❤ Portugal

Dear Portugal (a love letter)

By Carl Munson – 7th December 2023
www.portugalresident.com

Photo: Helder Burato Berto/Usplash

First of all, don’t worry, this is not a ‘Dear João’ break-up letter. It’s quite the opposite. It looks like things are actually getting a bit serious and it might be time to take our relationship to the ‘next level’. At this time, when we as foreigners, immigrants, are approaching about one in 10 of the country’s total population, it seems like a good time to have ‘the talk’.

If we were breaking up, I would be saying “it’s not you, it’s me”. But the thing is, it is you. After a few years now, I can safely say it’s not infatuation. I have fallen for you.

It’s love. Not a mushy, sentimental kind of love, but more the unconditional kind, based on a growing mutual respect and a shared sense of adventure, that you know so well in your own ocean-going soul. And I hope you won’t think me foolish or impetuous as I share with you my hopes for our future together.

First of all, I want to thank you so much for the warmth, kindness and openness that makes you so attractive and special. We turned up here, often speaking your language very badly (if at all) and the first thing you did was laugh. You laughed with us, not at us, and when we made an effort, you continued to smile while sharing your words of encouragement, or should I say encorajamento?

Devagar, se faz favor,” we implore, as you compassionately stoop to our rudimentary level and respond to any effort we might make to earnestly communicate in Portuguese. That knowing twinkle in your eye means so much.

As we know, good relationships are all about ‘give and take’, and whilst road tolls and IVA might look like a lot of taking at times, you have given far more than you have asked for. In return for mostly blue-sky, heart-warming days, grandmotherly, soul-nourishing food and a grandfatherly generosity with your cheerful wines, you seem to ask for so little in return – not even thinking, like we do, in our imported, transactional way.

But this can’t continue. Courtship and honeymoons have their place in any marriage, and it’s time we settled down. Albeit whilst raising each other up in a more reciprocal arrangement, where our obvious debt can be addressed, and repaid in kind, long into our future together.

How can we repay you? Let me count some, if not ‘the’, ways …

Specifically, dear Portuguese neighbours and colleagues, your profound courteousness and goodwill never fail to inspire and comfort us. We know that we will never out-gift you materially or culturally, but at least accept our tokens of Marmite and Peanut Butter, for example, as gestures of our intent to at least slightly balance the scales of hospitality.

To the local community associations, centres of cultural happenings and you valiant Bombeiros firefighters, how can we help? Beyond chucking a few coins or notes into a bucket, buying the annually-issued calendar and turning up for events (especially where there’s food, drink and dancing, i.e., most of them!), what else can we do to show we care and love what you do?

To the dear civil servants, thank you for your forbearance and patience as we see your systems pushed to capacity by our very presence, and long-promised pay rises come to little or naught. Know that, as we sometimes seem stressed in your company, it’s more a fear of the unknown or an inability to be understood than any ill will or bad feeling on our part. Perhaps one day you will let us speak of our experiences with you, and maybe even suggest improvements from our customer point of view, that might be win-win all-round.

For you, dear politicians, it looks like it’s been a tough few years, with a hard crowd to please, and cynicism at an all-time high. Know that many of us are delighted to invest in the country you serve, pay the taxes that make your society so relatively functional, and can be a resource to your aspirations rather than a scapegoat for your failings. Who among you will be the first to reach out and harness the gifts we estrangeiros bring in terms not only of money, but also expertise and insight that might add to Portugal’s entrepreneurial and progressive aims?

Portugal, be my Inês, and I will aspire to be your Pedro (apart from the glove-kissing bit).

Remember the words of your great poet Pessoa who said: “We never love anyone. What we love is the idea we have of someone”, and that’s good enough for me. An idea that became a reality, for which I will be eternally grateful.

“Love is a fire that burns unseen, a wound that aches yet isn’t felt,” uttered your legendary Camões, who so beautifully captured the subtle but powerful patriotism of Portugal that is so endearing to the newcomers, who can share in a national pride that stops short of xenophobia.

And let’s guess that that bright star who burned too fast, Florbela, would never have imagined her words being co-opted by new arrivals that might so aptly express their love for her country:

“The love I feel for you

Is so deep and runs so true

That I even love the longing

That I feel because of you.”

Inspired by your historical greats, dear Portugal, as I stand before you, heart in hand, let me, with great respect, add an ode of my own to their enduring works:

There once was a man from UK

Who came to Portugal to stay

He liked what he saw

And wanted some more

Now ‘amo-te’ is all he can say

Carl Munson

Carl Munson is host of the Good Morning Portugal! show every weekday on YouTube and creator of www.learnaboutportugal.com, where you can learn something new about Portugal every day!


[tradução]

Querido Portugal (uma carta de amor)

Antes de mais, não se preocupem, esta não é uma carta de despedida ao “Querido João”. É exactamente o contrário. Parece que as coisas estão a ficar sérias e talvez seja altura de levar a nossa relação para o “próximo nível”.

Nesta altura, em que nós, estrangeiros, imigrantes, nos aproximamos de cerca de um em cada 10 da população total do país, parece ser uma boa altura para ter “a tal conversa”.

Se nos estivéssemos a separar, eu diria “não és tu, sou eu”. Mas o que se passa é que és tu. Depois de alguns anos, posso dizer com segurança que não é paixão. Apaixonei-me por ti.

É amor. Não é um amor piegas e sentimental, mas sim um amor incondicional, baseado num respeito mútuo crescente e num sentido de aventura partilhado — que tu conheces tão bem na tua alma oceânica. E espero que não me julgues tolo ou impetuoso ao partilhar contigo as minhas esperanças quanto ao nosso futuro em comum.

