“Bombardear Portugal”
lusofobialusofobia | n. f. (luso- + -fobia) nome feminino Antipatia ou aversão pelos portugueses ou pelas coisas de Portugal. Palavras relacionadas: lusófobo. “lusofobia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/lusofobia [consultado em 21-07-2022]. |
Esta série de “posts” destina-se exclusivamente a documentar aquilo em que de facto consiste a lusofobia enquanto fenómeno sociológico, por assim dizer, já que a maioria das pessoas não apenas desconhece o conceito como nem mesmo alguma vez ouviu sequer falar de tal coisa. No fim de contas, o próprio termo presta-se a confusões visto que difere numa única letra de “lusofonia”; evidentemente, apesar da semelhança “sonora”, o significado do substantivo “lusofobia” — que remete para uma atitude concreta — não tem absolutamente nada a ver com a ideia abstracta e indefinida de “lusofonia”, uma palavra vazia de significado que serve apenas finalidades e objectivos políticos.
Nestes pressupostos e neste âmbito, os conteúdos aqui apresentados destinam-se, sem outras pretensões que não as evidenciadas expressamente, a esclarecer minimamente os menos informados, tentando explicar as causas e demonstrando os efeitos da lusofobia, mas sempre sem acicatar sentimentos ou estados de alma que, pela própria natureza dos enxovalhos, provocações e insultos envolvidos, vão já ameaçando vir a tornar-se num problema sério e, como por regra sucede neste tipo de questões baseadas em preconceitos, de resultados absolutamente imprevisíveis.
Mantenhamos, por conseguinte, um módico de contenção, deixando o proselitismo e a mentira como desde sempre foram, isto é, exclusivos de acordistas e seus acólitos, tendo sempre presente duas premissas tão óbvias quanto curiais: a lusofobia é uma afecção de sentido único, sem reciprocidade do lado português, mas nem por isso poderemos generalizar: mesmo contando com alguns casos patológicos entre figuras públicas naquele país, o fenómeno é ainda assim restrito, manifestando-se principalmente — como aliás por regra sucede com a xenofobia ou o racismo em geral — nas camadas mais ignorantes da população. Não confundamos, portanto, um bosque com o maciço da selva amazónica ou, dito de outra forma, mesmo que sejam muitos os trogloditas, ainda assim há bastantes que o não são de todo.
O que mais importa, por falar em bosque, é que nos não deixemos emboscar. Não sem ao menos dar luta.
“Poeta” brasileira apela ao bombardeamento de Portugal, país onde vive agora. pic.twitter.com/phGj2Ju6zb
— Invictus Portucale (@PT_Invictus) July 19, 2022
Receita de bolinho de bacalhau
Queremos despedaçar Portugal
Matar e comer, eis nosso desejo.
Foda-se os bons costumes e a moral
Foda-se Camões, os Pedros, o Tejo.
Queremos bombardear Portugal
Seus livros, estátuas, navios, cruzes
Que este incêndio nos livre do mal
E limpando o tapete acenda as luzes.
Ai, queremos violentar Portugal
Escarrar na língua, cagar no porto
Ver um futuro em que seja banal
O luso passado enterrado e morto
O nosso seio está seco de leite
De Portugal apenas o mar e o azeite.
Contra-colonização em curso
José Manuel Diogo*
“Jornal de Notícias”, 14 Julho 2022Quando a Câmara Brasileira do Livro escolheu Portugal como país convidado da Bienal do Livro de São Paulo, o maior evento dedicado à literatura e ao livro que acontece em todo o mundo de língua portuguesa, sabia que nesse convite existia um significado maior.
A CBL não nos escolheu “apenas” porque o Brasil comemora 200 de independência, 100 de Saramago ou porque Abel Ferreira, treinador e ídolo do Palmeiras, fez o gosto ao dedo e lançou um livro com enorme sucesso e na presença do próprio embaixador de Portugal em Brasília.
Todos estes motivos são bons, mas não são a causa da escolha, eles são a sua consequência. A causa é mais simples, menos evidente e, por isso, mais difícil de explicar.
Ela faz parte de um processo que se está se transformar num verdadeiro movimento (o primeiro) de contra-colonização na História. Desta vez planeado politicamente, organizado pelas elites e amplamente conhecido pelos povos.
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