O apagador, os apagados, o apagamento

De facto, como é que uma criança de 6-7 anos pode compreender que em palavras como concepção, excepção, recepção, a consoante não articulada é um p, ao passo que em vocábulos como correcção, direcção, objecção, tal consoante é um c?

Só à custa de um enorme esforço de memorização que poderá ser vantajosamente canalizado para outras áreas da aprendizagem da língua;

d) A divergência de grafias existente neste domínio entre a norma lusitana, que teimosamente conserva consoantes que não se articulam em todo o domínio geográfico da língua portuguesa, e a norma brasileira, que há muito suprimiu tais consoantes, é incompreensível para os lusitanistas estrangeiros, nomeadamente para professores e estudantes de português, já que lhes cria dificuldades suplementares, nomeadamente na consulta dos dicionários, uma vez que as palavras em causa vêm em lugares diferentes da ordem alfabética, conforme apresentam ou não a consoante muda;

e) Uma outra razão, esta de natureza psicológica, embora nem por isso menos importante, consiste na convicção de que não haverá unificação ortográfica da língua portuguesa se tal disparidade não for resolvida;

f) Tal disparidade ortográfica só se pode resolver suprimindo da escrita as consoantes não articuladas, por uma questão de coerência, já que a pronúncia as ignora, e não tentando impor a sua grafia àqueles que há muito as não escrevem, justamente por elas não se pronunciarem. [Nota “explicativa” do AO90]

Ensino de Português a alunos estrangeiros com novas regras

www.publico.pt, 16.02.22

BrasiLusa

O ensino de Português a alunos estrangeiros tem novas regras, como a possibilidade de os estudantes terem uma frequência parcial do currículo ficando com mais tempo para um período inicial de aprendizagem da língua, anunciou o Governo.

As novas medidas constam de um despacho, publicado nesta quarta-feira em Diário da República, que regulamenta as condições de ensino do Português Língua Não Materna, específico para os estudantes estrangeiros que frequentam a rede de escolas nacional.

Até agora, os alunos estrangeiros apenas substituíam a disciplina de Português por Português Língua Não Materna, “frequentando as restantes disciplinas do currículo como se fossem capazes de aceder a todos os conteúdos”, sublinha o gabinete de imprensa do Ministério da Educação (ME).

Portugal é cada vez mais um país de acolhimento de imigrantes, lembrou em declarações à Lusa, o secretário de estado Adjunto e da Educação, João Costa. “Hoje é normal que haja mais de 30 línguas maternas numa mesma escola. Os alunos chegam com perfis sociolinguísticos muito diferenciados, bilingues, falantes de línguas de famílias muito distantes das indo-europeias, sem língua de comunicação”, afirmou João Costa.

O despacho agora publicado “possibilita que as escolas adaptem o ensino da língua portuguesa à realidade de cada aluno, por exemplo com períodos de imersão mais intensos, permitindo que tenham reforço de língua antes de frequentarem as outras disciplinas do currículo”, especificou o secretário de Estado, sublinhando que “a escola inclusiva recebe todos os alunos, todas as línguas e adapta-se às necessidades de cada um, sem padronizar”.

Agora, passa a ser mais valorizada “a diferença, o património cultural e linguístico de cada um e a integração das famílias”.

Além da frequência parcial do currículo, garantindo mais tempo para um período inicial de aprendizagem do português, o despacho prevê ainda que os alunos possam frequentar “actividades a desenvolver durante o período horário de dispensa das disciplinas previstas na matriz curricular do respectivo ano de escolaridade”, explica o gabinete de imprensa do ME.

Estas actividades devem promover o contacto com falantes nativos de português do mesmo grupo etário, assim como o conhecimento da realidade e história da região e o contacto com instituições da comunidade local.

Durante esses períodos, deve ainda apostar-se no desenvolvimento do conhecimento da língua e cultura portuguesas assim como na promoção de ligações entre aspectos culturais de Portugal e do país de origem.

