Nunca ou muito raramente, seja sobre que assunto for — e por maioria de razões no que diz respeito ao esgoto cacográfico –, é dada voz ou um mínimo de atenção àquilo que pensam as “pessoas comuns”, isto é, à grande massa cujo papel se limita a fazer eco (silencioso) de teorias políticas pré-fabricadas ou a simplesmente reproduzir a corrente de “opinião” ditada pela elite dominante no momento.
As tácticas de silenciamento são tão diversas quanto antigas, mas nos sinistros tempos que vão correndo a “opinião pública” está reduzida a apenas alguns redis, sendo destes a maioria murados e cercados por uma espécie de arame farpado constituído por regulamentos, regras caninas, condições e até ameaças veladas de toda a ordem.
O que resta, portanto, caso escape aos vários tipos e níveis de censura, é — pelo menos aparentemente — muito poucochinho, exíguo, quantas vezes superficial ou de todo irrelevante. Há que procurar muito perseverante e afincadamente, espiolhar com imensa paciência, mas a verdade é que da pouca coisa algo ressalta sempre, resplandecendo apesar de tudo no anonimato a que a multidão sujeita por definição o indivíduo e que a oligarquia do pensamento único impõe com desplante.
Nesta ordem de ideias, o que se segue é mais uma demonstração da verdadeira oposição ao “acordo cacográfico da língua brasileira”: alguns comentários a determinado artigo de indeterminada ultra-acordista e às suas provocações racistas, xenófobas e anti-portuguesas de uma emigrante brasileira a quem Portugal deu guarida. Nem o facto de essa tal fulaninha achar que faz um grande favor à “terrinha” por aqui arrastar a sua deprimente insignificância foi suficiente para impedir algumas risadas saudáveis e mordazes a alguns dos muitos portugueses que deploram intelectualóides a pataco e neo-colonialistas em especial.
E a acompanhar as risadas o que é imensamente mais sério: o troco devido, acrescido de alcavalas, juros e cachaporras verbais ao chorrilho de insultos ao povo e de ofensas ao país que esta alimária cuspilhou num jornal português.
COMENTÁRIOS
F. M.
O texto não tem qualquer mérito e nem sequer é digno de comentário. Credores do maior louvor e apreciação são os professores que tenham a desdita de receber como alunos crianças que tragam do berço o vocabulário e a gramática que os queixosos ostentam em público. É muito fácil de imaginar a disrupção causada na classe e o trabalho extra necessário para equipar a criança com pelo menos os rudimentos indispensáveis ao correcto manusear da língua, não a deixando ficar para trás. Se acrescentarmos a isso a possibilidade de em vez de agentes colaboradores e importados com a educação e o interesse dos filhos, as crianças terem em casa pais que partilham da atitude ridícula de vitimização espúria exarada no texto, pobres crianças. 21.11.2021 23:03
a._m.
Em geral, a experiência pessoal que fui recolhendo ao longo da vida foi uma de constatação da associação muito frequente entre analfabetismo e presunção, mormente no caso dos chamados analfabetos funcionais. Quanto ao artigo, de novo a partir da experiência pessoal da minha família, o que posso dizer é que temos tido a felicidade de manter relações muito próximas com pessoas naturais do que no texto se chama de antigas colónias portuguesas, de todas elas, menos de Timor. E o que posso relatar é que de entre tudo isso, os únicos casos em que os sentimos e nos fizeram sentir estranhos e estrangeiros, foram aqueles em cuja contraparte se encontravam brasileiros. Não só por via do calamitoso uso gramatical e sintáctico da língua que se verificava mas por toda a conduta e postura em geral. 21.11.2021 21:10
M. A.
É curioso mas tenho a visão exactamente oposta da autora. É pura xenofobia paternalista condescender no uso do mau português no ensino. É como se um certo activismo reivindicasse que se deve aceitar que determinado grupo tem limitações e é incapaz de aperfeiçoar a sua língua na forma culta (assumindo que não estamos a falar de pronúncias). 21.11.2021 19:34
1500558
Sou brasileira, defendo a variação linguística, admito que há preconceito em Portugal, mas entendo esta maneira de protestar como inadequada, pois é pobre e, também, preconceituosa. Não fez nada a não ser distanciar os dois lados. Muito irresponsável por parte da autora. 21.11.2021 07:38
jlbelsa.1070781
Os brasileiros dos Estados onde os bilionários empolam artificialmente o PIB per capita, julgam-se alguém e tratam pejorativamente os habitantes da região mais pobre do Brasil – os 9 Estados brasileiros do Nordeste – por ‘os paraíbas’! Todos os estrangeiros (incluindo os portugueses), para os brasileiros são chamados de ‘gringos’, ou seja, os ‘não-brasileiros’, os ‘outros’… Isto não é xenofobia? Vêm brasileiros com seus filhos para Portugal e admiram-se que a escola os obrigue a reaprender o Português! Claro! Como aceitar o “nóis vai” ou “eu vi ela” ou ” Agora, aos seus lugares!”. Isto não é problema de pronúncia, nem de grafismo: é não saber Português. 21.11.2021 03:29
