Finalmente, todos os partidos políticos publicaram os seus programas com vista às próximas eleições legislativas.
Além dos dois já aqui referidos, o jornal “Público” anuncia agora que um terceiro partido também rejeita liminarmente o AO90.
Acordo Ortográfico
O Chega defende a “recusa e suspensão imediata do denominado ‘Acordo Ortográfico’ de 1990, sem possibilidade de qualquer revisão”. (“100 medidas de governo”, pág. 3)
O CDS pretende “reverter o Acordo Ortográfico de 1990”. (pág. 13)
Temos, portanto, que três dos concorrentes ao sufrágio de 30 de Janeiro de 2022 (PCP, CDS e Chega) manifestam claramente a intenção de pôr termo, radical e definitivamente, ao aleijão.
Curiosamente, aquele jornal apenas refere dois dos três partidos que são declaradamente contra o desacordo cacográfico e que declaram expressamente a rejeição nos seus programas, omitindo o dito jornal, por alguma estranha razão, precisamente aquele partido — o PCP — que há mais tempo tomou uma posição contra o “acordo” e que foi o único, até hoje, a apresentar um Projecto-de-Resolução específico para a revogação (anulação da entrada em vigor e rescisão do Tratado) do AO90.
PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS
Grupo Parlamentar
Projecto de Resolução N.º 1340/XIII-3ª
Recomenda o recesso de Portugal do Acordo Ortográfico de 1990, acautelando medidas de acompanhamento e transição, a realização de um relatório de balanço da aplicação do novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa e uma nova negociação das bases e termos de um eventual Acordo Ortográfico. [transcrição no “post” Recesso, já! (19.02.18)]
Quanto aos restantes partidos, e se bem que isso não esteja declarado no seu programa eleitoral, poderemos talvez contar ainda com a oposição do PAN ao desacordo, visto que os seus dirigentes têm manifestado total abertura a uma possível “eutanásia” do nado-morto “acordo”. Também o Partido Ecologista “Os Verdes”, em coligação com o PCP, apresentou já no Parlamento um projecto com vista a, no mínimo, que o AO90 seja suspenso.
De resto, já sabemos aquilo com que (não) podemos contar: o “centrão”, na sua pantomineira figura de Dupond e Dupont, enterrados ambos até acima do pescoço no lamaçal dos “negócios estrangeiros” (em Angola e Moçambique, principalmente), continuam inamovíveis no seu característico fingimento: dizem pela milionésima vez que a “língua universáu“, seu pretexto predilecto para o encobrimento dos negócios através da CPLB, poderá ser, quando muito, “revista“. O costume, portanto. O actual timoneiro da estatal golpada limita-se a, por entre outros lugares-comuns totalmente cheios de nada, soltar umas máximas lapidares (“o AO90 deve seguir o seu caminho” e patacoadas do género) para tentar silenciar qualquer tipo de oposição; o outro chapéu de coco opta neste caso pelo mais absoluto silêncio, contrariando o hábito de repetir o que o mano diz (“eu diria mesmo mais, repetir o que diz o mano”),
Essa rapsódia da revisão introduziu a rádio TSF num “debate” entre representantes de vários partidos e da questão em concreto deu notícia no seu “site”.
Dia de reflexão e revisão do acordo ortográfico: sim ou não?
Os líderes dos partidos políticos – à excepção de Rui Rio, do PSD, e André Ventura, do Chega, que escolheram não marcar presença no Debate da Rádio – foram chamados, esta quinta-feira, a manifestar as suas posições quanto à revisão do acordo ortográfico e à manutenção do dia de reflexão nas eleições.
[…]
“Há anos que o acordo devia estar revisto”
Quando questionados sobre uma eventual revisão do acordo ortográfico, já houve uma maior convergência entre os líderes partidários.
Inês Sousa Real defende que “sim”, deve ser revisto, uma vez que tem é havido “desacordo em relação ao acordo”, uma posição suportada também por João Cotrim de Figueiredo e por Francisco Rodrigues dos Santos, que assume esta matéria como um compromisso eleitoral do CDS.
Rui Tavares considera que o acordo pode sempre ser melhorado, e como tal, não se opõe a uma revisão, mas salienta que Portugal e os restantes países lusófonos devem preocupar-se com a coerência ente ortografias, para a promoção da língua portuguesa lá fora.
Para o PCP, já “há 16 anos que o acordo devia estar revisto”, enquanto Catarina Martins lembra que o próprio acordo já prevê que haja revisões ao longo do tempo. António Costa limita-se a afirmar que “o acordo deve fazer o seu caminho” e, quando chegar a vez de ser revisto, será, “como todos os acordos”.
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi assinado, enquanto tratado internacional, em 1990, com o objectivo de criar uma ortografia una, a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa.
Em Portugal, o Conselho de Ministros aprovou, em Dezembro de 2010, a resolução que determinou a aplicação do acordo no sistema educativo português a partir o ano lectivo de 2011-2012, enquanto, a partir de 1 de Janeiro de 2012, foi aplicado ao Governo e a todos os serviços, organismos e entidades na sua dependência, bem como a publicação em Diário da República.
Dia de reflexão e revisão do acordo ortográfico: sim ou não? (tsf.pt)
[Transcrição parcial. “Links” do original. Corrigi as gralhas em brasileiro.]
Mesmo contando com os faltosos e descontando os posicionamentos não declarados ou omitidos, pode dizer-se que são de facto muito estranhas as declarações do representante do PCP; não representa de todo a posição oficial daquele partido quanto à questão. Estranheza que é também extensível ao que diz a dirigente do PAN, se bem que não se conheça uma posição expressa desse partido.
Em geral, da imensa manada de seguidistas do “arco da governação” (incluindo penduricalhos), a apagada e vil tristeza do costume.
Esperemos, porém, agora que existem declarações por escrito de partidos que rejeitam o AO90, que todos aqueles que em tempos juraram — rasgando as vestes — votar em “qualquer partido que pretenda acabar com aquela porcaria” cumpram a jura.
Ou aquilo era só paleio a armar ao militante? Ou foi só “da boca p’ra fora”? Ou, ah, e tal, isso depende, se esse clube for o meu clube o prometido é devido, caso contrário é que não.
Lagarto, lagarto, lagarto. Digo, dragão, dragão, dragão. Oops. Se calhar enganei-me, é melhor dizer águia, águia, águia.
Longe vá o agoiro. O “português médio” é conhecido no estrangeiro (em Badajoz, para ser exacto) como pessoa honestíssima, franca, um modelo de lisura incapaz de trair aquilo a que se compromete.