Dia: 29 de Agosto, 2022

“Pauta/e/o/x”? O/e/a/x que é isso/e/a/x?


pôr-da-Sola em Timor-Leste

De vez em quando tropeçamos numa qualquer excrescência que, não sendo concretamente sobre o AO90, dele depende como se fosse um sub-produto. Destes ressalta a celebérrima TLEBS, essa procissão de inventiva estupidez, e também, mais recentemente, a não menor indigência designada como “linguagem inclusiva”.

É sobre esta última imbecilidade o texto seguidamente transcrito, da autoria de Madeleine Lacsko, escritora, jornalista e “youtuber” brasileira.

Existem de facto relações, salvo seja, entre, o “acordo cacográfico” e a tal “linguagem inclusiva”. Aliás, pensando melhor, se contarmos também com a TLEBS, então teremos um threesome linguístico, salvo seja de novo, tudo a ter relações entre si, trocas e baldrocas em simultâneo, num imenso inferninho. O que resume perfeitamente as taras dos intervenientes, destes três e de quem os pariu, consubstanciada na ideia única de “fecundar” a Língua com requintes de malvadez, entre acessos de paranóica lascívia.

Note-se a similitude da “argumentação” que, segundo os próprios, “explica” a necessidade tanto da “inclusão” como da… acordização: «a linguagem evolui», «reforma imediata e abrangente da grafia», «desenvolvimento da linguagem».

Do mesmo modo, note-se também como são exactamente iguais alguns dos argumentos que as pessoas normais costumam utilizar — por regra e em ambos os casos, sem grande sucesso, dada a solidez do muro de boçalidade em que esbarramos — para refutar a “argumentação” dos inclusivos e dos acordistas: «uma injunção brutal, arbitrária e descoordenada, que ignora a ecologia do verbo», «forçar quem não quer a usar a tal linguagem ou oficializar um idioma por vias tortas», «violam os ritmos do desenvolvimento da linguagem». Como se vê, as razões que Lacsko aponta para pegar fogo à palha que é a “linguagem inclusiva” aplicam-se, ipsis verbis, à golpada (igualmente) política que é a “língua universau“.

Todas as citações foram copiadas do texto abaixo transcrito, escusado será dizer. A respeito do qual, devo confessar, apenas não entendi o título — porque desconheço o que significa a palavra “pauta”, em língua brasileira — e também, de forma abrangente, não percebo a que propósito (ou com que propósito) surge esta enigmática formulação: «Assim como os países de língua portuguesa, os países de língua espanhola têm um acordo ortográfico em comum.»

Assim, com tão estranha observação, a fluidez da redacção é abalada e a lógica intrínseca (e extremamente simples) do texto fica bastante comprometida. Aparentemente, terá sido um simples lapso da autora, um despropósito totalmente desgarrado da lógica discursiva, do contexto e, em sentido lato, do conteúdo, mas, a julgar pelo que diz no parágrafo imediato, haveria alguma relação de causa e efeito ou outra coisa qualquer, vá-se lá adivinhar o quê: «Esse movimento de “inclusão” decidiu tirar todos os demais países da discussão e também o próprio povo argentino. Pode funcionar para mobilizar a opinião pública até que a economia tenha alguma luz.»

Bem, cá está de novo, tais palavras assentam como uma luva ao acordo cacográfico mas pouco ou nada terão a ver com a tal “linguagem de género”.

As palavras não têm sexo. O género não passa de uma flexão verbal (ou tipo nominal), como o tempo e o modo ou o número e a pessoa. Categorias ou classes gramaticais não são subordináveis, ao invés das sociais, a ditames ou imposições ideológicas.

Por mais racionais que sejam as ideias que delas se servem para fazer vingar um conceito ou para aniquilar outro, as palavras são e estão por definição imunes aos tropeções inconsequentes da História. Tão imunes como a própria História, que não existe sem elas e que em tempo algum e de modo nenhum se muda por decreto.

Linguagem de gênero neutro não é inclusiva nem pauta séria

 

noticias.uol.com.br, 04/08/2022
MadeleineLacsko

 

Não bastou a Alberto Fernández a tradicional solução argentina de escolher um superministro para salvar o país do caos econômico. Ele inovou oficializando, ao mesmo tempo, a linguagem de gênero neutro no governo nacional.

Jair Bolsonaro até tentou surfar na onda, criticando o presidente argentino pela medida. A diferença seria que o povo ganha “pobreze”, “desabastecimente” e “desempregue”.

Ele está certo, mas a reação nas redes sociais foi a de que o assunto não tem importância e o presidente deveria trabalhar pelo Brasil.

Conheço gente que fica bastante irritada com o uso da linguagem neutra. E também quem realmente tem orgulho de usar e defende a adoção por instituições públicas. São pessoas adultas, o que é estarrecedor.

Os defensores do gênero neutro ou não-binário dizem que ele torna a comunicação mais inclusiva e menos sexista porque não divide tudo o tempo todo nos gêneros aceitos pela sociedade.

Não há nenhuma experiência de sucesso no mundo que mostre isso. O idioma chinês, aliás, é não-binário. Não consta que seja uma sociedade inclusiva.

Gênero neutro é um sucesso estrondoso entre a elite progressista e alguns meios específicos, como o da publicidade. Entre as minorias que supostamente seriam protegidas mas não foram sequer ouvidas está mais para piada.
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