Dia: 4 de Julho, 2022

Não sabe o que é a lusofobia? Então veja os “bonecos”…

O tema não é assim tão novo quanto isso, ainda que possa soar vagamente familiar (salvo seja) e se bem que, paradoxalmente, a esmagadora maioria dos portugueses não tenha jamais ouvido falar em tal coisa. Não se trata, porém, de uma bizarria estranha ou de qualquer neologismo; muito pelo contrário. O termo poderia facilmente remeter para a esquizofasia ou para outra das particularidades que encerram patologias mentais (como, por exemplo, o fenómeno de “projecção” enquanto reflexo do vasto “campo” da esquizofrenia) mas, como veremos — para já, essencialmente através de registos “instantâneos” (imagens, “bonecos”), é esse mesmo fenómeno de projecção que em simultâneo explica o estupro da Língua Portuguesa e, como extra ou brinde, as recentes “queixas” de alguns imigrantes quanto a um putativo “preconceito anti-brasileiro” que, dizem, existe em Portugal.

Fica assim devida e plenamente explicado o referido fenómeno de projecção. Não são os portugueses os culpados e autores daquilo que imputam a outros — os que acusam de dizer e fazer o que eles fazem e dizem.

Existe lusofobia, o termo e de facto, mas não existe “brasileirofobia”, nem de facto nem o termo. A “xenofobia”, o “racismo” de que os brasileiros em Portugal tanto se queixam, tentando fazer-se passar por vítimas, é afinal a xenofobia brasileira, o racismo brasileiro, o preconceito anti-português dos brasileiros, a sua aversão atávica a tudo aquilo que lhes cheire a português, a sua raiva (nem sempre) surda à História de Portugal, o seu desprezo pela Cultura portuguesa, a sua determinação em enterrar para sempre um passado de que se envergonham.

Abre-se assim uma nova e imensa (“22 vezes maior”) área de estudo em Psiquiatria: a lusofobia. Ora, atendendo a que, por definição, qualquer fobia é, de entre todo o arsenal de distúrbios mentais, um dos sintomas mais dificilmente tratáveis — exceptuando talvez o uso de doses cavalares de psicotrópicos, anti-depressivos e benzodiazepinas –, poderemos porventura concluir que afinal os mais “perturbados” não são os próprios pacientes, são quem lhes dá crédito e atura as suas taras e manias. A começar pela fobia anti-lusitana.



[Pesquisa Google (imagens) em 03.07.22; critério de pesquisa: “lusofobia”]



[Reprodução da página da “Wikipédjia” brasileirófona sobre o desporto nacional (“ispórrtchi nációnau”) do Brasil.]

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«Acordo Ortográfico só subsiste pela inércia cultural da ignorância» [Pacheco Pereira, 02.07.22]

Não sabe o que é o nó górdio? Se não sabe devia saber

O ‘turnover’ geracional político e jornalístico criou uma espécie de simbiose no pensar, no falar, no viver entre os jovens políticos e jornalistas.

 

Ele há dias, em bom rigor cada vez mais dias, em que o meu interesse pela política corrente portuguesa, se não é nulo, é quase nulo. Não é uma atitude aconselhável, porque o desinteresse pela coisa pública não é uma atitude cívica que se deva ter, mas não consigo, pura e simplesmente não consigo, passar o dia a ouvir e a ler sobre as trapalhadas entre António Costa e Pedro Nuno Santos, ou sobre a tragédia da menina Jéssica, ou sobre as “contingências” na saúde, ou as ciclópicas tarefas do novo líder do PSD. No entanto, em todas estas histórias há aspectos relevantes, seja a qualidade da acção governativa, seja o retrato da miséria física e moral do mundo da pobreza e a sua implícita violência, seja o conflito larvar entre corporações poderosas, interesses privados e, de novo, a incompetência da governação, ou sobre o dilema entre uma oposição dos decibéis ou uma oposição reformista num país demasiado pequeno e atrasado para poder ultrapassar os interesses instalados.

