Dia: 17 de Outubro, 2023

Os pessimistas são péssimos

Ao contrário daquilo que julgam alguns anti-acordistas, com a sua tradicional e pacóvia admiração por “figuras públicas” — os “notáveis”, uma atávica instituição nacional –, nem o brasileirismo é uma aberração recentemente surgida nem os brasileiristas, ou seja, os adeptos da “língua universau” brasileira, sequer tendem a ser todos “pugressistas” ou esquerdalhos. Aliás, o brasileirismo foi uma invenção de alguns dos mais “notáveis” direitolas que andaram e andam por aí.

De facto, grande parte dessa classe de sambitugas que não se coíbem de publicamente expressar a sua intensa paixão pelas terras de além-Atlântico já vem dos tempos “da outra senhora” e, como a implacável passagem do tempo não costuma dar borlas, alguns sucessores dos que foram desaparecendo entretanto são eles mesmos sucedâneos de seus progenitores em tão bizarra espécie de militância.

Nomes como os de Adriano Moreira, José Hermano Saraiva, Natália Correia ou Agostinho da Silva, por exemplo, devem fazer estremecer (apenas de surpresa, esperemos) pelo menos os esquerdalhos que, por definição, julgam sempre ser os autores de todas as ideias “pugressistas”; bem, karos kamaradas, lamento desiludir-vos (não, não lamento nada) mas essa da vossa irmandade com os “cara”, além de peregrina e idiota, é velha e relha.

Olha que aborrecimento, hem? Afinal, aquela ideia “genial” de apodar os anti-acordistas com mimos como “reaccionários”, quando não “fassistas”, encurtando razões termina como é hábito suceder aos “génios” num balde de cubos de gelo pela cabeça abaixo. Esta é uma outra característica dos esquerdalhos, têm a mania de só ter ideias “geniais”, fazem absoluta questão disso, mas acabam sempre por ter de engolir em seco e bem depressa abraçar — igualmente por palpite, consoante “estiver a dar” — outra “causa” tão inamovível como aquela que a porcaria da realidade acabou de estragar.

Não será esse certamente o caso de Jaime Nogueira Pinto, notável e assumidíssimo direitista, mas na verdade a entrevista agora reproduzida reflecte uma outra característica que será, muito provavelmente, a mais perigosa de todas as formas de acordismo: a (pelo menos, aparente) hesitação perante o assunto, o que implica, por exclusão de partes, ou tibieza ou comprometimento.

Existem diversas expressões idiomáticas funcionando como remoques, qual deles o mais certeiro, para qualificar este género de converseta em que se diz umas lérias pela metade, parando prudentemente quando porventura a coisa ameaça adentrar algum matagal conceptual. Por exemplo, em matéria de expressões populares, “dar uma no cravo e outra na ferradura” adequa-se perfeitamente ao chorrilho de respostas que o não são, exercício em que JMP demonstra ser possuidor de vários pós-doutoramentos.

Visão pessimista da CPLP“? Isso da “visão pessimista” é o quê, ao certo?

É complicado, a diferença da dimensão geopolítica dos países envolvidos“? O que é que é “complicado” nessa coisa tão simplezinha?

Dificuldades de contacto que não é possível, para já, ultrapassar“? O que diabo são “dificuldades de contacto”? Que tipo de “contacto”? E “para já, ultrapassar”? Como “para já”? E quem disse que tem mesmo, e quando, de se “ultrapassar” isso, seja lá o que for?

O caso do Brasil evidencia as dissonâncias“? Mas quais “dissonâncias”, raios?! Desde quando o neo-imperialismo serôdio e invertido é uma simples “dissonância”?

Jaime Nogueira Pinto: Mundo bipolar está de regresso, mas com radicais livres

onovo.pt, 4 Outubro 2023

António Freitas de Sousa

 

Jaime Nogueira Pinto: Mundo bipolar está de regresso, mas com radicais livres

jornaleconomico.pt, 4 Outubro 2023

António Freitas de Sousa

No painel dedicado à Lusofonia, o politólogo Jaime Nogueira Pinto, devidamente caustico – como sempre nos habituou a ser – dedicou a primeira parte da sua intervenção à nova ordem mundial. No caso de haver uma: “é de território que estamos a falar. Todas as ordens internacionais nascem de um grande conflito, com alterações em dois sentidos: físicas e de ideias e valores”, em ambos os casos da autoria dos vencedores.

E deu exemplos: a guerra dos 30 anos, “que acabou com a religião como motivo de confrontação”, as guerras napoleónicas, a Grande Guerra e a II Guerra, que criou “uma ordem bipolar” que só começaria a desaparecer com o fim da União Soviética. “Depois do fim da URSS veio a ordem liberal internacional, que entrou em crise em 2008” e depois acabou.

Para já, “não há outra”, essa ordem sobretudo assente no poder americano, acabou. O modelo está em crise e a guerra na Ucrânia “veio acentuar essa crise”. “Se fosse arriscar, diria que estaríamos numa ordem multipolar:” por um lado os Estados Unidos, por outro a China e no meio os neutros, uma espécie de radicais livres que não se revêem no bipolarismo e cujos interesses particulares os aconselham a tentar uma terceira via. A Índia e a Turquia são dois exemplos, disse o politólogo.

