Seria não apenas estúpido como absolutamente inútil confrontar a realidade dos números com a manipulação da propaganda oficial. Os dados até podem ser os mesmos e provenientes das mesmas fontes, isso é indiferente, o que na verdade importa é a forma como os resultados são apresentados: o copo estará ou meio cheio ou meio vazio consoante quem olha para ele, assim como a estatística dirá sempre que se numa mesa abancarem duas pessoas e uma delas devorar um frango assado e a outra nada, então, em média, cada um dos comensais teve direito a meio franguinho. Fifty-fifty, assim sendo, os números não mentem, aquilo foi uma refeição a mielas, e tanto assim é que se fossem quatro à mesa e não dois, então por força cada qual teria, em média, abichado 25% do galináceo que um só deles enfardou inteiro.
Ignoremos cacarejos e penas a esvoaçar, por conseguinte, mas atendamos aos números reais.
No quadro de dados a seguir pode ver (click na imagem para a ampliar) os resultados da variação populacional — absoluta (em milhares) e percentual — entre os anos de 2014 e 2021.
A seguir, um vídeo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) em que se tenta explicar — se bem que à custa de algum futurismo, necessariamente especulativo — a evolução dos chamados “indicadores demográficos” (saldo natural, saldo migratório) e a forma como as tendências em anos mais recentes podem projectar-se no futuro.
Vídeo infográfico: migrações em Portugal
Um estudo inédito da FFMS mostra o impacto das migrações em Portugal, um país a perder população e onde, até 2060, faltarão recursos humanos.
Porém.
As tendências podem projectar-se no futuro… ou não! Dependerá de inúmeras variáveis, é claro. Este estudo da FFMS é de Maio de 2017, já lá vão quase sete anos, mas nele se assume por antecipação (e uns pozinhos de bruxedo) uma perspectiva que ainda hoje não apenas perdura como parece ter sido revista e aumentada: Portugal está a envelhecer e só a imigração em massa poderá retardar o processo (note-se o sublinhado), servindo a “redução da emigração” como contribuição (outro sublinhado) para esse retardamento. Quanto ao retorno de nacionais, nada de concreto, e no que diz respeito a, por exemplo, medidas de incentivo à natalidade, outro tanto, ou seja, nada. O objectivo político confunde-se com uma espécie de wishful thinking; muito à portuguesa, bem ao jeito do nacional chico-espertismo, será portanto a velha política do “deixa andar e depois logo se vê“.
Ou então toda a campanha de propaganda não será exactamente o deixarandarismo tradicional…
Afinal, se virmos bem, as peças do puzzle encaixam perfeitamente no plano geral. Está tudo previsto desde o início. E mesmo aquilo que porventura não fosse de todo previsível mas que possa dar jeito há-de encaixar também e servir para abater quaisquer objecções, dúvidas ou simples cepticismos — a política do “fato consumado” vai fazendo o seu caminho, dê lá por onde der, e de facto já alguns ajustaram a gravata do dito fato.
Em conjunto com o “retardamento” do provavelmente inevitável envelhecimento da população portuguesa e, “portanto”, da “necessidade” da importação maciça de imigrantes de uma única proveniência, surge, também constantemente matraqueada pelos media avençados, a “ameaça” de ruptura do sistema de segurança social, a começar pelas pensões de reforma.
Apesar dos acordos bilaterais entre Portugal e cada um dos PALOP, que nunca originaram qualquer problema nas relações entre as ex-colónias africanas e a ex-potência colonial europeia, o “gigantismo” de outra ex-colónia, a única sul-americana, explica a total subjugação política (ou seja, económica) e dessa bizarra vassalagem resulta a multiplicidade de “motivos” para “explicar” o inexplicável e justificar o injustificável. Daí a propaganda intensiva através dos órgãos de intoxicação social.
Ora, nem o declínio populacional, o decréscimo do saldo demográfico seria mais do que retardado, como reconhecem as próprias entidades oficiais, nem o “equilíbrio das contas da Segurança Social” (reformas, pensões, assistência, subsídios) poderá alguma vez ser restabelecido apenas com as “contribuições” da imigração… a não ser que todos os imigrantes fossem jovens e ficassem eternamente no activo. Ou eles (e só eles) conseguem a extraordinária façanha de não adoecer, jamais cair no desemprego, não casar nem ter filhos?
Se a finalidade é a “sustentabilidade” do sistema de “segurança social”, então como e em que medida poderão 5% da população (500 mil em 10 milhões, se o afluxo tivesse parado em meados de 2022) “equilibrar” o “saldo” entre contribuintes e beneficiários? Esses contribuintes vão continuar “jovens” até aos 100 anos de idade? Nenhum deles traz consigo nem toda a família nem sequer um parente a seu cargo, além dos filhos, os pais ou mesmo um avô? Nada de nada? Nenhuns dos recém-chegados precisarão jamais do Estado Social que teoricamente virão salvar?
Bem, mas que extraordinário milagre!
[Nota sobre as imagens de topo e de rodapé: a conta Twitter com aquele nome (@avelhadosgatos) foi entretanto apagada.
Quaisquer informações sobre a pessoa em causa podem ser encontradas no “tweet” de onde foram
recortadas as imagens: https://twitter.com/racismocontrapt/status/1609500936480894978]