Dia: 18 de Outubro, 2023

Galego ponto br

A Língua Galega é um tema que parece estar a tornar-se recorrente, aqui no Apartado, como aliás já anteriormente sucedia no site da (miseravelmente) extinta ILCAO.

Não é, nunca foi, por mero acaso, e muito menos por simples “palpite”. De facto, era mais do que previsível que a “língua universau”, ou seja, o neo-imperialismo invertido, uma “gêniau” invenção brasileira, acabasse por se atirar também às canelas linguísticas dos galegos.

O “gigantismo” do Brasil, essa obsessão parola tanto dos actuais PR e PM, Marcelo e Costa, como dos que deram início à tramóia, Cavaco e Sócrates, jamais deixaria passar a oportunidade de demonstrar a sua “autoridade” — são agora eles os donos da língua de que se apossaram, dela conservando apenas a designação — intrometendo-se não apenas em matérias que apenas dizem respeito à Galiza e aos galegos como até, por inerência política, imiscuindo-se nos assuntos internos de Espanha. E tudo isto, evidentemente, apenas à custa da tal designação que espertíssimamente mantêm: “língua portuguesa” dá ao Itamaty imenso jeito, é claro, abre todas as portas, a começar pela porta dos fundos para a Europa, nem de propósito, e ainda as de vários gabinetes presidenciais (ou seja, empresariais) em África — o petróleo e os diamantes de Angola, o gás natural de Moçambique — e na Ásia — Macau para negócios da China, até Goa, para as “especiarias” da Índia.

Evidentemente e como sempre tem acontecido, não são apenas os indiferentes (98%), os acordistas (0,1%) e os “distraídos” (1,4%) a ignorar ou a fingir ignorar a questão. Também dos restantes 0,5% da população, aqueles a quem estas matérias dizem alguma coisa e pretendem ir fazendo alguma coisinha, bom, não será de esperar mais do que o soporífero costume, isto é, nada, silêncio absoluto.

Fronteira Galiza-Portugal

O Galego é parte integrante, geograficamente, historicamente, culturalmente, civilizacionalmente, da Língua Portuguesa, o mesmo valendo em sentido inverso. São línguas irmãs, sim, mas irmãs gémeas, vivendo e convivendo paredes-meias há quase um milénio, com as mesmas bases e regras, apenas se distinguindo por alguns pormenores e sinais particulares.

Tudo pelo contrário, o brasileiro é um dos vários crioulos que os portugueses espalharam por todo o mundo ao longo de três séculos, tendo evoluído cada um desses crioulos, a milhares de quilómetros de distância física e a anos-luz de distância cultural, consoante influências e confluências próprias, contingentes e incidentes específicos, aliás tão inerentes e naturais como a própria deriva dos continentes.

A língua brasileira — a tau a que chamam universau ou globau, para o caso é iguau — absolutamente nada tem a ver com a Língua Galega e os brasileiros nada têm que se meter onde não são chamados. Ou alguém lhes pediu uns palpites, uns bitaites, que mandassem “umas bocas” sobre o que manifestamente não entendem?

Em suma: de onde, a que propósito, como diabo terá surgido este súbito “interesse” caipira pela Galiza? Bom, talvez os destaques no texto agora transcrito ajudem a perceber (o que, de resto, é facílimo), bem como poderá ajudar também o texto anteriormente do mesmo autor sobre o mesmo assunto, cujo título é um espectáculo de eloquência: “O que o Brasil ganha com a oficialização da língua galega na União Europeia?”

A língua galega gera desconforto no congresso espanhol

A votação sobre o pedido da Espanha para que o basco, o catalão e o galego fossem reconhecidos como línguas oficiais na União Europeia (UE) estava prevista para o dia 19 de setembro de 2023. Os países membros resolveram adiá-la. Ainda que não tenha agradado aos líderes independentistas das regiões autônomas, não houve veto, apenas uma prorrogação para mais conversas no bloco europeu.

Na Galiza, nesse mesmo dia, 19 de setembro, houve muita comemoração, já que ocorrera a primeira fala no parlamento espanhol que não fosse em castelhano. As três línguas cooficiais basco, catalão e galego foram usadas pela primeira vez no plenário. Quando o deputado José Ramon Besteiro, do Partido Socialista (PSOE), iniciou suas falas em galego, 33 deputados do partido de extrema-direita espanhol VOX abandonaram o plenário. O Partido Popular (PP) e o VOX opõem-se ao uso de outras línguas além do castelhano, pois defendem esta ser a língua comum do Estado espanhol, ignorando as línguas cooficiais das Comunidades Autônomas.

Entretanto, essa comemoração é um assunto ainda controverso, na Galiza. No meu texto anterior aqui no Le Monde Diplomatique, “O que o Brasil pode ganhar com a oficialização da língua galega na União Europeia?”, fiz uma introdução sobre o galego para a realidade brasileira que não tem contato nem muito conhecimento sobre as questões da Galiza. Neste segundo texto, aprofundarei um pouco mais a discussão sobre esse embate linguístico.

Reintegracionismo e autonomismo

A controvérsia dá-se por conta dos posicionamentos ideológicos em relação à língua da Galiza. O grupo que defende a reintegração da língua galega com o português é chamado de reintegracionista, logo, o galego e o português são variantes de uma mesma língua e não faria sentido separá-las institucionalmente. Há um outro grupo que não nega a origem comum do galego e português, porém, considera as duas línguas independentes; são chamados de autonomistas. Claro que, entre esses dois grupos, há opiniões “que ficam no meio do caminho”, visões com diferentes matizes.

Assim, os reintegracionistas (que representam a menor parte da população galega) não ficaram tão contentes com a possível oficialização do galego como língua independente na União Europeia, além de alguns de seus representantes terem criticado o galego falado por seus deputados no parlamento europeu, alegando que suas falas estivessem mais próximas de um castrapo (forma pejorativa de se referir ao galego castelhanizado). Na outra ponta, os autonomistas e grupos moderados comemoraram a data.

Mapa do Reino da Galiza, no século IX (Wikimedia Commons)

Mapa do Reino da Galiza, no século IX (WikimediaCommons)

O galego é a origem da cultura galego-portuguesa, pois era a língua do Reino da Galiza, que, no Século IX, se estendia de Coimbra ao sul e até Navarra ao leste. A língua era falada por toda a extensão do reino galego.
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