Evidentemente, disse ainda Jaime Nogueira Pinto, que a cola que une a CPLP é uma vantagem: “a proximidade de ordem cultural conta, até porque a afinidade ideológica caiu muito. As afinidades culturais, históricas prevalecem”, disse. Mas não deixa de ter uma visão pessimista da CPLP. Mesmo partindo de um pressuposto: uma liderança supranacional. “É complicado, a diferença da dimensão geopolítica dos países envolvidos” implica dificuldades de contacto que não é possível, para já, ultrapassar.

O caso do Brasil, que Nogueira Pinto referiu em particular, evidencia as dissonâncias: tem um desígnio nacional em termos geopolíticos – a pontos de “a política externa se ter mantido com um presidente da extrema-direita e outro da esquerda radical”. “Ao contrário de Portugal”, não é a ideologia que conta, “são os interesses”.

O Brasil, recordou, está nos BRICS – precisamente uma das organizações que mostram a existência desses radicais livres que, ao menos eles, são o que não querem e aparentam saberem já o que querem. “Os BRICS são o repúdio da ordem internacional e é isso que os une, apesar das ligações de alguns aos Estados Unidos e apesar de haver ali países visceralmente inimigos, como a China e a Índia, como o Irão e a Arábia Saudita”.

“E estão ali juntos”. Na CPLP talvez as coisas fossem mais difíceis, apesar de “alguns aspectos de complementaridade. É um objectivo, se harmonizado com os interesses internos”, levar a CPLP a ser o elo indutor de uma espécie de agenda comum. Mas Jaime Nogueira Pinto, um tradicional adepto da realpolitik (sobre a qual fez a sua tese de doutoramento), tem poucas esperanças.

Apesar de concordar que “contamos mais se formos fortes e tivermos capacidade para criarmos dificuldades. Cada vez nos afastamos mais desse mundo inclusivo” que está na moda boca do mundo. Língua comum, cumplicidades, complementaridades no espaço económico, são um ponto. Mas fazer disso o centro estratégico da CPLP e uma prioridade máxima de todos os países” “Alinho nos pessimistas”, concluiu.

[Transcrição integral. Cacografia brasileira do original corrigida automaticamente.
Inseri “links”.]
[Nota: o artigo, do mesmo autor, é exactamente igual nos dois jornais.
Daí as referências a ambos.]

Adeus, Goa

Velha Goa, antiga capital da Índia Portuguesa

Quanto aos negócios, pois tende paciência, senhores lusofonistas, isso já está tudo tomado: o Brasil agradece, está claro, se bem que pela calada e em absoluta surdina, e até parece que nos estão fazendo um grande favor quando passam a ocupar, à conta do AO90 e sob o disfarce da CPLP, as nossas posições económicas (e políticas e culturais) um pouco por todo o mundo, nos países e territórios a que outrora aportaram nossos maiores; “do Minho a Timor”, sim, passando por Macau (China) e em breve por Goa (Índia), o novo império dos negócios brasileiros segue pujante e das migalhas sobrantes vão debicando os vendidos tugas, esses galináceos com muito cócórócó na garganta e imenso cocó na cabeça.
[O tubarão fantasma, 23.06,21]

Finalmente, o Brasil declara oficialmente quais são as suas reais intenções quanto à Comunidade dos Países de Língua Oficial Brasileira (CPLB) e assim destapa o verdadeiro significado dos chavões propagandísticos que desde 1996 utiliza para camuflar a “expansão” da sua influência política e, sobretudo, dos seus interesses económicos.

A expressão-chave, agora utilizada pela primeiríssima vez, é “Sul Global”. Certamente, esta estreia mundial — no âmbito da CPLB e, por conseguinte, da “língua universau” — terá surgido por simples lapsus linguae de algum jornalista mais inexperiente nos meandros da alta finança mundial e na avassaladora corrupção que esse milieu envolve.

“Sul Global” é, afinal, uma forma simplista de designar algo extremamente complexo. Tentando reduzir o conceito à sua essência mais elementar e facilmente compreensível, “Sul Global” foi uma fórmula inventada recentemente para rebaptizar aquilo que anteriormente se designava como “Terceiro Mundo” ou “países em vias de desenvolvimento”; mais popular e claramente falando, era o conjunto de inúmeras “repúblicas das bananas” a reboque e/ou sob o domínio da Rússia, da China e da Índia.

Trata-se, portanto do bloco económico oposto ao das grandes potências capitalistas do chamado “Grupo dos Sete” (G7): Estados Unidos da América, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido.

