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Línguas e Alfabetos: 5. Impérios e imperialismos

Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa.

Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha. [“Livro do Desassossego”]

The farthest known roots trace back to Proto-Sinaitic, 3800 years ago.It was mainly consonantal and was primarily based on the Egyptian hieroglyphics. From then on, small changes accumulated to give us what the alphabet looks like today. This interesting evolution was beautifully summarized in a poster that was drawn by Matt Baker and spotted by Colossal. Here is what it looks like:

[tradução] As raízes mais distantes conhecidas remontam ao Proto-Sinaítico, há 3.800 anos. Era principalmente consonantal e baseado nos hieróglifos egípcios. A partir daí, pequenas mudanças foram ocorrendo e acabaram por resultar na forma como nos aparece o alfabeto hoje. Esta interessante evolução foi muito bem resumida numa figura desenhada por Matt Baker e localizado pela Colossal; eis o resultado: [/tradução]

[Credit: Matt Baker/Useful Charts]

The Alphabet started to gain the shapeit has today in Archaic Greek, circa 750 BCE. Then, by 1 BCE, the Romans standardized the scrolls into uniform sheets which resulted in the creation of the Latin alphabet. This means that our alphabet was largely done 2000 ago. Writing was simple and too rudimentary back then, it would reach its true potential after two more whole millennia. This would give rise to pieces of writing that would forever change the course of humanity, such as Constitutions, The Origin of Species, A Brief History of Time, etc. We can only imagine what lies ahead. So, using a handful of symbols that we wittingly created, we opened unlimited horizons in front of us..

[tradução] O alfabeto começou a ganhar a forma que tem hoje no grego arcaico, por volta de 750 a.C. Então, por volta de 1 a.C., os romanos padronizaram os pergaminhos em folhas uniformes, o que resultou na criação do alfabeto latino. Isto significa que o nosso alfabeto foi praticamente feito há 2.000 anos. A escrita era simples e muito rudimentar naquela época; atingiria o seu verdadeiro potencial depois de mais dois milénios inteiros. Isso daria origem a textos que mudariam para sempre o rumo da humanidade, como Constituições, ‘A Origem das Espécies’, ‘Uma Breve História do Tempo’ etc. Só podemos imaginar o que está por vir. Assim, usando um punhado de símbolos que criamos conscientemente, abrimos horizontes ilimitados à nossa frente. [/tradução]

[“TheLanguageNerds” – TheEvolutionofTheAlphabet: From 1750 BC to Today.]

https://qph.cf2.quoracdn.net/main-qimg-d521ae60afdd375290d0de772d31ccdb-c

Caracteres Latim/cirílico e respectivos símbolos fonéticos

Se nos ativermos exclusivamente ao tronco indo-europeu, o das famílias de línguas do “velho mundo” — excluindo, portanto, outros sistemas de escrita (ideográfica, pictográfica), como o Mandarim, o Japonês ou o Árabe, por exemplo –, então encontramos a base daquilo que as antigas potências coloniais europeias, com Portugal à cabeça, espalharam por todo o planeta e, em especial, pelo chamado “novo mundo”.

A Conferência de Berlim (1884/85) serviu basicamente para as potências coloniais da época repartirem entre si um Continente inteiro: África. Participaram nesta espécie de reunião de negócios representantes dos países europeus que, de Norte a Sul daquele Continente, ali tinham contingentes de colonos e estruturas de administração: Portugal, Espanha, Alemanha, Itália, França, Grã-Bretanha, Holanda, Bélgica e Áustria-Hungria; juntaram-se a estes, além dos já então inevitáveis USA, também delegações da Dinamarca, Noruega, Império Otomano, Rússia e Suécia.

