1. «“Tem havido muitas vezes na sociedade portuguesa, nos últimos tempos, nos últimos anos, uma espécie de preocupação mediática, ou político-mediática de certos sectores dando a entender que há uma invasão nomeadamente de nacionais de países de língua portuguesa. Ora isso não é verdade“, assegurou Marcelo Rebelo de Sousa.»
2. «Trata-se de um “visto nacional que não dá acesso à circulação noutros países da Europa” e “não é um acordo de porta aberta” porque há razões para negar essa entrada, acrescentou o primeiro-ministro.»
Muito haveria a dizer sobre este despacho da agência BrasiLusa. Oportunidades para tal não faltarão; os ecos da última cimeira (“cúpula”, em língua brasileira) ainda mal (re)começaram a terraplanar a realidade. Para já, reduzindo a coisa ao essencial, apenas as duas frases acima citadas merecem destaque.
O governador do 28.º Estado da República Federativa do Brasil tenta novamente, o que já vai sendo um vício, passar um atestado de indigência mental a todos os portugueses — menos os brasileiristas da sua seita, bem entendido — impingindo a rapsódia da “invasão” por “países de língua portuguesa“. Supõe o dito governador, do alto da sua atávica arrogância, que o “tugazinho médio”, o “povinho”, é tão estúpido que irá imediatamente associar a expressão “países de língua portuguesa” a Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Timor; ou seja, pretende ele, e outros como ele, fazer passar por “fato” que a “invasão” vem dos PALOP mas não do Brasil.
Esta ideia peregrina, à qual a extrema-direita se atira de imediato, com o bulício cavernícola que é a sua imagem de marca e com o entusiasmo acessório da sua própria dedicação ao “páíss irrmáum”, é assim servida pelo “mais alto magistrado” da província e será de imediato reproduzida ad infinitum pelos órgãos de desinformação do Governo “solidário”. A finalidade, obviamente, é distrair, empastelar, desviar as atenções do “publicozinho” daquilo que se está de facto a passar, a ponte aérea, e de onde provêm mais de 90% dos tais “invasores” que MRS menciona.
Quando Marcelo diz “ora isso não é verdade”, por mais paradoxal que a formulação pareça, está — para variar — a dizer a verdade; ou meia verdade, vá; bem, pronto, está bem, como são 90% de brasileiros e 10% de cidadãos provindos dos PALOP, então Marcelo diz que em 10% do total “não é verdade”… e isso é verdade.
Outra coisa não seria de esperar, aliás, vindo de um dos vários mentirosos compulsivos que por aí andam. Outra verdade que Marcelo aflora, o que será sempre de saudar , visto ser tão raro o fenómeno, é aquela menção a “certos sectores”; refere-se à dita extrema-direita, claro, aos trauliteiros, caceteiros e trogloditas em geral.
A mitomania daquele indivíduo é uma característica intrínseca, faz parte do seu ADN, e quanto a isso, como se costuma dizer, batatas. Sejamos portanto minimamente condescendentes, que diabo, porque aquilo é uma desgraceira tão horrível para os afectados como, por exemplo, as crianças estropiadas pela Talidomida, nos anos 50 e 60 do século passado.
A segunda peta citada no início deste “post” consegue ser ainda mais (pretensamente) subtil do que a outra. Esta é da autoria do capataz da comissão de gestão corrente local, António Costa”, fingindo garantir que o “visto nacional não dá acesso à circulação noutros países da Europa”. O truque é o seguinte: referindo apenas os vistos — coisa exigida aos imigrantes provindos dos PALOP mas não aos provenientes do Brasil — deixa de fora o grosso do contingente, isto é, todos aqueles que obtêm a cidadania nacional, até “online” e não presencialmente, ao abrigo do “Estatuto de Igualdade” — ou seja, de novo, um exclusivo reservado a brasileiros. Aos portadores de cartão de cidadão português, sendo Portugal um dos 27 países-membros da União Europeia, não pode em caso algum ser negada a entrada no território de qualquer dos outros 26 Estados europeus.
Escusado será dizer que todas — repito, todas — as restantes observações de Costa citadas no artigo são puro verbo de encher, propaganda eleitoral, demagogia, mentira, mentira e mais mentira. Este outro delegado do Itamaraty, sempre venerador, atento e obrigado ao seu camarada cefalópode, é outro mitómano — ou é tão mitómano como o outro — mas, ao contrário do maioral, o capataz mente não por motivos de herança genética mas apenas por dever de ofício. Não se tornou especialista em galgas, foi obrigado, salvo seja, a tornar-se mestre nas artes da vigarice para salvar a pele. ‘Tadinho, em suma.
A porca da política é uma coisa tramada. Os políticos têm muito que foçar (e fossar). Não lhes invejemos a sorte. Até porque o destino dos recos será sempre, fatalmente, a fogueirinha, o forno, o espeto, a grelha ou a frigideira. E podem mesmo acabar devorados, ingloriamente, ainda que por regra em ambiente festivo, bem regado e com o tropel do pagode, por uma trupe de gaúchos numa roda de rodízio.
