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A Língua Galega no Congresso Nacional de Espanha

Parlamento da Galiza

«O nosso grande problema na Galiza é a imposição, culturalmente terrorista, de grafar o galego em castelhano; em paralelo a isso, está a concepção imposta polo poder espanhol e os seus sequazes de que a nossa Língua é um idioma menor reduzido a quatro províncias espanholas e que deve estar sempre subordinado ao castelhano. Nesse contexto, reivindicar a universalidade da língua e mencionar o Rio de Janeiro é compreensível.»

Permito-me discordar, caro José Tápia, da referência que fez o deputado galego à capital turística do Brasil, misturando o Rio com Coimbra, Luanda e Díli. Ainda que a discordância incida apenas neste único ponto, o qual, na minha opinião, é absolutamente fundamental, parece-me oportuno ao menos tentar esclarecer aquilo em que se baseia a discordância e, de caminho, deixar claro que afinal estamos todos do mesmo lado: como muitíssimo bem resume o José, trata-se da “nossa língua” e, portanto, há que defendê-la, seja do imperialismo castelhano, seja do imperialismo brasileirista.

De facto, a pretensa “universalidade da língua” — de qualquer Língua, aliás, à excepção daquela que em determinada época histórica e contexto geográfico funcione como língua franca — constituiu o “argumento” basilar da imposição da chamada “língua universau” brasileira; foi a essa efabulação que se encostaram os brasileiristas gananciosos daqui e os gananciosos brasileiros de lá para tentar impingir o inenarrável “acordo” a Portugal e aos PALOP.

Compreende-se, até certo ponto, pelo menos do ponto de vista da estratégia política e se atendermos ao momento em que o deputado discursa, mas a inclusão daquela cidade brasileira — simbolizando, como Luanda, todo o país em que se situa, seria aceitável (ou poderá ainda vir a sê-lo) caso o Brasil assuma, como a Galiza quanto ao Galego, que é o brasileiro e não o Português a Língua nacional daquele país; isto, este simples reconhecimento da realidade factual, implicando a rejeição da pulsão de neo-colonialismo linguístico-cultural que enforma o #AO90 e a “tau língua universau”, poderia (ou poderá) vir a tornar aceitável o estatuto universalista da Língua Portuguesa no concerto das nações: Português em Portugal e PALOP (incluindo o Crioulo de Cabo-Verde), Galego na Galiza e Brasileiro no Brasil.

Mas enfim, exceptuando esta divergência, que não deve nem pode passar por simples questão de pormenor, quanto ao discurso do deputado Néstor Rego parece-me não haver absolutamente mais nada a apontar.

As minhas notas quanto àquela formulação isolada são meras opiniões, bem entendido, mas radicam no que mais interessa: «não serão os respectivos estados, português e brasileiro, quem sim querem exterminar a nossa Língua, e não as pessoas?»

São palavras suas, não minhas.

Exacto. É esse o busílis. Com um problema, porém. Os Estados não são entidades abstractas. Os Estados, isto é, as instituições e organismos que os constituem, são constituídos por pessoas, uma multidão de abotoadores (digamos assim, para não carregar na adjectivação). E essas pessoas, como de resto parece ser uma inerência (ou fatalidade) da natureza humana, preocupam-se em servir-se do Estado e não em servir aquilo e aqueles que o mesmo Estado pretensamente representa.

Parlamento de Espanha

Catalão, basco e galego já se ouvem no Congresso, mas terão de esperar na UE

Protestos da direita não impediram a adopção do uso do catalão, basco e galego nas sessões parlamentares espanholas. Estados-membros da UE pedem mais tempo para votar a oficialização dos idiomas.


“Público”, 19 de Setembro de 2023

A quem pode prejudicar que cada um intervenha na sua língua, se são línguas oficiais reconhecidas?”, perguntou Joseba Andoni Agirretxea Urresti, deputado do Partido Nacional Basco, numa intervenção feita maioritariamente em basco, mas em que também falou castelhano. No mesmo sentido, Gabriel Rufián, porta-voz da ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) recusou chamar vitória à aprovação do uso das línguas co-oficiais no Congresso dos Deputados: “Não pode ser uma vitória porque recuso, recuso como cidadão catalão, como independentista catalão, que a minha língua e a minha língua requeiram perdedores.”