As fronteiras de cada uma das colónias não estavam ainda definidas e, portanto, dali resultou que a África foi retalhada segundo os interesses e em função do poderio de cada uma das nações europeias envolvidas; não foram tidas em conta nem as etnias nem as respectivas línguas, do que resultou — o que ainda hoje se mantém — que as fronteiras traçadas a régua e esquadro de determinada colónia atravessavam as fronteiras culturais e históricas das nações que existiam antes do início das diversas vagas de colonização. É por isto mesmo que, se simplesmente olharmos para o mapa político actual, verificamos que existem imensos troços de fronteira em linha recta — Angola e Moçambique, por exemplo, são exemplos flagrantes disso mesmo. Ou seja, eliminando as fronteiras (virtuais) naturais, marcadamente étnicas, línguísticas, históricas e culturais, passaram a existir outras, completamente diferentes… e indiferentes aos povos que separavam ou espartilhavam em fronteiras (reais) físicas, porque políticas e dependendo de interesses económicos estranhos à realidade africana. (mais…)

Línguas e Alfabetos: 4. A árvore e a floresta

Para que se entenda, ainda que apenas no essencial, a complexidade do fenómeno linguístico — e a motivação comunicacional subjacente — haverá sempre que atender a pelo menos três formulações básicas envolvendo outros tantos conceitos: por ordem inversa de factores, variedade, evolução e necessidade.

Assim, sem quaisquer pretensões academicistas, esta pequena série de textos sobre línguas e alfabetos pretende apenas tornar inteligível para o maior número possível de pessoas a essência do dito fenómeno, ou seja, como nascem, crescem, amadurecem, envelhecem e eventualmente morrem as línguas, por um lado, e como podem as bases dos códigos que as sustentam (alfabetos ou outros) sobreviver-lhes… ou não.

A partir da exemplificação por tipos, como a língua gestual ou o Braille e a comunicação à distância — rádio/telefone ou outros meios –, poderemos talvez passar à etapa seguinte: a estruturação das diversas línguas, ou seja, como se articulam e relacionam (ou não) entre si. O método mais comummente utilizado para este fim é através de uma analogia tão universal como fácil de entender: a árvore.

Como se vê na (espantosa) imagem no topo deste “post”, o Português nasce de um dos ramos dos idiomas românicos surgidos a partir da bifurcação primordial das línguas indo-europeias. A interpretação desta árvore é em si mesma uma leitura, pouco ou nada carecendo de qualquer descodificação; podemos perceber as origens, a espessura de cada tronco e dos ramos respectivos (e ainda, eventualmente, os que deles despontaram) e até os tamanhos relativos — consoante a extensão territorial e número de falantes — de cada uma das ramagens. Além disto, a partir da parte inferior da imagem, podemos ainda entender a forma como os dois grandes troncos em que o fuste se dividiu se foram subdividindo e disseminando pelo mundo.

Atenhamo-nos apenas ao caso que aqui nos interessa, o da Língua Portuguesa. Assim, partimos da família das línguas românicas, com origem no Latim pai, evidentemente casado com uma italiana, que gerou o menino Francês, depois o Romeno, a seguir os pimpolhos Português e Espanhol (Castelhano) e, por fim, pariu a valente senhora duas meninas, que tomaram os nomes das línguas da Catalunha e da Sardenha.

https://www.facebook.com/photo/?fbid=570616451917842&set=a.487318933580928

Minna Sundberg, illustratrice suédo-finlandaise, a créé cette infographie pour représenter les relations entre les différents langages. [“Carnets Blancs“]

Aqui chegados vem a propósito recordar o pressuposto essencial desta série de textos:

(…) poderão resultar pelo menos algumas conclusões óbvias, a começar pelo facto de a imposição manu militari da “língua universau” brasileira (vulgo, #AO90) não passar de uma aberração, uma manobra puramente política e economicista, um golpe perpetrado por alguns traidores, trânsfugas, vendidos, mercenários tugas.

É nesta exacta medida, revistas as principais formas de expressão (línguas e linguagens) e contextualizada a respectiva estrutura organizacional, que se insere a questão central: a língua brasileira existe mesmo ou aquilo é, como alguns persistem em designá-la, uma “variante” do Português?

Bem, como toda a gente sabe, até porque se trata de um óbvio ululante, oficialmente ainda não, a Língua Brasileira ainda não foi reconhecida como sendo o idioma oficial da República Federativa do Brasil. Portanto, será uma questão de tempo e não de facto — porque de facto já o é mesmo, como facilmente se comprova através de apenas três factos: o #AO90, mera imposição do “fálá” brasileiro a Portugal e PALOP, a invenção da CPLP (CPLB), uma ficção destinada a “facilitar” o neo-colonialismo serôdio e ultra-capitalista dos cleptocratas de lá servidos pelos corruptos de cá, e, por fim, a criação de uma “geringonça” absurda que os mesmos cleptocratas e corruptos convencionaram vender sob a designação de “língua universau“.

