Search Results for – "preconceito racismo xenofobia"

Das duas, uma: ou racismo ou racismo

língua

língua | n. f. | n. m.

(latim lingua, -ae)

nome feminino

1. [Anatomia] Órgão móvel da cavidade bucal.
2. [Entomologia] Tromba dos insectos lepidópteros.
3. [Linguística] Sistema de comunicação comum a uma comunidade linguística.
4. [Figurado]
Estilo de escrita, discurso ou expressão característicos de alguém.
“língua”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

 

 

Das duas, uma: ou a definição de “Língua” está errada em todos os dicionários e enciclopédias ou então as comunidades por ela identificadas distinguem-se de quaisquer outras por isso mesmo.

Das duas, uma: ou a relação de causa e efeito entre o AO90 e a “adoção” compulsiva da língua brasileira não é ainda evidente, embora seja um facto, ou então não existe nem “acordo” nem “adoção”, de facto.

Das duas, uma: ou está em curso uma campanha de brasileirização sustentada e financiada pelo Estado português, ou então não, tal coisa não passa de mera ilusão ou falta de “entendimento”.

Das duas, uma: ou os portugueses são racistas e xenófobos e em especial em relação a brasileiros, ou então não existe qualquer nexo entre essa alegação e as queixas” em catadupa.

Das duas, uma: ou a relação de causa e efeito entre a imposição selvática da língua brasileira e o extermínio da Língua Portuguesa não é ainda evidente ou então a chamada “língua universau” afinal nunca foi inventada.

Por simples exclusão de partes, temos portanto que não apenas existem como são óbvios os nexos de causalidade entre:

  1. A”adoção” do AO90 e a imposição manu militari do “fálá” brasileiro e, por conseguinte, da sua transcrição fonética, pois nisso consiste semelhante cacografia.
  2. Os dois partidos políticos que se revezam no Poder impõem o AO90, em submissão aos interesses do Brasil e em função dos seus próprios interesses (políticos e económicos).
  3. Ambos os lados dos associados contam com a “comunicação social” (OCS) avençada para lavagens ao cérebro em massa e em sessões contínuas, encenando e repetindo ad infinitum pretensos episódios de “racismo” e “xenofobia”.
  4. Seleccionados os alvos (OCS, ensino básico, academias e demais instituições subsídio-dependentes, públicas ou privadas) e estabelecidas as prioridades do «processo de apagamento da identidade portuguesa em curso», procederam os governantes e seus assalariados ao estabelecimento do “fato consumado” e avançam agora para… as consequências.
  5. Como elemento “facilitador” do plano de linguicídio e aculturação , os manobradores servem-se da lusofobia que se vitimiza para (tentar) calar qualquer tipo de oposição ao plano iniciado em 1986.
  6. Lusofobia, como aliás qualquer outra fobia (medo patológico ou aversão), é uma forma de racismo.

Sem o AO90 — a origem de toda a trama — não haveria (como, de facto, não há) “xenofobia” alguma, nem mesmo a expressamente inventada para justificar as “queixas” de auto-proclamadas “vítimas”. A verdade é que antes da imposição do absurdo (2008) não apenas jamais tinha ocorrido fosse a quem fosse a necessidade de um “acordo” como também os dois países conviviam pacificamente, os portugueses com a Língua Portuguesa e os brasileiros com uma língua própria, descendente da nossa mas que desde há muito se autonomizou e que agora já pouco ou nada tem a ver com a original.

A lusofobia é um fenómeno arreigado no subconsciente do brasileiro “médio” e o complexo de culpa do ex-colonizador, que afecta não apenas o português “médio” como — ou principalmente — a camarilha pseudo-intelectualóide nacional, formam em simbiose uma espécie de base “ideológica” para “justificar” o injustificável.

Sem o AO90, lusófobo e complexado, não teria surgido qualquer alegação de “xenofobia”, real ou imaginária. Logo, não estaria em curso um processo de feroz aculturação, a pretexto de uma pretensa expiação de culpas… inventadas.

O povo português sempre se integrou em qualquer comunidade estrangeira, mesmo as mais racistas, e sempre acolheu (e bem) imigrantes de qualquer nacionalidade, etnia e Língua — incluindo a proveniente do lado de lá do Atlântico.

