É praticamente impossível deslindar dados em falta, gráficos desgarrados (ou “enfeitados”), relatórios confusos e desactualizados, números sem ponta por onde se lhes pegue, estatísticas paradas há três anos nalguns sítios e outras maroteiras do género.
Mas podemos tentar apurar alguma coisa, ainda assim, com tempo e estudo, cruzando cifras e desmontando verborreias de campanha quando ou se for o caso.
Pelo “Gabinete de Estratégia e Estudos” do Ministério Que Está Sempre A Mudar De Nome não vamos lá. E nem ajuda, de tão obsoletos são os dados e tão paralíticos são os automatismos.
[post “‘Preconceito linguístico’, racismo e xenofobia – 2“]
A “CPLP” é uma ficção inventada para integrar (nominalmente) os PALOP e servir como encobrimento político das ambições expansionistas e dos interesses económicos do Brasil. Nos termos previstos no Estatuto de Igualdade, a “igualdade” é uma prerrogativa exclusivamente reservada a brasileiros: os 5 PALOP estão excluídos e não existe reciprocidade para os portugueses.
Portanto as referências a “restantes” ou “demais” países da CPLP são pura falácia. Isso consta apenas do papel mas não vale nem a tinta que gasta a imprimir.
Conforme previsto no Acordo de Mobilidade (2021), esta mais recente e alucinantemente rápida sucessão de golpadas serve apenas para que brasileiros obtenham a nacionalidade portuguesa. Uma parte ficará por cá mas a maioria poderá emigrar (com passaporte europeu, logo, livre-trânsito) para qualquer dos outros 27 países da União Europeia.
E já pode ser tudo tratado remotamente. E nem é preciso pôr cá os pés. E até o expediente fica entregue à inteligência, digo, à estupidez artificial.
[post “A lógica instrumental do #AO90“]
Devem ficar todos contentes, os refugiados, os imigrantes que escaparam com vida à guerra, à fome, à pobreza extrema, quando se aperceberem de que afinal não passam de emigrantes “de segunda”: para eles, Portugal reserva todos os deveres e poucos ou nenhuns direitos, mas para um outro “contingente”, para uma única outra nacionalidade de origem ficam garantidos todos os direitos e obrigação… nenhuma! Pois sim, ficariam contentíssimos se de tão simpático “acordo” tomassem conhecimento, o que por certo não irá acontecer nos tempos mais próximos.
Existe, porém, quem já se tenha apercebido do filão que representa o “igualitário” e “inclusivo” tratamento dado a determinado contingente migratório em detrimento de todos os outros; dessa percepção expedita resulta o recente surgimento de um ramo de negócios que está já transformado numa verdadeira indústria de produção jurídica em série — algo semelhante a uma linha de montagem especializada em expedientes legais. Por assim dizer, e para mais fácil entendimento do conceito, trata-se de uma espécie de gigantesca charcutaria (vulgo, encher chouriços) em que por um lado entram papéis e requerimentos saindo pela outra ponta o produto acabado: autorizações, títulos de residência, de trabalho e académicos, cartões de cidadania e, por fim, passaportes.
[post “Mas algumas igualdades são mais iguais do que outras“]
População brasileira em Portugal supera estimativa do Itamaraty
Professor e sociólogo da Universidade de Coimbra defende que há 500 mil residentes no país, 140 mil a mais que o divulgado pelo governo
Por Gian Amato
“O Globo” (Brasil), 11/08/2023A população brasileira que vive em Portugal é maior que a estimativa de 360 mil pessoas divulgada esta semana pelo Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty).
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Segundo o professor e sociólogo Pedro Góis, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, o dado do governo brasileiro se aproxima, mas não é a realidade.
— O número do Itamaraty começa a se aproximar da realidade, mas é menos que os 500 mil brasileiros residentes em Portugal que eu costumo dizer — afirmou ele ao Portugal Giro.
Mesmo com o número do Itamaraty sendo maior que os 239 mil divulgados no último relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), ambas estimativas levam em conta dados oficiais.
— Estes dados de população são baseados em três dados oficiais: consulados, SEF e Instituto Nacional de Estatística (INE). Só que os brasileiros chegam a Portugal e nem sempre se inscrevem no consulado como residentes. Ou estão “irregulares” à espera da regularização do SEF — explicou Góis.
Também é preciso levar em conta que os dados do Itamaraty são do fim de 2022. Para ter uma ideia da dinâmica da movimentação migratória, o SEF tem uma fila de 300 mil pessoas à espera de regularização e a maioria é brasileira.
— É só andar na rua que vemos a quantidade de brasileiros. E vai aumentar. Isso renovou a diversidade da população portuguesa, porque os imigrantes são a representatividade da sociedade brasileira, com todas as raças, sexos e idades — disse Góis.
O sociólogo lembrou que 500 mil pessoas representam 5% da população portuguesa. E, mesmo assim, no geral, ele observa uma inserção pacífica dos brasileiros:
— É um dado espetacular. Só para ter ideia do tamanho, se os 5% fossem ao contrário, teríamos 10 milhões de portugueses no Brasil. É o total da nossa população.
Existe outra camada de brasileiros que deve ser adicionada, mas com cautela: os que têm nacionalidade europeia. Vivem em Portugal, mas não entram na soma do SEF. Porém, uma parte pode ser inscrita em consulados.
Como revelou a coluna, o Itamaraty espera um aumento da população brasileira em Portugal e diz que tem se preparado para a demanda nos consulados.
Há menos de um mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em Bruxelas que “daqui a pouco o número de brasileiros em Portugal será maior do que a população portuguesa”.
[Transcrição integral, sem correcção automática (jornal brasileiro).
Inseri “links” (a verde) e imagens. Destaques” meus.]