Dia: 29 de Março, 2023

Em bom brasileiro: ‘Se diz eu mido ou eu meço?’

«A decisão do STF, neste momento, não prejudica o debate sobre o tema, só define que apenas a União pode alterar as regras da Língua Portuguesa» [jornal “Cruzeiro do Sul” (Brasil), 11 de Fevereiro de 2023] [“post” Cândido, Pangloss, Voltaire (e vice-versa)]

Depois da imposição da desortografia brasileira (#AO90), aí temos a segunda fase da anexação: o Supremo Tribunal Federal do Brasil determina que «apenas a União», ou seja, o Governo ou o Presidente da República Federativa do Brasil, «pode alterar as regras da Língua» a que, exclusivamente por motivos políticos, os profissionais do métier chamam “portuguesa”.

Portanto, por inerência, as entidades governativas que doravante passarão a administrar a e a superintender na língua brasileira “adotada” pelo Estado português serão as brasileiras: «apenas a União pode alterar as regras da língua». Entenda-se por “União”, evidentemente, a designação oficial em uso naquele país para referir os 27 estados — aos quais se junta agora o 28.º, o qual será o primeiro estado brasileiro fora da América do Sul.

Assim, Portugal não apenas “adotou” a transcrição fonética do falar brasileiro como língua nacional — impondo-a, logo à cabeça, a todos os organismos e entidades na dependência ou de alguma forma fazendo parte da administração pública — como também acatará as directivas que as entidades brasileiras vierem a ditar sobre as “regras” do dito falar brasileiro, para que sejam “harmonizadas” as “regras” fonéticas; ou seja, para que os portugueses passem também a falar e não “apenas” escrever em brasileiro.

Já revistos os programas escolares e atamancados os currículos, ao que se somou a reescrita com efeitos retroactivos de edições (incluindo as dos clássicos) e até das legendagens em material vídeo, para já não falar da importação maciça de conteúdos (de)formativos, começam agora a chegar-nos amostras de uma intensa actividade “pedagógica” vinda a nado do outro lado do Atlântico; para dar vazão aos certamente exigentes exames que por lá se fazem (a designação “ENEM”, afianço, não é uma piada), pulalam já os “especialistas” que vão pipocando entusiasticamente os seus “ensinamentos”.

É o caso, assim ao acaso, de mais este e das suas “pegadinhas” (não confundir com piadinhas). Um fulano diplomado em Matemática e em Química [sic] que dá “aulas ” lá da língua dele através da Internet e, ao que parece, com imenso sucesso, diz que “viraliza” e tudo, o que deve ser fantástico.

Bem sei que o horizonte, não sendo já azul como soía, apresenta-se agora cinzento, sinistro, quase da cor do chumbo mas ainda mais pesado. Não custa adivinhar o que prenuncia.

Dicas de conjugação fazem professor viralizar nas redes

22/03/2023 – Folhinha – www1.folha.uol.com.br

Conjugar verbos significa resumidamente ajustar aquela ação a cada uma das pessoas que a executam: eu, tu, nós, eles etc. Parece fácil, mas a língua portuguesa é cheia de pegadinhas, e algumas vezes a conjugação vira um desafio. Por exemplo: o certo é eu “eu mido” ou “eu meço”?

Nessas horas entram em campo os professores e professoras, e um deles tem feito particular sucesso nas redes com seus vídeos tirando dúvidas como essa acima. Ele é Laércio Silva de Sousa, de 36 anos, morador de Teresina (PI), e que, junto com o amigo RisonJunior, criou a página Química 2119 há dois anos — hoje o perfil do Instagram já tem quase 500 mil seguidores.

[fotografia] Professor Laércio, que viralizou nas redes com vídeos sobre língua portuguesa – Arquivo Pessoal

Em frente a uma lousa branca, caneta tipo marcador na mão, Laércio dá dicas de língua portuguesa que vão desde diminutivos, coletivos e crase, até os populares vídeos com as tais conjugações verbais. Ele já explicou a diferença entre “em vez de” e “ao invés de”, “perca” e “perda”, “onde” e “aonde”, e muitas outras questões sensíveis a muita gente.

Laércio tem especialização em matemática e mestrado em química — daí o nome da página no Instagram. É professor em uma escola municipal e em uma estadual, e ao todo dá cerca de 15 aulas diárias das duas disciplinas. O português ele domina por conta dos estudos para passar nos concursos que prestou.

Além do conhecimento da língua, também costuma chamar atenção dos seguidores o jeito com que Laércio escreve na lousa. “Desde pequeno tenho essa letra bonita. Minha mãe me colocou para fazer caligrafia”, conta o professor.
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