Para Rufián, “aqui não há perdedores, quanto muito há ignorantes”, numa referência aos deputados do Vox, que abandonaram o Congresso em protestos contra o uso das três línguas. “Os que se foram embora são os mesmos que antes nos expulsavam das aulas, nos multavam e nos prendiam por falar basco. Agora foram eles a sair. Fizemos alguns progressos”, afirmou, por seu turno, o parlamentar do PNB sobre o partido de ultra-direita, que propõe a ilegalização das formações independentistas e tem raízes no franquismo.

Insistindo que o catalão, o basco e o galego não ameaçam o castelhano, Rufián celebrou a sua diversidade cultural e linguística, que é também a de Espanha. “É uma honra para mim, orgulhoso filho e neto de andaluzes, estar entre os primeiros a fazer um discurso integralmente em catalão nesta tribuna do Congresso”, disse.

Tal como o Vox, o Partido Popular protestou por terem sido permitidas as diferentes línguas durante o debate dedicado precisamente à necessária alteração do Regulamento do Congresso, que oficializará o seu uso, mas os seus deputados não abandonaram a sessão. PP e Vox votaram ambos contra a reforma, aprovada com 179 votos, incluindo o da deputada única da Coligação Canária, que já assegurou o apoio a Alberto NúñezFeijóo no debate de investidura da próxima semana. Contra, votaram 171 parlamentares.

Ao abandonarem o plenário, os deputados de ultra-direita deixaram os auscultadores – distribuídos pela primeira vez no Congresso – no lugar do líder dos socialistas e presidente do Governo em funções, Pedro Sánchez, que se encontra em Nova Iorque para participar na Assembleia Geral da ONU.

A par do seu uso no Congresso, a oficialização das línguas co-oficiais nas instituições europeias é uma das condições colocadas pelo Junts, o partido do ex-presidente catalão Carles Puigdemont, para facilitar a investidura de Sánchez, depois da tentativa de Feijóo, marcada para a próxima semana e condenada ao fracasso.

Prioridade ao catalão

E enquanto decorria o debate em Madrid, em Bruxelas já o ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, defendia que o catalão, o basco e o galego passem a ser línguas oficiais na União Europeia. Mas ainda antes do início do Conselho dos Assuntos Gerais vários chefes de Governo argumentaram que “é cedo” para tomar uma decisão sobre o tema, que Espanha queria ter levado a votação no encontro desta terça-feira.

“Precisamos de investigar mais a proposta, tanto em termos legais como financeiros, é demasiado rápido para decidir”, afirmou à chegada ao encontro a ministra sueca dos Assuntos Europeus, Jessika Roswall. “Socungranamic de la cultura catalana”, disse, em catalão, o seu homólogo finlandês, Anders Adlercreutz. “Temos de reconhecer a diversidade linguística da UE, mas também temos de conhecer as consequências das nossas decisões”, defendeu o ministro.

Roswall lembrou que “há muitas línguas minoritárias” na UE – como há países que têm, como Espanha, movimentos nacionalistas, e temem ver alterado o regulamento das línguas oficiais do bloco. “Não estamos a falar de línguas minoritárias, são idiomas falados por milhões de pessoas”, defendeu Albares, notando “a especificidade do regime constitucional linguístico espanhol, que faz dele quase único no seio da UE”.
(mais…)

Mais portugau giro

Este artigo do jornal “O Globo” já tem mais de um ano mas, em especial porque se insere nas operações de destruição em curso, mantém toda a actualidade e torna ainda mais claro o trabalho de demolição linguística, cultural e identitária a que se dedicam desde 1986 alguns patos-bravos tugas.