Outro tanto já não se passa em sentido inverso. Nisto não há “das duas uma” porque não há duas, só há uma. Racistas são os brasileiros. Eles próprios o dizem. E escrevem. E até gritam.

De tão gritante que é a realidade.

Livro ilumina herança africana do português do Brasil

“Folha de S. Paulo” (Brasil), 30.07.22
Sérgio Rodrigues – colunista da Folha

 

[RESUMO] Novo livro da etnolinguista Yeda Pessoa de Castro reforça a importância da autora no estudo das influências de línguas africanas no português falado no Brasil e oferece uma contribuição ao combate, no campo do idioma, do racismo entranhado na sociedade brasileira.

“Nós falamos um português africanizado.” O lançamento de “Camões com Dendê” (Topbooks), da etnolinguista baiana Yeda Pessoa de Castro, 84, seria um acontecimento cultural de grande magnitude em qualquer época. Neste momento de reavaliação histórica radical da herança deixada na sociedade brasileira por séculos de escravidão negra, é ainda maior.

Principal autoridade brasileira em línguas africanas, com tese de doutoramento defendida em 1976 na Universidade Nacional do Zaire (atual República Democrática do Congo), Castro destaca o quanto havia de pioneirismo em seu percurso acadêmico, àquela altura, no cenário abertamente eurocêntrico da universidade brasileira.

[imagem]
A etnolinguistaYeda Pessoa de Castro, autora de ‘Camões com Dendê’
[/]

“O CNPq me negou bolsa de doutorado, disseram que eu tinha que estudar línguas africanas em Londres”, lembrou ela em maio deste ano, ao lançar o livro no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.

De tanto caminhar “na contramão da história”, como gosta de dizer, a história —que, como sabemos, é tudo menos linear — a alcançou. Combater o racismo profundamente entranhado na sociedade brasileira é e será por muito tempo uma guerra em múltiplas frentes. No campo da língua, o pensamento antirracista tem uma dívida impagável com Castro.

Trata-se da primeira intelectual brasileira a ter compreendido que o estudo da influência africana no português brasileiro exigia estudar… a África, ora vejam. O caminho que temos pela frente —aquele que, se tudo der certo, levará o Brasil a se encontrar um dia com o Brasil — é tão longo que daqui não se enxerga o fim.
(mais…)

Éfe Érre A! E para o Brasil não vai nada? Tudo, Tudo, Tudo!

A montagem das duas imagens acima, reproduzidas infinitamente nos mais diversos sites brasileiros e portugueses, contém uma ligeira diferença entre a fotografia da direita, em plano médio enquadrado, e o pormenor da mesma “retratado” na figura da esquerda: a da direita apresenta um cartaz com os dizeres “Grátis se for para atirar a um zuca” e a da esquerda, o suposto “pormenor”, diz “Atira uma pedra a um caciqueiro“. A caixa onde supostamente ambos os cartazes foram pendurados por alunos da Universidade de Lisboa é a mesma, evidentemente, daí a definição de “ampliação de pormenor”. Deduz-se, portanto, que o cartaz nessa caixa ou mudou ou foi ou ia mudando.
[post “
‘Preconceito linguístico’, racismo e xenofobia – 1“]

Começa a ser difícil, se não impossível, dar conta de todas as benesses que o generoso Governo português vai sucessivamente concedendo — em rigoroso exclusivo e sempre sem envolver qualquer espécie de reciprocidade — aos imigrantes provenientes do Brasil.

Tudo isto com uma suposta base “legal” estribada principalmente no “Estatuto de Igualdade”, assinado no ano 2000, e no “Acordo de Mobilidade”, de 2021.

Como se verifica, deram resultado as “queixas” dos estudantes universitários brasileiros que utilizaram, a seu tempo e com a prestimosa colaboração dos órgãos de desinformação avençados — a chamada “comunicação social” do regime –, os chavões habituais (“racismo, preconceito e xenofobia”) para a sua campanha de vitimização sistemática tendo em vista a obtenção de facilidades e prerrogativas (exclusivas, repita-se). Facilidades e prerrogativas essas a que mais nenhum outro contingente imigrante tem direito, ao que acresce, por mais que a triste realidade custe a engolir, que nem mesmo os próprios portugueses — estudantes ou não — podem a elas aceder ou sequer aspirar a um vago lampejo de igualdade de oportunidades.

