Implacável e rapidamente, a marabunta brasileirista estendeu-se a todos os graus de ensino, desde o Básico até ao Universitário. Do mesmo passo, a gigantesca máquina trituradora, pilotada por um grupinho de políticos devotos de Vera Cruz, engoliu e esmigalhou todos os órgãos de propaganda (vulgo, “media” ou OCS) do “governo gérau lócau” e contaminou vastas áreas dos sectores teoricamente privados, da indústria ao comércio, das tecnologias mais avançadas à lavoura mais primária, das Ordens e organizações profissionais às entidades não governamentais mais diversas — algumas das quais foram até criadas de raiz ou reconvertidas para colaborar na empreitada da “desportugalização”.
[Não agoirando agora]
Em qualquer dos casos, aquilo que o Ministério da tutela pretende, no âmbito das orientações político-partidárias da situação, é que o plano de erradicação da Língua Portuguesa seja cumprido sem hesitações nem percalços: primeiro, a “adoção” da transcrição fonética (check); em simultâneo, e por consequência, a transposição taxativa de um sistema de “ensino” alienígena, facilitista e promotor da ignorância (check); depois, a importação maciça de instrumentos de lavagem cerebral em massa (check) para aniquilar ab ovo qualquer veleidade de contestação ou solavanco de protesto (check); por fim, com a “revisão” do AO90, que o brasileiro, incluindo léxico, sintaxe e (ausência de) morfologia, substitua radical e definitivamente o Português; esta penúltima fase continua em curso e falta ainda a derradeira, aquela que ditará — caso em Portugal já não reste ninguém na posse das mais elementares faculdades mentais — o fim da história (e o fim da História), a solução final.
[O Português é uma droga dura, dizem eles]
É de tal forma irritante que só lá vai com uma linguagem mais “juvenil”. Não se pode levar a sério uma garotada.
É que isto assim nem dá gozo. Seria como bater num “aleijadinho”, uma vergonha. Que diabo, os acordistas têm por lá umas quantas pessoinhas com mais do que um neurónio funcional, a gente sabe que têm, não havia necessidade de andarem agora aqueles tipos a largar por aí uns e umas idiotas com “argumentos” do mais imbecil que há. Mas afinal julgarão mesmo os brasileses que estão a lidar, além de uma massa amorfa à qual só interessa o Benfica, no que até têm alguma razão, convenhamos, com uma cambada de perfeitos cretinos, tão ou ainda mais mentecaptos do que a maioria dos seus próprios confrades brasileiristas?
Pois parece ser o caso desta senhora Capicua, valha-me Deus, salvo seja, que a não conheço felizmente de lado nenhum: burra todos os dias. Agora deu-lhe uma coisinha má, rebentou-se-lhe uma borbulha no neurónio, ou algo do género, e vá de publicar num jornal esta… coisa.
Não estando aqui em causa a dita “música” (sei lá se é, só aguentei uns heróicos 5 segundos daquele vídeo ali em baixo), bem entendido, já que a nada meiguinha adjectivação por mim alinhavada — com imenso esforço, devo confessar, até porque tive de ler aquela porcaria — se refere por inteiro ao seu dela textículo, à enxurrada de cretinices que nele regurgita e ao desespero de causa que demonstra ao tentar alinhavar umas “inverdades” de tal forma absurdas que não ocorreriam nem mesmo a alguém com mais uns dez pontinhos de QI, isto é, já perto da normalidade.
Coisa que manifestamente a ela “não a assiste”, como com todo o desplante escarrapacha em plenas fuças do incauto leitor bolçando insultos deste calibre, por exemplo:
- «falar com sotaque de um país onde não residem»
Ah, que giro! “Falar com sotaque” é o mesmo que “escrever com sotaque”, então? Se um aluno do Porto recomendar a alguém que “veva menos binho” pode escrever assim? E se o aluno for um “destroce” (arrumador de automóveis) deve constar “destroce” na sua carteira profissional?
- «imposição da nossa norma» e «não vejo razão para tomá-las como erros»
Portanto, ora então generalizemos, todo o ensino, enquanto conceito e em toda a sua amplitude, não passa de mera “imposição”. Na Matemática, prizemplos, além de 2 e 2 serem “aquilo que um homem quiser”, até uma raiz quadrada poderá perfeitamente ser a dos melões pele-de-sapo, por exemplo, que essa não vem agarrada ao pepónio, por isso a gente sabe lá bem!
- «polémica que surgiu há um par de anos»
“Olhe que não, olhe que não.” A “polémica” já vem, assim mais a sério, desde pelo menos 2007, quando já se adivinhava a brasileirização forçada que adviria da aprovação parlamentar do AO90, cozinhada secretamente nos “mentideros” de São Bento.
