Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa.
Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha. [“Livro do Desassossego”]
[tradução] As raízes mais distantes conhecidas remontam ao Proto-Sinaítico, há 3.800 anos. Era principalmente consonantal e baseado nos hieróglifos egípcios. A partir daí, pequenas mudanças foram ocorrendo e acabaram por resultar na forma como nos aparece o alfabeto hoje. Esta interessante evolução foi muito bem resumida numa figura desenhada por Matt Baker e localizado pela Colossal; eis o resultado: [/tradução]
[Credit: Matt Baker/Useful Charts]
[tradução] O alfabeto começou a ganhar a forma que tem hoje no grego arcaico, por volta de 750 a.C. Então, por volta de 1 a.C., os romanos padronizaram os pergaminhos em folhas uniformes, o que resultou na criação do alfabeto latino. Isto significa que o nosso alfabeto foi praticamente feito há 2.000 anos. A escrita era simples e muito rudimentar naquela época; atingiria o seu verdadeiro potencial depois de mais dois milénios inteiros. Isso daria origem a textos que mudariam para sempre o rumo da humanidade, como Constituições, ‘A Origem das Espécies’, ‘Uma Breve História do Tempo’ etc. Só podemos imaginar o que está por vir. Assim, usando um punhado de símbolos que criamos conscientemente, abrimos horizontes ilimitados à nossa frente. [/tradução]
[“TheLanguageNerds” – TheEvolutionofTheAlphabet: From 1750 BC to Today.]
Se nos ativermos exclusivamente ao tronco indo-europeu, o das famílias de línguas do “velho mundo” — excluindo, portanto, outros sistemas de escrita (ideográfica, pictográfica), como o Mandarim, o Japonês ou o Árabe, por exemplo –, então encontramos a base daquilo que as antigas potências coloniais europeias, com Portugal à cabeça, espalharam por todo o planeta e, em especial, pelo chamado “novo mundo”.
A Conferência de Berlim (1884/85) serviu basicamente para as potências coloniais da época repartirem entre si um Continente inteiro: África. Participaram nesta espécie de reunião de negócios representantes dos países europeus que, de Norte a Sul daquele Continente, ali tinham contingentes de colonos e estruturas de administração: Portugal, Espanha, Alemanha, Itália, França, Grã-Bretanha, Holanda, Bélgica e Áustria-Hungria; juntaram-se a estes, além dos já então inevitáveis USA, também delegações da Dinamarca, Noruega, Império Otomano, Rússia e Suécia.
As fronteiras de cada uma das colónias não estavam ainda definidas e, portanto, dali resultou que a África foi retalhada segundo os interesses e em função do poderio de cada uma das nações europeias envolvidas; não foram tidas em conta nem as etnias nem as respectivas línguas, do que resultou — o que ainda hoje se mantém — que as fronteiras traçadas a régua e esquadro de determinada colónia atravessavam as fronteiras culturais e históricas das nações que existiam antes do início das diversas vagas de colonização. É por isto mesmo que, se simplesmente olharmos para o mapa político actual, verificamos que existem imensos troços de fronteira em linha recta — Angola e Moçambique, por exemplo, são exemplos flagrantes disso mesmo. Ou seja, eliminando as fronteiras (virtuais) naturais, marcadamente étnicas, línguísticas, históricas e culturais, passaram a existir outras, completamente diferentes… e indiferentes aos povos que separavam ou espartilhavam em fronteiras (reais) físicas, porque políticas e dependendo de interesses económicos estranhos à realidade africana. (mais…)