À devolução dos valores pagos em propinas (mesmo no estrangeiro), à obtenção da cidadania por via electrónica, não presencial, ao acesso livre aos outros 26 países da União Europeia (que vai refilando, mas até agora sem sucesso), aos diversos protocolos excepcionais de “facilitação” ou “agilização” de processos (e de procedimentos), à concessão de subsídios vários (como no caso da “deslocação para o interior do país”), para citar apenas alguns exemplos mais significativos, vem agora juntar-se ainda mais isto: 1500 euros para aqueles que fizerem o extraordinário favor de ficar por cá, na “terrinha”.

Quanto a pormenores e maçadas, como o favor ser para trabalhar ou não, bem, isso depois se verá. Decerto mais alguma coisinha se há-de arranjar, caso não.

Portugal dará bônus de até 1.500 euros para jovens que decidirem trabalhar no país

Um novo decreto de Lei foi aprovado em Portugal em 29 de dezembro de 2023 e promete a partir deste ano atrair jovens qualificados para o mercado de trabalho do país europeu. Agora portugueses e imigrantes qualificados, ou seja, que possuem cursos de nível superior, poderão usufruir de um “prêmio salarial”, uma espécie de bônus que pode variar entre 693 euros e 1.500 euros por ano – a depender do nível de formação.

“O objetivo desse benefício fiscal é Portugal reter jovens que queiram viver e trabalhar no país e que tenham formação a nível de uma graduação ou mestrado. Essa iniciativa não é bem uma novidade, o governo já tinha falado nisto, porque há muito tempo percebemos que muitos jovens fazem aqui toda a sua formação acadêmica e depois acabam indo embora para outros países europeus, além disso já somos uma população envelhecida”, afirma Isabel Comte, advogada portuguesa do escritório Martins Castro Consultoria Internacional e professora universitária de diversas instituições, entre elas a Universidade de Coimbra.

Quem tem direito a esse prêmio salarial?

Para obter o prêmio salarial, o cidadão português ou imigrante precisa atender alguns requisitos:

  • Ter até 35 anos;
  • Possuir um curso de nível superior: graduação, mestrado ou doutorado – reconhecido no país;
  • Ter uma residência fixa e viver em Portugal por mais de 6 meses;
  • Ter um registro de trabalho em Portugal;
  • Estar em dia com o pagamento dos impostos;
  • Ter formação recente. Por exemplo: se o curso de graduação ou mestrado durou 3 anos, mas faz 4 anos que a pessoa se formou, ela não terá direito. O tempo de formado precisa ser igual ou menor ao tempo do curso.

“A ideia deste benefício é manter e incentivar jovens qualificados a cooperar com o mercado de trabalho português e consequentemente com a economia local, por isso buscamos por profissionais que se formaram recentemente”, diz Comte.
<|--more-->
Tendo esses requisitos, a advogada reforça que o cidadão precisa solicitar o prêmio por meio do portal do governo, que deve disponibilizar o link ainda este mês. “Esse benefício fiscal pode atender tanto portugueses quanto imigrantes, como brasileiros, desde que cumpram os requisitos. Os jovens recém-formados certamente são os que terão mais chances de usufruir desta nova lei,” diz a advogada.

Por quanto tempo valerá esse benefício fiscal?

O prêmio salarial será anual e terá duração de acordo com tempo de formação de cada profissional. Um engenheiro civil em Portugal, por exemplo, demora 3 anos para se graduar, com isso ele terá direito de receber durante 3 anos o valor anual de 693 euros.

Se caso esse engenheiro tiver especialização ou doutorado, ele poderá receber mais, lembrando que ele não pode ultrapassar o tempo de 3 anos de formado”, diz a advogada.

Em Portugal é comum realizar a graduação e logo depois o mestrado, essa junção eles chamam de “mestrado integrado” e poderá contar com benefícios acumulativos, afirma a advogada. “Caso a pessoa faça 3 anos de licenciatura e 3 anos de mestrado, ela terá direito a receber por três anos o valor de 693 euros e o valor de mais de mil euros referente ao curso de mestrado.”