Será seguramente mera questão de tempo até que a intoxicação sistemática da opinião pública portuguesa, através de órgãos de comunicação “sociau” e de profissionais da desinformação avençados, seja desmascarada em toda a linha e por fim expostos os mercenários, demonstrados os seus métodos, denunciados os colaboracionistas, infiltrados, idiotas úteis, bufos e outros tipos de Sonderkommandos alienígenas. Chegará um dia o dia, porque a verdade pode tardar mas nunca falha, em que aqueles “académicos” contratados — por baixo da mesa, é claro, quanto mais não seja através da tipicamente tuga distribuição de tachos — vejam ruir as suas pretensões de sujeição ao “país-continente” e reduzidos à mais justa insignificância os textículos com os quais tentam há décadas abrilhantar a fraude.

O Brasileiro e o Português já são línguas diferentes. A separação teve início com a independência daquele país (1822), como arma política dessa clivagem primordial, ficou oficialmente demarcada em 1911, igualmente por motivos políticos, recebeu um golpe decisivo em 1945 e teve o seu desfecho radical e definitivo com a assinatura unilateral — e pela calada – do AO90 (ratificado politicamente em 2008).

Gesto tipicamente italiano significando algo como “ma che cosa?!”. Antecede geralmente a expressão “ma vaffanculo”. Nenhuma das coisas carece de tradução.

Nem a “adoção” daquela espécie de transcrição fonética do “fálá”, nem a imposição selvática da ausência de regras (ou da inexistente) gramática brasileira, nem a abolição administrativa do Português (e da bandeira do país e do próprio país) em inúmeras plataformas virtuais, instâncias e organizações supra-nacionais, nada disso poderá jamais abalar a marcha da História: a Língua Brasileira acabará fatalmente por ser — pública, factual, popular e oficialmente — reconhecida como tal.

Quanto àqueles que persistem em inventar realidades alternativas, bom, não é preciso usar a Língua dos surdos para responder-lhes de forma concisa; para o efeito, não precisamos de soletrar seja o que for; nem de usar o Braille ou o Latim ou o Grego e ainda menos qualquer código cifrado ou hermético. Existem gestos e sinais — como sucede com as atitudes — que toda a gente entende.

Um dos gestos mais expressivos, sendo pelo menos teoricamente universal, ganhou com o tempo uma espécie de estatuto de “cidadania” linguística. Por exemplo, em Português — e também em Brasileiro, nem de propósito — é uma das “expressões idiomáticas” mais utilizadas para significar repulsa (nojo, asco) ou revolta. Refiro-me, evidentemente, àquele em que os dedos de uma mão estão recolhidos — todos menos um, o médio, que fica bem esticado.

É o que se augura e deseja à “língua universau” brasileira, ao #AO90 em geral e aos seus prossecutores em particular: um grande dedo médio espetado.

[Imagem de topo copiada de “The Language Nerds” (infinitamente replicada na Internet, de autoria desconhecida). Imagem de “censored” de: “PNGegg“.]

Textos desta série “Línguas e Alfabetos”
[1. Gestual] [2. Soletração] [3. Braille e bandeiras] [4. A árvore e a floresta] [5. Impérios e imperialismos]

Línguas e Alfabetos: 3. Braille e bandeiras

A partir do alfabeto gestual, já vimos que a língua dos surdos em Portugal (e nos PALOP) é completamente diferente da língua dos surdos brasileiros: a Língua Gestual Portuguesa (LGP) nada tem a ver com a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

O mesmo se passa também, entre outros casos, quanto aos alfabetos usados em tele-comunicações. A soletração de um lado do Atlântico obedece a códigos diferentes dos utilizados no outro lado, nas conversas via rádio, telefone ou rádio-telefone. O Brasil lá terá, se calhar, as suas próprias listas, mas jamais poderia utilizar — por exemplo — nomes de cidades portuguesas para significar as respectivas iniciais (L de Lisboa, F de Faro, P de Porto etc.).

