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Lusofobia: causa(s) e efeito(s) – 5

grupo Braguil no Facebook

“Bombardear Portugal”

lusofobia

lusofobia | n. f.
lu·so·fo·bi·a

(luso- + -fobia)

nome feminino

Antipatia ou aversão pelos portugueses ou pelas coisas de Portugal.

Palavras relacionadas: lusófobo.

“lusofobia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/lusofobia [consultado em 21-07-2022].

Esta série de “posts” destina-se exclusivamente a documentar aquilo em que de facto consiste a lusofobia enquanto fenómeno sociológico, por assim dizer, já que a maioria das pessoas não apenas desconhece o conceito como nem mesmo alguma vez ouviu sequer falar de tal coisa. No fim de contas, o próprio termo presta-se a confusões visto que difere numa única letra de “lusofonia”; evidentemente, apesar da semelhança “sonora”, o significado do substantivo “lusofobia” — que remete para uma atitude concreta — não tem absolutamente nada a ver com a ideia abstracta e indefinida de “lusofonia”, uma palavra vazia de significado que serve apenas finalidades e objectivos políticos.

Nestes pressupostos e neste âmbito, os conteúdos aqui apresentados destinam-se, sem outras pretensões que não as evidenciadas expressamente, a esclarecer minimamente os menos informados, tentando explicar as causas e demonstrando os efeitos da lusofobia, mas sempre sem acicatar sentimentos ou estados de alma que, pela própria natureza dos enxovalhos, provocações e insultos envolvidos, vão já ameaçando vir a tornar-se num problema sério e, como por regra sucede neste tipo de questões baseadas em preconceitos, de resultados absolutamente imprevisíveis.

Mantenhamos, por conseguinte, um módico de contenção, deixando o proselitismo e a mentira como desde sempre foram, isto é, exclusivos de acordistas e seus acólitos, tendo sempre presente duas premissas tão óbvias quanto curiais: a lusofobia é uma afecção de sentido único, sem reciprocidade do lado português, mas nem por isso poderemos generalizar: mesmo contando com alguns casos patológicos entre figuras públicas naquele país, o fenómeno é ainda assim restrito, manifestando-se principalmente — como aliás por regra sucede com a xenofobia ou o racismo em geral — nas camadas mais ignorantes da população. Não confundamos, portanto, um bosque com o maciço da selva amazónica ou, dito de outra forma, mesmo que sejam muitos os trogloditas, ainda assim há bastantes que o não são de todo.

O que mais importa, por falar em bosque, é que nos não deixemos emboscar. Não sem ao menos dar luta.

Receita de bolinho de bacalhau

Queremos despedaçar Portugal
Matar e comer, eis nosso desejo.
Foda-se os bons costumes e a moral
Foda-se Camões, os Pedros, o Tejo.
Queremos bombardear Portugal
Seus livros, estátuas, navios, cruzes
Que este incêndio nos livre do mal
E limpando o tapete acenda as luzes.
Ai, queremos violentar Portugal
Escarrar na língua, cagar no porto
Ver um futuro em que seja banal
O luso passado enterrado e morto
O nosso seio está seco de leite
De Portugal apenas o mar e o azeite.

Bruna Kalil Othero

Contra-colonização em curso

José Manuel Diogo*
“Jornal de Notícias”, 14 Julho 2022

Quando a Câmara Brasileira do Livro escolheu Portugal como país convidado da Bienal do Livro de São Paulo, o maior evento dedicado à literatura e ao livro que acontece em todo o mundo de língua portuguesa, sabia que nesse convite existia um significado maior.

A CBL não nos escolheu “apenas” porque o Brasil comemora 200 de independência, 100 de Saramago ou porque Abel Ferreira, treinador e ídolo do Palmeiras, fez o gosto ao dedo e lançou um livro com enorme sucesso e na presença do próprio embaixador de Portugal em Brasília.

Todos estes motivos são bons, mas não são a causa da escolha, eles são a sua consequência. A causa é mais simples, menos evidente e, por isso, mais difícil de explicar.

Ela faz parte de um processo que se está se transformar num verdadeiro movimento (o primeiro) de contra-colonização na História. Desta vez planeado politicamente, organizado pelas elites e amplamente conhecido pelos povos.
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Lusofobia: causa(s) e efeito(s) – 4

Os brasileirófilos

Sem comentários.