Se atendermos, já não tanto de um ponto de vista global, isto é, abarcando o contingente (i)migratório geral, mas antes analisando a situação por sector profissional e/ou camada social, vemos que — por exemplo — os afectados não são “só” os dentistas, os médicos das mais diversas especialidades e os advogados. Sabia-se que os estudantes brasileiros (e, já agora, se bem que ainda sorrateiramente, os professores) são, apenas porque cidadãos brasileiros e não portugueses ou imigrantes de qualquer outra nacionalidade, altamente beneficiados pelo governo-gérau lócau; mas não estava ainda suficientemente claro o que mais se está a preparar, que, quantas, quão alucinantemente discriminatórias (e, portanto, anti-constitucionais) serão as benesses exclusivamente reservadas às batinas em calções e chinelos de praia.

O artigalho do “cara” Gian (com a inestimável colaboração do seu prestabilíssimo compincha da Universidade de Coimbra) dá uma panorâmica geral da questão.

Com tal clareza que até o conceito associado ao verbo “democratizar” ganha um novo, nadinha ilegal, espantoso significado: “democratizar”, v. transitivo, sacar mais umas lecas do erário público português para oferecer benefícios exclusivos a um único tipo de indivíduos.

Professor de Coimbra revela elitização de brasileiros nas universidades de Portugal

Por Gian Amato
“Portugal Giro” – jornal “O Globo” (Brasil), 14/07/2022

Lula da Silva foi feito “Doutor” Honoris Causa pela Universidade de Coimbra em Março 2011 [Ap53]

[fotografia não reproduzida do original]
Universidade de Coimbra

O professor de Sociologia e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Pedro Góis, informou ao Portugal Giro que detectou um processo de elitização da comunidade brasileira no ensino superior de Portugal. (mais…)

«População brasileira em Portugal supera estimativa do Itamaraty» [“O Globo” (Brasil)]

É praticamente impossível deslindar dados em falta, gráficos desgarrados (ou “enfeitados”), relatórios confusos e desactualizados, números sem ponta por onde se lhes pegue, estatísticas paradas há três anos nalguns sítios e outras maroteiras do género.

Mas podemos tentar apurar alguma coisa, ainda assim, com tempo e estudo, cruzando cifras e desmontando verborreias de campanha quando ou se for o caso.
Pelo “Gabinete de Estratégia e Estudos” do Ministério Que Está Sempre A Mudar De Nome não vamos lá. E nem ajuda, de tão obsoletos são os dados e tão paralíticos são os automatismos.
[post
‘Preconceito linguístico’, racismo e xenofobia – 2“]

A “CPLP” é uma ficção inventada para integrar (nominalmente) os PALOP e servir como encobrimento político das ambições expansionistas e dos interesses económicos do Brasil. Nos termos previstos no Estatuto de Igualdade, a “igualdade” é uma prerrogativa exclusivamente reservada a brasileiros: os 5 PALOP estão excluídos e não existe reciprocidade para os portugueses.
Portanto as referências a “restantes” ou “demais” países da CPLP são pura falácia. Isso consta apenas do papel mas não vale nem a tinta que gasta a imprimir.

Conforme previsto no Acordo de Mobilidade (2021), esta mais recente e alucinantemente rápida sucessão de golpadas serve apenas para que brasileiros obtenham a nacionalidade portuguesa. Uma parte ficará por cá mas a maioria poderá emigrar (com passaporte europeu, logo, livre-trânsito) para qualquer dos outros 27 países da União Europeia.
E já pode ser tudo tratado remotamente. E nem é preciso pôr cá os pés. E até o expediente fica entregue à inteligência, digo, à estupidez artificial.
[postA lógica instrumental do #AO90“]

Devem ficar todos contentes, os refugiados, os imigrantes que escaparam com vida à guerra, à fome, à pobreza extrema, quando se aperceberem de que afinal não passam de emigrantes “de segunda”: para eles, Portugal reserva todos os deveres e poucos ou nenhuns direitos, mas para um outro “contingente”, para uma única outra nacionalidade de origem ficam garantidos todos os direitos e obrigação… nenhuma! Pois sim, ficariam contentíssimos se de tão simpático “acordo” tomassem conhecimento, o que por certo não irá acontecer nos tempos mais próximos.