G. P.
Realmente o que os brasileiros fizeram a um país como o Brasil, a todos os níveis e a começar pela língua, é uma coisa impensável e difícil de acreditar. Só visto mesmo. Portugal e os portugueses têm tido uma paciência de Job e uma tolerância ilimitada com o Brasil e os brasileiros, mas todos os limites estão já há muito ultrapassados. Há que cortar de vez com este peso morto e deixar tudo isto para trás. O Atlântico parece não ser barreira de largura suficiente para salvaguardar Portugal de tal risco sistémico. Urge erigir outras mais eficazes. 20.11.2021 22:33
a.f.pt.111301
“Que grande disparate! Também numa boa!” Conhecendo o nordeste do Brasil pergunto-me se a autora teria a audácia de publicar na sua terra natal semelhante artigo referindo a forma como as crianças portuguesas são recebidas nos Colégios Brasileiros. Não! Pois é … há que chegar à Europa para reivindicar pretensas questões que não temos sequer coragem de abordar no nosso país de origem. Há crianças no Brasil vítimas de bullying por causa do seu sotaque. Tenha a Senhora Dra. coragem e abrace essa causa já que está tão empenhada em Portugal. Mulher branca, portuguesa (angolana e brasileira), heterossexual, advogada e mestranda em direito administrativo pela Faculdade Nova de Lisboa. “Minha pátria é a língua portuguesa”. 20.11.2021 08:25
j..o.
Citando-a, não havia necessidade de publicar este “lixo” palavroso, menina. Aliás, é tudo muito simples e não acrimonioso: o crioulo em uso no país que vos foi doado, tem que deixar de se chamar Português. E, em Portugal, com excepção de turistas não fraudulentos, quem não se expressar correctamente em Língua Portuguesa, falada e escrita, deve, em todo e qualquer contexto, social ou profissional, ser simplesmente ignorado. Engajando, se assim o entender, auxílio de tradutor profissional. No mais, as suas ofensas primárias à História de Portugal, e logo a todos os portugueses, e a sua vitimização, fundada em extremismos identitários, são irrelevantes e seriam por certo dispensadas por qualquer interlocutor de sã formação basilar. 20.11.2021 02:52
m. b.
Só há uma coisa que nunca ninguém me irá convencer em relação à língua (seja ela portuguesa ou não): errar constantemente ao falar e escrever e disso fazer “gramática” aceitável como sinal de pluralidade linguística não!!! No Brasil é aceitável e regra dizer-se “Tu fez isso bem.” em vez de “Tu fizeste isso bem.” “Vocês come tudo.” em vez de “Vocês comem tudo. “Isso daqui e isso dali.” em vez de “Isto e aquilo.” “Todo o domingo tem carne.” em vez de “Todos os domingos há carne.” Estava aqui horas nisto… Vão estudar e parem de matar a língua. 20.11.2021 00:43
ipsolorem
Penso que autora parte de um equívoco. É legítimo que a sociedade portuguesa se preocupe com a perda da sua especificidade cultural por causa do consumo de vídeos no youtube por crianças de tenra idade. Somos poucos mas merecemos existir e preservar a nossa cultura sem ser esmagados pelos media de um continente chamado Brasil. Não negamos ao Brasil a sua cultura própria e penso que todos defendemos que o Brasil tem o direito e o dever de evoluir culturalmente no sentido que quiser e encontrar formas de expressão que preservem as diversas culturas que o compõe. Mas igual direito e dever têm os portugueses. 19.11.2021 22:04
ruca_ruca
Sinceramente, sinto-me farto da insistente vitimização dos brasileiros. Acusam os portugueses de xenofobia, mas são incapazes de reconhecer a sua própria xenofobia para com os portugueses. Estamos a falar de um país que diz falar português, mas que legenda ou dobra tudo o que vem de Portugal. Um país onde os media passam escassíssimos conteúdos vindos de Portugal. Um país onde um português tem de abrasileirar o sotaque para ser entendido. Em minha opinião, um dos países mais chauvinistas do mundo. 19.11.2021
ipsolorem
A mim não me incomoda nada o uso do termo “brasileiro”, porque de facto há divergências suficientes para que quando um português chega ao Brasil tenha de aprender a falar como quem aprende uma língua estrangeira. 19.11.2021 22:06
jlbelsa.1070781
Não é xenofobia, distinguir o português europeu do brasileiro. Centenas de palavras têm significados diferentes, outras tantas estão em uso num dos países e já caíram no outro e a própria construção gramatical é muito diferente. A evolução tem ocorrido por diversas influências e isso é saudável! Existem frases ditas por um brasileiro que um português de Portugal não entende, tal como o contrário. Quanto à pronúncia, até em Portugal existem diferenças! Este complexo de inferioridade de alguns brasileiros, mais parece uma tentativa de vitimização. Libertem-se! Já têm 200 anos de independência! Queixem-se menos e já sabem: em Portugal esforcem-se por ser compreendidos, tal como os portugueses fazem quando chegam ao Brasil. 19.11.2021 15:47
L. F.
Xenofobia linguística! Muitos brasileiros têm tendência a empolar tudo o que é dito por portugueses com uma ideia pensada de rancor e ajuste de contas. Alias não sabemos de quê e quando vêm com essas lengalengas de ouro e escravatura, para melhor fugir aos seus problemas que teimam em não resolver. Mas já que falamos em xenofobia não será xenofobia ter livros de história que amordaçam de forma veemente o “colonizador português”? Não será isso xenofobia? Ou ainda descrever os portugueses de forma soez como “galegos”, “padeiros” e colocando por vezes atributos físicos no mínimo engenhosos como o “buço” nas mulheres e por ai em diante. Enfim este artigo factualmente não resolve nada e assim sendo lamentamos todos. 19.11.2021 14:50
Xenofobia linguística: “Agora o lixo vai falar. E numa boa!” | Megafone | PÚBLICO (publico.pt)
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