Profissionais de todas as áreas poderão usufruir do benefícios, mas o mercado português, segundo a advogada, carece muito de profissionais de tecnologia e médicos, que tenham condições de reconhecer o diploma em Portugal e que falem outros idiomas, principalmente o inglês.

LEIA MAIS:
Quer trabalhar em Portugal? Veja como ser recrutado direto do Brasil

[Transcrição integral. A cacografia brasileira do original (revista brasileira, jornalista brasileira)
não foi corrigida automaticamente. Destaques e “links” meus.]

«A ignorância não mata mas induz em erro»

«Eça gostava do Brasil mas non troppo. Não tenhamos muitas ilusões quanto a isso. Eça escrevia para o Brasil porque precisava de arredondar o salário.»
[Carlos Reis, “Público”, 11.04.15]

A citação acima foi proferida pelo oficioso grão-mestre da grande loja brasileirista em Portugal, e o texto transcrito em baixo é de um se calhar ilustre mas totalmente desconhecido nacionalista nascido no Brasil.

Entre um e o outro “irmãos” — um laço com algo de redundantemente familiar, convenhamos –, a única diferença perceptível é a nível de estilo: o primeiro tem algum, se espiolharmos com boa vontade o que diz e escreve, enquanto que o segundo deles, coitado, não tem estilo algum — é assim uma coisa que coiso, de economista.

Porém, exceptuando o estilo e a sua ausência, qualquer deles poderia ter escrito a “peça” agora publicada no DN.

Note-se, um pouco ao acaso, tal é a profusão de textos (e livros e “tudo e mais não sei quê”) com que o tal Reis nos tem brindado idolatrando o Brasil, o naco de prosa que deu à estampa nos idos de 2011:

«Decorre daqui uma outra questão, bem mais controversa e potenciadora de conflitualidade: a que consiste em postular a existência de um idioma brasileiro, também ele autonomizado em relação à matriz linguística que é o português, enquanto língua de difusão e implantação colonial.»
«Não posso aqui entrar na problematização desta tese. O que digo é que esta é uma questão com gente implicada, a gente que vive a língua como eixo de afirmação identitária, às vezes com forte orientação nacionalista. Nos últimos tempos – e curiosamente sobretudo do lado de cá do Atlântico – acentuaram-se as manifestações desta deriva que traz consigo uma perturbadora controvérsia. O Acordo Ortográfico é o cavalo de Troia[sic] que no seu bojo transporta tão melindrosa confrontação, mal disfarçada nos debates inflamados que ele[sic] tem suscitado. Porque é disso mesmo que se trata, de uma confrontação intercultural que, com base num bem conhecido texto que adiante reencontraremos, bem pode adotar[sic] o seguinte lema e motivo de análise: a ortografia também é gente.»
[Carlos Reis, “A ortografia também é gente. Falar como os brasileiros ou com os brasileiros?”, ‘Letras de Hoje’, Porto Alegre, v. 46, n. 4, p. 89-96, Out./Dez. 2011]
[post
Ensaio sobre a Pepineira”, 26.05.21]

A julgar pelo tipo de paleio um pouco hesitante, ressalta que naquela época ainda estava em fase de lançamento o plano de terraplanagem cultural — linguística, histórica, identitária — que hoje em dia alguns fazem questão de impingir como “fato” consumado.

Apartes à parte, abreviemos, é do andamento actual do dito plano que vem este tal Jonuel, de sua graça, dar conta, escarrapachando convictamente as “ideias” e utilizando profusamente os mesmíssimos chavões modernaços da confraria.

Quais gémeos paridos por mães diferentes, Carlos e Jonuel comungam da sua fé inabalável nos milhões do Brasil e, por conseguinte, na língua universau brasileira, visto ambos crerem piamente – o “especialista em estudos queirosianos” e o economista — num fundamento muito pouco vagamente nazi: os mais fortes têm o direito “natural” de exterminar os mais fracos, porque aqueles estão em esmagadora maioria e estes não passam de uma desprezível, logo, descartável minoria.

