Keng teng fortuna ficah na Malaka, Nang kereh partih bai otru tera. Pra ki tudu jenti teng amizadi, Kontu partih logo ficah saudadi.Ó Malaka, tera di San Francisku, Nten otru tera ki yo kereh. Ó Malaka undi teng sempri fresku, Yo kereh ficah atih moreh. |
Quem tem fortuna fica em Malaca, Não quer partir para outra terra. Por aqui toda a gente tem amizade, Quando partir logo fica a saudade.Ó Malaca, terra de São Francisco, Não há outra terra que eu quero. Ó Malaca, onde tem sempre ar fresco, Eu quero ficar até morrer. |
O português de Malaca, também denominado cristão, papiá kristang ou simplesmente papia, é uma língua crioula de base portuguesa e com estrutura gramatical próxima do malaio, falado em Malaca, Malásia e Singapura. [Wikipedia]
Cada vez mais sistematicamente somos aspergidos com grossas gotas de propaganda “lusófona”, uma das matérias de intoxicação e estupidificação em massa da preferência dos acordistas. Esta espécie de bênção, que paradoxalmente lança uma maldição por sobre as cabeças de gado por eles contadas na imensa manada, visa tentar deslumbrar o gado vacum com a “iluminação” beata de um edílico império linguístico que, abreviando em extremo e em linguagem corrente, não lembraria ao careca, vulgo, ao diabo.
Presumem os auto-ordenados padres da Santa Madre Igreja dos 250 Milhões que assim procedendo, com umas ladainhas beatas e viscosas, arrebanharão cada vez mais crentes e espalharão a sua fé, a crença cega no II Império brasileiro em versão pastoral, o “milagre” re-baptizado como “língua universáu” ou, para os mais “lá de casa”, como “lusofonia”.
Fonia essa da qual os brasileirófilos expulsaram prudentemente qualquer vestígio daquilo que, apesar da limpeza étnica e do extermínio histórico-cultural concomitantes e em simultâneo, existe mesmo, de facto: a verdadeira Lusofonia, isto é, o longo, profícuo e antiquíssimo rasto que a Língua Portuguesa disseminou por todo o planeta.
Evidentemente, dado que a propaganda da CPLB acordista tem a ver unicamente com a “difusão e expansão da língua” brasileira no mundo, são metodicamente ocultados — no escabroso processo de apagamento da História — os diversos crioulos de base portuguesa principalmente no extremo-Oriente e em África: o papiamento de Aruba, Bonaire e Curaçao, o Kristáng na Malásia, o Indo-Português do Ceilão (Sri Lanka), o Português e o crioulo de Damão e de Diu (em Goa é “só” mesmo Português), a mescla que são as variantes de Tétum (Timor), os crioulos em diversas ilhas e enclaves africanos ou ainda os casos mais diversificados — também significativos — de Macau (e Hong Kong!), Cabo Verde (onde o crioulo é língua nacional), Casamansa (Senegal), Singapura, Batávia (Jakarta, Indonésia) e todos os outros que felizmente alguns linguistas portugueses persistem em identificar, estudar, divulgar e até incentivar. Isto sim, conjuntamente com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), é Lusofonia. No âmbito da qual os diversos falares dos 27 Estados brasileiros, todos eles de base portuguesa, cumprem papel, função e ordem de valores equivalentes aos de qualquer outro dos inúmeros crioulos do género que a nossa Língua gerou ao longo de cinco séculos.
A Lusofonia é, por conseguinte, um facto que rigorosamente nada tem a ver com o “gigantismo” do Brasil (clinicamente falando, uma variante de elefantíase linguística) e muito menos compreende as ânsias tardo-colonialistas e neo-imperialistas dos magnates sedentos de lucro que mandaram inventar um argumento (o AO90) para encobrir os negócios chorudos feitos à sombra da bananeira a que chamaram CPLP.
Sintomas visíveis desta ganância patológica e do inerente encobrimento por iniciativa dos políticos envolvidos são, por exemplo, a eliminação sumária — inclusivamente em discursos oficiais — de qualquer referência não só aos diversos crioulos mas também aos variadíssimos falares das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo; tudo isso passou estrategicamente a ser por eles ignorado, a bem da dita “lusofonia”, ou seja, como os crioulos não sejam mais do que umas coisinhas faladas por meia dúzia de exóticos labregos que deviam era estar “devíamos escrever todos brasileiro“: escrever e falar, é claro, que dá muito menos “trabalho”.
