Apontar “erros e contradições mais flagrantes” e aceitar as respectivas “correcções” equivaleria, na prática, a termos de saber como se pronunciam as palavras num país estrangeiro para podermos escrever na nossa própria Língua: “corrigir” os casos de novas duplas grafias, por exemplo, implicaria que tivéssemos todos de perguntar a nós mesmos coisas como “no Brasil pronuncia-se o P em «receção»?” Ah, então escreve-se «recePção». “Os brasileiros dizem «perspetiva» ou «perspeCtiva»”? Ah, então é como era dantes cá. Será que eles ‘lêem’ o C em «seCção»? Ah, não lêem? Então como diabo se escreve? Ah, ok, é «seção». E assim por diante. Este horror. [“post” Endlösung]
Ao que se vai vendo por aí, alguns anti-acordistas continuam, mas que estranha obsessão, a produzir listas e mais listas de “aberrações” e “contradições flagrantes”; ou seja, periodicamente enumeram algumas palavras que, segundo constaram, certamente com grande esforço — à força de pesquisa manual –, demonstram que o #AO90 é uma coisinha muito mal feitinha. Ou, melhor dizendo, seria; seria uma coisa muito mal feita se porventura tivesse a ver com ortografia e não fosse, portanto, uma vigarice de cabo a rabo, um desconchavo exclusivamente político.
Bem, mas isso já se sabe desde a primeira versão do estropício (1986), que o “acordo” não é acordo algum e que de “ortográfico” não tem coisa nenhuma. O que, ainda assim, não tem obstado a que prossigam os tais exercícios — uns mais “académicos”, feitos por “linguistas” e tudo, outros bem mais artesanais, mas todos eles por igual ociosos — em que se pretende ilustrar com exemplos os tais “erros flagrantes” e as tais “contradições”, a ver se (talvez, quiçá, sabe-se lá bem) tudo junto não daria para “despiorar” aquela coisa execrável.
A finalidade deste “acordo” político é que uma das seis ex-colónias, sul-americana, submeta a sua ex-potência colonizadora, europeia, e as demais ex-colónias africanas desta, a uma forma de neo-imperialismo cultural que se consubstancia na “adoção” ditatorial de uma “ortografia única”: a brasileira. [“post” Anatomia da Fraude]
Ainda assim, há quem persista nas listinhas. Ora, quando o problema é de vício não há volta a dar-lhe; mais vale então deixar o fumador em paz, chegar-lhe o tabaquinho, se for de enrolar ou para cachimbar, um pacote ou dois de 10 macitos, mais os fósforos, se não preferir isqueiro, e até, em havendo disso ali à mão, puxando-lhe uma poltrona para que se delicie com suas baforadas profundamente gramaticais, emaranhado em volutas de “aberrações” que decerto não lembrariam nem ao diabo. E assim, ao menos, estaremos não apenas a proteger o “ambiente” — porque serão mentes menos fumarentas — como também a poupar ao agarrado o trabalho de andar a cravar cigarros referenciais ao pobre transeunte ou a apanhar beatas documentais do chão.
Foi de resto por isto mesmo, na intenção de suprir tais e tão prementes necessidades, coisa que aliás já se vai tornando numa questão de saúde pública, que surgiu a secção [O AO90 em números] aqui no Apartado.
Nessa secção pode qualquer pessoa — mesmo que só tenha passado no exame da antiga 4.ª Classe — obter todas as respostas a quaisquer perguntas de ordem técnica, logo, gramatical, sobre o #AO90. Obter números (exactos, para variar), totais ou parciais, segundo o critério ou os critérios que entender. Obter resultados parcelares, condicionados ou não, combinados ou não. Obter (e imprimir ou guardar) pesquisas — específicas ou genéricas — consoante os “filtros” aplicados.
E pode ainda, por fim, conferir qualquer listinha manual, das muitas que circulam pelos media e pelas redes, a ver qual delas ou se alguma delas está completa (não, nenhuma, lamento, mas faça o obséquio, é só ir lá ver).
Esta gravação foi aqui publicada, em 27 de Março de 2019, na página “Seleccionar“
Fazer gravações, definitivamente, não é, como diz agora a juventude, a minha praia. De qualquer forma, através do vídeo pode ser que entenda ao menos por que ponta lhe pegar. Nestas coisas há sempre duas dificuldades: a primeira é que, nisto das informáticas, as pessoas estão por regra muito habituadas a ter a papinha toda feita — se bem que isso ainda não conste da Declaração Universal dos Direitos Humanos — e, ainda por cima, há aquela máxima aborrecida que postula, qual ameaça, que nada se consegue sem trabalho; a segunda dificuldade, não tão generalizada nem rigorosa como a primeira, é que torna-se muito difícil, para quem produz um método ou processo, explicar de uma forma clara aquilo que aos outros parece complicado mas que para o executor é a coisa mais simples do mundo…
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