A forma brasileira da língua

Jonuel Gonçalves
www.dn.pt, 18.12.23

No Brasil, o português fala-se com açúcar, disse Eça de Queiroz, que viveu uns tempos no Rio de Janeiro. Eu acrescentaria “com café, cachaça, água de côco, sol e chuvas torrenciais”. O torrencial tem alto valor simbólico das torrentes e correntes libertadoras, opressoras ou os choques formatadores entre ambas.

Passou fronteiras e hoje dos 240 milhões de pessoas que têm o português como língua materna, 210 milhões são brasileiras.

Como acontece com outras línguas, o produto local não ficou pela imitação ou aceitação de normas e estilos vindos da origem ou do passado. Criou nova música na fala e novos roteiros na escrita, sabendo que exagero em falar com eloquência vira ridículo e é pelas ruas, estradas, rios, festas, etc. que se fixam sons e sinais de comunicação geral.

É aqui que entra o sol, açúcar, café, água de côco e cachaça: cria palavras, muda palavras, determina gestos corporais, promove ritmos e segredos no ouvido. A mudança de palavras não é só comportamento brasileiro, é universal, inclusive na língua portuguesa brasileira. Brasil se pronuncia Brasiu, como em regiões de Portugal, vaca se pronuncia baca.

Mesmo assim, é comum na sociedade portuguesa considerarem que “os brasileiros falam errado”, consideração também feita em pequenas camadas sociais de topo nos PALOPs, enquanto ocorre exatamente o oposto na população suburbana, sobretudo de Angola. Os mais radicais daqueles comentários chegam a dizer que “aquilo não é português“. Se tiverem razão, o Brasil terá de designar sua língua nacional como Brasileira, ficando, então a Portuguesa com 30 milhões de falantes.

Há dias vi um blog brasileiro intitulado lusobrasilfonia.

O português falado no Brasil deu lugar a uma formidável base cultural, talvez a maior realização do país, responsável por representar mais de 40% da superfície sul-americana e ferramentas culturais mundialmente procuradas, como literatura, música, cinema e outras artes ou técnicas visuais. Basicamente nos 200 anos de Estado independente (na realidade um pouco menos).

Tem gente que não gosta dessas ferramentas e dessa continuidade, gerando sentimentos bipolares nas relações entre componentes da CPLP, enfraquecendo o alcance desta. A presença de 400 ou 500 mil brasileiros em Portugal dá lugar a um dos polos – rejeição. A Europa entrou em perigo de encolhimento demográfico, precisa de migrantes para manter equilíbrio de contas, mas é agressiva com os migrantes. Houve algo semelhante nos Estados Unidos em finais do século XIX e começo do XX com migrantes europeus (o trumpismo do “America first” tem longa história), não na América Latina, onde aconteceu até os imigrantes terem mais oportunidades que largas faixas da população local.

A ignorância e a discriminação nos critérios, conduz a começos de xenofobia. Assim, a queda de um governo na Europa é crise, se for no Brasil é mais uma bagunça ou, como bagunça é expressão brasileira, prova de “inferioridade”. Há pouco tempo ouvi de um intelectual português – com apoio no seu círculo de amizades – em tom de ofensa, que o Brasil “é um pantanal”, pensando que o Pantanal do centro-oeste brasileiro e dois países vizinhos é uma sequência de pântanos e não Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera, pela UNESCO, cerca de 200 mil quilômetros quadrados de superfície, com três milhões de habitantes e um agro-alimentar decisivo nas trocas internacionais.

A ignorância não mata mas induz em erro. É o que se passa em algumas áreas falantes de português sobre a forma da língua no Brasil e a irradiação de vários componentes dessa forma que, no entanto, assim continuará criativamente.

Jonuel Gonçalves – Economista

[Transcrição integral, na cacografia original do autor brasileiro.
Destaques e “links” meus. Corrigi num caso a palavra
“portuguesa” pela designação correcta.]

