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No dia de hoje, 5 de Maio, os acordistas militantes celebram a “expansão e difusão” da língua brasileira (á tau, a univerrssau, cara, viu), um solícito e insólito evento lançado por certo ex-primeiro-ministro português nos jardins da Organização das Nações Unidas (o que certamente terá feito à má-fila, que a ONU não é a da Joana). Curiosamente, este sucedâneo de, por exemplo, Pérez de Cuéllar ou Boutros Boutros-Ghali, é internacionalmente conhecido pelo seu atávico horror a pântanos mas não teve o menor pejo em enterrar-se até ao pescoço num imenso lamaçal, a maior vigarice político-linguística da História universal, isto é, a liquidação da Língua Portuguesa e sua substituição pela brasileira para assim, usando o AO90 como pretexto, justificar a invenção da CPLB e a coberto desta “difundir e expandir” os interesses económicos do Brasil pelas ex-colónias portuguesas.
Tudo pago pelos contribuintes portugueses, bem entendido, comes&bebes incluídos e com extras no cardápio (viagens, estadias, “turismo linguístico“, palestras de sueca e dominó, etc.), resta aos 10 milhões de pagantes liquidar as contas e continuar como têm estado — é aliás o estado natural do tuga –, caladinhos. Ou seja, é a velha “norma” de uso e costume em Portugal, o “paga e não bufes”. Isto sem contar com os sorvedouros, as máquinas de triturar o erário público que estão especificamente ao serviço dos interesses brasileiros, com o Instituto Camões (que deveria mudar o nome para Instituto Tiririca – pió qui tá numfica) e o IILP à cabeça, fora os colaboracionistas de vários galhos e os media de intoxicação social.
A logística gigantesca necessária para olear a máquina de propaganda (e também, com precisão cirúrgica, algumas mãos) envolve imensos assalariados, comissionistas e tarefeiros, o que acarreta para uns poucos deles, os mais ou menos “notáveis”, necessariamente manobras e números vários, desde a mais ridícula choraminguice pelo tacho, pela prebenda, pela benesse, pela condecoraçãozinha, até à vitimização ritual e viscosa da tugalhada envolvida com cuspidelas de racismo, xenofobia ou preconceito linguístico… a ver se intimidam, por exemplo, o Batatinha ou, em extremo, o Companhia.
O artigo seguidamente transcrito veio de longe, a treze fusos horários de distância, mas bem poderia ter sido escrito no Bairro do Restelo ou na escadaria do “Cabrão” da Universidade de Coimbra.
O que lá diz o entrevistado é “tipo” ah, e tal, o Brasil é que é coiso e tal, ai ai, o Brasil. Enfim, o habitual estendal de lugares-comuns e lamechices asquerosas enaltecendo — como sempre, cá estão outra vez os rituais — o “gigantismo” do Brasil e a sua “superioridade” contável, isto é, ah, e tal outra vez, váláver, eles são 210 milhões (ou lá o que é) e nós não passamos de uma caganitazinha (bem, o “académico” não fala em caganitas, que “parece mal” num “académico” usar termos escatológicos, ou calão, vá, essas coisas horrorosas que diz o povo das tascas, ui, mas que mal parece).
Um festival de pedantismo; é o que lá está. Esta gente é tão previsível — pudera, limitam-se a repetir infinitamente meia dúzia de chavões — quanto os idiotas e tão dedicada aos negócios como os agiotas.
Todos os dias vamos vendo por todo o lado as consequências da mais ridícula subserviência e da mais aberrante bajulação que alguns portadores de passaporte português dedicam ao país-irmão deles.
Nas ruas, em cartazes, anúncios, letreiros (incluindo já alguma onomástica) e até indicações de trânsito; nos canais de TV, cujas miseráveis “traduções” e legendagens de filmes ou documentários são feitas ou por brasileiros em brasileiro ou por tradutores tugas que fingem conhecer a língua brasileira para não perder o emprego.
Nas dobragens (“dublagens”, em brasileiro) e nas entrevistas de rua dos canais de “informação”, em que dão sempre preferência ao sutáki duiss prêsêntchiss.
Em tudo quanto é sistema informático, desde programas a jogos, em todas as plataformas e serviços virtuais (se bem que seja possível ler seja o que for na Internet com a ortografia correcta), temos de levar com as insuportáveis bacoradas brasileiras — como escarros que o ecrã do aparelho nos atira à cara — e com a sua língua univerrssau.
Tenhamos sempre presente, porém, este facto insofismável: os principais culpados por este crime de lesa-pátria foram e continuam a ser uns tipos de nacionalidade portuguesa. Foram meia dúzia deles expressamente ao Brasil vender a ideia, perante a estupefacção e a incredulidade dos anfitriões. Existem testemunhos insuspeitos do que ocorreu, em especial entre 1976 e 1986.
Os resultados do sinistro plano urdido (daí em diante também por brasileiros, é claro, não aparecem muitas oportunidades assim em cada milénio) estão agora à vista. E são esses os resultados que hoje, dia 5 de Maio, os descendentes de Miguel de Vasconcelos celebram. Esta é que é a verdade.
O problema, parafraseando o Coronel Jessup, é que nem toda a gente consegue lidar com a verdade. Aliás, “nem toda” é manifesto exagero; talvez “quase ninguém” seja mais adequado. Se bem que a frase esteja truncada no filme; no original de Sorkin, a “deixa” completa é “You can’t handle the truth. You can’t handle the sad but historic reality.”
Pois. Lidar — no sentido de aguentar, suportar — com a verdade é muito, muito, muito difícil para a maioria. Com a triste realidade histórica é impossível.
Carlos Ascenso André, académico e linguista: “Língua portuguesa tem a dimensão do mundo”
“Hoje Macau”, Andreia Sofia Silva –
Celebra-se hoje o Dia Mundial da Língua Portuguesa e, para Carlos Ascenso André, tradutor, académico e linguista, é fundamental chamar a atenção para a grandeza de um dos idiomas mais falados do mundo. O especialista em literatura clássica defende que a língua portuguesa é apenas uma e que o papel de Macau é agora outro na difusão e ensino do idioma, bem como na formação de professores
Este dia significa o quê, na prática?