“Silêncio escuro de lagoa morta”

«Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.» [Guerra Junqueiro, in ‘Pátria’ (1896)]


Para entender as três “notícias” que se seguem é necessário armar-se a gente de algum arsenal de paciência e de ao menos um módico de perspicácia. O trivial, portanto; a coisa é tão evidente que até dói, salvo seja.

Tanto as “novidades” do “Expresso das Ilhas” como (ou principalmente) a “local” do “Observador” — um dos mais activos órgãos de propaganda e contra-informação governamental — surgem do factor comum habitual, ou seja, através de despachos da Agência Brasilusa (a central oficial de intoxicação e de lavagem ao cérebro), denotando estes de novo o seu habitual esforço para disfarçar a realidade e mascarar as mentiras de Estado com o disfarce da “língua universau” e sob a capa de um “acordo” fictício. As aberrações do costume, portanto, mas estas — se lidas em sequência cronologicamente inversa — sem deixar qualquer margem a que os “distraídos” (tipos que não querem “guerras com o Brasil” e lindezas assim, como se tais guerras existissem fora das suas moleirinhas) finjam que por distracção algo se lhes escapou. Por mais que tentem, com essas mais do que evidentes declarações de intenções, os anjinhos “pacifistas” que se dizem anti-AO90 e tudo não podem desta vez escapar às reais intenções da pseudo-linguística golpada ou iludir as reais intenções (exclusivamente económicas) da diplomacia brasileira e dos colaboracionistas domésticos.

  1. Em 17 de Julho de 2021, na 13.ª Cimeira da CPLB, em Luanda, é “assinado” entre os Estados-membros (quantos deles, ao certo, não consta, mas também não interessa para nada) o Acordo de Morbilidade, garantindo que, por exemplo, um português possa emigrar para a Guiné Equatorial.
  2. Em 12 de Fevereiro de 2022, o “acordo de morbilidade” foi aprovado pelo equivalente — em todos os aspectos, incluindo negociatas de bastidores, corruptos, roubos de “colarinho branco” — que no Brasil faz as vezes do Parlamento tuga. Esta aprovação «seria suposto demorar seis meses, mas foi rápido», dizem os próprios.
  3. 7 de Março de 2022, o «Brasil conclui ratificação do acordo de mobilidade da CPLP e coloca Portugal como prioridade». Na mesma data é “anunciado” (mais propaganda, mais areia p’rós olhos) que o gigantone sambístico «passa a ser o sexto país da CPLP a concluir o processo de adesão ao Acordo» de morbilidade.

Ou seja, em conclusão, a incrível pressa com que homens de negócios brasileiros e portugueses esgalharam este outro “acordo” — apenas oito meses desde a redacção até à assinatura, coisa que é certamente record mundial — demonstra claramente aquilo que por diversas vezes aqui foi bem mais do que exposto, denunciado e esclarecido: a ganância desenfreada é aquilo que exclusivamente move políticos e empresários e foi apenas com essa finalidade objectiva (o petróleo e os diamantes de Angola, o gás natural de Moçambique, Portugal como porta dos fundos para excedentários) que o AO90 foi literalmente inventado, tentando dessa forma conferir algum lustro “académico” e “cultural” à Comunidade dos Países de Língua Oficial Brasileira (CPLB).

A pressa extraordinária em fazer sair esta espécie de lei é só por si extremamente reveladora e ainda mais tresanda a vigarice caso atendamos ao facto de, sem qualquer espécie de transição, nos textos dos despachos dos propagandistas de serviço, passar-se das expressões ocas do costume sobre “Línguas, Cultura, Ciência e Inovação, Educação, Ciência e Cultura, Língua Portuguesa” para o verdadeiro busílis da questão: “Comércio Exterior, Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, ministros da Economia, Finanças e Comércio“. Ou seja, os textos passam de repente do paleio rotineiro sobre a língua brasileira para aquilo que realmente interessa aos vendilhões de pátrias — o dinheiro. Não o dinheiro em migalhinhas, que isso ficará para as comissões dos vendidos portugueses, mas o dinheiro à séria, largas centenas ou milhares de milhões em que se banharão os Tios Patinhas da “metrópole” brasileira.

Desta vez, para esta expedita aldrabice, não serviu de nada a regra de três Estados subscritores valerem por todos os oito (agora nove) que os acordistas e brasileiristas inventaram para aprovar o AO90 à força. Mais uma vez se demonstra que aquilo foi um expediente ad-hoc: serviu exclusivamente naquela data fatídica e, arrancado a ferros o efeito pretendido (a imposição da cacografia brasileira a toda a CPLB), nunca mais a “regra” voltou a ser utilizada.