A atávica fixação de alguns tugas pelo “gigante” brasileiro, por um lado, aliada à profunda arrogância — com laivos de pura brutalidade, de que resulta a não menos aberrante lusofobia — de alguns brasileiros para com a “terrinha”, ambos os fenómenos contribuíram para que a oligarquia brasileirista tenha não apenas “adotado” oficialmente a língua brasileira como também estabelecido as bases políticas para transformar Portugal no 28.º Estado da República Federativa do Brasil.
[post Línguas e Alfabetos: 5. Impérios e imperialismos“]

 

Coimbra é um pagode (ou um samba)

director da Câmara Luso Brasileira de Comércio e Indústria Janja, Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique
Castelo de Belmonte (Portugal) Ministro português, bandeira do Brasil

«Portugal precisa de boa imigração e de investimento, do Brasil e dos países de língua portuguesa, da mesma forma que o Brasil e os outros países precisam de uma porta de entrada para um mercado europeu.»
«O primeiro-ministro português sabe isso e vai lutar na União Europeia por um regime especial para os cidadãos dos países de língua portuguesa, tentando aprovar – ou pelo menos permitir – a criação de uma primeira “cidadania da língua” na história universal.»

[José Manuel Diogo, C,C.I. L-B e APBRA200]
[post
«Portugal, um Estado brasileiro na Europa»]

 

Nasce em Coimbra casa para celebrar a língua portuguesa brasileira e falar de temas “desconfortáveis”

Casa da Cidadania da Língua foi inaugurada com a proposta de ser um espaço artístico e literário do idioma português brasileiro, mas também para debater temas como colonização, racismo e xenofobia.

Amanda Lima
“Diário de Notícias”, 13 Outubro 2023

[foto]
O coordenador José Manuel Diogo, o autarca José Manuel Silva e o presidente do Senado federal brasileiro, Rodrigo Pacheco, inauguraram o espaço na Alta de Coimbra.

Não há uma língua portuguesa, há línguas em português”, já dizia o escritor José Saramago. Décadas depois de uma das frases que mais resume[m] o idioma, Portugal passa a ter um local que celebra a complexidade e riqueza da língua portuguesa brasileira, mas também dos seus mais de 260 milhões de falantes pelo mundo. Fica na Alta de Coimbra, no prédio histórico da Casa da Escrita.

O local, por si só, já possui uma tradição literária, tendo abrigado variados escritores portugueses. “Esta já foi uma casa de cidadania, de literatura e de luta antifacista[sic] contra a ditadura”, lembrou José Manuel Silva, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, durante a inauguração oficial, ocorrida na quinta-feira.

A programação arrancou com actividades de literatura, arte e música representados por artistas de pelo menos três países da lusofonia. A proposta é que todas as actividades desenvolvidas no local tenham a presença de pessoas de todos os países que possuem o português como um dos idiomas oficiais.

[foto]
Rute Simões Ribeiro, Simone Paulino, Luiza Romão e Raquel Lima protagonizaram a primeira mesa literária da nova casa

O trabalho de curadoria será realizado por seis pessoas de Portugal e do Brasil, que prometem trazer vozes de Angola, Cabo Verde, Moçambique, entre outros. Para o curador brasileiro André Augusto Diasz, o local simboliza “uma outra forma de conviver, de se relacionar, de viver, em sua dimensão mais ampla, uma cultura forjada na língua portuguesa” brasileira.

Se conviver e se relacionar é uma proposta da Casa da Cidadania da Língua, temas que dizem respeito aos laços históricos que unem os povos não ficam de fora. Segundo José Manuel Diogo, coordenador do espaço, temas “desconfortáveis” serão debatidos. “Vamos falar de racismo, de xenofobia, das consequências da colonização que vemos até hoje. Acreditamos que o conhecimento é o melhor antídoto contra o ódio e aqui vamos produzi-lo ao mais alto nível, não queremos que as pessoas se sintam desconfortáveis com isso”, explica.

No discurso de inauguração, o presidente do Senado Federal do Brasil, Rodrigo Pacheco, disse que a cidadania “não é, nem nunca será, um muro entre os povos”. Acrescentou que a língua portuguesa brasileira “não legitima discriminação ou preconceito, segundo critérios de alfabetização, acentos, ou ajuste à norma culta“.