Constituição da República Portuguesa

PARTE I – Princípios fundamentais
Artigo 9.º
Tarefas fundamentais do Estado

a) Garantir a independência nacional e criar as condições políticas, económicas, sociais e culturais que a promovam; (…)
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais (…);
e) Proteger e valorizar o património cultural do povo português (…);
f) Assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da língua portuguesa; (…)

PARTE III – Organização do poder político
TÍTULO II – Presidente da República
Artigo 127.º – (Posse e juramento)

(…)
3. No acto de posse o Presidente da República eleito prestará a seguinte declaração de compromisso:
Juro por minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.

 

«Este é um primeiro episódio a tratar da massiva emigração de brasileiros para Portugal. Iniciaremos a reflexão juntamente com o apontamento do presidente Marcelo Rebelo de Sousa em seus pronunciamentos nos Consulados Gerais de Portugal no Rio de Janeiro e São Paulo. Para o presidente da República Portuguesa, “Está a haver uma invasão de Portugal por brasileiros”, e isso ocorre especialmente nos últimos 4 anos e coincide com o governo de Bolsonaro. Nunca antes na História do Brasil um presidente foi capaz de expulsar tantos cidadãos brasileiros… É mesmo uma pena… Muitos brasileiros chegam à Portugal desesperados, saídos de um Brasil de ódio, insegurança, injustiças, instabilidade política e caos social…»

[YouTube, André Carvalho LUSOaBRaço (Brasil)]

Marcelo: “Não há portugueses puros, como não há brasileiros puros”

Lusa
“Públiico”, 3 de Julho 2022

 

Na intervenção que encerrou a cerimónia de abertura da Bienal do Livro de São Paulo, Presidente da República considerou que orquestra com músicos refugiados “é um retrato daquilo que o Brasil é, que Portugal também gosta de ser, que é acolhimento de refugiados e de migrantes”.

[imagem]
[legenda] Marcelo Rebelo de Sousa discursou na abertura oficial da
26.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo

O Presidente da República afirmou este sábado à noite que “não há portugueses puros, como não há brasileiros puros”, depois de ouvir uma orquestra formada por músicos imigrantes e refugiados, em São Paulo.

Marcelo Rebelo de Sousa falava na abertura oficial da 26.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em que houve uma actuação da Orquestra Mundana Refugi, com músicos vindos da Síria, da Palestina, do Congo, da Guiné, da Tunísia e de Cuba, entre outros.

Esta orquestra tocou, entre outros, os temas As caravanas, de Chico Buarque, e Canto das três raças, que ficou famoso na voz de Clara Nunes.

Na intervenção, que encerrou esta cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que a Orquestra Mundana Refugi “é um retrato daquilo que o Brasil é, que Portugal também gosta de ser, que é acolhimento de refugiados e de migrantes”.

“Não há portugueses puros, como não há brasileiros puros. Somos todos cruzamento de todos. E temos honra em sermos cruzamento de todos. E isto é uma lição própria de sociedades cultas, avançadas, progressivas”, afirmou, em seguida, recebendo palmas.

No discurso, o Presidente da República declarou-se muito honrado por Portugal ser o país homenageado nesta edição da Bienal do Livro de São Paulo.

Segundo o chefe de Estado, isso quer dizer que “Portugal já não é só nem sobretudo o Portugal do passado, é o Portugal do futuro, é o Portugal da liberdade, é o Portugal da democracia, em que é possível ter um Presidente de direita com um Governo de esquerda”.

“É o Portugal da juventude, é o Portugal da nova literatura e da nova cultura”, acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa defendeu, no entanto, que “se a língua portuguesa é importante no mundo é porque há muitos outros países irmãos que têm mais falantes, muito mais falantes, mais leitores e maior projecção nesse mundo” do que Portugal.

E apontou o Brasil como “uma potência cultural” desde “há muito, muito, muito tempo” e “uma potência cultural imparável”.

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Lusofobia: causa(s) e efeito(s) – 3

A actriz Maitê Proença gravou em Portugal um vídeo que foi transmitido para todo o Brasil pelo canal GNT, algures em 2007; esta gravação do programa “Saia Curta” foi descoberta por alguém que resolveu, e muito bem, colocar uma cópia no YouTube.

Esta coisa já teve repercussões em todos os meios de comunicação social convencionais e, evidente e principalmente, também no Twitter, no Facebook, nos blogs e em outras redes, sistemas e plataformas virtuais.