O reconhecimento e a valorização da diversidade como oportunidade e como fonte de aprendizagem para todos, no respeito pela multiculturalidade da comunidade escolar” é outra das vantagens que devem ser aproveitadas pelas escolas.

O ME recorda que a elaboração desta alteração decorre do plano de recuperação das aprendizagens 21|23 Escola+, que previa medidas específicas para os alunos estrangeiros que se viram privados do contexto de imersão linguística durante o período de encerramento das escolas.

[Transcrição integral (incluindo “links”. Destaques e sublinhados meus.]

Seria possível expor todo o conteúdo deste artigo do “Público” simplesmente sequenciando as afirmações nele destacadas.

Não deixa de ser algo irónico, para dizer o mínimo, que o mesmo Ministério da “Educação” que promove e fomenta a aniquilação da Língua Portuguesa através da obrigatoriedade compulsiva da utilização da língua brasileira no Ensino venha agora propalar o direito à diferença e a defesa do património cultural e linguístico de cada um.

É extraordinário, de facto, que aos ministeriais (e certamente geniais) manda-chuva tenha ocorrido tão copiosa enxurrada de lugares-comuns, os quais, além de evidentes e comummente aceites, gozam em Portugal de um estranhíssimo estatuto de exclusividade: apenas são aplicáveis nas aulas leccionadas em língua brasileira, a Novilíngua que os donos disto tudo mandaram o povinho “adotar”. Bizarro naipe de paradoxos…

Devem ter descoberto agora, os tipos da alfacinha 5 de Outubro (e adjacências), que o ensino deve adaptar-se «sem padronizar» às necessidades (condicionantes, presume-se) de cada aluno. “Sem padronizar”… desde que seja tudo impingido em brasileiro aos rebanhos de ovelhinhas que enchem as salas de aula.

São uns mãos-largas, aparentemente, os paus-mandados do Ministério tentando passar pelos intervalos da chuva e em geral os bajuladores (“puxa-saquistas”, em brasileiro) do “gigante” sul-americano e dos seus putativos méritos como potência neo-colonialista.

Não é fácil descodificar a linguagem ministerial, mas podemos tentar ao menos filtrar as mais retumbantes aberrações desta vez paridas ali a Entrecampos.

  • Os alunos estrangeiros em Portugal, seja qual for a sua língua-materna, têm a garantia de que será preservada «a diferença, o património cultural e linguístico de cada um.», mas aos alunos portugueses está vedada a utilização da sua própria Língua, sendo compelidos a absorver (enfiado goela abaixo) o património cultural e linguístico de um país estrangeiro.
  • O sistema de Ensino português institui, como prerrogativa exclusiva dos alunos estrangeiros, «o reconhecimento e a valorização da diversidade como oportunidade e como fonte de aprendizagem para todos, no respeito pela multiculturalidade». Desta prerrogativa estão excluídos os alunos portugueses em Portugal, obrigados a absorver uma cultura alienígena.
  • Aniquilada a Língua Portuguesa, através da sua substituição pela brasileira enquanto idioma oficial da República, os programas da língua para estrangeiros passam em Portugal, por inerência, a incidir exclusivamente no factor identitário da potência colonizadora, ou seja, o Brasil e a sua língua. A mesma imposição vale também, e de forma ainda mais abrangente, para os alunos portugueses em Portugal.

 

Assumir ou presumir ou pretender que a destruição da Língua Portuguesa, que a permanente lavagem ao cérebro a que são sujeitos os portugueses e que o condicionamento mental das nossas crianças são meras “coincidências”, fingir que a campanha neo-imperialista brasileira é só mais uma “teoria da conspiração” ou, em suma, como corolário do infelizmente ancestral deixandarismo lusitano, continuar a assobiar para o lado e “vê-las passar”, corresponderá fatalmente a assinar de cruz uma extensa certidão de óbito passada à maioria ainda em vida e de novo aos seus egrégios avós. [post “Assinar de cruz“]