É portanto natural que o tal Zacarias, o actual capataz do Brasil na CPLB, tenha proferido uma “curiosa”, lapidar “sentença”, sublinhando «a rapidez com que o acordo de mobilidade foi ratificado pelo Brasil: “Em tempo recorde”».

Brasil é o sexto país a ratificar Acordo de Mobilidade da CPLP

 

“Expresso das Ilhas” (Cabo Verde), 7 de Março de 2022

 

“O Ministro das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil, Carlos Alberto França, vai visitar a sede da CPLP (…) para efectuar o depósito do instrumento de ratificação pela República Federativa do Brasil do Acordo sobre a Mobilidade entre os Estados-Membros da CPLP”, assinado a 17 de Julho de 2021, na cimeira de Chefes de Estado e de Governo, em Luanda, referiu um comunicado da organização.

Assim, o Brasil passa a ser o sexto país da CPLP a concluir o processo de adesão ao Acordo de Mobilidade, que já foi ratificado e completado também por Cabo Verde, Guiné-Bissau, Portugal, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

Esta iniciativa será também um dos pontos altos da agenda do primeiro dia da visita oficial a Portugal do chefe da diplomacia brasileira.

Na sede da CPLP, hoje, o ministro das Relações Exteriores do Brasil “vai ser recebido pelo secretário-executivo, Zacarias da Costa, numa cerimónia que contará também com a presença dos representantes permanentes dos Estados-membros junto da CPLP”, adianta ainda a nota daquela organização emitida sexta-feira.

Carlos Alberto França sublinhou na mesma ocasião que Brasília queria reforçar o seu papel na CPLP e pagar as contribuições em atraso num horizonte de dois anos.

[“Links”, sublinhados e destaques a verde meus.]

Brasil conclui ratificação do acordo de mobilidade da CPLP e coloca Portugal como prioridade

Agência Lusa
“Observador”, 7 de Março 2022

 

O Brasil tornou-se esta segunda-feira o sexto membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) a aderir ao acordo de mobilidade, após depositar o instrumento de ratificação na sede da organização, e colocou Portugal como prioridade para parcerias.

Portugal, para mim, na minha gestão é uma prioridade“, disse o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Carlos Alberto França, na sede da CPLP, em Lisboa, onde depositou o instrumento de ratificação do acordo de mobilidade, passo que conclui o processo de adesão do Brasil ao acordo assinado na cimeira de Julho passado, em Luanda.

O governante brasileiro respondia assim após ter sido questionado se Portugal poderia ser prioritário para o Brasil no estabelecimento de parcerias adicionais futuras, tendo em conta a grande comunidade brasileira que vive em território português, um tema que remeteu para o encontro que terá esta terça-feira com o seu homólogo português, Augusto Santos Silva.

Quanto ao que pode mudar com a ratificação do acordo de mobilidade por parte do Brasil, Carlos Alberto França pegou nas afirmações do secretário-executivo da CPLP, Zacarias da Costa, para salientar que “as medidas práticas serão tomadas no momento em que todos os países ratifiquem [o documento]”.

“Mas, sim, é uma situação muito clara do Brasil em colocar em prática esse acordo”, frisou.

O acordo de mobilidade já foi ratificado igualmente por Cabo Verde, Guiné-Bissau, Portugal, Moçambique e São Tomé e Príncipe. O processo está por concluir em Angola – onde já foi aprovado pelo parlamento -, Timor-Leste e Guiné Equatorial.

Na sede da CPLP, esta segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores do Brasil foi recebido pelo secretário-executivo, numa cerimónia que contou também com a presença dos representantes permanentes dos Estados-membros junto da CPLP.

Zacarias da Costa sublinhou também a rapidez com que o acordo de mobilidade foi ratificado pelo Brasil: “Em tempo recorde, afirmou.

O ministro fez ainda questão de deixar um agradecimento ao Congresso brasileiro pela “forma expedita” como correu a aprovação do acordo de mobilidade, bem como o apoio que teve por parte do então ministro do Tribunal da União, Raimundo Carreiro, que esta segunda-feira é novo embaixador do Brasil em Portugal.

Este entendimento a nível da CPLP estabelece um “quadro de cooperação” entre todos os Estados-membros de uma forma “flexível e variável” e, na prática, abrange qualquer cidadão, cabendo agora aos países definirem entre si que modalidades de circulação pretendem para os seus cidadãos.

O chefe da diplomacia brasileira recordou ainda que na primeira visita oficial a Portugal, em Julho de 2021, Portugal e Brasil tiveram uma grande agenda.