A questão, como alguns diletantes pretendem fazer crer, não se resume a um fait divers inconsequente. O facto de alguns portugueses se sentirem cultural, nacional e mesmo pessoalmente insultados é uma reacção tão natural como a de qualquer poltrão não ter reacção de espécie alguma – à excepção da sua (deles, poltrões) costumeira ironia tresandando a mania da superioridade.

A questão, neste episódio, radica na atávica lusofobia que uma parte dos brasileiros sistematicamente faz questão de alardear, por um lado, e no desprezo ancestral que essa mesma parte sente e demonstra pela sua própria História, pela sua Cultura ou, dito de outra forma, radica na idolatria pacóvia que certos brasileiros e brasileiras devotam à mais pura, singela, esmagadora ignorância.

Aquela “senhora”, acompanhada em estúdio por outras igualmente merecedoras de aspas na designação, não se limitou a trocar umas piadolas em privado sobre essa coisa “de somenos” que é Portugal. Não. Aquele chorrilho de insultos, aquela parafernália asquerosa de xenofobia, de boçalidade, de pura estupidez e da mais despudorada lusofobia, tudo isso foi servido, por sinal em péssimo Português e com um nível de instrução do mais rasteirinho que existe, a todo o Povo brasileiro. Aquela “senhora” e as outras que tal não estavam propriamente numa roda de amigalhaços a soltar umas larachas avinhadas sobre Portugal e os Portugueses. Seja lá como for que se passem esses mistérios em terras de Vera-Cruz, aquelas “senhoras” alcançaram – quiçá em virtude da sua imbatível ignorância – o estatuto de figuras públicas e, vá-se lá entender o paradoxo, até mesmo de referências culturais para as “massas”. Têm, qualquer delas, por conseguinte, responsabilidades que não lhes caberiam em circunstâncias informais, em ambiente privado e restrito.

Assim, arrogando-se o direito de enxovalhar publicamente não apenas a sua própria História mas também a de um Povo independente e a de um país soberano, bem, nesse caso outra coisa não poderiam esperar as ditas “senhoras” mai-las suas risadinhas imbecis: haverá certamente por aí gente que não é filha de boa gente e que, por conseguinte, como se costuma dizer, não se sente, mas serão por certo uma risível minoria – para a maioria dos portugueses esta afronta não pode passar em claro.

A “senhora” Proença que se retracte, de forma igualmente pública e com igual projecção mediática, desmentindo tintin-por-tintin as calúnias e as mentiras exibidas na “reportagem” em causa. A GNT (Rede Globo) que peça formalmente desculpas ao nosso país e ao nosso Povo por ter permitido a emissão de semelhante nojo.

Quanto às autoridades portuguesas, no que diz respeito a este episódio, que é, além do mais, um evidente caso de Polícia, esperemos actuem devidamente e como manda a Lei: existem matérias de prova suficientes para procedimento judicial por conduta imprópria em território nacional. Talvez mesmo não fosse exagerado, como muito bem sugere Luísa Castel-Branco, declarar oficialmente Maitê Proença como persona non grata em Portugal. [“post” no “blog” Apdeites, 13.10.2009]

Dar a outra face?

O texto do “post” acima, publicado num dos meus antigos “blogs”, foi repescado dos já remotos tempos em que ainda ninguém acreditava que fosse possível suceder o que mais tarde se viu — e se continua a ver –, com a “adoção” à força (e à sorrelfa) do AO90. Por isso mesmo, dado que os marcos temporais quanto ao episódio da imbecil “atriz” já não interessam e visto que nessa época eu próprio era “um pouco” ingénuo (porque inexperiente em matéria de lusofobia), a transcrição acima não é nem integral nem ipsis verbis; de fora, omitidas, ficaram as referências a datas e algumas expressões que entretanto se tornaram obsoletas. De qualquer forma, o original lá continua, intocado, mantendo no essencial toda a actualidade; de facto, o anti-portuguesismo brasileiro percorreu um longo e (exclusivamente para os portugueses) penoso caminho que definitivamente descambou, agora sem sequer se ralar alguém de lá com subterfúgios e desculpas esfarrapadas, em manifestações xenófobas e racistas — sem mais atavios nem disfarces.

