É quase impossível fazer um “apanhado” da visita daquele senhor. Aliás, acompanhar a agenda da dita visita complica-se enormemente porque o dito senhor persiste em debitar inúmeras piadas e assim a coisa arrisca-se a descambar numa espécie de “apanhado”… para os “Apanhados”.
Logo a seguir à chegada, ainda no aeroporto onde desembarcou (do FAB1, ou lá como se chama o Air Force One sertanejo), teve direito a fanfarra, depois parece que foi descansar — enquanto a esposa foi às compras às lojas típicas do artesanato português (“tipo” Prada, Armani, Gucci, Louis Vuitton) — e do seu quarto no hotel Tivoli seguiu para uma conferência de imprensa.
Das inúmeras coisas extraordinárias que proferiu perante os jornalistas — com directos em todos os canais “informativos” –, a resposta que mais espanto provocou foi aquela a que… não respondeu.
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O que os adeptos do clube adversário notaram — milhares de “tweets”, “posts” nas várias redes anti-sociais, artigos na imprensa portuguesa, brasileira e internacional — foi o súbito mutismo do senhor quando questionado sobre as suas declarações na Rússia e na China implicando Portugal, enquanto país membro da União Europeia, num suposto “complot” contra os “democratas” chineses e russos liderado pelo demónio americano.
Poucos dos que não são fanáticos nem do LEC (Lula Esporte Clube) nem do FCB (Clube Esportivo Bolsonarense) notaram sequer a solicitude do outro senhor, o das “selfes”, apressando-se — num sussurro de pé-de-orelha — a traduzir a pergunta para brasileiro. Mesmo assim, ao que parece, o presidente vitalício do LEC continuou a não entender e portanto respondeu o mesmo, ou seja, nada.
Questão de lana caprina, bem entendido. É naturalíssimo: um brasileiro está habituado, desde a mais tenra infância, a ouvir e a ler qualquer língua estrangeira (Inglês, Francês, Castelhano, Português) com “dublagem” ou legendado em brasileiro. Mas que um Presidente de uma República, mesmo se a prazo um ou a outra, se exponha a tal ridículo de subserviência, bem, isso é que não é lana caprina coisa nenhuma.
Grave, mas mesmo grave, não é o “pormenor” do “mal-entendido” que envolveu a pergunta da jornalista portuguesa e a ausência de resposta do visitante, grave é esse convidado do inquilino do palácio de Belém — sendo este um brasileirista empedernido e acordista militante — se arrogue o direito de reivindicar para aquilo a que chama “língua portuguesa” (ou seja, a “tau língua universau” brasileira) um estatuto de paridade com as línguas de trabalho da ONU. Não apenas “exige” uma espécie de consagração da língua nacionau do seu país no concerto das nações como, o que aliás está implícito na “exigência”, pretende cavalgar a pátina e o prestígio de uma Língua milenar e europeia para com isso obter dividendos políticos, logo, influência geopolítica, logo, o poderia económico inerente às suas megalómanas aspirações ao estatuto de “super-potência”.
Para o efeito, e sem sequer pestanejar perante o ridículo da mentira, usa o nome de Portugal como trampolim para a Europa, a CPLB como ponte para as ex-colónias portuguesas em África, e também para a China, via Macau, e ainda para a Indonésia e a Austrália, via Timor-Leste. Tudo a coberto da tau língua universau, a do #AO90, um expediente muintu légau.
É nessa mesma lógica de merceeiro que o cabeçudo soma os habitantes das diversas feitorias (10 de Portugal, 0,6 de Cabo Verde, 35 de Angola, 2 da Guiné-Bissau, 32 de Moçambique, 0,2 de S. Tomé, 1,3 de Timor) e assim inflaciona um bocadinho os 214 milhões do gigantone. A ver se impressiona alguém, deve ser. Conta os nativos de sete países independentes como se fossem cabeças de gado, só para fazer número, e nem essa contagem à maneira dos vaqueiros (cáubóiz) parece ao menos bulir com a consciência da boiada.
Bem, claro, confere, os bovinos não têm consciência. Pior ainda quando se trata de bois mansos. [Imagem de topo de: “El Periódico” (Espanha). Imagem de rodapé de: “statista“.]