Existe, porém, quem já se tenha apercebido do filão que representa o “igualitário” e “inclusivo” tratamento dado a determinado contingente migratório em detrimento de todos os outros; dessa percepção expedita resulta o recente surgimento de um ramo de negócios que está já transformado numa verdadeira indústria de produção jurídica em série — algo semelhante a uma linha de montagem especializada em expedientes legais. Por assim dizer, e para mais fácil entendimento do conceito, trata-se de uma espécie de gigantesca charcutaria (vulgo, encher chouriços) em que por um lado entram papéis e requerimentos saindo pela outra ponta o produto acabado: autorizações, títulos de residência, de trabalho e académicos, cartões de cidadania e, por fim, passaportes.
[post “
Mas algumas igualdades são mais iguais do que outras“]

População brasileira em Portugal supera estimativa do Itamaraty

Professor e sociólogo da Universidade de Coimbra defende que há 500 mil residentes no país, 140 mil a mais que o divulgado pelo governo

Por Gian Amato
“O Globo” (Brasil), 11/08/2023

A população brasileira que vive em Portugal é maior que a estimativa de 360 mil pessoas divulgada esta semana pelo Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty).

Segundo o professor e sociólogo Pedro Góis, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, o dado do governo brasileiro se aproxima, mas não é a realidade.

O número do Itamaraty começa a se aproximar da realidade, mas é menos que os 500 mil brasileiros residentes em Portugal que eu costumo dizer — afirmou ele ao Portugal Giro. (mais…)

Populismo, PoLulismo

Lula ironiza que em breve número de brasileiros em Portugal será maior que população portuguesa

Lusa/DN
www.dn.pt, 19.07.23

O presidente brasileiro, Lula da Silva, salientou esta quarta-feira o “momento excepcional” das relações diplomáticas entre Brasil e Portugal, ironizando que, “daqui a pouco”, o número de brasileiros em Portugal “será maior do que o da população portuguesa“.

O Brasil vive um momento excepcional na sua relação com Portugal“, disse o chefe de Estado brasileiro, em entrevista à imprensa internacional em Bruxelas e respondendo a uma questão da agência Lusa, no final de ter participado numa cimeira de dois dias da União Europeia com a América Latina e Caraíbas.

Lula da Silva ironizou: “Se em 1500 Portugal descobriu o Brasil, em 2023 o Brasil descobriu Portugal, ou seja, pela quantidade de brasileiros que Portugal tem hoje, daqui a pouco será em maior número do que a população portuguesa“.

Segundo o SEF revelou em Junho, os brasileiros mantêm-se como a principal comunidade estrangeira residente no país, representando no ano passado 30,7% do total, e foi também a comunidade oriunda do Brasil a que mais cresceu em 2022 (17,1%) face a 2021, ao totalizarem 239.744.

Questionado sobre conversas tidas com o primeiro-ministro português durante a cimeira europeia, que decorreu na segunda e terça-feira em Bruxelas, o Presidente brasileiro indicou que não conversou “sobre a guerra com António Costa”.

“Aliás, eu não tive [uma reunião] bilateral com António Costa. Eu tinha tentado marcar uma conversa com António Costa para a conversarmos sobre outros assuntos e aprimorar a nossa relação, mas ele teve de sair mais cedo, então não foi possível”, adiantou.

[Transcrição integral. Cacografia brasileira corrigida automaticamente.
Destaques meus. Acrescentei “links”. Artigo apontado por Paulo Martins.]


