Dia: 7 de Fevereiro, 2022

Um país, um sistema

Como é possível que ninguém se aperceba da relação de causa e efeito ou sequer suspeite das manobras políticas e das movimentações económicas em curso, à conta e sob a cobertura da “língua universáu”? Nem um comentador profissional, e há tanto disso nos canais televisivos “de informação”, na imprensa escrita, nas plataformas virtuais, nas redes anti-sociais, a nenhum deles ocorre a mais ínfima suspeita sobre os verdadeiros negócios da China que se vão traficando? Nem um só jornalista, de entre as centenas de “especialistas” em Tudo&MaisAlgumaCoisa que autopsiam até ao osso e à náusea a mais insignificante “notícia” ou “tragédia” ou “problemática”, a nenhum deles assiste a cena de perder o medo e ao menos fazer umas perguntinhas inocentes?

Muito raramente, decerto por ingenuidade (será?), a alguém surgido da mais completa obscuridade lembra pespegar algures dados e resultados que ilustram perfeitamente — e denunciam espectacularmente — o que é de facto o AO90, para que serve a CPLP e, em suma, quanto vale a tal “língua universáu”.

Um desses lapsus calami foi publicado no passado dia 3, com a cacografia brasileira, no insuspeito diário “Público”.

E indica resultados globais e tudo! Ena, mas que luxo. Ora então vejamos, assim por alto.

  • As trocas comerciais entre “os PLP” e a China atingiram o montante final de US$167,565 (cento e sessenta e sete mil milhões de dólares americanos).
  • As trocas comerciais entre o Brasil e a China montaram no mesmo período a US$138,005 (cento e trinta e oito mil milhões de dólares americanos).
  • Portanto, as trocas comerciais do Brasil representaram 82,4% do total das trocas comerciais entre “os PLP” e a China.
  • Esses 82,4% representam, grosso modo, a (des)proporção entre o Brasil e os restantes países da CPLB, tanto a nível de população (210 milhões para 45 milhões) como de extensão territorial.

http://pgl.gal/xxii-coloquio-da-lusofonia-decorrera-em-setembro-em-seia/Aparentemente, por conseguinte, não terá sido à conta da instauração pacífica do II Império que o Brasil ganhou balúrdios com os chineses à custa dos seus amigalhaços tugas. “Aparentemente”. Como era antes? Quando, porquê e em que circunstâncias terá o “gigante” saltado a Grande Muralha?

Convém espiolhar os outros resultados do artigo e ainda mais consultar relatórios, procurar notícias, cruzar dados, relacionar datas com marcas de timing político.

«Os PLP» é uma espécie de sigla de uso pessoal do autor do artigo agora reproduzido. Refere-se ele, evidentemente, à CPLP, o que significa, na prática, o Brasil, ou seja, a CPLB. Assim como a ingenuidade dos crentes na “lusofonia“, ainda que vagamente divertida, permite enquadrar a questão sem tergiversações, também a credulidade (ou será já a arrogância?) de alguns entusiastas na “causa” brasileirófila facilita enormemente a compreensão daquilo que está em causa e em que consiste, ao certo, o processo de extermínio linguístico iniciado em 1986.

E daí concluir o óbvio. Não é astronomia, física quântica ou engenharia aero-espacial.

A China e os países de língua portuguesa

 

 

 

A China tem-se revelado um parceiro comercial da maior importância para os oito Países de Língua Portuguesa (PLP). Todos têm uma característica comum com a China, o facto de terem o oceano a uni-los e, nos últimos anos, todos têm vindo a celebrar acordos económicos significativos com este país. Os PLP decidiram explorar esses acordos a seu favor, através das respectivas participações na iniciativa chinesa – Uma Faixa e uma Rota (a Nova Rota Marítima da Seda).

Os PLP usufruem de vantagens concorrenciais, beneficiando de um melhor acesso a financiamento, crédito e facilidades económicas da China, pelo facto de terem estreitas relações com a cidade chinesa de Macau (de origem portuguesa). Desde o regresso de Macau à administração chinesa (criação da Região Administrativa Especial de Macau – RAEM em Dezembro de 1999) que o governo central da China tem vindo a promover o desenvolvimento de Macau, nomeadamente, com a criação, em 2003, do Fórum para a Cooperação Económica e o Comércio entre a China e os Países de Língua Portuguesa, mais conhecido por Fórum Macau.

A importância do Fórum Macau foi expressamente destacada pelo presidente chinês XiJinping e pelo primeiro-ministro, Li Keqiang, nas duas reuniões que se realizaram com o Governo da RAEM, em Pequim, no passado dia 21 de Dezembro. Para além da integração de Macau no projecto da Grande Baía de Cantão (iniciativa que agrega 11 cidades, onde se incluem Macau e Hong Kong), o Governo central reforçou o apoio a Macau com o projecto da “Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau”, em Hengqin (Ilha da Montanha), iniciativa que pretende promover a diversificação e sustentabilidade das actividades económicas de Macau, nomeadamente para “contribuir para o novo avanço da integração de Macau no desenvolvimento” da China. Tendo XiJinping referido que “A pátria é sempre o forte apoio para a manutenção da estabilidade e da prosperidade de Macau a longo prazo. Deste modo, o Governo central vai continuar a cumprir firme e escrupulosamente o princípio de ‘um país, dois sistemas’ e apoiar plenamente a diversificação adequada da economia” de Macau.

As trocas comerciais entre a China e os Países de Língua Portuguesa foram de US$167,565 mil milhões, entre Janeiro e Outubro de 2021, um aumento homólogo de 40,92%. As importações Chinesas dos Países de Língua Portuguesa foram de US$115,431 mil milhões, um aumento homólogo de 35,12%, sendo as exportações da China para os Países de Língua Portuguesa de US$52,134 mil milhões, correspondendo a 55,69% de aumento homólogo. Podemos constatar que a balança comercial é, globalmente, muito favorável aos PLP, com um superavit de 63,297 mil milhões.

Os valores das trocas comerciais da China com os PLP colocam o Brasil em primeiro lugar, seguido de Angola, Portugal, Moçambique e com valores bem inferiores os restantes países: Timor-Leste, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Desde 2009 que o Brasil tem feito da China o seu principal parceiro comercial, quer ao nível das exportações, quer das importações, substituindo cerca de um século de primazia dos EUA. A imensidão continental do Brasil justifica que ocupe, isolado, o primeiro lugar nas trocas comerciais dos PLP com a China. Só as trocas do Brasil, entre Janeiro e Outubro de 2021, totalizam US$138,005 mil milhões, sendo a balança comercial favorável ao Brasil em US$51,774 mil milhões. Algumas previsões internacionais, nomeadamente do FMI, assinalam as potencialidades económicas do Brasil que, ao recuperar da grave crise pandémica, poderá ascender da actual situação de 12.ª maior economia do mundo, em termos de PIB, em 2020, para a 7.ª e mesmo, a médio prazo, para a 4.ª economia do mundo. Não é assim de estranhar que o Brasil tenha sido escolhido para integrar a plataforma de relacionamento internacional com a China – os BRICS, que partilha com a Índia, a Rússia e a África do Sul.
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