A suprema patranha geralmente atrelada ao “acordo”, isto é, que a coisa serviria — entre outras não menores artistices — para elevar a “língua portuguesa” à “dignidade” de “língua oficial da Organização das Nações Unidas”, conta agora com o alto patrocínio do não menos alto magistrado cá da “terrinha”, como ternurentamente chamam os brasileiros a Portugal.
A “variante portuguesa” da língua brasileira foi já totalmente eliminada dos sistemas informáticos em geral e foi em particular exterminada nos motores de busca (Google), em todos os bancos de dados, agregadores de informação ou enciclopédias virtuais (Wikipedia).
Por conseguinte, apenas um perfeito imbecil poderá ter a mais ínfima dúvida sobre qual seria a 7.ª língua oficial da ONU, no improvável caso de americanos, ingleses, russos, espanhóis, franceses, chineses e árabes estarem pelos ajustes: caso vingue o “cambalacho”, será a língua brasileira, pois qual é a dúvida, essa “língua” que Marcelo e outros que tal andam por aí a promover com o rótulo de “portuguesa”.
[O brasileiro será a 7.ª língua oficial da ONU?]
No que respeita à expressão “língua portuguesa”, na mesma frase, é igualmente evidente que se trata de apropriação abusiva da designação para fins de promoção política da língua brasileira.
Foi aliás nesse mesmo pressuposto, isto é, assumindo que a “difusão e expansão” daquela língua — com a patine de um idioma europeu de raiz greco-latina — seria impossível caso fosse utilizada a palavra “brasileira” em vez de “portuguesa”.
O que importa, no caso, é que já não basta aos acordistas e neo-imperialistas tugas substituir a Língua Portuguesa pelo “fálá” brasileiro (a língua brasileira procura ser uma transcrição fonética “simplificada”); já não basta que o #AO90 tenha sido imposto manu militari a Portugal e, como segundo objectivo, aos PALOP, com 100% de imposições brasileiras e 100% de subjugação dos tugas que negociaram a venda da nossa Língua. Não, todo esse imenso cortejo de horrores já não satisfaz os vendilhões, os novos donos disto tudo. Querem ainda mais.
[Brasileiro foi língua líder em exame de acesso a universidades dos EUA em 2023]
Pelo menos, passará a dispor de uma outra perspectiva — sistemática e geralmente silenciada, porque inconveniente — de que não foi apenas de uma forma que o #AO90 chegou ao extremo de abuso, de usurpação, de liquidação sistemática do património imaterial português, de destruição da nossa herança histórica e do nosso mais precioso tesouro identitário.
[Resíduos tóxicos]
Um futuro para a língua
portuguesabrasileiraAna Paula Laborinho
Na Cimeira da CPLP, realizada em Agosto passado em São Tomé e Príncipe, o presidente Lula da Silva declarou que era tempo de o
portuguêsbrasileiro ser língua oficial das Nações Unidas e os países deveriam, em conjunto, desenvolver esforços nesse sentido. Trata-se de uma ambição há muito enunciada, mas importa considerar que esta declaração do presidente do Brasil se insere numa estratégia mais global que decorre do regresso à cena internacional e ao diálogo multilateral, que tem na língua uma relevante componente.Há menos de uma semana, o jornalista brasileiro Jamil Chade publicou no portal Vozes uma notícia intitulada Brasil lança ofensiva diplomática para promover o
portuguêsbrasileiro no mundo, informando que, de acordo com fontes do Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores), a partir de 2023, esta estratégia passou a ser “uma das linhas prioritárias do Programa de Diplomacia Cultural do Instituto Guimarães Rosa (congénere do Instituto Camões), e acrescenta que “sendo oportuguêsbrasileiro uma das línguas mais faladas no hemisfério sul, seu lugar no mundo faz parte do reposicionamento do país no debate internacional, principalmente depois de quatro anos de isolamento”.Também o discurso do presidente Lula da Silva na abertura da 78.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, no passado dia 19 de Setembro, centrado na urgência de combater a desigualdade, a fome e alertando para o agravamento da crise climática, insiste neste regresso à comunidade internacional: “Nosso país está de volta para dar a sua devida contribuição ao enfrentamento dos principais desafios globais. Resgatamos o universalismo da nossa política externa, marcada por diálogo respeitoso com todos.”
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