O rasgão
Os conteúdos que se seguem, na sequência dos contidos no “post” anterior, farão a ponte com os de temática semelhante que se seguirão. Sempre na expectativa, porém, porque é essa a única intenção subjacente, de que a publicação de documentos porventura surpreendentes ou até chocantes (para alguns, claro) não sirva para acicatar ainda mais a já de si absurda “guerra” que o Brasil tradicionalmente e por mero desfastio move e promove contra Portugal, contra o legado histórico lusitano — que pervertem com requintes de malvadez — e, de forma geral, contra os portugueses.
Logo à cabeça, salvo seja, nem vale a pena referir o desconchavo da “letra” que “ilustra” o vídeo em que um grupo “musical” brasileiro (cujos elementos faleceram num acidente, paz à sua alma) produz o barulho horripilante que sai pelas colunas de som. Adiante, portanto, passemos por cima de tão asquerosa pantomina e vamos ao que interessa.
Da leitura do(s) artigo(s) de Carlos Fino e da entrevista subsequente resulta em síntese aquilo que já se sabia (para os brasileiros, os portugueses são os culpados de tudo o que no Brasil está coxo ou corre mal) mas ressalta também que a simples constatação desse facto irrefutável provoca algumas “comichões” nas terras do pau-brasil (Paubrasilia echinata) e, nada surpreendentemente, implica alguma icterícia também do lado de cá do Atlântico. Felizmente, pelo menos quanto a portadores de passaporte português, parece que são apenas meia dúzia os afectados por esse tipo de problemas de pele.
Carlos Fino, um jornalista português com pêlo na venta, honra lhe seja feita, não se põe com rodriguinhos e muito menos cai no logro do costume — a fábula do “gigante brasileiro” e do mitológico Quinto Império (mais o título no Mundial de futebol) atinge boa parte da população tuga –, dispensando com elegância os salamaleques da ordem, a bajulação, o brasileirismo pitosga característico de algumas capelinhas da tugalândia. O jornalista diz o que tem a dizer mas, como bom profissional, estudando e investigando e documentando o que escreve. Não inventa coisa alguma, não finge ser a favor ou militar contra, não se arma em fidalgo ou sabichão, não faz fretes seja a quem for.
Factos são factos, fábulas são fábulas, tretas são tretas.
O ressaibo brasileiro é um facto e a treta da “língua unificada” é uma fábula. A lusofobia, uma doença infecto-contagiosa originária do Brasil mas que já vai ganhando foros de pandemia em Portugal, explica em boa parte porque foi inventado o AO90 — materializar violentamente uma espécie de vingança histórica — e para que servem as tretas que apregoam mercenários, vendidos e traidores ao serviço dos interesses político-económicos brasileiros: precisamente, as prestidigitações intelectualóides e os truques verborreicos têm por finalidade encobrir a golpada bicéfala, escondê-la sob um manto de palavras ocas e vencer pela exaustão os mais tíbios ou confusos.
Relação de causa e efeito, portanto, se bem que funcionando a lusofobia apenas como adjuvante estratégico. O ódio ao português cultivado no Brasil, com o beneplácito do próprio Estado brasileiro, especialmente através de um sistema de Ensino marcadamente anti-lusitano, funciona como base para o processo de linguicídio, de neo-colonização linguística em curso; contando com esta base, sem a qual seria impossível atingir as reais finalidades de todo o plano, podem então os estrategas portugueses (mai-los mandantes na sombra) — os mesmos que arquitectaram toda a tramóia — servir a estrangeiros numa bandeja de lata a Língua Portuguesa e, para sobremesa, a História, a Cultura, a identidade nacional. E então, com esse capital de destruição na bagagem, passar sem mais rodeios àquilo que exclusivamente lhes interessa: o capital a sério, metal sonante, dinheiro verdadeiro, ganância e corrupção à escala industrial.
O “acordo ortográfico” é um negócio fabuloso. Quem meter a mão na massa tem garantido um futuro opíparo: no mínimo, cada um dos envolvidos tornar-se-á de certeza absoluta o condómino mais rico e poderoso do cemitério. Alguns poderão até chegar à suprema honraria de um funeral de Estado ou, pelo menos, de estadão, com um impressionante Saveiro Deluxe e tudo e gatos-pingados de libré e tudo e tudo.
Não queremos que lhes falte nada.
Brasil tem vergonha das origens portuguesas, diz autor de livro sobre estranhamento entre países
Para Carlos Fino, visão negativa de Portugal alimenta lusofobia dos brasileiros, que negam heranças históricas
Giuliana Miranda
“Folha de S. Paulo”, 31.12.21LisboaApesar do discurso diplomático de que Portugal e Brasil são países irmãos, unidos por profundos laços de amizade, existe um estranhamento entre as duas nações. Enquanto o Brasil tem vergonha de suas origens lusitanas, os portugueses menosprezam a antiga colônia.
Essas e outras considerações são feitas por Carlos Fino, 73, uma das figuras mais conhecidas do jornalismo português. Ele acaba de lançar “Portugal-Brasil: Raízes do Estranhamento” (Ed.LisbonInternationalPress) como resultado de sua tese de doutorado, defendida na Universidade do Minho.
Na obra, o autor argumenta que existe uma lusofobia no Brasil, alimentada por uma visão negativa de Portugal presente na imprensa, nos livros didáticos e até em produções culturais, como filmes e telenovelas.
“O Brasil tem vergonha da herança portuguesa“, afirma o jornalista, para quem o preconceito com o passado lusitano é inconsciente e até rejeitado pela intelectualidade brasileira.
“Isso não existe em relação ao Portugal contemporâneo, que é muito procurado pelos brasileiros. Muitos gostam do país, os ricos brasileiros vão para Portugal comprar casa, mas isso não apaga o antilusitanismo, que está profundamente enraizado a ponto de ser inconsciente“, avalia Fino.
Após uma longa carreira como correspondente internacional e de guerra pela RTP (emissora pública de Portugal), com temporadas em Moscou e Bruxelas, Fino mudou-se para o Brasil em 2004 para trabalhar como conselheiro de imprensa da embaixada portuguesa em Brasília. Ocupou o cargo até 2012.
O convite surgiu após o jornalista passar a ser reconhecido também no Brasil por causa de sua cobertura da invasão americana do Iraque em 2003. Ele foi o primeiro a noticiar, antes das grandes emissoras internacionais, o início do bombardeio em Bagdá. As imagens ganharam o mundo e também foram exibidas no Brasil em decorrência de um acordo entre a RTP e a TV Cultura.
Acadêmicos rechaçam tese de lusofobia entre brasileiros
O novo livro, segundo o autor, é uma tentativa de contribuir para a superação do estranhamento entre os dois países. “É melhor aceitarmos a diferença para podermos superá-la”, diz.
No livro, o senhor afirma que há um forte estranhamento entre Portugal e Brasil. Como começou a se dar conta disso?
A minha missão na embaixada era projetar Portugal no Brasil, então eu estava particularmente antenado a esse tipo de coisa. Um episódio em um posto de gasolina, quando uma funcionária não sabia que em Portugal se falava português, foi um dos primeiros e mais marcantes, mas houve muitos outros.
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