Desde 1822 até aos nossos dias, mais marcadamente em certos períodos históricos mas desde sempre em estado latente — com a característica prontidão brasileira para a violência –, em maior ou ainda mais insuportável grau, a aversão dos brasileiros ao “tuga” é uma espécie de pau para toda a obra, a desculpa favorita de que aquela ex-colónia sempre se socorre para justificar, iludir, desculpar, passar uma esponja por cima de todos os seus próprios falhanços enquanto povo e como nação independente.

«Depois das agruras da viagem, o português desembarcado no Brasil depara, particularmente nos tempos pós-independência, com uma lusofobia acentuada, que sintetiza vários tipos de animosidades (políticas, económicas, sentimentos de rua contra a carestia…). Pedro Calmon sublinhou devidamente as dificuldades iniciais de um “sistema imigrantista” que substituísse a escravidão, devido a “preconceitos ancestrais, de xenofobia colonial, cuja informe agressividade espicaçava, nas ruas, o delírio nacionalista”. E, “consumada a Independência, resta o acto popular de desforra, o matamaroto, que na Baía se repete, pitoresca e tragicamente, todo o ano, e em Recife tem o aspecto de uma ameaça permanente, social da patuleia contra o comércio retalhista”» (…) «Embora amainando à medida que surgiam medidas graduais no longo caminho da abolição da escravatura e se desenvolviam políticas de imigração, esta animosidade está subjacente ao relacionamento do brasileiro com o português, num clima vivencial que Pedro Calmon definiu exemplarmente como “o contraste entre a transacção lusófila do alto e a trepidante lusofobia das ruas“. Assim, de vez em quando emergem conflitos em que o português se torna bode expiatório.»

[Alves, Jorge Fernandes – Variações sobre o “brasileiro” – Tensões na emigração e no retorno do Brasil. Revista Portuguesa de História, tomo XXXIII (1999), U. Coimbra, p.191-222]

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Lusofobia: causa(s) e efeito(s) – 2

O rasgão

Os conteúdos que se seguem, na sequência dos contidos no “post” anterior, farão a ponte com os de temática semelhante que se seguirão. Sempre na expectativa, porém, porque é essa a única intenção subjacente, de que a publicação de documentos porventura surpreendentes ou até chocantes (para alguns, claro) não sirva para acicatar ainda mais a já de si absurda “guerra” que o Brasil tradicionalmente e por mero desfastio move e promove contra Portugal, contra o legado histórico lusitano — que pervertem com requintes de malvadez — e, de forma geral, contra os portugueses.

Logo à cabeça, salvo seja, nem vale a pena referir o desconchavo da “letra” que “ilustra” o vídeo em que um grupo “musical” brasileiro (cujos elementos faleceram num acidente, paz à sua alma) produz o barulho horripilante que sai pelas colunas de som. Adiante, portanto, passemos por cima de tão asquerosa pantomina e vamos ao que interessa.

Da leitura do(s) artigo(s) de Carlos Fino e da entrevista subsequente resulta em síntese aquilo que já se sabia (para os brasileiros, os portugueses são os culpados de tudo o que no Brasil está coxo ou corre mal) mas ressalta também que a simples constatação desse facto irrefutável provoca algumas “comichões” nas terras do pau-brasil (Paubrasilia echinata) e, nada surpreendentemente, implica alguma icterícia também do lado de cá do Atlântico. Felizmente, pelo menos quanto a portadores de passaporte português, parece que são apenas meia dúzia os afectados por esse tipo de problemas de pele.

Carlos Fino, um jornalista português com pêlo na venta, honra lhe seja feita, não se põe com rodriguinhos e muito menos cai no logro do costume — a fábula do “gigante brasileiro” e do mitológico Quinto Império (mais o título no Mundial de futebol) atinge boa parte da população tuga –, dispensando com elegância os salamaleques da ordem, a bajulação, o brasileirismo pitosga característico de algumas capelinhas da tugalândia. O jornalista diz o que tem a dizer mas, como bom profissional, estudando e investigando e documentando o que escreve. Não inventa coisa alguma, não finge ser a favor ou militar contra, não se arma em fidalgo ou sabichão, não faz fretes seja a quem for.

Factos são factos, fábulas são fábulas, tretas são tretas.