Por contraponto à designação dos países mais ricos, apesar de o G7 carregar um nome que parece tão inócuo como o da colecção homónima de Enid Blyton mas não ter absolutamente piada alguma, o dito “Sul Global” apresenta-se assim para esconder as mesmíssimas pretensões hegemónicas, mas desta vez com outros protagonistas: em vez dos “exploradores” americanos, ingleses, alemães e franceses, o mundo passará a gozar de “amplas liberdades”, imensa “fartura” e não muito mudos “amanhãs que cantam” sob o altruísta jugo da República de Xi Jinping, da República de Putin, da espécie de califado de Narendra Modi e agora, por fim, da “abençoada por Deus” (em pessoa) República Federativa de Lula da Silva.

A este poker de ases juntam-se alguns jokers (África do Sul, Indonésia, México) e uma ou outra dama (Filipinas, Nigéria), tudo escoltado, como sempre sucede no jogo político, por imensos duques e senas tristes. E pronto, é só baralhar e tornar a dar — ou seja, a tirar. Trata-se, portanto, este “Sul Global”, de uma versão revista e aumentada de uma coisa conhecida por BRICS (“tijolos”, no original em Inglês): Brazil, Russia, India, China, South Africa.

No caso particular do B dos tijolos, os negócios vão de vento em pompa, como se vê, não apenas para a “turma” do doutorado pela Universidade de Coimbra, esse primor de sabedoria e cultura (viu?); e também não vão tendo razões de queixa os brasileiristas, lacaios e homens-de-mão que na tugalândia — sempre a expensas da manada contribuinte da “terrinha” — vão desbravando terreno para que nada falte aos “irmãos” deles e, sobretudo, ao seu paizinho “espirituau”.

0 28.º Estado serve como quintal e porta dos fundos de excedentários para a Europa. Timor, S. Tomé e Cabo Verde são três excelentes porta-aviões para a gloriosa Marinha brasileira. Os diamantes de Angola e o gás natural de Moçambique, em especial se ou quando aqueles dois países aderirem à nova versão dos BRICS (mas que grande golpada, realmente, o “metalúrgico” sabe-a toda), até mais ver ficarão em standby. Macau é um enclave que dá imenso jeito como alçapão para verdadeiros negócios da China.

Só faltava mesmo isto: Goa.

Goa sedia o Festival Internacional da Lusofonia

“TV BRICS”, 30.08.23

Após o 53º Festival Internacional de Cinema da Índia (FICI), Goa está pronta para sediar outro evento. Em dezembro, o estado sediará o Festival Internacional da Lusofonia (Comunidades dos Países de Língua Portuguesa, CPLP).

A lusofonia, em sentido amplo, se refere à população de língua portuguesa do planeta: Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e Timor Leste. A lusofonia se desenvolveu nos marcos dos quinhentos anos de Império Português.

O festival será aberto com pompas em 3 de dezembro de 2023 por PramodSawant, Ministro-Chefe de Goa, no Durbar Hall da Casa do Governo (RajBhavan). A Ministra de Estado das Relações Exteriores e Ministra de Estado da Cultura, MeenakshiLekhi, será a convidada de honra do festival. O festival foi organizado pelo Ministério das Relações Exteriores, em associação com o Conselho Indiano de Relações Culturais (CIRC) e o governo do Estado de Goa.

Goa possui laços históricos com o mundo de língua portuguesa, fomentados pela presença de instituições culturais portuguesas, como a Fundação Oriente e o Instituto Camões, que promovem a língua e a cultura portuguesas na Índia. O que permite fortalecer os laços econômicos, culturais e interpessoais entre os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

O festival contará com apresentações de grupos culturais visitantes dos países membros da CPLP (70 artistas) em diversos locais em Goa, seminários sobre música dos países de língua portuguesa para artistas e voluntários, vários workshops, exposições de fotocópias de documentos históricos, da arquitetura única, do artesanato e do mobiliário de Goa.

Além disso, o LusophoneFoodandSpirits Festival apresentará os laços culinários entre a Índia e o mundo de língua portuguesa. Mesas-redondas sobre “O ingresso da Índia no Sul Global – Em busca de um caminho de aproximação com a CPLP” e “Os laços históricos e culturais da Índia com os lusófonos: retrospecto e perspectivas” não só enfocarão os laços históricos e já existentes da Índia com o mundo lusófono, mas também discutirão formas de maior cooperação.

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, também conhecida como Comunidade Lusófona, é um fórum multilateral criado em 17 de julho de 1996, na primeira Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, em Lisboa. Os membros-fundadores foram Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, com a adesão posterior de Timor Leste e Guiné Equatorial. Os países lusófonos abrigam cerca de 300 milhões de pessoas em quatro continentes diferentes (África, América Latina, Ásia e Europa). A Índia entrou para a CPLP como observador associado em julho de 2021.

Como parte da cooperação entre a Índia a CPLP, o Ministério das Relações Exteriores celebrou o Dia Mundial da Língua Portuguesa, em Nova Délhi, em 5 de maio de 2022, logo após a adesão à comunidade, segundo informa ANI, o parceiro da rede TV BRICS.

Fotografia: istockphoto.com

[Transcrição integral mantendo o brasileiro do original. Acrescentei “links”. Imagem de topo de: “The Business Post“.]