Marcelo contra aproveitamento político de quem critica acordo de mobilidade
“TSF”, Global Media Group
agência BrasiLusa, 27.08.23
O chefe de Estado aponta Moçambique, Cabo Verde, Angola ou Guiné-Bissau como alguns dos países que tiveram uma redução ou estabilização do número de imigrantes em Portugal.
O Presidente da República portuguesa criticou este domingo o aproveitamento político sobre o acordo de mobilidade dentro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa brasileira (CPLB), considerando que os números das comunidades estão estabilizados, exceptuando o Brasil.
Falando na conferência de imprensa de balanço da cimeira da CPLB, que terminou hoje em São Tomé, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que as críticas ao acordo, em vigor desde Janeiro, são feitas por quem não conhece os números reais.
“Tem havido muitas vezes na sociedade portuguesa, nos últimos tempos, nos últimos anos, uma espécie de preocupação mediática, ou político-mediática de certos sectores dando a entender que há uma invasão nomeadamente de nacionais de países de língua portuguesa. Ora isso não é verdade“, assegurou Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado apontou Moçambique, Cabo Verde, Angola ou Guiné-Bissau como alguns dos países que tiveram uma redução ou estabilização do número de imigrantes em Portugal.
“A única sociedade que tem tido uma evolução de mobilidade intensa é a brasileira”, um país cujos cidadãos não precisaram do acordo de mobilidade para obter acesso a Portugal.
Por seu turno, o primeiro-ministro português explicou que o “acordo de mobilidade procura compatibilizar aquilo que são os deveres de Portugal enquanto membro da União Europeia e no âmbito do espaço Schenghen com uma ambição que Portugal tem, que todos os países da CPLP têm“. “Se queremos uma comunidade as pessoas têm que se sentir parte dessa comunidade”.
Ao longo destes 30 anos, houve “excelente cooperação do ponto de vista político, do ponto de vista diplomático”, um “bom desenvolvimento do ponto de vista económico“, mas, “do ponto de vista da cidadania houve sempre uma contradição”, disse.
Quando aderiu ao espaço Schenghen, Portugal não assegurou critérios que ressalvassem acordos com outros países com quem tinha “especial proximidade” ao contrário de outros estados-membros da União Europeia.
Trata-se de um “visto nacional que não dá acesso à circulação noutros países da Europa” e “não é um acordo de porta aberta” porque há razões para negar essa entrada, acrescentou o primeiro-ministro.
Este acordo também implica alterações nos postos consulares, admitiu António Costa, recordando que essa área tem sido fortemente pressionada por pedidos.
Em comparação com 2019 (pré-pandemia), foram atribuídos 19 mil vistos nacionais no primeiro semestre e no mesmo período de 2023 foram concedidos 45 mil, disse o primeiro-ministro.
“É uma circulação saudável e necessária” e “há maior procura de Portugal [por imigrantes] porque como é sabido há carência de recursos humanos”, disse.
A circulação de pessoas no espaço da CPLB tem sido um “factor de regulação natural e um estabilizador automático da situação de todos os países“, porque as comunidades migram de acordo com a situação económica de cada Estado.
“Felizmente a situação económica portuguesa tem permitido um saldo positivo para Portugal“, o que tem permitido o “crescimento da nossa economia” e o “crescimento das receitas da nossa segurança social“, acrescentou.
“Das duas uma ou queremos ter uma comunidade de povos de língua portuguesa e não queremos ter uma comunidade de povos de língua portuguesa. Se queremos ter uma comunidade de povos de língua portuguesa temos de viver como comunidade”, resumiu o primeiro-ministro português.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, “não há genericamente um fenómeno de imigração significativa” de cidadãos da CPLP nem alterações dos crentes de outras religiões em Portugal, afirmou o chefe de Estado português.
No seu entender, o problema é não haver “migrações de elementos qualificados vindos dos países de língua oficial portuguesa com excepção do Brasil“.
“Uma coisa é a sensação que se apresenta, outra coisa é a realidade. E há que lidar com os dados objectivos dessa realidade”, salientou.
A CPLP, que integra Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, realizou hoje a 14.ª conferência de chefes de Estado e de Governo, em São Tomé e Príncipe, sob o lema “Juventude e Sustentabilidade”.
[Transcrição integral. Destaques, sublinhados e “links” meus.
Erros ortográficos (todos eles resultantes do #AO90) corrigidos automaticamente,
Corrigi manualmente: onde estava “Portuguesa” deveria estar “brasileira”. Daí CPLB, não CPLP.
Foto de rodapé da autoria de Mário Cruz. Imagem de “A Política: a Grande Porca”: museu Bordalo Pinheiro.]