O ressaibo brasileiro é um facto e a treta da “língua unificada” é uma fábula. A lusofobia, uma doença infecto-contagiosa originária do Brasil mas que já vai ganhando foros de pandemia em Portugal, explica em boa parte porque foi inventado o AO90 — materializar violentamente uma espécie de vingança histórica — e para que servem as tretas que apregoam mercenários, vendidos e traidores ao serviço dos interesses político-económicos brasileiros: precisamente, as prestidigitações intelectualóides e os truques verborreicos têm por finalidade encobrir a golpada bicéfala, escondê-la sob um manto de palavras ocas e vencer pela exaustão os mais tíbios ou confusos.

Relação de causa e efeito, portanto, se bem que funcionando a lusofobia apenas como adjuvante estratégico. O ódio ao português cultivado no Brasil, com o beneplácito do próprio Estado brasileiro, especialmente através de um sistema de Ensino marcadamente anti-lusitano, funciona como base para o processo de linguicídio, de neo-colonização linguística em curso; contando com esta base, sem a qual seria impossível atingir as reais finalidades de todo o plano, podem então os estrategas portugueses (mai-los mandantes na sombra) — os mesmos que arquitectaram toda a tramóia — servir a estrangeiros numa bandeja de lata a Língua Portuguesa e, para sobremesa, a História, a Cultura, a identidade nacional. E então, com esse capital de destruição na bagagem, passar sem mais rodeios àquilo que exclusivamente lhes interessa: o capital a sério, metal sonante, dinheiro verdadeiro, ganância e corrupção à escala industrial.

O “acordo ortográfico” é um negócio fabuloso. Quem meter a mão na massa tem garantido um futuro opíparo: no mínimo, cada um dos envolvidos tornar-se-á de certeza absoluta o condómino mais rico e poderoso do cemitério. Alguns poderão até chegar à suprema honraria de um funeral de Estado ou, pelo menos, de estadão, com um impressionante Saveiro Deluxe e tudo e gatos-pingados de libré e tudo e tudo.

Não queremos que lhes falte nada.

Vira-vira

“artistas”: Mamonas Assassinas

Raios!
Fui convidado pra uma tal de suruba
Não pude ir, Maria foi no meu lugar
Depois de uma semana ela voltou pra casa
Toda arregaçada, não podia nem sentar
Quando vi aquilo, fiquei assustado
Maria chorando começou a me explicar
Daí então eu fiquei aliviado
E dei graças a Deus porque ela foi no meu lugar
Roda, roda e vira, solta a roda e vem
Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém
Roda, roda e vira, solta a roda e vem
Neste raio de suruba já me passaram a mão na bunda
E ainda não comi ninguém
Ó, Manoel, olha cá como eu estou
Tu não imaginas como eu estou sofrendo
Uma teta minha um negão arrancou
E a outra que sobrou está doendo
Ô, Maria, vê se larga de frescura
Que eu te levo no hospital pela manhã
Tu ficaste tão bonita monoteta

Mais vale um na mão do que dois no sutiã
Roda, roda e vira, solta a roda e vem
Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém
Roda, roda e vira, solta a roda e vem
Neste raio de suruba já me passaram a mão na bunda
E ainda não comi ninguém
Bate o pé
Bate o pé
Ô, Maria, essa suruba me excita
Arrebita, arrebita, arrebita
Então vá fazer amor com uma cabrita
Arrebita, arrebita, arrebita
Mas, Maria, isto é bom que te exercita
Bate o pé, arrebita, arrebita
Manoel, tu na cabeça tem titica
Larga de putaria e vai cuidar da padaria
Roda, roda e vira, solta a roda e vem
Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém
Roda, roda e vira, solta a roda e vem
Neste raio de suruba já me passaram a mão na bunda
Eu ainda não comi ninguém
Vamos lá, dançando raios, todo mundo comigo
Ô, a Maria se deu mal, vamo lá
Ai, como dói

Brasil tem vergonha das origens portuguesas, diz autor de livro sobre estranhamento entre países

Para Carlos Fino, visão negativa de Portugal alimenta lusofobia dos brasileiros, que negam heranças históricas

Giuliana Miranda
“Folha de S. Paulo”, 31.12.21

Lisboa

Apesar do discurso diplomático de que Portugal e Brasil são países irmãos, unidos por profundos laços de amizade, existe um estranhamento entre as duas nações. Enquanto o Brasil tem vergonha de suas origens lusitanas, os portugueses menosprezam a antiga colônia.