Mithridates or Mithradates VI Eupator was ruler of the Kingdom of Pontus in northern Anatolia from 120 to 63 BC, and one of the Roman Republic's most formidable and determined opponents. WikipediaDe novo, insisto, tudo isto é relevante e não merece indiferença, mas… a pasta informativa que nos é servida todos os dias transforma-o numa espécie de puré de batata, ou, melhor, num puré de maçã adornado por frutos vermelhos e uma pétala ou uma pequena flor por cima, como um pastiche da pseudocomida francesa que por aí se come. E quando não é só isso, no meio do puré está um fio de veneno, com a crescente politização escondida da informação, que torna mais saudável ler o ‘Abril, Abril’, um ‘site’ informativo do PCP que não engana ninguém, do que a mais sofisticada e profissional manipulação da Radio Observador pelas manhãs. Isto para quem não seja seguidor de Mitrídates do Ponto, como eu sou há muito tempo, e corra o risco de se envenenar mesmo a sério.

A culpa é dos jornalistas? Já foi mais do que o que é, porque, entretanto, o ‘turnover’ geracional político e jornalístico criou uma espécie de simbiose no pensar, no falar, no viver entre os jovens políticos e jornalistas – jovem aqui segue o critério do Komsomol – que cada vez são mais parecidos na visão do mundo, no vocabulário, no modo de viver entre si, na frequência de lugares, de restaurantes, de leituras, de “sítios”, do que vêem na televisão e ouvem na rádio, que se entendem como quem respira. É uma coisa que se tem vindo a desenvolver nos últimos anos, uma comunidade de vida e cultura, uma redução da política a critérios mediáticos, uma espécie de contínuo entre a má política e o mau jornalismo feito de uma atenção quase obsessiva as chamadas “redes sociais”, de uma redução da complexidade a favor de um simplismo redutor, de uma pobreza vocabular de que resulta numa incapacidade expressiva e, por isso mesmo, ou uma brutalidade argumentativa ou uma sucessão de lugares-comuns , muito pouco estudo e uma dose exagerada de comentários e debates televisivos.

Todos os rodriguinhos dos nossos tempos são absorvidos, quer como aspirações quer como tabus, com um medo pânico e um não-pensar em relação as matérias proibidas, seja o racismo, seja a homofobia, seja a condição feminina, seja, noutra área de “negócios”, a interiorização da economia da ‘troika’, a começar pelo PS. A indiferença face aos estragos feitos à língua portuguesa pelo Acordo Ortográfico, que só subsiste pela inércia cultural da ignorância, é mais difícil de mudar do que pôr-nos a todos a dizer “todes” para sermos politicamente correctos.

Viver vidas a sério, ou seja, as que têm dificuldades e escolhas, não garante experiência, mas as vidas de plástico aproximam-se muito do mundo imbecil das/dos influenciadores das revistas do ‘jetset’. Esperem para chegar a praia e vão ver como é. Ler muito também não garante nem qualidade nem razão, mas ler pouco garante muita ignorância e, para quem vive num mundo com uma forte componente explícita de símbolos e escondida de interesses, resulta num ‘modusoperandi’ de rotina e incompetência e de serviço aos glutões que por aí andam e comem estes políticos e jornalistas ao pequeno-almoço.

Dizer isto é elitismo e sobranceria? Talvez. Mas tenho por mim a memória de Medeiros Ferreira e um seu momento numa entrevista em que falou do “nó górdio”, e a jornalista perguntou-lhe o que era. Medeiros Ferreira irritou-se e respondeu: “Se não sabe, devia saber…”

– historiador

 

[Transcrição integral (semi-manual) de crónica, da autoria de “Público” em 2 de Julho de 2022. Sublinhados e destaques a “bold” meus. Inseri “links”, citações e imagens. Imagem de Medeiros Ferreira: recorte de imagem no “site” com o nome do próprio.]

«O mais flagrante exemplo é a defesa de um Acordo Ortográfico que se pretende impor manu militari, e que corta as raízes ortográficas do português no latim.»
«
A perda de raízes é uma constante nas sociedades contemporâneas, não só em Portugal, mas em Portugal com a gravidade maior de que a nova ignorância se soma à antiga. E em que há pouca consciência dos estragos que essa nova ignorância nos faz, fazendo-nos andar para trás.»
«O problema actual da ignorância é que a ignorância nunca teve tão boa imprensa, tão bons defensores, tão arrogantes cavaleiros contra o saber, como nos dias de hoje.» [“AO90: imposição ‘manu militari’” [Pacheco Pereira, “Público”, 03.04.2017]
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