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Como galego, e portanto como pessoa com experiência própria e histórica no que diz respeito a como um estado pode ser lingüicida, muito poderia dizer sobre o tema que (infelizmente) nos preocupa. De facto, foi esse estado castelhano-espanhol o que mudou de estratégia (NÃO de objectivos) há algo mais de 30 anos, “tolerando” uma cooficialidade hipócrita da nossa Língua na Galiza enquanto continua a sua minorização em todos os âmbitos oficiais e, portanto, na sociedade. Na seqüência dessa mudança de estratégia, a nossa Língua viu-se obrigada a vestir a farda ortográfica castelhana, e assim seguimos até hoje, com a degradação e deturpação que é fácil de imaginar. Daí que, mutatis mutandis, acho poder compreender o que estão a viver em Portugal os portugueses que amam a sua Língua e não a querem ver manipulada e abandalhada por infames critérios (economicistas, de baixa política e outros igual de inconfessáveis).
Houvo um tempo passado em que através da militância em grupos de índole cultural tentei fazer o meu melhor contra esse crime imposto na Galiza polos adoradores da sabujice ante tudo aquilo que cheira a espanhol; hoje, na verdade, não abandonei as minhas ideias mas sim qualquer actividade militante pois fiquei muito desencantado do culto à comodidade, da indiferença ante estes temas e da alienação social generalizada… o qual ainda me fai admirar mais a pessoas que, contra toda “lógica” mas sim mantendo-se fieis ao seu acervo e aos seus critérios éticos resistem a estas monstruosidades dignas de um estado orwelliano que mesmo acredita ter direito a intrometer-se em âmbitos como este, algo que nem as chamadas ditaduras de outrora ousaram fazer.
Infelizmente, nas mentes de milhares de pessoas estão muito arreigados os anti-valores que vão fazendo das pessoas seres já não plenamente humanos, seres despossuídos das suas qualidades específicas, da inteligência natural, da vontade própria, sociabilidade, vida interior, desinteresse, ânimo esforçado, valentia, aliecerces morais, amor pola verdadeira Liberdade e pola Cultura nela implícita, sensibilidade…é uma batalha que a modernidade vai ganhando e na qual o estado tem muitos recursos na sua mão para impor a sua tarefa deliqüescente. Ante imposições aberrantes como esta, quer nessas terras, quer nesta Galiza em perigo de extinção, vemos como a reacção geral é a da indiferença ou a da argumentação superficial, quando não a borreguice de “há que respeitar a lei”…se nem sequer temos a liberdade de não respeitar a lei quando esta obriga a fazer uma infâmia com o nosso património cultural, que nos resta?
Eu posso ter o consolo (fraco) de que o estado do qual dependo nunca demonstrou qualquer interesse por defender a identidade desta terra…mais bem todo o contrário; tentando ser português, fico estupefacto de como um estado teoricamente soberano pode curvar-se ante critérios tão estólidos como os que justificam o AO e impo-los abusando da sua força e dos inúmeros meios ao seu serviço (escola, meios de intoxicação social, administração de justiça(?), os diferentes níveis da administração desse mesmo estado…), um estado soberbo para com os fracos, obseqüente para com os poderosos e para com os interesses que estão detrás desta aldravice elevada a dogma.
Com os melhores cumprimentos desde a velha Galiza,
No dia 21 de abril de 2016 às 18:36, joao.graca escreveu:
Caro Sr. Professor Bieito Seivane,
É sempre um enorme prazer receber mensagens suas, as quais, por regra, estão não apenas recheadas de muito avisadas observações a respeito da «luita contra o abominável e infame AO», como contêm preciosas palavras de incentivo à resistência. Bem haja por isso e também pela sua extraordinária simpatia.Refere o Sr. Professor nesta última “carta” um texto seu publicado na página da ILCAO. Pois bem, não foi apenas um, foram dois: “A nossa luita“, em Junho de 2012, e “Como professor e como galego…”, em Janeiro de 2013. E isto para já não falar dos 30 comentários que ali foi escrevendo, qual deles o mais certeiro; apenas para recordar um exemplo, cito este: