‘Portugal Giro’
Desta vez são dois em simultâneo os artigos, ambos brasileiros e pela mesma medida monocórdicos, a merecer destaque nesta série sobre a pretensa “xenofobia” lusitana de que alguns pretendem convencer-nos e assim enganar os mais incautos ou “distraídos”.
Agora até vêm aqueles tipos com números para cima da gente, nós, os portugueses por junto e por extenso, os quais na sua douta opinião não passam de uma chusma de “racistas”, uns “cara” carregadinhos de “preconceito linguístico” que até ferve e ainda por cima somos pobres e mal agradecidos, isto ele se não fosse o Brasil a “terrinha” era uma desgraceira completa. A sobranceria e o insuportável paternalismo com que se referem a Portugal, à excepção dos artistas que aqui vêm ganhar o seu — todos esses têm um Avô ou uma Tia em Sobral de Monte Agraço –, resulta num efeito com seu quê de anedótico, se bem que triste… caso atendamos ao ar “grave e sério” que as autoridades portuguesas arvoram quanto a este tipo de histórias da Carochinha a levar porrada de sua Avó e a ser comida, salvo seja, pelo lobo-mau.
Sobre os tais números, que foram aos zucas solicitamente disponibilizados por entidades portuguesas absolutamente insuspeitas e de uma competência a toda a prova, sem absolutamente bajulação alguma, dizem que as “denúncias de xenofobia contra brasileiros em Portugal aumentaram 433%” (título de “O Globo”), que há por cá gente do piorio, capaz de tudo, porque existe (saiu na BBC – Brasil) “discriminação contra brasileiros em Portugal” e esse “fato” é “provado” com o depoimento de um tipo qualquer que se queixa desta pictórica, porém psicadélica invenção: “tive que falar inglês para ser bem tratado”. E isto é só uma piquena amostra. Há mais, muito mais.
A foto que usam para ilustrar a colecção de bojardas é sempre a mesma. Pois, pudera, só há uma! Ou duas, vá, sempre do mesmo sítio, do mesmo caixote em madeira no qual apenas vai mudando um suposto cartaz que estaria pendurado no dito; de resto é só copy/paste das tais dois instantâneos, mais uns cortes para fabricar grandes-planos e supostas novas fotos “de pormenor”, fora as montagens ao estilo web meme. Nada de mais suspeito do que o habitual, portanto.
Aliás, nem o facto de não existirem mais fotografias (e porque não filmagens? Os brasileiros não têm espertofones?) suscitou a mínima dúvida a um único jornalista português; foi tudo engolido sem pestanejar, isco, anzol, bóia, cana e carreto. Ou seja, é de novo o habitual: o que brasileiro diz é sagrado, tugazinho algum atreve-se a sequer franzir o sobrolho, mesmo se o caipira estiver a convencê-lo de que o Pai Natal (seu papai Noeu, viu?) mora num cottage de luxo em Búzios, alimenta as renas a pão-de-ló e afinal essas renas não são renas, aquilo é uma manada de vacas Girolando (as vacas “mais produtivas do mundo”, está claro, que o “país-continente” é um colosso, uiui, tudo o que é brasileiro é o melhor do mundo, olha o futchibóu).
A “tese”, tal como as duas fotografias, é invariavelmente a mesma, sempre explorando até à medula (política) fenómenos que em Portugal são, como sempre foram, a absoluta excepção e nunca por nunca a regra: em matéria de racismo e xenofobia, o povo português não tem nada que receber lições ou aturar sermões seja de que estrangeiro for, brasileiros incluídos… e por maioria de razões.
Incrível, sem dúvida. Haverá ainda alguém que não veja a mais comezinha das realidades que se escondem por detrás deste afã vitimista e as finalidades que das queixinhas inventadas subjazem?
As duas peças “jornalísticas” agora aqui transcritas são ambas exemplos flagrantes da mistificação, da mentira descarada em doses industriais, da montagem de cenários absurdos e da mais pura e dura invenção de “fatos” — distinguindo-se estes não pelo aspecto mas antes pelo corte e costura. Assinalei nelas a “bold” azul algumas das (muitas) coisas que na minha opinião não passam de tangas. São tantas, tão repetitivas e de tal forma idiotas que só alguém pertencendo a essa classe profissional (o idiotismo) poderá conferir-lhes alguma espécie de credibilidade. Seria de facto necessário ser-se um perfeito imbecil para engolir semelhante chorrilho de patranhas; a repetição sistemática das mesmas formulações, ad infinitum, são indício seguríssimo de que estamos em ambos os textos (e muitos outros de rigorosamente igual teor saíram em tudo quanto é OCS brasileiro) perante mistificações escabrosas, patranhas escandalosas, manifestações fictícias de histeria, queixas inventadas e cheias de lamechice e coitadismo militante.
