Não agoirando agora

Oficialmente, o #AO90 entrou em vigor em Portugal no dia 1 de Janeiro de 2010. Por conseguinte, foi no ano lectivo imediato (2010-2011) que as crianças portuguesas começaram a ser formatadas em língua brasileira e que, por conseguinte, teve início o processo de terraplanagem cultural, logo, de destruição do mais valioso património imaterial nacional, logo, de apagamento da História de Portugal, logo, de esmagamento da identidade nacional. Todo o plano visa, desde o início, a constituição do 28.º Estado da República Federativa (o primeiro Estado brasileiro fora das fronteiras terrestres do Brasil),

Implacável e rapidamente, a marabunta brasileirista estendeu-se a todos os graus de ensino, desde o Básico até ao Universitário. Do mesmo passo, a gigantesca máquina trituradora, pilotada por um grupinho de políticos devotos de Vera Cruz, engoliu e esmigalhou todos os órgãos de propaganda (vulgo, “media” ou OCS) do “governo gérau lócau” e contaminou vastas áreas dos sectores teoricamente privados, da indústria ao comércio, das tecnologias mais avançadas à lavoura mais primária, das Ordens e organizações profissionais às entidades não governamentais mais diversas — algumas das quais foram até criadas de raiz ou reconvertidas para colaborar na empreitada da “desportugalização”.

Em especial no que diz respeito ao sistema de ensino, 37 anos depois do lançamento do plano, cujo esboço foi rabiscado no Rio de Janeiro, em 1986, e passado a limpo (passe a contradição) em 1990, é hoje perfeitamente evidente que não apenas o objectivo primordial — o “fato consumado” — foi alcançado, como o alcance das “medidas” de embrutecimento em massa atingiu um paroxismo que nem os próprios autores da tramóia ou os seus lacaios e homens-de-mão se atreveriam a julgar possível: as crianças, os jovens e mesmo os adultos envolvidos no sistema de ensino/aprendizagem (“aprendizado”, em brasileiro) foram tão violentamente afogados no cAOs linguístico (portanto, cultural), que já chegam a encarar como sendo perfeitamente natural a “adoção” não apenas da cacografia como também da construção frásica, da total ausência de Gramática e até da pronúncia, do “sutáki” brasileiro — essa coisa que a comandita Marcelo, Costa & Associados adora.

Escorados nos “media” colaboracionistas, veneradores, atentos e obrigados — os OCS avençados para executar a desinformação e ocultar as manobras de bastidores — o inquilino do Palácio de Belém e o arrendatário do palacete de São Bento exultam de satisfação porque parece estar a resultar o processo de aculturação forçada.

De facto, em especial entre os mais jovens, já se vão sentindo os efeitos conjugados da imposição manu militari da cacografia brasileira, da ponte aérea em crescendo e da importação maciça de telenovelas, programas, festivais, carnavais e outros números de circo, toda essa panóplia muito caipira e “légau”, enfim, com tudo isto, convenhamos que não será assim tão bizarro — por mais aberrante que na realidade seja — estar a nossa juventude já “recetiva” até mesmo a não apenas “iscrevê” como também a “fálá” brasileiro.

Serve como exemplo ilustrativo da referida aberração que a comandita adora um dos vídeos da série que se segue. Nos dois primeiros, já antes aqui reproduzidos, o fulano de Belém e o sicrano de São Bento proferem as suas baboseiras em ou sobre a língua brasileira; na última das gravações, uma rapariga (ver no dicionário Br-Pt como se diz “rapariga” em brasileiro, tem sua piada) conversa alegremente com a senhora sua mãe; são ambas portuguesas (da Silva) mas a miúda faz questão de “fálá” assim.

Sistematicamente exposta a doses industriais de “cultura” brasileira, sujeita à deformação linguística e à lavagem ao cérebro vigente nas escolas, cada vez mais cercada por imigrantes que recusam terminantemente a língua “complicada” da “terrinha”, empanturrada de palhaçadas brasileiras na TV e nas redes anti-sociais, é de certa forma compreensível que esta rapariguinha julgue agora não apenas poder como até mesmo dever fazer-se passar por brasileirinha.

Que isto não passe de pura macaqueação, esporádica e pontual, de cromos como o tal Luccas Neto. Que, apesar de todo o caldo lusófobo em que estão mergulhadas, às crianças portuguesas não suceda o mesmo que acontece aos pepinos quando são torcidos desde pequeninos. Que a anti-cultura e o anti-portuguesismo permaneçam na cabeça dos traidores e vendidos.

Esperemos que não extravase esta encenação tenebrosa para o quotidiano; que se fique por aquilo que (ainda) é, uma simples excepção, e que nunca por nunca semelhante desgraça descambe em algo normal ou generalizado, num padrão.

Longe vá o agoiro.

[Nota (15.10.23 – 16:05)
Por algum motivo que de todo me escapa, a gravação Instagram que aqui estava terá mudado de URL (ou de código), pelo que o vídeo que aparecia era outro e não o que inicialmente lá estava; situação que agora se corrige, esperando que o percalço técnico se não repita. De qualquer forma, as minhas desculpas pelo sucedido.]