Dependendo em absoluto a Língua do alfabeto, isto é, baseando-se qualquer sistema de comunicação numa série predefinida de símbolos ou sinais convencionados, então podemos seguramente concluir que a eficácia da comunicação pressupõe que emissor e receptor conheçam o código de que ambos (ou vários) se servem para o efeito. Um analfabeto pode perfeitamente comunicar oralmente — entender e fazer-se entender — sem conhecer o abecedário, mas isso é impossível na escrita caso o emissor ou o receptor utilizem uma “tabela” de códigos (letras, símbolos, marcas, sinais) que o outro desconhece ou se o dito código não estiver consistente e coerentemente estabelecido. Daí o conceito de ortografia: escrita correcta das palavras de uma língua. Ora, caso o #AO90 tivesse alguma coisa a ver com a ortografia da Língua Portuguesa, o que não é de todo o caso, então bastaria este conjunto de premissas elementares para comprovar a falsidade daquele “acordo” exclusivamente político.

O que vale para qualquer Língua, aliás. Seja de que tipo for ou por que meio se expresse, as regras são comuns a todas as línguas e dependem exclusivamente de factores históricos que resultam de uma necessidade humana vital: a comunicação; não dependem, de forma alguma, de ditames impostos por um qualquer colégio, grupo ou bando de académicos, vaidosos patológicos, políticos, idiotas profissionais, traficantes, vigaristas ou gatunos.

Ao invés do que sucede com os abecedários dos surdos, em que são utilizados sinais (visuais) diferentes consoante o país, o código dos cegos e amblíopes é internacional e comum, na maioria dos países do hemisfério ocidental: o alfabeto Braille.

https://www.perkins.org/wp-content/uploads/2021/01/Braille_alphabet_feature_image.png

Em termos de eficácia, a leitura táctil em absolutamente nada difere da visual, seja esta através da escrita, cursiva ou não, manual ou maquinal (de máquinas), ou seja através da interpretação visual: abecedário, gestos, sinais, símbolos — dos mais especializados, como é o caso das bandeiras na navegação marítima.

Utilizando o alfabeto internacional ICAO (ver tabela no post “Línguas e Alfabetos: 2. Soletração”), esta língua vai muito mais longe do que a simples soletração: cada bandeira, presumivelmente hasteada ou, pelo menos, exibida a partir da amurada à ou às embarcações nas imediações, significa uma situação específica, indica um perigo ou pode até, literalmente, dar uma ordem a outro navio.

Todos nós já vimos em filmes a célebre bandeira dos piratas e até, ao menos quando vamos à praia, não há quem desconheça o que significam as bandeiras verde, amarela ou vermelha no alto de um mastro espetado na areia…

E já todos vimos sinais claríssimos, não necessariamente apenas os do Código da Estrada, um cão negro — com aspecto pouco simpático — em fundo branco, um cruzeiro com flores numa curva perigosa, e já ouvimos também, com toda a certeza, toques de alarme, campainhas, alguém a gritar por socorro (desenhando “SOS”) ou expressões com o seu quê de aflitivo como “homem ao mar!”

Bandeiras Código Internacional Sinais (C.I.S.)

«O C.I.S. é composto por 26 bandeiras alfabéticas, 10 numéricas, 3 substitutas e um galhardete de código ou reconhecimento. Todas as bandeiras alfabéticas, exceptuando a letra “R”, significam uma mensagem distinta.» [“ProSea.pt“]E existem ainda muitos outros códigos, além dos mais genéricos e até universais, como sucede por exemplo em qualquer tipo de linguagem… corporal.
(mais…)

Línguas e Alfabetos: 2. Soletração

https://www.history.co.uk/history-of-ww2/code-breaking

The Enigma Machine | Image: Shutterstock

E N I G M A

O caso da língua gestual será porventura o exemplo mais ilustrativo daquilo que significa a comunicação entre seres humanos, que motivações específicas as explicam, que finalidades concretas pretendem servir e, partindo dessas motivações e finalidades, como e porquê se distinguem umas das outras.

Sempre evitando pisar os terrenos áridos da linguística e ainda que “traduzindo” quanto possível a nomenclatura técnica (de metalinguagem) envolvida, o que aqui se pretende destacar é o carácter espontâneo — e, portanto, livre — de todas as chamadas línguas naturais, do que resulta, por simples exclusão de partes, que a “língua universau” brasileira (#AO90) não passa de uma asquerosa aberração, passe a redundância.

