Eis a “maravilhosa língua unificada” em todo o seu “esplendor”. O recorte acima, da página web do centro de promoção e divulgação da língua brasileira da Universidade do Porto, é apenas mais uma amostra a juntar à abjecta colecção que aqui vou coligindo — um pouco a trouxe-mouxe, porque não é fácil seleccionar os exemplos mais repugnantes, tal é o nojo que fede de todo o lado — e que servem como ilustrações, em sentido literal, da campanha de brasileirização em curso. Mesmo para aquelas pessoas a quem incomoda ligeiramente ler mais do que duas linhas de texto seguidas, não será assim muito difícil fazer o que dantes se dizia a cábulas, preguiçosos e analfabetos: quem não sabe ler vê os bonecos.
Desta vez, não apenas o dito recorte é um “espetáculo” como também o é o artigalho abaixo, da autoria de certa “profe” brasileira; com a respectiva chapa de identificação ao pescoço, esta senhora — aliás muito bem apessoada, note-se — faz o favor de nos revelar mais uma pequena amostra daquilo que é o “ensino” da língua brasileira e como se inicia o processo de fabrico dos futuros “fêssorr” a despachar aos contentores por via marítima para “ensinar” os indígenas tugas.
A aberração a que chamam “língua universau” ou “língua unificada”, a ver se enganam algum patego cá da “terrinha”, o que aliás vai resultando em pleno, tal é a concentração de cretinos “puxa-saquistas” de que em Portugal se faz gala, tem vindo a apossar-se — perante a passividade colaboracionista dos políticos e contando com a geral bovinidade deslumbrada de uma ou outra camada de cambada — principalmente dos sectores editorial (estudantil, precisamente), jornalístico, traduteiro, universitário e académico (distintos tugúrios de vaidosos patológicos).
Nesta conformidade de cerco e destruição das partes até aniquilar o todo, utilizando exactamente a mesma estratégia, os acordistas e seus serventes preparam já o assalto ao sector nacional mais estruturante e identitário: o Ensino, pois claro.
Quando os alunos desta “profe” utilizam a língua brasileira em contexto de sala de aula («Vo faze um jornal pra escola») tiram involuntariamente uma espécie de fotografia do futuro; as crianças portuguesas já estão a ser industrialmente embrutecidas com tudo quanto é palhaçada brasileira falada em brasileiro, os nossos jovens, estudantes ou nem por isso, já estão a ser metodicamente enculturados, literatura (técnica ou não) no original brasileiro (com terminologia específica) impingidas ou “traduzidas” por “tradutores” brasileiros, material pedagógico de todo o tipo; mesmo quanto aos adultos, aqueles que em princípio deveriam ter algum juízo e pensar pela sua própria cabeça (ou usá-la para algo mais do que segurar o cabelo), o assédio estupidificante — ou, usando sinónimos para o efeito, a lavagem ao cérebro — manifesta-se já maciça e obsessivamente, com “jornalismo” brasileiro, legendagens e dobragens (“dublagens”, na língua deles), telenovelas escarradas, futebolistas às carradas, canais de TV (existem dois canais brasileiros pagos nos operadores por cabo portugueses), “igrejas” brasileiras (seitas brasileiras, para ser exacto) e até umas “escolas de samba” e outros carnavais igualmente demenciais.
Muito instrutivo, de facto. Desensinar tornou-se já na técnica “pedagógica” de eleição. Para o efeito, nada mais eficaz do que importar o crioulo do Brasil e diplomar os seus treinadores sambistas.
Todes pelo mim
www.assiscity.com
“Assiscity” (Brasil), 22.03.22
Era a hora mais esperada do meu dia, a pausa para um café. Que momento! Posso garantir a você, ninguém é infeliz tomando um bom cafezinho passado na hora, para nós professores, então, é hora sagrada. Esse era o meu momento, só meu, olhos fechados, apreciando e saboreando meus 10 longos minutos de paz. De repente:
– Oi, professora.
Fingi que não era comigo. Melhor não abrir os olhos, o excesso de trabalho pode estar me pregando uma peça. Vou ficar aqui, feito estátua, olhos cerrados, não respira.
– Profe, você pode “mim” ajudar?
Confesso que, nessa hora, eu queria ser um personagem da saga Harry Potter, só para aparatar em outra dimensão. Continuar fingindo que não estava ali? Não iria funcionar, o melhor era ajudar mesmo, afinal, depois do “mim ajudar” aquela alminha precisava de mim urgentemente.
Encarei o problema. Nem abri os olhos direito e a enxurrada de palavras, sem sentido, começaram.
– Professora, eu preciso de ajuda. Vo faze um jornal pra escola e minha primeira notícia vai ser sobre a nova língua portuguesa – a linguagem neutra. Você mim ajuda?
Minha vontade era de falar NÃO, sair dali e fingir não ter ouvido tanta besteira – para não dizer um palavrão. Mas, algo naquele diálogo despertou minha atenção, muito mais do que o “mim” antes do verbo – “linguagem neutra”. Reverberava no meu ouvido.
Comecei tentando lembrar o abençoado que o correto é “me ajudar”, que MIM não conjuga verbo, que ele não era um índio da época dos jesuítas, sim, porque hoje, até os índios falam corretamente. Foi quando percebi que falávamos dialetos diferentes.
– Tendi, mas a senhora pode ajudar mim fazer?
Tive tempo de dar apenas três piscadelas…
– Profe, eu quero mostra pros alunes a importância da linguagem neutra pra acolhe a todes amigues aqui na escola, mais não sei como explica essa nova mudança no português, mim ajuda?
Meu cérebro ainda estava corrigindo as gafes verbais daquela frase toda, quando a próxima surgiu:
– Meu título vai ser – BEM-VINDESTODES!
Antes de perder um pouco do bom senso que ainda me restava, tentei explicar que a linguagem neutra NÃO existe na nossa língua e é pouco provável de existir, já que, para ser implementada, deve-se mexer em toda a estrutura linguística aqui e em Portugal, afinal somos línguas irmãs e todas as alterações feitas aqui devem estar em comum acordo com lá, o tal do acordo ortográfico. Logo, não vão mudar uma língua inteira, centenária, por conta de uma aberração verbal que mais exclui do que agrega. Sim, EXCLUI. Aliás, antes de querer obrigar uma sociedade toda a mudar sua forma de falar e escrever é preciso APRENDER o próprio idioma corretamente, o que está longe disso acontecer.
Como exemplo, citei a palavra SOCIEDADE que é um substantivo feminino terminado em e; já motorista, que também é um substantivo feminino, termina em A, para mudar o gênero basta acrescentar o artigo – o, assim, você terá o motorista – masculino, NÃO EXISTE motoriste, porque não existe nenhum artigo neutro. Portanto, não é colocando E, x ou @, no final das palavras, que incluirá alguém ao idioma.
E, assim, foi nosso pequeno tempo de conversa. Tentei mostrar o que fazer com os surdos, já que, em libras não há a possibilidade de acréscimo inventado de vogais “neutras” – “Ai, profe, não tem surdo na escola.”. E os cegos? “Cego nem lê, profe.”. Falta de conhecimento em braile é comum também. Autistas? “Ah, autistas já lê, nehprofe, vai ficar até mais fácil pra eles?!“. E lá estava eu, piscando três vezes de novo…
(mais…)