Essas e outras considerações são feitas por Carlos Fino, 73, uma das figuras mais conhecidas do jornalismo português. Ele acaba de lançar “Portugal-Brasil: Raízes do Estranhamento” (Ed.LisbonInternationalPress) como resultado de sua tese de doutorado, defendida na Universidade do Minho.

Na obra, o autor argumenta que existe uma lusofobia no Brasil, alimentada por uma visão negativa de Portugal presente na imprensa, nos livros didáticos e até em produções culturais, como filmes e telenovelas.

O Brasil tem vergonha da herança portuguesa“, afirma o jornalista, para quem o preconceito com o passado lusitano é inconsciente e até rejeitado pela intelectualidade brasileira.

“Isso não existe em relação ao Portugal contemporâneo, que é muito procurado pelos brasileiros. Muitos gostam do país, os ricos brasileiros vão para Portugal comprar casa, mas isso não apaga o antilusitanismo, que está profundamente enraizado a ponto de ser inconsciente“, avalia Fino.

Após uma longa carreira como correspondente internacional e de guerra pela RTP (emissora pública de Portugal), com temporadas em Moscou e Bruxelas, Fino mudou-se para o Brasil em 2004 para trabalhar como conselheiro de imprensa da embaixada portuguesa em Brasília. Ocupou o cargo até 2012.

O convite surgiu após o jornalista passar a ser reconhecido também no Brasil por causa de sua cobertura da invasão americana do Iraque em 2003. Ele foi o primeiro a noticiar, antes das grandes emissoras internacionais, o início do bombardeio em Bagdá. As imagens ganharam o mundo e também foram exibidas no Brasil em decorrência de um acordo entre a RTP e a TV Cultura.

Acadêmicos rechaçam tese de lusofobia entre brasileiros

O novo livro, segundo o autor, é uma tentativa de contribuir para a superação do estranhamento entre os dois países. “É melhor aceitarmos a diferença para podermos superá-la”, diz.

No livro, o senhor afirma que há um forte estranhamento entre Portugal e Brasil. Como começou a se dar conta disso?

A minha missão na embaixada era projetar Portugal no Brasil, então eu estava particularmente antenado a esse tipo de coisa. Um episódio em um posto de gasolina, quando uma funcionária não sabia que em Portugal se falava português, foi um dos primeiros e mais marcantes, mas houve muitos outros.
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Lusofobia: causa(s) e efeito(s) – 1

Fila de emigrantes brasileiros à porta do consulado do Brasil em Lisboa. Fotografia da autoria de Bruno Miranda, no original em https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/12/portugal-ve-nova-onda-de-imigracao-brasileira-apos-reabertura-de-fronteira.shtml

 

__Ouve lá. Se continuas a falar de mim e de pessoas das minhas relações, do modo como tens falado, e que não me convém, arranco-te as orelhas. O conde acudiu, metendo-se entre eles: __Maia, por quem é! Aqui no Chiado… __Não é nada, Gouvarinho, disse Carlos detendo-o, muito sério e muito sereno. É apenas um aviso a este imbecil. __Eu não quero questões, eu não quero questões!… balbuciou o Dâmaso, lívido, enfiando para dentro duma tabacaria. [“Os Maias”, Eça de Queirós]

Morder a Língua

Depois de ao menos ter visto os “bonecos” do “post” anterior, sobre este mesmo assunto, já terá formado uma ideia daquilo em que de facto consiste esta espécie de neologismo que afinal não é neo coisíssima nenhuma. E embora sejam imensas as fontes, o que implica a divisão em parcelas dos conteúdos, o que se irá proximamente fazendo, decerto o conceito tornar-se-á mais inteligível sendo ilustrado e demonstrado documentalmente. Apenas no essencial, bem entendido, até porque ao contrário do que é costume suceder com os “ismos”, que as têm largas, em matéria de política a lusofobia tem costas estreitas; tão estreitas, aliás, que apenas por uma nesga se enxergam — de tal forma é sepulcral o silêncio sobre aquela patologia anti-portuguesa… em Portugal.