Ainda que utilizemos para o efeito não apenas as línguas naturais como também as “artificiais”, a constatação ainda assim será a mesma: é absurdo sequer pretender tornar igual aquilo que é por natureza diferente.

https://www.magicalquote.com/movie/the-imitation-game/

«Quando as pessoas falam umas com as outras, nunca dizem o que pretendem dizer. Dizem outra coisa, mas pressupõem que os outros sabem o que elas querem dizer.»

A língua que hoje em dia é comummente utilizada no Brasil tem tanto a ver com a Língua Portuguesa como uma máquina de escrever comum em relação à Enigma, a codificadora utilizada pelas tropas alemãs na II Grande Guerra.

As teclas até podem ser iguais em ambas as máquinas, mas a escrita é diferente porque o significado do que se escreveu numa não tem absolutamente nada a ver com o que resulta na outra. Dois códigos, resultados diferentes.

E então, reza a História, para enfrentar aquele imbróglio em particular surgiu Alan Turing; a sua máquina descodificadora resolveu por fim o enigma da… Enigma. Foi por isso mesmo, segundo alguns historiadores, que os Aliados ganharam a guerra e que Adolf Hitler fez pela primeira vez um favor, isto é, deu um tiro na cabeça.

A máquina de Turing foi em simultâneo predecessora dos actuais computadores mas foi também continuadora, visto que utilizava o mesmo alfabeto da codificadora alemã (em teclado QWERTY), o qual, por seu turno, já era resultado de uma invenção patenteada em 1874 — a máquina de escrever. A linguagem cifrada do lado alemão (Enigma) era descodificada pela equipa de Turing através de determinação de ocorrências e consequente cálculo de probabilidades. Num dos muitos filmes sobre aquele período histórico, aventa-se a hipótese de a chave ter resultado do fecho de todas as mensagens: o conhecidíssimo “Heil Hitler”; significava “over&out”, portanto bastaria fazer corresponder cada uma das letras e deduzir as outras pela sua posição relativa… no alfabeto.

Esse mesmo alfabeto que naquela época, como de resto ainda hoje sucede, obedecia à tabela de comunicações que viria ser oficializada pela Organização Internacional de Aviação Civil.

ICAO – Alfabeto Radiotelefónico

https://unitingaviation.com/news/general-interest/youve-heard-alfa-bravo-charlie-but-do-you-know-where-it-came-from/

ICAO – International Civil Aviation Organization

The ICAO phonetic alphabeth as assigned the 26 code words to the 26 letters of the English alphabet in alphabetical order: Alfa, Bravo, Charlie, Delta, Echo, Foxtrot, Golf, Hotel, India, Juliett, Kilo, Lima, Mike, November, Oscar, Papa, Quebec, Romeo, Sierra, Tango, Uniform, Victor, Whiskey, X-ray, Yankee, Zulu. [Google]

Podemos dizer que, este sim, é o alfabeto de comunicações via rádio utilizado tanto pelos tripulantes portugueses como pelos brasileiros, estejam eles a bordo de um avião, de um navio ou até de uma nave espacial. Pois, pudera, a língua de telecomunicações (como sucede na informática ou na Internet) é o Inglês, não é nem o Mandarim nem o Hindi — apesar de a Índia e a China terem “muitos mais milhões” do que USA, UK e Commonwealth somados — e muito menos é o brasileiro, por mais que julguem alguns tugas que aquilo é que é um gigantone que só visto.

São imensas e muitíssimo diversificadas as aplicações do alfabeto fonético internacional, desde as militares (na NATO, por exemplo) às de comunicações via rádio, incluindo as dos Radioamadores, vulgo “macanudos”, e ainda, em algumas zonas fora de zonas “digitais”, nas comunicações por telefone convencional.

Das duas variantes nacionais do alfabeto da ICAO devemos destacar a utilizada em meios e para fins civis.

(mais…)

Línguas e Alfabetos: 1. Gestual

Aveiro Lisboa Faro Aveiro Braga Évora Tavira Ovar Setúbal

O título deste post representa a forma como seria dita a palavra ALFABETOS, via telefone ou rádiotelefonia, pelos trabalhadores do ramo das telecomunicações — em Portugal e nas ex-colónias africanas, depois PALOP — até meados dos anos 90 do século passado. Entretanto as tecnologias da comunicação evoluíram enormemente e, portanto, aquele alfabeto específico entrou em declínio e praticamente desapareceu, o que não quer dizer que esteja de todo extinto.

