Dia: 22 de Maio, 2022

tic tac… negue… tic tac… negue… tic tac tic tac tic

Pela milionésima vez: o “acordo ortográfico” de 1990 não é um acordo, é uma imposição, e de ortográfico absolutamente nada tem, não passa de um acto político… na pior acepção do termo.

O que ainda resta de indefinido — se algo há ainda por definir — é a extensão, a abrangência da sinistra manobra a que alguns políticos dedicados à “causa” dos seus próprios interesses envidam todos os esforços. Permanecendo os mandantes — uns cinco ou seis — na sombra, evidentemente, até porque seria “ligeiramente” escandaloso que os fabulosos negócios (dos) envolvidos se tornassem do conhecimento público, o quase nada que ainda vai transparecendo surge apenas por mero acaso, quando um qualquer indivíduo, de entre as largas dezenas de mandados, se descai, quando há um lapsus linguae aqui ou ali, quando alguém desbronca-se sem querer (ou por influência de qualquer substância química).

Daí, aliás, por inerência e para limitar os estragos ab ovo, o investimento da diminuta mas poderosa oligarquia na compra de órgãos de comunicação social para a propaganda, por um lado, e, por outro, no recrutamento de mercenários em geral como mão-de-obra, provindos de seitas tão heterogéneas como a dos intelectuais de pacotilha, solícitos demagogos profissionais para abastecer as “notícias” (ou certos artigos “de opinião”) e, por fim, agentes das diversas polícias políticas com a dupla finalidade de criar o conveniente clima de intimidação e esmagar subtilmente qualquer esgar de dúvida ou tiques altamente suspeitos, como soerguer uma sobrancelha, torcer o nariz ou projectar as beiças.

O processo de demolição derivado à obsolescência da verdade começou com a gigantesca patranha da língua universáu (a brasileira, evidentemente), tudo embrulhado numa retórica impenetrável — espécie de rede de chavões absurdos — visando explicar o inexplicável ou justificar o injustificável, e portanto é de certa forma natural que pouca gente (ou nenhuma, vendo bem) tenha sequer dado conta das verdadeiras dimensões da coisa, a sua latitude e demais coordenadas, a longitude, o paralelo, o fuso horário, a distância relativa a Greenwich no tempo e no espaço. Ou seja, traduzindo em miúdos, o ponto a que “isto” chegou.

Será de todo previsível uma imensa dificuldade em processar ao que isto chegou, realmente. A agenda política atrelada ao “acordo” ultrapassa largamente qualquer âmbito — já de há muito se sabe que a ortografia foi em tempos um pretexto mais do que pífio, ridículo — e por fim chegou tal agenda, veja-se a “figura” junta, a uma espécie de questão que não dirá certamente coisa alguma a quem jamais engoliu as patranhas “unificadoras” — linguisticamente falando — e também pouco ou nada dirá à esmagadora maioria que verga a cerviz porque “isto agora é assim”.

A referida “figura junta”, triste figura, por sinal, está já pipocando no Brasil, como se confere e demonstra no artigo abaixo transcrito, publicado no “portal do Governo do Brasil” a pretexto e à boleia do Dia Mundial da Língua brasileira.

Ultrapassadas as tretas folclóricas habituais, loas à tal língua universau com citações de uns quantos brasileiros mais ou menos ilustres, a linha discursiva trepa para cima do ensino e daí o que se deve dar por lá nas aulas, a saber, que existe uma coisa chamada “o carácter fluido da língua” (sobre o AO90 era parecido, “a língua evolui”, já não falamos como o Camões, patacoadas assim) e que há um demónio a extirpar (ou estripar) dos anais, salvo seja, o “preconceito linguístico” — t’arrenego, Satanás, cospe, cospe — e “portanto” saltar do “preconceito” para o “racismo”, para a “xenofobia” e para outras “fobias” é um pulinho.

E… pim. Das “fobias” em geral e das “regras” de “fluidez” (linguística, recorde-se, não é de outros fluidos que se trata agora), o libelo panfletário aterra na ingente questão que aflige uma data de adultos riquinhos e alegretes. U siguintchi, viu?

«Essa polêmica com o pronome neutro disfarça um preconceito anterior, que está na recusa da percepção das identidades de gênero e sexualidade que não se reduzem aos binômios masculino e feminino.»