RTP – “Jornal da Tarde” – 19.07.23

20.07.11 – Nuno Artur Silva (Secretário de Estado): “nós devíamos escrever todos brasileiro”

06.11.15 – Marcelo Rebelo de Sousa (Presidente): “Portugal tem de lutar para dar a supremacia ao Brasil”

23.04.23 – António Costa (Primeiro-Ministro): “o que temos mesmo pena é de não falar com o vosso [dos brasileiros] sotaque”

Lula da Silva foi feito “Doutor” Honoris Causa pela Universidade de Coimbra em Março 2011

Apresentação de livro assinado por Sócrates com prefácio de Lula da Silva [notícia JN]

O PR tuga serve um suminho (“suco”, em brasileiro) ao PR zuca, com o Ministro da Cultura a prestar apoio moral

O PR tuga segreda ao PR zuca a tradução para brasileiro da pergunta de uma jornalista portuguesa

A lição de Cabo Verde

De novo, Cabo Verde toma a iniciativa pela Língua Portuguesa e assim, mais uma vez, humilha as “autoridades” portuguesas em geral e o Governo tuga em particular.

«No caso de Cabo Verde, não sendo a língua portuguesa uma criação nacional, implica saber qual a posição de Portugal enquanto país de origem que (…) não tem classificado a sua língua materna como património

A frase citada contém uma carga política com tal peso que deveria fazer — ao menos — corar de vergonha dois Presidentes da República (Marcelo e Cavaco), quatro primeiros-ministros (Cavaco, Sócrates, Santana Lopes e António Costa), os 209 deputados que aprovaram a RAR 35/2008 e mais uns quantos serviçais do neo-imperialismo brasileiro, desde presidentes de “institutos” vários (Camões, IILP, por exemplo) a reitores (o da Universidade de Coimbra, também por exemplo) ou a paus-mandados e idiotas úteis em “academias”, museus, órgãos de intoxicação social (vulgo, “media”), tachistas por grosso e parasitas da cultura por atacado.

A relevância e a gravidade do facto político evidenciado pela frase citada, exarada em despacho, são por demais evidentes: Portugal — país de origem da Língua — não classificou o Português como património nacional, portanto isso mesmo serviu como argumento para que o parecer oficial tenha sido negativo! A Direcção do Património Imaterial cabo-verdiana (uma entidade que, de resto e como agravante, sequer existe em Portugal) fundamenta a nega à proposta parlamentar na inexistência de posição, por parte do Estado português, sobre aquela mesma matéria.

Lula da Silva “Doutor” Honoris Causa pela Universidade de Coimbra, Março 2011

Cabo Verde, à semelhança e na senda das posições de Angola, Moçambique e Macau, valoriza a Língua Portuguesa sem tergiversações nem devaneios, tomando posições que estão nos antípodas daquilo que as “autoridades” portuguesas pura e simplesmente não fazem ou, pior ainda, calam e silenciam e escondem porque… desprezam. O Instituto Camões, obedecendo como sempre às ordens do patronato tuga-zuca, nem respondeu à solicitação de ao menos um parecer!

Estas coisas, de mais a mais pela recorrência e porque são sistematicamente omitidas nos “media” (a notícia é um exclusivo da agência BrasiLusa, porque será?), mais parecem fragmentos de um filme de terror.

Ou imagens tiradas de um interminável pesadelo. O que é pior ainda, muito pior, para quem está de olhos abertos…

Parlamento cabo-verdiano devolve proposta para classificar língua portuguesa

“A Semana”, Quinta-feira 22 Junho 2023

 

O parlamento cabo-verdiano não vai discutir a proposta de uma deputada de classificar a língua portuguesa como património imaterial nacional, após parecer negativo da Direcção do Património Imaterial.

De acordo com o parecer da Comissão Especializada de Educação, Cultura, Saúde, Juventude, Desporto e Questões Sociais da Assembleia Nacional de Cabo Verde, de Fevereiro e consultada hoje pela Lusa, o projecto de lei foi devolvido à deputada proponente, para eventual reformulação e “a apresentação de um projecto de lei que institua o Dia Nacional da Língua portuguesa, como acontece noutros países lusófonos”, lê-se.

A comissão entendeu não emitir parecer favorável ao projecto da deputada Mircéa Delgado, face ao parecer negativo do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, através da Direcção do Património Imaterial, e “na ausência de um parecer externo solicitado ao Instituto Camões para fundamentar e fornecer mais elementos de análise”.

