo. É preciso celebrar o Português de Gilberto Gil – o mais recente imortal da Academia Brasileira de Letras -, de D. Ivone Lara, das histórias contadas por Conceição Evaristo, por Ariano Suassuna.É até engraçado pensar que há quem acredite numa língua una e engessada em um país de dimensões continentais e população que ultrapassa centenas de milhões.Nesta altura, rememoro a celebração dos 30 anos do S.O.S Racismo, quando a cidade do Porto recebeu a Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista (MICAR), tendo Emicida como um dos seus convidados. Na ocasião, o rapper e escritor deixou nítido que Portugal tem todos os dias a oportunidade de construir presente e futuro num cenário sem reprodução ou manutenção dos resquícios de um passado de sangue e exploração. É mesmo “tudo p’ra ontem” e não há tempo a perder com quem não enxerga na diversidade linguística um valor a ser cultivado.
Viva a viva Língua Portuguesa falada no Brasil que agora atravessa não os mares, mas sim, através do entretenimento produzido em solos tupiniquins, atravessa as redes! Não há quem cale a multipotentes do Português que pulsa em um país de gente que não foge à luta em seus quatro cantos: “Nós somos madeira de lei que cupim não rói.”
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https://www.publico.pt/2021/11/19/p3/cronica/xenofobia-linguistica-lixo-vai-falar-boa-1985590
[Transcrição integral, incluindo “links” (a azul). Destaques, sublinhados e “links” (a verde) meus. Imagem com citação de Freud de: “Poets 01” (Facebook) Fotografia de topo: “Pharmácia Popular” do Bananal (Brasil).]
Nota: o lixo agora transposto refere-se à telenovela brasileira “C tá lôco” (nem de propósito).
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Obviamente, declino o convite.
Durante quatro anos (os que estudei em Lisboa), vivi exactamente, na Avenida do Brasil, perto do Júlio de Matos: Já tive a minha dose.
Apetece-me perguntar, tendo em conta que o “l” inexiste em Framengo, como é que ele aparece em “lésbica”, por exemplo.
Pois, isso, como diriam os “nossos” chineses, é um mistélio enolme mas não há que estlanhale, a lapaliga é doida vallida.
Compretamente vallida…