E pronto, já está: outra vertente, a mesma onda. A tal agenda política (bem, sim, não será só política, mas, como dizia a outra, isso agora não interessa nada).

Conviria ligar as pontas. Não as soltas, que disso não existe neste caso, tão clarinho ele é, mas ligar uma ponta do iceberg à outra ponta, a dos dicionários, nas páginas “P” de “pronome”, “M” de masculino, “F” de feminino, “G” de género, “S” de sexualidade e por fim a “E” de evidência, evidente e “espetáculo” se for um Houaïss ou da Porto (Alegre) Editora.

Sabendo, como hoje por hoje ninguém pode ter dúvidas, que as incidências políticas no império brasileiro afectarão mais tarde ou mais cedo todas as suas colónias (a CPLB). O que for determinado no Brasil passa, nos termos do “acordo ortográfico de 1990”, a valer em todos os demais oito Estados vagamente autónomos. Aliás, nem é preciso que oito funcionários administrativos, cada qual em representação do respectivo Governo autónomo, assine a ordem exarada pela “metrópole”; bastam três deles, digo, delos/as, para que o/a/os/as/x frasxs/as/os valham por todes/os/as outrxs/as/os.

Dia Mundial da Língua Portuguesa celebra diversidade e cultura

Portal do Governo do Brasil – UFJF – 05.05.22

Guitarras e sanfonas / Jasmins, coqueiros, fontes / Sardinhas, mandioca / Num suave azulejo / E o rio Amazonas / Que corre Trás-Os-Montes / E numa pororoca / Deságua no Tejo

Da América, falam brasileiros. Da África, angolanos, cabo-verdianos, moçambicanos e as populações da Guiné-Bissau, da Guiné-Equatorial e de São Tomé e Príncipe. Da Ásia, falam os habitantes do Timor-Leste. E do continente europeu, os portugueses, responsáveis pela colonização de todos esses países, processo que, para além da instituição do Português como língua oficial nesses territórios, acabou forçando o cruzamento da cultura dos povos originários com os colonizadores europeus.

As palavras do cantor e compositor Chico Buarque, de 1973, que abrem essa reportagem em alusão à colonização portuguesa no Brasil, refletem sobre a constituição de um idioma falado por mais de 265 milhões de pessoas ao redor do mundo, instituído como língua pátria em nove países distribuídos por quatro continentes do planeta.

Neste 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa, é preciso celebrar a língua e as culturas lusófonas. A data, oficialmente estabelecida em 2009 pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), organização intergovernamental e parceira oficial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), foi criada para promover o multilinguismo e a diversidade cultural, para sensibilizar a comunidade internacional para a história, a cultura e a utilização da língua, em toda a sua extensão geográfica.

O mais importante, portanto, é celebrar a diversidade desses recursos que temos disponíveis sob esse rótulo do que estamos chamando de Língua Portuguesa

Segundo a professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Denise Weiss, o Português foi se formando a partir de uma mistura de povos em uma pequena parte da península ibérica, na região norte do que hoje é Portugal. “Há mil anos ele já era reconhecido como uma língua diferente das demais da região. Língua imperial e de viajantes, chegou a muitas partes do mundo em navios de comércio e de colonização. Hoje é uma língua pluricêntrica.” Além dos países que possuem o Português como língua pátria, ele está presente por todo mundo pelas comunidades que migram. “Em cada lugar, é fator de distinção de grupos, língua dos afetos ou dos negócios”, conclui ela exaltando a diversidade cultural celebrada pela data.

Para o docente da Faculdade de Educação (Faced) Alexandre Cadilhe, é fundamental enxergar as línguas como produções coletivas, atravessadas pela história, cultura, geografia, tempo e espaço e que, independentemente de suas origens, são objetos mutáveis. “A Língua Portuguesa, assim como qualquer outra, não se constitui como algo puro. Ela é resultado do latino, do europeu, da contribuição de povos indígenas e africanos. É isso que a torna um conjunto híbrido. O mais importante, portanto, é celebrar a diversidade desses recursos que temos disponíveis sob esse rótulo do que estamos chamando de Língua Portuguesa”, exalta Cadilhe.

O ensino em debate

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