A primeira mesa literária, mediada pela editora Simone Paulino, já mostrou a que veio, com o título “Dicções de uma escrita feminista”. Três jovens autoras foram convidadas: a brasileira Luiza Romão, a angolana Raquel Lima e a portuguesa Rute Simões Ribeiro. Raquel afirmou que o idioma hoje “apresenta uma hierarquia entre os falantes, dando o exemplo dos estudantes estrangeiros que chegam a Portugal, mesmo em Coimbra, e não são considerados da mesma forma”.

[foto]
A Casa da Escrita acolhe agora o espaço de celebração da lusofonia e da riqueza da língua.

Luiza, vencedora do Prémio Jabuti, o mais importante da área no Brasil, afirmou que uma das principais motivações da sua escrita é a inquietação com temas das mulheres, que em outras épocas foram vozes ainda mais silenciadas na literatura. Já Rute, que acaba de vencer o Prémio Hugo Santos, exaltou a inauguração da Casa em Coimbra, cidade em que nasceu e que acredita ser um bom local para as discussões de vozes que nem sempre são ouvidas.

Livros mais acessíveis

Uma das iniciativas da Casa da Cidadania da Língua é ter um selo editorial oficial, que permite a impressão através do método ‘print on demand’, em parceria com gráficas sediadas em Portugal. Na prática, significa que livros de autores e autoras da língua portuguesa brasileira poderão ser impressos em 48 horas com um preço mais acessível.
(mais…)

“Outra vez arroz?!”

Imagem de despacho (de Abril 2023) da agência BrasiLusa; portanto, convém traduzir algumas palavras e expressões-chave como, por exemplo, “migrantes de língua portuguesa”.

O artigo abaixo transcrito é de um autor brasileiro e foi publicado num jornal (supostamente) português consoante o original em brasileiro. Por uma questão de coerência, digamos assim, desta vez, excepcionalmente, desactivei o botão de correcção automática do “browser”.

E então o que vem dizer esse tal Maurício aqui à terrinha, por interposto pasquim tuga? Bom, além do habitual chorrilho de ameaças veladas, de fato muito pouco e em atavios menos formais ainda menos.

Diz, por exemplo e logo de entrada, como appetizer, que as «denúncias de xenofobia contra imigrantes do Brasil cresceram 505% em anos recentes». Refere uma única fonte como avalista da enormidade da taxa de crescimento, mas “esquece-se” de uma operação algébrica elementar, consistindo essa na ponderação do aumento concomitante (e simultâneo) do contingente total de brasileiros que residem em Portugal, somando todos os casos, isto é, os indocumentados mais os que têm autorização de residência no país” (400.000, segundo fontes governamentais) mais os que adquiriram dupla nacionalidade e ainda os que estão apenas em trânsito para outro país da UE assim que obtiverem o passaporte português (logo, europeu). Seja qual for o total apurado, juntando todas as parcelas, nos mesmos cinco últimos anos a que se refere a expressão “em anos recentes”, a percentagem de aumento do contingente brasileiro terá certamente triplicado, provavelmente quadruplicado ou até talvez quintuplicado.

Ora, se chegaram cá três ou quatro ou até cinco vezes mais, só no último quinquénio, então nada de mais natural — é uma probabilidade meramente estatística de 100%, basta fazer uma regra de três simples — do que os incidentes ocorram na mesma proporção. Dito de forma ainda mais simples: se as «denúncias de xenofobia contra imigrantes do Brasil cresceram 505% em anos recentes» e se o total de imigrantes do Brasil quintuplicou no mesmo período, então a taxa de crescimento foi de… zero por cento. Caso o número de denúncias esteja correcto (a quantos incidentes se referem os 505%, afinal?) e se, no fim de contas, o dito contingente migratório aumentou “só” 400%, então a progressão da “xenofobia” será em todo o caso muitíssimo inferior; e o mesmo vale se por acaso cá tiverem aterrado “só” três e não quatro vezes mais pessoas de lá.

Tudo depende do enfoque, evidentemente. A manipulação dos números, geralmente apresentados “a seco”, sem qualquer tipo de ponderação ou considerandos, serve por regra interesses particulares e decorre de liminarmente de objectivos políticos. Os quais, no caso, são obviamente os da mais pura e dura vitimização, com vista à obtenção de ainda mais facilidades: “agilização” de processos, incluindo a concessão não presencial da cidadania, através de simples “manifestação de intenções”, ainda maior “desburocratização” (por exemplo, através de “promessa” de contrato de trabalho mas sem contrato de espécie alguma) e toda a sorte de outras benesses, prerrogativas e privilégios reservadas exclusivamente àqueles e àquelas que decidirem presentear-nos com a sua inestimável vizinhança e finos modos.