Uma forma completamente diferente de “soletrar” a mesma palavra ALFABETOS seria utilizando uma das mãos para formar os “gestos” correspondentes no alfabeto da Língua Gestual Portuguesa (LGP).

Sem entrar em grandes pormenores sobre a (ténue) linha de demarcação que separa as línguas verbais das não-verbais, a verdade é que existem muito mais línguas não-verbais do que aquelas que porventura possamos sequer tentar enumerar. Isto, evidentemente, no pressuposto de não atendermos àquilo que distingue os conceitos de língua, em sentido restrito, e de linguagem, em sentido lato.

Se de facto a língua obedece a um código e este implica uma estrutura, obedecendo por conseguinte a regras definidas (umas mais rígidas ou consolidadas do que outras), então linguagem difere de língua na medida em que — apesar de servir a mesma finalidade, ou seja, a comunicação — não está sujeita a normas, regras, códigos, estruturas ou sequer pressupostos. Mas… será exactamente assim?

Por exemplo, o “código da estrada” cumpre todos os requisitos definidores de “língua” (código, regras, prioridades, estrutura) mas não é… uma língua; cumpre uma função comunicativa mas sequer é uma linguagem. Por outro lado — o que demonstra a fluidez de ambos os conceitos –, os sinais e regras de trânsito remetem para… a linguagem jurídica; e esta, pelo menos nos meios académicos e políticos da área e nos meios jurídicos propriamente ditos (tribunais, órgãos criminais), acaba por autonomizar-se de tal forma — em relação à Língua nacional — que acaba por transformar-se numa língua particular, em certa medida autónoma, o “juridiquês”: cidadão que a não domine minimamente não irá entender sequer o que está a dizer o seu advogado de defesa ao meretíssimo juiz, por hipótese em pleno tribunal criminal, quem sabe se num procedimento legal perigoso para a carteira, para a liberdade ou até para a saúde do “arguido”…

E o que vale para o juridiquês vale para, também por exemplo, o futebolês, o politiquês ou qualquer outra das línguas/linguagens que definem — por exemplo — profissão, estatuto, condição social ou modo de vida; logo, um “povo” (comunidade, grupo, estrato) que partilha entre os seus uma língua/linguagem distinta da dos “outros”, ou seja, daqueles que obviamente não se incluem nessa “população” específica.

Não cabe aqui maçar as pessoas com termos técnicos — até por falta de verdadeiros especialistas em cada uma das matérias específicas –, mas apenas traçar um quadro abrangente e o mais simplificado possível das mais diversas formas de comunicação, daí extraindo os factores comuns, identitários e, por conseguinte, definidores do indivíduo enquanto membro de uma comunidade, um povo, uma nação, um país.

Desta contrastação identitária poderão resultar pelo menos algumas conclusões óbvias, a começar pelo facto de a imposição manu militari da “língua universau” brasileira (vulgo, #AO90) não passar de uma aberração, uma manobra puramente política e economicista, um golpe perpetrado por alguns traidores, trânsfugas, vendidos, mercenários tugas.

Para início de conversa, portanto, vejamos o caso mais flagrante: em Portugal existe a Língua Gestual Portuguesa (LGP) enquanto que no Brasil o que há é a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). São coisas completamente diferentes e, evidentemente, jamais passaria pela cabeça aos surdos do Brasil impor aos surdos portugueses a sua e a estes “adotar” a dos brasileiros.

LGP – Língua Gestual Portuguesa
https://jornalismofluc.shorthandstories.com/alfabeto/index.html

A Língua Gestual Portuguesa é uma das três línguas oficiais de Portugal, reconhecida na Constituição Portuguesa da República em 1997 [APS]

LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais
https://www.pinterest.es/pin/95349717104397984/

Libras é a sigla da Língua Brasileira de Sinais, uma língua de modalidade gestual-visual onde é possível se comunicar através de gestos, expressões faciais e corporais. [“Libras“][Imagem de “Pinterest“]

[Nota: agradecimentos a Maria João Nunes pela colaboração
prestada quanto ao alfabeto rádio/telefone PT.]

Textos desta série “Línguas e Alfabetos”
[1. Gestual] [2. Soletração] [3. Braille e bandeiras] [4. A árvore e a floresta] [5. Impérios e imperialismos]