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O título deste post representa a forma como seria dita a palavra ALFABETOS, via telefone ou rádiotelefonia, pelos trabalhadores do ramo das telecomunicações — em Portugal e nas ex-colónias africanas, depois PALOP — até meados dos anos 90 do século passado. Entretanto as tecnologias da comunicação evoluíram enormemente e, portanto, aquele alfabeto específico entrou em declínio e praticamente desapareceu, o que não quer dizer que esteja de todo extinto.
Uma forma completamente diferente de “soletrar” a mesma palavra ALFABETOS seria utilizando uma das mãos para formar os “gestos” correspondentes no alfabeto da Língua Gestual Portuguesa (LGP).
Sem entrar em grandes pormenores sobre a (ténue) linha de demarcação que separa as línguas verbais das não-verbais, a verdade é que existem muito mais línguas não-verbais do que aquelas que porventura possamos sequer tentar enumerar. Isto, evidentemente, no pressuposto de não atendermos àquilo que distingue os conceitos de língua, em sentido restrito, e de linguagem, em sentido lato.
Se de facto a língua obedece a um código e este implica uma estrutura, obedecendo por conseguinte a regras definidas (umas mais rígidas ou consolidadas do que outras), então linguagem difere de língua na medida em que — apesar de servir a mesma finalidade, ou seja, a comunicação — não está sujeita a normas, regras, códigos, estruturas ou sequer pressupostos. Mas… será exactamente assim?
Por exemplo, o “código da estrada” cumpre todos os requisitos definidores de “língua” (código, regras, prioridades, estrutura) mas não é… uma língua; cumpre uma função comunicativa mas sequer é uma linguagem. Por outro lado — o que demonstra a fluidez de ambos os conceitos –, os sinais e regras de trânsito remetem para… a linguagem jurídica; e esta, pelo menos nos meios académicos e políticos da área e nos meios jurídicos propriamente ditos (tribunais, órgãos criminais), acaba por autonomizar-se de tal forma — em relação à Língua nacional — que acaba por transformar-se numa língua particular, em certa medida autónoma, o “juridiquês”: cidadão que a não domine minimamente não irá entender sequer o que está a dizer o seu advogado de defesa ao meretíssimo juiz, por hipótese em pleno tribunal criminal, quem sabe se num procedimento legal perigoso para a carteira, para a liberdade ou até para a saúde do “arguido”…
E o que vale para o juridiquês vale para, também por exemplo, o futebolês, o politiquês ou qualquer outra das línguas/linguagens que definem — por exemplo — profissão, estatuto, condição social ou modo de vida; logo, um “povo” (comunidade, grupo, estrato) que partilha entre os seus uma língua/linguagem distinta da dos “outros”, ou seja, daqueles que obviamente não se incluem nessa “população” específica.
Não cabe aqui maçar as pessoas com termos técnicos — até por falta de verdadeiros especialistas em cada uma das matérias específicas –, mas apenas traçar um quadro abrangente e o mais simplificado possível das mais diversas formas de comunicação, daí extraindo os factores comuns, identitários e, por conseguinte, definidores do indivíduo enquanto membro de uma comunidade, um povo, uma nação, um país.
Desta contrastação identitária poderão resultar pelo menos algumas conclusões óbvias, a começar pelo facto de a imposição manu militari da “língua universau” brasileira (vulgo, #AO90) não passar de uma aberração, uma manobra puramente política e economicista, um golpe perpetrado por alguns traidores, trânsfugas, vendidos, mercenários tugas.
Para início de conversa, portanto, vejamos o caso mais flagrante: em Portugal existe a Língua Gestual Portuguesa (LGP) enquanto que no Brasil o que há é a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). São coisas completamente diferentes e, evidentemente, jamais passaria pela cabeça aos surdos do Brasil impor aos surdos portugueses a sua e a estes “adotar” a dos brasileiros.
LGP – Língua Gestual Portuguesa
LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais
[Nota: agradecimentos a Maria João Nunes pela colaboração
prestada quanto ao alfabeto rádio/telefone PT.]
Textos desta série “Línguas e Alfabetos”
[1. Gestual] [2. Soletração] [3. Braille e bandeiras] [4. A árvore e a floresta] [5. Impérios e imperialismos]