__Ouve lá. Se continuas a falar de mim e de pessoas das minhas relações, do modo como tens falado, e que não me convém, arranco-te as orelhas. O conde acudiu, metendo-se entre eles: __Maia, por quem é! Aqui no Chiado… __Não é nada, Gouvarinho, disse Carlos detendo-o, muito sério e muito sereno. É apenas um aviso a este imbecil. __Eu não quero questões, eu não quero questões!… balbuciou o Dâmaso, lívido, enfiando para dentro duma tabacaria. [“Os Maias”, Eça de Queirós]
Morder a Língua
Depois de ao menos ter visto os “bonecos” do “post” anterior, sobre este mesmo assunto, já terá formado uma ideia daquilo em que de facto consiste esta espécie de neologismo que afinal não é neo coisíssima nenhuma. E embora sejam imensas as fontes, o que implica a divisão em parcelas dos conteúdos, o que se irá proximamente fazendo, decerto o conceito tornar-se-á mais inteligível sendo ilustrado e demonstrado documentalmente. Apenas no essencial, bem entendido, até porque ao contrário do que é costume suceder com os “ismos”, que as têm largas, em matéria de política a lusofobia tem costas estreitas; tão estreitas, aliás, que apenas por uma nesga se enxergam — de tal forma é sepulcral o silêncio sobre aquela patologia anti-portuguesa… em Portugal.
Claro que outro galo cantaria, com toda a certeza, seria um cócóricócó dos diabos e não um silêncio ensurdecedor, se existissem lusófobos em Espanha (não há, de todo), por proximidade geográfica e afinidade histórica, ou se tais desmandos porventura sucedessem em qualquer das ex-colónias portuguesas em África e na Ásia; também não sucede nada nos PALOP (e Timor e Macau e até Goa), nada, nem um sinal, não existe a mais ínfima réstia de lusofobia; em todos esses países jamais ocorreu a alguém usar Portugal como bode expiatório para os seus próprios nacional-fracassos. Esse estranho fenómeno sucede em rigoroso exclusivo no Brasil e por parte de brasileiros (bom, felizmente nem todos), incluindo parte daqueles que resolveram — esperemos que não com muito sacrifício — estabelecer-se na parte mais ocidental da Europa, naquilo a que chamam “a terrinha”.
Para os mesmos brasileiros está igualmente reservado um outro exclusivo, o ainda mais estranho fenómeno da contemporização tuga para com o insulto e a ofensa. Digamos que nesta questão (literalmente) o tuga “médio” comporta-se como qualquer poltrão, é uma espécie de Dâmaso Salcede colectivo que, ligeiramente borrado, enfia-se em qualquer buraco sempre que alguém se sente, porque é gente, mas os nacional-cobardes não, esses limitam-se ao escudo invisível da passividade, “eu não quero questões, eu não quero questões”. A tal gentinha que não quer nem questões nem “conflitos com o Brasil” (ou lá qual é actualmente a fórmula que usam obnóxios), uns tipinhos que acham que tudo o que é brasileiro é légau, a começar pela sacrossanta língua universau.
Os bajuladores que bajulem, os tíbios que fiquem lá com a sua tibieza, quem insulta Portugal que morda a língua. Longe. Distância. Não aqui.
Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floresça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora, e lá na ardente
África estar quieto o não consente.
Esta é a ditosa pátria minha amada,
A qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
Portugal vê nova onda de imigração brasileira após reabertura de fronteira
Giuliana Vallone
A reabertura das fronteiras entre Portugal e Brasil, em setembro, após um ano e meio de restrições relacionadas à pandemia da covid-19, vem estimulando uma nova onda de imigração ao país europeu.
Entidades que auxiliam imigrantes em território português relatam maior chegada de brasileiros e busca por informações sobre o processo de migração. Dizem, ainda, que caiu o número de brasileiros procurando auxílio para voltar à terra natal.
As razões para isso, apontadas por brasileiros recém-chegados a Portugal entrevistados pela BBC News Brasil, incluem a escalada da crise no Brasil, uma vontade de melhorar sua qualidade de vida e a familiaridade com a língua.
Além disso, o país possui uma legislação nacional favorável à imigração. Diferentemente da maioria das outras nações europeias, Portugal permite a regularização com relativa facilidade daqueles que chegam como turistas (ou seja, sem visto), mas decidem viver e trabalhar em seu território.
Foi com essa possibilidade em mente que o auxiliar de enfermagem Uelber Oliveira, de 33 anos, se preparou para viver no país. Em Lisboa há cerca de três meses, chegou sem visto para procurar emprego e se instalar na cidade.
“Está cada vez mais difícil viver, e viver com qualidade, no Brasil. A nossa luta não é mais para ter um carro bom, uma moradia boa. O problema agora é ter o básico, é conseguir se alimentar”, diz ele, que é natural de Ilhéus (BA).
Na capital portuguesa, conseguiu um emprego e aguardou a chegada da esposa, cuja viagem ficou marcada para dois meses após a sua. Atualmente, os dois trabalham como cuidadores de idosos na cidade, e já começaram o processo para regularizar sua situação migratória.
“Percebi que em Portugal teremos segurança, e, mesmo ganhando pouco, muita qualidade de vida – e ainda vou conseguir mandar um dinheirinho para o Brasil”, afirma.
O movimento atual de migração de brasileiros para Portugal começou em 2014, quando as condições econômicas do Brasil voltaram a piorar, mas se intensificou a partir de 2017. Nos últimos quatro anos, o número de brasileiros residindo em Portugal registrou um aumento — batendo recorde em 2020.
“E aí veio a pandemia e fechou as fronteiras. Mas as pessoas só suspenderam seus processos migratórios nesse período”, afirma Cyntia de Paula, presidente da Casa do Brasil de Lisboa, entidade que auxilia os imigrantes no país. “Quando abriram as porteiras1, as pessoas voltaram a procurar Portugal em peso.”
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