E, além destas, “há lá mais cores”. No textículo, quero dizer. É cada cavadela, cada minhoca.
Mas a burrice tem seus perigos também para o portador da maleita. Na sonora opinião desta Capicua, afinal a base, a basezinha inventada pelos arqui-tetos (gajos mamalhudos) do AO90, pura e simplesmente não existe: a norma portuguesa e a “norma” brasileira mantêm-se, não houve “unificação” de espécie alguma. O que é rigorosamente verdade, aliás, como se tem vindo a reiterar ad nauseam desde pelo menos 2008. Não deixa de ser — ainda que vagamente — gratificante o facto de esta rapariguita, “música” profissional, com a sua profunda estupidez, aparecer assim declarando, por escrito, qual pregoeira involuntária da verdade, que aquilo em que dizem fundamentar-se os tais mamalhudos não passa de uma figura de estilo mal enjorcada, além de absolutamente inútil para os fins em vista, os quais se subsumem ao ditame único: a brasileirização forçada de Portugal e, por arrastamento, das ex-colónias portuguesas em África e na Ásia (CPLB).
Resta-me manifestar o meu voto de solidariedade para com aqueles — poucos, calculo — que se derem à excruciante maçada de ler a capicuada. Quem a tal se dispuser fica de antemão sabendo que irá deparar com um verdadeiro “caso de estudo”, já que terá de estoicamente suportar uma argumentação com a solidez de uma alforreca, a consistência do óxido nitroso (gás hilariante) e, em suma, na verdade, a ancestral, porém sólida, lógica da batata.
A norma
Capicua
MúsicaApós a última crónica, recebi algumas mensagens sobre a questão dos alunos que escrevem em português do Brasil nas escolas portuguesas. Algumas professoras disseram que não se avaliam as diferenças como erro de ortografia ou sintaxe, mas que muitas colegas “ mais conservadoras” são implacáveis na crítica quando a formulação de frase ou a grafia não correspondia à norma portuguesa. Algumas pessoas escreveram a dizer que eu, como “mulher das palavras”, tinha a “obrigação” de proteger a “integridade” da língua portuguesa e que isso passaria por defender a pulso a imposição da nossa norma nas escolas nacionais. Já uma mãe brasileira escreveu queixando-se de que a questão da língua afectava a autoconfiança da filha, que sempre fora boa aluna, mas que perante a reacção de alguns professores à sua escrita nos testes (por ainda escrever em português do Brasil em algumas ocasiões), desenvolveu algumas inseguranças que prejudicam o seu aproveitamento, nomeadamente porque não escreve tanto nas respostas a perguntas de desenvolvimento, com receio de dar “erros”.
Já se tinha percebido que esta questão levanta grandes paixões, aquando da polémica que surgiu há um par de anos, sobre o facto de, ao que parece, haver cada vez mais crianças portuguesas que, por causa do YouTube, falam português com sotaque e vocabulário brasileiro. Reparei, na altura, que a grande indignação que movia a turba das redes sociais, era a perda da “nossa identidade linguística” e não o preocupante facto de haver crianças que passam tantas horas em frente a um ecrã que, em vez de falar como os seus pais ou professores, começaram a falar com sotaque de um país onde não residem (!?). Enfim, às vezes é imprevisível o potencial fracturante de um tema.
Ora, parece-me óbvio que, com o passar do tempo e da adaptação, as crianças brasileiras que vivem em Portugal se aproximarão da norma portuguesa na oralidade e na escrita. Considero importante que os professores assinalem as diferenças na formulação de frases e no vocabulário, para que as crianças as identifiquem, mas não vejo razão para tomá-las como erros. Primeiro porque, factualmente não o são e, segundo, porque não há nenhum benefício na crítica. Tratam-se[sic] de crianças em adaptação a um país novo, que precisam de tempo e de acolhimento.
Além do mais, se é uma questão de conservadorismo, há que dizer que o português é uma língua pluricêntrica, e que o do Brasil é inclusivamente mais parecido com o português antigo do que o “nosso” (na manutenção das consoantes mudas, no uso do “você” como abreviatura do “vosmecê”, por exemplo) e que, se não o valorizamos pela fidelidade ao passado, pensemos no futuro. Os brasileiros são mais de duzentos milhões e são a salvação da língua portuguesa. Sem eles, o nosso pequeno país envelhecido pouco conservará e a própria ideia de “impor uma norma” torna-se ridícula.
[Transcrição integral. Cacografia brasileira corrigida automaticamente.
Destaques e “links” meus.]