“E de novo, quando venho aqui, menos de um ano depois, acompanhando do novo embaixador designado do Brasil, que apresentará as suas credenciais [esta segunda-feira ao Presidente português], 48 horas depois de ter chegado [a Lisboa] também dá uma medida da prioridade que eu penso que o Governo português outorga em relação ao Brasil”, comentou Carlos Alberto França.

O ministro iniciou esta segunda-feira uma visita oficial de dois dias a Portugal, tendo como primeiro acto público a deslocação à sede da CPLP.

Depois da visita à CPLP, Carlos Alberto França vai participar na cerimónia de entrega das credenciais do novo embaixador do Brasil em Portugal, Raimundo Carreiro Silva, ao Presidente da República português, em Belém, e no final do dia tem um jantar oferecido por Marcelo Rebelo de Sousa.

No segundo dia de visita a Portugal, na terça-feira, o ministro terá um encontro de trabalho com o seu homólogo português, Augusto Santos Silva, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, seguido de almoço.

Um dos temas da agenda nesta deslocação de Carlos Alberto França são as comemorações do bicentenário da descoberta do Brasil, que se assinala este ano, e se celebra oficialmente a 7 de Setembro.

[Cacografia brasileira corrigida. “Links”, sublinhados e destaques a verde meus.]

Câmara de Deputados do Brasil aprova Acordo de Mobilidade da CPLP

 

Expresso das Ilhas, 12 de Fevereiro de 2022

 

​A Câmara de Deputados brasileira já aprovou o Acordo de Mobilidade da CPLP, e o diploma encontra-se agora no Senado, igualmente para ser votado favoravelmente. A informação é avançada pelo secretário-executivo da organização, Zacarias da Costa.

“Foi muito importante a aprovação do Acordo de Mobilidade pela Câmara de Deputados. O processo foi rápido. Seria suposto demorar seis meses, mas foi rápido e agora está no Senado também para ser aprovado. O Acordo de Mobilidade é muito importante”, frisou Zacarias da Costa.

O secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que parte hoje para o Brasil, para uma visita oficial de 13 a 16 de Fevereiro, acrescentou que o acordo de mobilidade, assinado na cimeira de chefes de Estado e de Governo, em Julho, em Luanda, já entrou em vigor em cinco dos nove Estados-membros, que depositaram os instrumentos de ratificação no Secretariado Executivo: Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Portugal, Guiné-Bissau e Moçambique.

Dos restantes Estados-membros da CPLP, o único que ainda não deu informações sobre o andamento do processo de aprovação é a Guiné Equatorial, destacou.

A Câmara dos Deputados brasileira aprovou na quarta-feira o acordo sobre a mobilidade da CPLP e, segundo uma nota oficial, “a matéria será enviada ao Senado”.

A visita de Zacarias da Costa ao Brasil surge na sequência das que tem vindo a fazer aos Estados-membros da CPLP, faltando somente, depois do Brasil, visitar a Guiné Equatorial (em Março), Cabo Verde (Abril) e Timor-Leste (Maio).

Na sua deslocação oficial ao Brasil, Zacarias da Costa vai participar também na sessão de abertura da 2.ª Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola (CILPE), que decorre de 16 a 18 de Fevereiro, em Brasília.

A CPLP é co-organizadora do evento, tendo a primeira edição sido realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, em 2020.

Um evento que tem como tema Línguas, Cultura, Ciência e Inovação”, e que é promovido pela Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, Ciência e Cultura, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a CPLP, a Secretaria-Geral Ibero-americana, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e o Instituto Cervantes.

No Brasil, Zacarias da Costa será recebido pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão, e manterá encontros de trabalho com os ministros das Relações Exteriores interino, Fernando Simas Magalhães, da Saúde, Marcelo Queiroga, e com o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Roberto FendtJunior.

Na visita oficial estão previstos, ainda, encontros com a Agência Brasileira de Cooperação e com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos.

Depois do Brasil, o secretário-executivo da CPLP viaja para Luanda.

“Vou participar num encontro para a criação das agências de promoção de desenvolvimento e, em 22 de Fevereiro, num encontro tripartido dos ministros da Economia, Finanças e Comércio dos nove Estados-membros da CPLP, com a cooperação económica e empresarial em agenda”, disse Zacarias da Costa.

Angola assumiu a presidência em exercício da CPLP na XIII Conferência de chefes de Estado e de Governo, que decorreu em 17 de Julho de 2021, em Luanda.

Os nove Estados-membros da CPLP são Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

[Cacografia brasileira corrigida. “Links”, sublinhados e destaques a verde meus.]

[Imagem (recorte) de topo de: “Custo Justo“.]

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