Cabo Verde (também) põe a língua de fora

Constituição da República Portuguesa

Artigo 11.º

Símbolos nacionais e língua oficial

1. A Bandeira Nacional, símbolo da soberania da República, da independência, unidade e integridade de Portugal, é a adoptada pela República instaurada pela Revolução de 5 de Outubro de 1910.
2. O Hino Nacional é A Portuguesa.
3. A língua oficial é o Português.

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Em Novembro de 2021 o Governo cabo-verdiano introduziu o Crioulo no sistema de Ensino do país.

«Língua Cabo-verdiana vai ser leccionada no próximo ano lectivo» [“Expresso das Ilhas” (Cabo Verde), 10.11.21]

Em 2016, o Governo cabo-verdiano determinara que o Português passaria a ser ensinado como língua estrangeira.

Cabo Verde: «Português passa a ser ensinado como língua estrangeira»

Cabo Verde passará em breve a ter o Crioulo e o Português, em paridade, como as duas línguas oficiais do país.

“Cabo Verde ganha se mostrar ao mundo o que sabe em crioulo”

Sara Azevedo Santos

Está a ser traçado o caminho para que o cabo-verdiano seja reconhecido como língua oficial no país, em paridade com o português. Em Lisboa, há um curso para promover o crioulo.

Em Cabo Verde, segundo a Constituição deste país, a língua oficial é o português mas o Estado está a criar as condições para que o crioulo cabo-verdiano seja oficializado juntamente com a língua de Camões.

Durante o mês de Fevereiro, o Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV) em Lisboa iniciou um curso básico de língua cabo-verdiana para todos aqueles que queiram aprender a comunicar nesta língua.

Adelaide Monteiro, natural da ilha de Santiago, dá aulas de crioulo há mais de 20 anos, tanto para nacionais como estrangeiros, mas este é o primeiro curso em parceria com o CCCV. Uma ideia que já estava pensada há algum tempo, mas apenas este ano se conseguiu concretizar.

A professora explica que os principais inscritos nesta edição são falantes de língua portuguesa mas nem todos são portugueses. Adelaide Monteiro explica que a maioria dos alunos que teve ao longo dos anos foram estrangeiros que foram trabalhar para Cabo Verde e queriam aprender a segunda língua do país.”Os principais motivos apresentados pelos alunos para se inscreverem é conseguirem comunicar com cabo-verdianos. A maioria já conhece Cabo Verde e quer aprofundar o seu conhecimento da língua”, diz Adelaide Monteiro ao DN.

A língua oficial deste país insular é o português, mas está explícito na Constituição de Cabo Verde que o Estado está a criar as condições necessárias para oficializar o cabo-verdiano em paridade com a língua portuguesa. Para Adelaide Monteiro, os linguistas já fizeram muito deste trabalho com a criação de gramáticas e manuais para ensinar a língua como língua materna e estrangeira. Acredita que a partir de agora a oficialização está nas mãos dos governantes.

“Do meu ponto de vista há uma insegurança da parte dos órgãos decisores em apostar na língua cabo-verdiana como língua de ensino. Essa insegurança advém de um desconhecimento de tudo o que se tem feito a nível do estudo do crioulo”, analisa a professora.

Falar “sem traduzir”

Adelaide Monteiro considera que é necessário criar uma política linguística para o cabo-verdiano e introduzi-lo nas escolas em conjunto com o português. Antes de começarem a escola, muitas crianças expressam-se quase exclusivamente em crioulo. Quando chegam às aulas têm de aprender a fazê-lo em português, o que se pode traduzir em dificuldades no ensino e na aprendizagem. “Cabo Verde é um país jovem e isto quer dizer que a língua é tão jovem quanto o país. Não vai desaparecer, mas é preciso que alguém tome conta deste instrumento. Tomar conta de uma língua é desenhar uma política para ela“, afirma a professora.

Para vários cabo-verdianos o crioulo é a forma mais fácil de se expressarem, e a tentativa de o traduzir pode causar desentendimentos. Em 2019, foi classificado como Património Cultural Imaterial Nacional para garantir a sua preservação, juntando-se a outros bens culturais que o Governo considera importante preservar, como a morna, as festividades de São João, o funaná e a tabanca. “A vida cultural de Cabo Verde passa através da língua e o país ganha muito se começar a mostrar ao mundo o que é que nós sabemos na nossa língua, sem traduzir”, aponta Adelaide Monteiro.