Enfim, a “lusofonia” (a de brincadeira) tem muito que se lhe diga. É sobre tal bizarria que rezam os dois conteúdos que se seguem: um texto laudatório enaltecendo a coisa (redigido em Português-padrão, reconheça-se esse mérito) e um “sketch” (“esquete”, em brasileiro) propagandístico tecendo loas e entoando hossanas aos “milhões” de brasileiros (mas omitem os milhões que os brasileiros já estão a empochar, olha que aborrecido).
Conclui-se de ambos, artigo e “clip”, que não sei bem o quê, e tal e tal, ah, a “expansão”, ena, a “quinta língua mais falada” em Klingon (parece), a “segunda no hemisfério” inferior do hemisférico que há no museu do Botafogo, tudo coisas assim, maravilhas, os ingleses estão raladíssimos com a “língua mais falada”, diz que Sua Alteza a Rainha até anda com insónias, o Macron vai convocar o Conselho de Guerra, em Madrid já há tumultos (“joder, qué pasa con el brasileño, coño?”), o mundo inteiro está raladíssimo com o festival de rapapés artilhados, isto do império linguístico ainda vai dar bernarda, até em Berlim já começaram a afiar as facas longas.
Perspectivas lusófonas para 2022
Jornal “O Diabo”, 13.01.22
Renato Epifânio
O ano de 2021 acaba novamente sob o espectro da pandemia, mas esperamos que o novo ano que aí vem seja realmente um ano de viragem – não apenas em relação à pandemia, mas também no que respeita à Lusofonia.
A esse respeito, o ano de 2021 trouxe alguns bons sinais, sobretudo com a nova Presidência da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), assumida por Angola, que reiterou o seu empenhamento na nossa Comunidade, apostando numa maior cooperação económica.
Para o avanço real da CPLP, não bastam, contudo, Portugal e Angola – e todos os demais PALOPs: Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Sem esquecer Timor-Leste, o Brasil é uma peça fundamental deste tripé, deste triângulo atlântico. Tal como a União Europeia só funciona verdadeiramente com o eixo franco-alemão, também a CPLP só avança quando este triângulo está activo.
Depois de um ano em que a pandemia foi particularmente danosa no Brasil, esperamos que este nosso país-irmão reencontre o seu rumo. O ano de 2022 será, a esse respeito, um ano assaz importante: não apenas pelas Eleições Presidenciais, mas também por ser o ano do bicentenário da sua independência.Tal como Portugal, que parecia estar destinado à dissolução numa península ibérica sob a hegemonia de Castela mas que conseguiu afirmar a sua independência, também o Brasil conseguiu contrariar o destino de fragmentação que se estendeu a toda a restante América castelhanófona. Duzentos anos depois, só o facto de o Brasil ter conseguido manter a sua unidade é motivo de celebração: não só pelos brasileiros, mas por toda a CPLP (na medida em que esta não põe em causa, antes reforça, a independência de cada um dos seus países).
Duzentos anos após da sua independência, esperamos também que o Brasil ultrapasse de vez a sua tentação freudiana de “matar o pai” – ainda bem evidente, por exemplo, há cem anos, na célebre “Semana de Arte Moderna” (1922). Por mais “verdades alternativas” que nos queiram impingir, se o Brasil se mantém unido duzentos anos depois, é, desde logo, porque, no contexto da América Latina, tem uma língua própria: a nossa língua comum. Ou seja, no essencial, o Brasil é o Brasil porque é um país lusófono. Que aja, pois, em consequência.
Com os melhores votos um excelso ano novo a todos os cidadãos lusófonos!
Nota: os”links” por mim inseridos — legendados com citações dos “posts” respectivos” — não fazem evidentemente parte do original nem têm absolutamente nada a ver com o autor do texto transcrito, resultando todos eles de critérios de minha exclusiva responsabilidade. [“about”]
[Mapas de: Oxford ResearchEncyclopedias]