Claro que outro galo cantaria, com toda a certeza, seria um cócóricócó dos diabos e não um silêncio ensurdecedor, se existissem lusófobos em Espanha (não há, de todo), por proximidade geográfica e afinidade histórica, ou se tais desmandos porventura sucedessem em qualquer das ex-colónias portuguesas em África e na Ásia; também não sucede nada nos PALOP (e Timor e Macau e até Goa), nada, nem um sinal, não existe a mais ínfima réstia de lusofobia; em todos esses países jamais ocorreu a alguém usar Portugal como bode expiatório para os seus próprios nacional-fracassos. Esse estranho fenómeno sucede em rigoroso exclusivo no Brasil e por parte de brasileiros (bom, felizmente nem todos), incluindo parte daqueles que resolveram — esperemos que não com muito sacrifício — estabelecer-se na parte mais ocidental da Europa, naquilo a que chamam “a terrinha”.

Para os mesmos brasileiros está igualmente reservado um outro exclusivo, o ainda mais estranho fenómeno da contemporização tuga para com o insulto e a ofensa. Digamos que nesta questão (literalmente) o tuga “médio” comporta-se como qualquer poltrão, é uma espécie de Dâmaso Salcede colectivo que, ligeiramente borrado, enfia-se em qualquer buraco sempre que alguém se sente, porque é gente, mas os nacional-cobardes não, esses limitam-se ao escudo invisível da passividade, “eu não quero questões, eu não quero questões”. A tal gentinha que não quer nem questões nem “conflitos com o Brasil” (ou lá qual é actualmente a fórmula que usam obnóxios), uns tipinhos que acham que tudo o que é brasileiro é légau, a começar pela sacrossanta língua universau.

Os bajuladores que bajulem, os tíbios que fiquem lá com a sua tibieza, quem insulta Portugal que morda a língua. Longe. Distância. Não aqui.

 

Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floresça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora, e lá na ardente
África estar quieto o não consente.

Esta é a ditosa pátria minha amada,
A qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.

Portugal vê nova onda de imigração brasileira após reabertura de fronteira

Giuliana Vallone

“BBC Brasil”, 04.12.21

A reabertura das fronteiras entre Portugal e Brasil, em setembro, após um ano e meio de restrições relacionadas à pandemia da covid-19, vem estimulando uma nova onda de imigração ao país europeu.

Entidades que auxiliam imigrantes em território português relatam maior chegada de brasileiros e busca por informações sobre o processo de migração. Dizem, ainda, que caiu o número de brasileiros procurando auxílio para voltar à terra natal.

As razões para isso, apontadas por brasileiros recém-chegados a Portugal entrevistados pela BBC News Brasil, incluem a escalada da crise no Brasil, uma vontade de melhorar sua qualidade de vida e a familiaridade com a língua.

Além disso, o país possui uma legislação nacional favorável à imigração. Diferentemente da maioria das outras nações europeias, Portugal permite a regularização com relativa facilidade daqueles que chegam como turistas (ou seja, sem visto), mas decidem viver e trabalhar em seu território.

Foi com essa possibilidade em mente que o auxiliar de enfermagem Uelber Oliveira, de 33 anos, se preparou para viver no país. Em Lisboa há cerca de três meses, chegou sem visto para procurar emprego e se instalar na cidade.

“Está cada vez mais difícil viver, e viver com qualidade, no Brasil. A nossa luta não é mais para ter um carro bom, uma moradia boa. O problema agora é ter o básico, é conseguir se alimentar”, diz ele, que é natural de Ilhéus (BA).

Na capital portuguesa, conseguiu um emprego e aguardou a chegada da esposa, cuja viagem ficou marcada para dois meses após a sua. Atualmente, os dois trabalham como cuidadores de idosos na cidade, e já começaram o processo para regularizar sua situação migratória.

Percebi que em Portugal teremos segurança, e, mesmo ganhando pouco, muita qualidade de vida – e ainda vou conseguir mandar um dinheirinho para o Brasil”, afirma.

O movimento atual de migração de brasileiros para Portugal começou em 2014, quando as condições econômicas do Brasil voltaram a piorar, mas se intensificou a partir de 2017. Nos últimos quatro anos, o número de brasileiros residindo em Portugal registrou um aumento — batendo recorde em 2020.

“E aí veio a pandemia e fechou as fronteiras. Mas as pessoas só suspenderam seus processos migratórios nesse período”, afirma Cyntia de Paula, presidente da Casa do Brasil de Lisboa, entidade que auxilia os imigrantes no país. “Quando abriram as porteiras1, as pessoas voltaram a procurar Portugal em peso.”
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