Há vários anos que esta professora dá aulas de cabo-verdiano, incluindo a jovens de terceira e quarta geração dos Estados Unidos que nunca tiveram a oportunidade de ir a Cabo Verde. Os avós, que passam muito tempo com estes jovens, são muitas vezes o seu último ponto de ligação com estas ilhas no Atlântico. “No final de uma aula, um jovem que não percebe crioulo e só queria aprender, leu num texto a frase Deus tábakubô, “Deus acompanha-te”, e lembrou-se que a sua avó lhe costumava dizer isso”. Com medo de eventualmente perderem contacto com Cabo Verde procuram na língua uma última forma de ligação ao país.

Esta nação africana insular é composta por nove ilhas, cada uma com a sua variedade linguística. Adelaide Monteiro explica que isso não se revela um impedimento para a oficialização do crioulo cabo-verdiano nem para o seu ensino. “Em Cabo Verde temos ilhas diferentes com variedades bem marcadas. Mas em termos de estudos linguisticos não é problemático porque o que interessa é a espinha dorsal“.

Nas suas aulas, Adelaide ensina a base do crioulo, mostra aquilo que é comum na língua. Depois, a variedade que vai ser falada é decisão do aluno, dependendo da ilha para que vai. A professora considera que a parte mais complicada de ensinar é a escrita. “Enquanto na ilha do Fogo a primeira pessoa do plural é “duba”, em Santiago é “nu bai” (vamos). Mas estes são detalhes que eu explico nas aulas”.

Adelaide lembra os voluntários do Corpo da Paz a quem deu aulas no final da década de 90 e que iam em missão para Cabo Verde. Quando se voltou a encontrar com eles, cada um falava uma variedade diferente. “Um deles foi para a ilha do Fogo e falava essa variedade, outro foi para o Sal e foi a mesma coisa. Aí eu tive a certeza que a questão das variedades pode parecer complicada ao início mas não é. No final, o mais importante é saber comunicar”.

sara.a.santos@dn.pt

[Transcrição integral (sem fotos) de artigo publicado no “Diário de Notícias”, 23 Março 2023

Macau é também uma ex-colónia portuguesa em que o Português coexiste com outra língua oficial; no caso, o Mandarim.

Macau põe a língua de fora

Cabo Verde e Macau são dois casos ilustrativos — e exemplares — desta realidade simultaneamente comezinha e triste: a “língua universáu” brasileira não passa de uma invenção de meia dúzia de gananciosos e corruptos, do lado brasileiro, e, do lado português, de uma dúzia de corruptos, gananciosos, sabujos, medíocres, vendidos e traidores. Por isso — e também porque a classe política em ambos os casos não está absolutamente dominada por medíocres, deslumbrados e cretinos — Macau e Cabo Verde mantêm intacta a sua integridade, o seu património e a sua História, sempre demonstrando a mais soberana das indiferenças perante quaisquer tentações de bajulação a neo-imperialistas.

O #AO90, pretexto para a CPLB (Comunidade dos Países de Língua Brasileira) e máscara de encobrimento político para a “difusão e expansão” dos interesses geopolíticos e económicos (de alguns) brasileiros, funcionou como motor de arranque e continua a servir como meio de transporte da comitiva de sabujos e deslumbrados tugas que servem os sobas do “país-continente”.

O Governo da R.A.E. de Macau e o Governo da República de Cabo-Verde — e será mais do que expectável que a Guiné-Bissau, Timor e São Tomé e Príncipe lhes sigam em breve os passos — sabem que a identidade cultural de um povo não existe sem a Língua que identifica ambos, o povo e a sua cultura. E o mesmo vale para outras duas ex-colónias portuguesas em África, Moçambique e Angola, dois “gigantes” que se estão perfeitamente nas tintas para o “gigantone” sul-americano.

Apenas falta que Portugal, a casa de partida desta espécie de jogo da (vã) glória, arrepie caminho enquanto é tempo. Que o povo português acorde por fim e veja aquilo que está a ser cozinhado nas suas costas e que faça o que tem de ser feito.

Cabo-Verde e Macau são muito mais do que meros sinais. São exemplos disso mesmo, do que tem de ser feito.

O que para Portugal é, aliás, facílimo. Nem temos de alterar a Constituição nem nada. Basta reler o que lá diz: «A língua oficial é o Português.»

Ora bem. A palavra “brasileiro” não aparece em lado algum.

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