Em primeiro lugar, quero agradecer-te muito pelo calor, pela bondade e pela disponibilidade que te tornam tão atraente e especial. Chegámos aqui, muitas vezes falando muito mal a vossa língua (se é que falávamos) e a primeira coisa que fizeram foi rir. Riram-se connosco, não de nós, e, quando fizemos um esforço, continuaram a sorrir enquanto partilhavam as vossas palavras de encouragement (ou devo dizer encorajamento)?

“Devagar, se faz favor,” imploramos, enquanto vós vos inclinais compassivamente até ao nosso nível rudimentar e respondeis a qualquer esforço que possamos fazer para comunicar sinceramente em Português. Um faiscar de (re)conhecimento nos olhos significa muito.

Como sabemos, as boas relações têm tudo a ver com “dar e receber” e, embora as portagens e o IVA possam parecer, por vezes, um grande “receber”, vocês deram muito mais do que pediram. Em troca de dias de céu azul e calorosos, de comida da avó, que alimenta a alma, e de uma generosidade de avô com os seus vinhos bem dispostos, parecem pedir tão pouco em troca – nem sequer pensando, como nós, na nossa forma importada, de deve e haver.

Mas isto não pode continuar. O namoro e as luas-de-mel têm o seu lugar em qualquer casamento e é altura de assentarmos. Ainda que tenhamos de nos educar um ao outro num acordo mais recíproco, em que a nossa dívida óbvia possa ser abordada e paga em géneros, durante muito tempo no nosso futuro juntos.

Como é que vos podemos pagar? Deixem-me aventar algumas formas, se não “as”, formas …

Especificamente, caros vizinhos e colegas portugueses, a vossa profunda cortesia e boa vontade nunca deixam de nos inspirar e confortar. Sabemos que nunca vos ultrapassaremos material ou culturalmente, mas aceitem pelo menos as nossas ofertas de Marmite e manteiga de amendoim, por exemplo, como sinal da nossa intenção de equilibrar pelo menos um pouco a balança da hospitalidade.

Às associações de moradores, aos centros de animação cultural e a vocês, valentes bombeiros, como podemos ajudar? Para além de deixarmos umas moedas ou notas num balde ou chapéu, além de comprarmos o calendário anual e além de aparecermos nos eventos (especialmente onde há comida, bebida e dança, ou seja, em quase todos!), que mais podemos fazer para mostrar que nos preocupamos e gostamos do que fazem?

Aos queridos funcionários públicos, obrigado pela vossa tolerância e paciência quando vemos os vossos sistemas a serem sobrecarregados pela nossa presença e quando os aumentos salariais há muito prometidos se tornam escassos ou nulos. Saibam que, se por vezes parecemos stressados na vossa companhia, é mais por medo do desconhecido ou por incapacidade de sermos compreendidos do que por qualquer má vontade ou mau sentimento da nossa parte. Talvez um dia nos deixem falar das nossas experiências convosco, e talvez até sugerir melhorias do ponto de vista dos clientes ou utentes, o que poderá ser vantajoso para todos.

Para vós, caros políticos, parece que têm sido uns anos difíceis, com um público a que é difícil agradar e de um cinismo sem precedentes. Fiquem sabendo que muitos de nós estamos encantados por investir no país que servem, por pagar os impostos que tornam a vossa sociedade relativamente funcional, por podermos ser um recurso para as vossas aspirações e não um bode expiatório para os vossos fracassos. Quem de entre vós será o primeiro a estender a mão e a aproveitar as dádivas que nós, estrangeiros, trazemos, não só em termos de dinheiro, mas também de conhecimentos e de perspectivas que podem contribuir para os objectivos empresariais e de progresso de Portugal?

Portugal, sê a minha Inês, e eu aspirarei a ser o teu Pedro (tirando a parte das luvas).

Lembrem-se das palavras do vosso grande poeta Pessoa que disse: “Nunca amamos ninguém. O que amamos é a ideia que temos de alguém”, e isso é suficiente para mim. Uma ideia que se tornou realidade e que me será eternamente grata.

“O amor é um fogo que arde sem se ver, uma ferida que dói sem se sentir”, disse o vosso lendário Camões, que tão bem captou o subtil mas poderoso patriotismo de Portugal, que é tão cativante para os recém-chegados, que podem partilhar um orgulho nacional que não pode passar por xenófobia.

E imaginemos que aquela estrela brilhante que ardeu demasiado depressa, Florbela [Espanca], nunca teria imaginado que as suas palavras fossem adoptadas pelos recém-chegados, que assim poderiam expressar tão bem o seu amor pelo país dela:

“O amor que sinto por ti

É tão profundo e tão verdadeiro

Que até amo a saudade

Que sinto por tua causa”.

[Nota: presumo que o autor se refira a este original: Tenho por ti uma paixão/Tão forte e acrisolada,/Que até adoro a saudade/Quando por ti é causada.]

Inspirado pelos vossos grandes nomes históricos, querido Portugal, neste momento em que estou perante vós, de coração nas mãos, permitam-me que, com grande respeito, acrescente uma ode minha às obras duradouras da poetisa:

Era uma vez um homem do Reino Unido

Que veio para Portugal para ficar

Gostou do que viu

E queria mais

E agora “amo-te” é tudo o que ele pode dizer


Carl Munson

Carl Munson é o apresentador do programa “Good Morning Portugal!“, todos os dias da semana, no YouTube, e criador de www.learnaboutportugal.com, onde pode aprender algo novo sobre Portugal todos os dias!

[/tradução]

Este “postal” é dedicado a todos aqueles que, apesar de detestarem a “terrinha”, persistem em fazer-nos o extraordinário favor de — com imenso sacrifício, dizem — honrar-nos com a sua presença vindo para cá impor a “língua universau”, reescrevendo a nossa História e substituindo a nossa Cultura pela sua esmagadora ignorância.