A realidade é totalmente ao contrário daquilo que se pretende fazer crer, tanto neste artigo como em muitos outros de igualíssimo teor. Todo este matraquear constante das mesmas palavras-chave (preconceito, racismo, xenofobia e “derivados”) não encontra a mais ínfima das sustentações em qualquer plano de análise ou em mera constatação dos factos. Não passam tais aleivosias de alegações, socorrendo-se por sistema de um ou outro caso esporádico — como se os portugueses nunca discutissem uns com os outros sequer — para extrapolar exponencialmente, em tom catastrofista, um statu quo de todo inexistente. À excepção da verborreia de alguns colunistas, uns mais à pressão, outros mais a soldo, nada de especial se passa, os portugueses não são de forma alguma avessos àquilo que os agitadores do bicho papãotuga chamam “brasileiros”. É precisamente ao contrário.

Em Portugal, os brasileiros são não apenas bem tratados — muitíssimo melhor do que outros contingentes, como aliás vamos vendo, ouvindo e lendo nos OCS e nas redes sociais –, como são até idolatrados por largas camadas da população nativa, sujeita, pelo menos desde “Gabriela, Cravo e Canela”, a uma doutrinação cega por tudo aquilo que cheire a Brasil: as telenovelas, o futebol, o samba (25 “escolas”!), dezenas de grupos de bar e “espetáculos” de “artistas”, o “Rock in Rio” de Lisboa, o Carnaval e outros… carnavais. Até mesmo o crioulo de origem portuguesa falado naquelas bandas — o que deu origem à imposição do #AO90 a Portugal e PALOP — é apreciado por muita gente cá da pategónia, a começar pelo próprio PR e pelo outro do Governo, que garantem adorar tal modo de “falá”.

Já no Brasil, desde crianças, a começar pelos bancos das escolas, os brasileiros são imersos num charco infecto de anti-portuguesismo, através de um sistema deseducativo que difunde largamente a lusofobia como sendo a trave-mestra da política de Estado brasileira: o que lá existe de bom é mérito do Brasil, o que não lhes corre bem, ou nada bem, ou mal, ou muito mal, é (e será sempre) culpa de Portugal.

Os reflexos da onda de xenofobia contra brasileiros em Portugal

As denúncias de xenofobia contra imigrantes do Brasil cresceram 505% em anos recentes, segundo balanço da Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial.

Eduardo Maurício
observador.pt, 06.12.23

É crescente a onda de xenofobia contra brasileiros em Portugal. No caso mais recente, a jornalista carioca Grazielle Tavares levou um soco na boca, de um português, dentro da Universidade do Minho, em Braga, na região norte de Portugal. O agressor é um estudante português do curso de pós-graduação em comunicação. A brasileira relatou que, além de violento, ele teria sido xenófobo e misógino. O motivo que desencadeou a violência foi um desentendimento por um atraso para um trabalho de grupo que reunia o agressor, um aluno estrangeiro, Grazielle e outra brasileira.

Segundo a jornalista, após uma ameaça, “ele começou a me xingar. Eu levantei e pedi para ele repetir se fosse homem. Nem terminei a frase e ele me deu um soco no lado direito do rosto, ferindo minha boca. Caí no chão e ele me chutou, diante do corredor cheio de gente e ninguém fez nada. E ele ainda disse: “O que você faz estudando no meu país? Deve pagar a mensalidade com o c.”, como se eu fosse prostituta. E falou para eu voltar para o Brasil”.

Importante destacar que as denúncias de xenofobia contra imigrantes do Brasil cresceram 505% em anos recentes, segundo balanço da Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial portuguesa. E, de acordo com dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, divulgados em 20 de setembro deste ano, os brasileiros são quase 400 mil num país de cerca de 10,4 milhões de habitantes, sem contar os que estão sem documentos e têm dupla cidadania.
(mais…)