A vitimização é de facto uma arma política. A lavagem ao cérebro é outra. Quando aquela serve de detergente a esta, bem, então o que temos aqui é, de novo, brasileiros explicando a tugas que o Pai Natal, no fim de contas, é natural da Freguesia do Corcovado.
Denúncias de xenofobia contra brasileiros em Portugal aumentaram 433%
Gian Amato
“Portugal Giro”, Apr 14, 2022 – blogs.oglobo.globo.comOfensas racistas contra brasileiros em 2019 na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
As denúncias de casos de xenofobia contra brasileiros em Portugal aumentaram 433% desde 2017, ano em que a comunidade imigrante do Brasil no país voltou a crescer,
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Em 2020, ano com dados mais recentes, foram 96 queixas nas quais a origem da discriminação foi a nacionalidade brasileira. Haviam sido 18 em 2017.
É possível que os números sejam maiores porque nem sempre as vítimas relatam oficialmente uma queixa. Mas o fato de as denúncias terem aumentado ao longo dos anos mostra uma tendência de mudança de comportamento.
As denúncias foram recolhidas pela Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial (CICDR) e enviadas na última terça-feira ao Portugal Giro.
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Os dados também constam nos relatórios anuais do órgão, presidido pelo Alto Comissariado para as Migrações e com integrantes parlamentares, do governo e de associações de imigrantes, contra o racismo e a favor dos direitos humanos.
A CICDR explica que “a expressão que mais se destaca enquanto fundamento na origem da discriminação é a nacionalidade brasileira”.
A discriminação sofrida pelos brasileiros supera as manifestações de racismo e de xenofobia contra outras nacionalidades. E pode reunir múltiplas expressões, que acontecem quando o discurso de ódio atinge uma nacionalidade ou a cor da pele simultaneamente.
Os dados de 2021 ainda estão em fase de apuração pelo CICDR e estarão no relatório que será divulgado este ano.
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Denúncias anuais de xenofobia contra brasileiros (CICDR):
2017 – 18
2018 – 45
2019 – 74
2020 – 96
2021 – (Em apuração)Evolução da população brasileira em Portugal (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras):
2017 – 85.426
2018 – 113.636
2019 – 151.304
2020 – 183.993
2021 – 209.558 (Dados provisórios)Ver também https://www.dn.pt/pais/lisboa-uma-piada-sobre-brasileiros-poe-a-faculdade-de-direito-em-polvorosa-10845576.html
E ainda https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/04/universidade-de-lisboa-recebe-50-denuncias-contra-professores-em-11-dias.shtml[Reprodução integral (incluindo imagem de topo e alguns destaques originais) de artigo
publicado no blog brasileiro “Portugal Giro” em Apr 14, 2022. Destaques a azul
e “links” a verde meus. Evidentemente, desactivei o corrector automático
para transcrever o texto, que assim conserva a cacografia do original brasileiro.]
Discriminação contra brasileiros em Portugal: ‘Tive que falar inglês para ser bem tratado’
LuisBarrucho – @luisbarrucho
Da BBC News Brasil em Londres, 6 maio 2022[legenda de foto no original] Denúncias de casos de xenofobia contra brasileiros em Portugal aumentaram 433% desde 2017, diz órgão ligado ao governo português
“Não é problema meu se você não sabe falar português”. “Não há água potável no Brasil”. “Mulher brasileira vem para cá para roubar o marido das portuguesas”. “Os moradores estão se sentindo incomodados de ver uma pessoa assim como você, estranha, andando por aqui”. “Brasileiras são todas p*”. “Você não entende nada. Você é burra”. “Claro que não, brasileiro vir dar aula aqui?”
As declarações acima foram compartilhadas com a BBC News Brasil por brasileiros que viveram ou ainda vivem em Portugal. Apesar de fazerem parte de uma nova geração de imigrantes, mais qualificados e com maior poder aquisitivo, eles relatam episódios de xenofobia. E essa é uma das razões pelas quais alguns dos que já deixaram o país dizem não querer mais voltar a viver lá.
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