No caso de Cabo Verde, não sendo a língua portuguesa uma criação nacional, implica saber qual a posição de Portugal enquanto país de origem que (…) não tem classificado a sua língua materna como património”, lê-se no parecer, que cita um dos argumentos da Direcção do Património Imaterial, que acrescenta que “não há registo de línguas não nativas classificadas como património culturais nacionais”.

A língua enquanto prática ancestral e tradição cultural, reflexo de especificidade local, é condição de existência de outros bens, não constituindo neste caso bem a ser classificado como património cultural imaterial, salvaguardando as línguas nativas, em perigo e que careçam de protecção, o que não é o caso”, alega ainda aquela direcção, citada no parecer da mesma comissão.

A Lusa noticiou em 20 de Fevereiro que uma deputada do Movimento para a Democracia (MpD, no poder) apresentou ao parlamento cabo-verdiano um projecto de lei para classificar a língua portuguesa como património cultural imaterial, por ser “parte integrante e estruturante” da história do arquipélago.

A língua portuguesa é parte integrante e estruturante da história, da sociedade e da identidade da nação cabo-verdiana, lê-se na proposta apresentada à Assembleia Nacional pela deputada Mircéa Delgado.

O ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, recordou hoje, a propósito deste caso, que “o poder de classificar qualquer bem ou item como património cultural” é daquele ministério, através do Instituto do Património Cultural (IPC).

A lei-quadro é clara. O poder de classificar qualquer bem ou item como património cultural é do Ministério da Cultura e da instituição que tem essa competência que é o IPC. Nem os deputados nacionais, nem nenhuma outra instituição pode entrar na linha de acção do IPC”, afirmou.

Se a Assembleia Nacional quiser classificar o português como património imaterial terá de mudar a lei e avocar o poder que agora está no IPC de classificar, de inventariar e criar todo o processo necessário para ter uma língua como património imaterial nacional”, acrescentou Abraão Vicente.

No texto da proposta agora devolvida é referido que o “português foi a primeira língua que ecoou no solo das ilhas (1460), trazido pelos marinheiros e missionários portugueses no seu processo das descobertas e da expansão marítima”, sendo “uma das línguas mais faladas do mundo” e língua oficial dos nove países que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

O nosso crioulo, língua cabo-verdiana, origina-se na língua portuguesa e tem nela a sua matriz de organização quer semântica, quer gramatical e elocutória, que com o aumento da escolarização tem, cada vez mais, aproximado os falantes da língua cabo-verdiana do português falado e escrito, actualmente”, acrescenta a proposta, que tem também em Mircéa Delgado a única subscritora, conforme prevê o regimento da Assembleia Nacional.

Recorda igualmente que “todo o documental escrito”, quer seja “histórico, quer seja económico, quer seja social, quer ainda literário”, encontra-se “exarado e versado quase completamente em língua portuguesa” e que o “português é a língua de comunicação internacional do Estado de Cabo Verde, afirmando-se assim como o seu elo mais forte e a razão pilar da sua existência enquanto comunidade”.

O crioulo cabo-verdiano é a língua materna em Cabo Verde, embora com variantes entre algumas ilhas, e nos últimos anos intensificou-se o movimento da sociedade civil a pressionar a sua elevação a língua oficial.

O artigo 9.º da Constituição da República de Cabo Verde, de 1992, define apenas o português como língua oficial, mas também prevê que o Estado deve promover “as condições para a oficialização da língua materna cabo-verdiana, em paridade com a língua portuguesa“.

Um grupo de quase 200 personalidades cabo-verdianas lançou em 2022 uma petição também nesse sentido e pediu apoio do chefe de Estado, José Maria Neves, para a promoção da língua, anunciando que pretende criar uma associação em prol do crioulo, não só para a sua oficialização como língua nacional, como para ensino e padronização.

“A Semana” com Lusa

[Transcrição integral, incluindo destaques a “bold”. Cacografia brasileira (da agência BrasiLusa) corrigida automaticamente. Acrescentei destaques, sublinhados e “links” (a verde).]